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alimentação de bovinos

Consumo e digestibilidade de feno de baixa qualidade suplementado com nitrogênio não protéico em bovinos

Publicado: 23 de março de 2011
Por: Harold Ospina Patino, Giovanni Mateus Mallmann, André Luís Finkler da Silveira, Fábio Schuler Medeiros e Marcelo Knorr do Departamento de Zootecnia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS -, RS
Resumo - O objetivo deste trabalho foi avaliar o efeito de níveis de inclusão de nitrogênio não protéico, emsuplementos fornecidos a tourinhos Hereford, com 17 meses e peso médio de 220 kg, alimentados com feno detifton (Cynodon dactylon) ad libitum. Os tratamentos avaliados foram: feno + suplemento sem uréia; feno +suplemento com 0,28 g de uréia kg-1 PV0,75; feno + suplemento com 0,55 g de uréia kg-1 PV0,75; feno + suplementocom 0,83 g de uréia kg-1 PV0,75 e feno + suplemento com 1,11 g de uréia kg-1 PV0,75. O feno apresentou, na média,3,86% de proteína bruta e 84,66% de fibra em detergente neutro. Não se constatou efeito da suplementação sobrea digestibilidade da matéria orgânica, matéria orgânica do feno, fibra em detergente neutro, celulose e hemicelulose;o consumo total desses itens respondeu quadraticamente à suplementação com níveis crescentes de nitrogênionão protéico. A suplementação não afetou a excreção fecal metabólica de matéria orgânica, o que sugere aumentona taxa de passagem (variação no consumo) e na taxa de digestão (digestibilidade constante). O consumo dematéria orgânica digestível apresentou comportamento quadrático com aumento dos níveis de uréia na dieta.Quando o nível de proteína degradável no rúmen foi equivalente a 8,1% da matéria orgânica digestível, a relaçãode consumo entre esses componentes foi otimizada.
Termos para indexação: suplementação protéica, uréia, amiréia, matéria orgânica digestível, proteína degradávelno rúmen. 
Introdução
A alimentação dos ruminantes em pastejo está sujeitaàs variações climáticas do país, que fazem com que aproximadamente80% da produção anual de matéria seca daspastagens ocorra no período de outubro a março (primavera-verão), sendo o período de abril a setembro (outonoinverno)de menor produção e qualidade. Essa sazonalidadequantitativa e qualitativa das forrageiras ocasiona quedanos índices produtivos e reprodutivos do rebanho bovino.Apesar das práticas de manejo para minimizar os efeitossazonais, as pastagens apresentam limitações nutricionais que impedem a expressão máxima do potencialgenético dos animais. Assim, a suplementação éuma das ferramentas disponíveis ao produtor, para contornaras deficiências nutricionais que limitam a produçãodos animais. Sob condições de pastejo, 70% da respostaprodutiva dos animais é determinada pelo consumode alimento e os 30% restantes, pela digestibilidadee eficiência de utilização dos nutrientes (Minson, 1994).Em condições onde são utilizadas forragens de baixaqualidade, o primeiro fator nutricional limitante do desempenhoanimal é a disponibilidade de energia e, paraos microrganismos ruminais, a disponibilidade de proteínae minerais (Ospina & Medeiros, 2003).As considerações anteriores claramente demonstrama importância de se otimizar o ambiente ruminal, visandoa melhorar a utilização dos alimentos fibrosos.
A otimização do ambiente ruminal depende, basicamente,do adequado fornecimento de substratos que permitama manutenção e o crescimento da microbiota ruminale, sob condições de pastejo, isto pode ser conseguidopela utilização de suplementos.Na suplementação de ruminantes, alimentados comvolumosos de baixa qualidade, o consumo total de matériaorgânica digestível depende da adequada relaçãoentre a proteína degradável no rúmen e a matéria orgânicadigestível, presentes na dieta do animal (Cochranet al., 1998). A otimização dessa relação permite aumentaro consumo e a digestibilidade, em decorrênciade alterações do ambiente ruminal, que resultam emmelhor desempenho produtivo e reprodutivo dos animais(Mathis et al., 2000).O objetivo deste trabalho foi avaliar o efeito da utilizaçãode suplementos protéicos, formulados com níveiscrescentes de proteína degradável no rúmen, sobre oconsumo e a digestibilidade de feno de baixa qualidadefornecido a bovinos de corte. 
Material e Métodos
O experimento foi realizado nos laboratórios de Nutriçãode Ruminantes (Lanur) e de Nutrição Animal"Prof. Dulphe Pinheiro Machado", ambos pertencentesao Dep. de Zootecnia da Faculdade de Agronomia daUniversidade Federal do Rio Grande do Sul.Foram utilizados 15 tourinhos Hereford, com idade epeso médios de 17 meses e 220 kg, respectivamente.No início do experimento, todos os animais receberamvermífugo e complexo vitamínico ADE injetável, conformerecomendações de bula. 
Os tratamentos consistiram no fornecimento de suplementos,formulados de modo a apresentar níveis crescentesde nitrogênio não protéico (NNP), mediante ainclusão de quantidades crescentes de amiréia (52% deuréia), produto resultante da extrusão de ingredientesricos em amido, na presença de uréia e enxofre.Os tratamentos avaliados foram os seguintes: feno +suplemento sem uréia; feno + suplemento com 0,28 g deuréia por kg de PV0,75; feno + suplemento com 0,55 g deuréia por kg de PV0,75; feno + suplemento com 0,83 g deuréia por kg de PV0,75 e feno + suplemento com 1,11 g deuréia por kg de PV0,75.A quantidade de uréia utilizada na formulação dossuplementos foi definida a partir da digestibilidade in vitroverdadeira da matéria orgânica (DIVVMO) do feno eda degradabilidade efetiva da proteína, de forma a obterrelações crescentes entre o consumo de proteínadegradável no rúmen (CPDR) e o consumo de matériaorgânica digestível (CMOD). A DIVVMO foi calculadasegundo a técnica descrita por Silveira (2002), e adegradabilidade efetiva da proteína, mediante a incubaçãoruminal de amostras de feno, segundo Gonzáles et al.(1990) revisado por Huntington & Givens (1995), e osresultados foram ajustados ao modelo proposto porMcDonald (1981).O volumoso utilizado foi feno de tifton (Cynodondactylon) picado - tamanho de partícula médio entre10 e 15 cm -, fornecido ad libitum, depois dahomogeneização. A composição bromatológica médiado feno, fornecido nos períodos I e II, encontra-sena Tabela 1. 
Os suplementos foram formulados e preparados antecipadamente,utilizando-se ingredientes provenientesdo mesmo lote ou partida, cuja composição bromatológicaencontra-se na Tabela 2. 
Tabela 1. Composição bromatológica do feno de Tifton(Cynodon dactylon), em porcentagem de matéria seca, matériaorgânica, proteína bruta, fibra em detergente ácido, fibraem detergente neutro e lignina em detergente ácido, no primeiroe segundo períodos experimentais. 
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Foi conduzido um ensaio de digestibilidade convencional,com dois períodos experimentais de 15 dias, dosquais dez dias de período de adaptação e cinco de avaliaçãodo consumo máximo e coleta fecal. No períodopré-experimental e no intervalo entre períodos, os animaispermaneceram em pastos, tendo recebido diariamenteum concentrado contendo uréia, o que garantiu aadaptação. Os animais foram mantidos em gaiolas demetabolismo individuais, de madeira, que dispunham decochos separados para fornecimento de feno e suplemento,e bebedouro automático tipo concha.No período de adaptação, a quantidade de feno oferecida,inicialmente, foi equivalente a 1,5% do peso vivo(PV), aumentada gradativamente até atingir o consumomáximo.
No período de avaliação do consumo máximoe coleta fecal, a oferta de feno foi mantida numa quantidadeque permitisse que as sobras fossem de, pelomenos, 15% da quantidade oferecida (Rymer, 2000).Foram coletadas, diariamente, durante o período de avaliação,amostras do feno oferecido aos animais, das sobrase das fezes. Logo depois do experimento, as amostrasforam misturadas, homogeneizadas esubamostradas.Nas amostras de feno, suplementos, sobras e fezes,foram determinados os teores de matéria seca (MS),de matéria orgânica (MO) (Association of OfficialAnalytical Chemists, 1995), fibra em detergenteneutro (FDN) (Van Soest & Robertson, 1985), fibra emdetergente ácido (FDA) e lignina em detergenteácido (LDA) (Association Official Analytical Chemists,1995). Os teores de proteína bruta (PB), das amostrasde feno e suplementos, foram obtidos pelo método Micro-Kjeldahl (Association Official Analytical Chemists, 1995). 
Tabela 2. Fórmula dos suplementos (base úmida) utilizadosnos tratamentos (T1 a T5) e composição bromatológica média,em porcentagem, de proteína bruta (PB), equivalenteprotéico em nitrogênio não protéico (EPNNP) e uréia, e nívelde suplementação em porcentagem do peso vivo (Oferta). 
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Os coeficientes de digestibilidade aparente damatéria orgânica (FDN), celulose e hemicelulose foramcalculados de acordo com Rymer (2000); o coeficientede digestibilidade verdadeira da matériaorgânica (DVMO), conforme Mulligan et al. (2001); aexcreção fecal metabólica (EFM), segundo Van Soest(1994). Nos cálculos da digestibilidade da matéria orgânicado feno (DMO Feno), foi utilizado o método de Bodineet al. (2001). A degradabilidade efetiva da proteína do fenofoi determinada pela técnica de sacos de náilon, conformemétodo proposto por Gonzáles et al. (1990) e revisado porHuntington & Givens (1995). Os resultados foram ajustadosao modelo proposto por McDonald (1981).
O delineamento experimental utilizado foi ocompletamente casualizado, com cinco tratamentos etrês repetições, em dois períodos, cujas médias foramcomparadas pelo teste de Tukey, a 5% de probabilidade.Os dados foram analisados conforme o seguinte modelomatemático:Yijk = μ + Ti + Bj + Pk + TPik + εijk,em que Yijk é a k-ésima observação, associada aoi-ésimo tratamento, j-ésimo bloco e k-ésimo período; μé a média; Ti é o efeito do i-ésimo tratamento (i = 1, 2,3, 4, 5); Bj é o efeito do j-ésimo bloco (j = 1, 2, 3); Pk éo efeito do k-ésimo período (k = 1,2); TPik é o efeito daik-ésima interação entre tratamento e período; εijk é ok-ésimo erro, associado à ij-ésima observação.Os dados foram submetidos à análise de variância e,posteriormente, analisados por meio de regressão,segundo o seguinte modelo matemático:Yij = μ + β1Ti + β2Ti2 + β3Ti3 + εijk,em que μ é o efeito médio; Yik é a k-ésima observação,associada ao i-ésimo tratamento; β1Ti é o regressor,associado ao efeito linear do tratamento; β2Ti2 é oregressor, associado ao efeito quadrático do tratamento;β3Ti3 é o regressor, associado ao efeito cúbico do i-ésimotratamento; εijk é o j-ésimo erro, associado à i-ésimaobservação.Na determinação do ponto de otimização da relaçãoentre os consumos de proteína degradável norúmen (CPDR) e de matéria orgânica digestível (CMOD),aplicou-se o modelo de regressão segmentada (broken-lineanalysis), feito pelo procedimento PROC NLIN do SASInstitute (1985). 
Resultados e Discussão
A incorporação de níveis crescentes de nitrogênio nãoprotéico ao suplemento não afetou o coeficiente de digestibilidade de nenhuma das fraçõesavaliadas (p>0,05) (Tabela 3). Resultados semelhantesquanto à digestibilidade da matéria orgânica foram obtidospor Koster et al. (1996), ao suplementar feno debaixa qualidade (1,94% de PB e 76,6% de FDN), comníveis crescentes de PDR (caseína). Hess et al. (1999)forneceram níveis de uréia (0, 1, 2 e 3% da MS da forragem),aspergidos sobre volumoso de baixa qualidadee obtiveram correlação linear positiva entre as doses deuréia e a concentração de nitrogênio amoniacal no rúmen(NH3-N); contudo, o consumo e a degradabilidade insitu do feno não foram afetados pelo incremento deNH3-N.
O coeficiente de digestibilidade da paredecelular (DFDN) e de seus principais componentes -celulose (DCEL) e hemicelulose (DHCEL) -, tanto dadieta quanto do feno, não foram afetados pelo aumentodo teor de nitrogênio não protéico nos suplementosavaliados (p>0,05) (Tabela 3). Esses dados contrastamcom os resultados obtidos por Mathis et al. (2000), queao suplementar com teores crescentes de proteínadegradável no rúmen (0, 0,041, 0,082 e 0,124% PV) eutilizar feno de sorgo de baixa qualidade (4,3% PBe 59,5% FDN), obtiveram respostas lineares para adigestibilidade da FDN (DFDN), assim como para adigestibilidade da matéria orgânica (DMO).Koster et al. (1997) obtiveram resposta quadráticapara a DMO e tendência à resposta quadrática paraa DFDN (p = 0,06), na substituição gradativa do nitrogêniosuplementar, proveniente de uma fonte de proteínaverdadeira, por uréia. Segundo os autores, o nitrogênionão protéico incorporado à dieta melhorou adigestibilidade, em virtude do suprimento de amônia, principalfonte de nitrogênio das bactérias celulolíticas.
Tabela 3. Coeficientes, expressos em porcentagem, dedigestibilidade da matéria orgânica (DMO), da matéria orgânicado feno (DMO Feno), da fibra em detergente neutro (DFDN),da fibra em detergente neutro do feno (DFDN Feno), da celulose(DCEL) e da hemicelulose (DHCEL), resultantes da incorporaçãode nitrogênio não protéico à dieta de bovinos. 
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A depressão na digestibilidade, observada nas doseselevadas de uréia ocorreu, provavelmente, pela falta defatores de crescimento microbiano, tais como ácidosgraxos voláteis de cadeia ramificada, peptídeos eaminoácidos (Russell et al., 1992). Neste trabalho, o teorde nitrogênio degradável no rúmen não foi o principallimitante na determinação da digestibilidade das fraçõesnutritivas.O aumento da incorporação de nitrogênio não protéicoaos suplementos não teve efeito sobre a digestibilidadeverdadeira da matéria orgânica, nem sobre a excreçãofecal metabólica (p>0,05) (Tabela 4).
Contudo, os valoresabsolutos da EFM diminuíram com a inclusão de uréianos suplementos, o que sugere que a fermentação ruminalpode ter sido melhorada, permitindo que menores quantidadesde material potencialmente fermentável escapassemdo rúmen e fossem fermentadas no trato digestivoposterior.O nível de incorporação de nitrogênio não protéicoao suplemento afetou o consumo de matéria orgânicatotal (CMO) e do feno (CMO Feno), verificando-se, emambos, um comportamento quadrático (CMO =-16,004x2 + 24,93x + 74,17, r2 = 0,2162, p<0,05 eCMO Feno = -15,936x2 + 23,231x + 70,234, r2 = 0,2 0,p<0,05) (Tabela 5). Klevesahl et al. (2003), ao trabalharcom feno de baixa qualidade e doses crescentes de proteínadegradável no rúmen, observaram respostasquadráticas sobre o consumo. Segundo esses autores, oaumento do consumo pode estar associado ao suprimentode N, em quantidades adequadas à manutenção da atividademicrobiana.A incorporação de doses crescentes de uréia à dietaaumentou o consumo até certo ponto, tornando evidenteque o estímulo proporcionado pela suplementação deproteína degradável tem limites. Provavelmente, as limitaçõesprovêm de características da forragemconsumida (fermentabilidade inerente e disponibilidadeda proteína) e da necessidade de proteína pelo animal(Koster et al., 1997; Mathis et al., 2000). 
Tabela 4. Digestibilidade verdadeira da matéria orgânica(DVMO), excreção fecal metabólica (EFM) e relaçãoEFM:CMO, resultantes da incorporação de nitrogênio nãoprotéico à dieta de bovinos. 
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Os tratamentos com doses crescentes de uréia, emrelação à testemunha, tiveram aumentos de 10,6, 17,8,7,5 e 8,8% no consumo de matéria orgânica (Tabela 5).O maior consumo diário de matéria orgânica do feno(78,7 g UTM-1) foi obtido com a incorporação de uréiaao suplemento, equivalente a 0,73 g UTM-1.Para Moore et al. (1999), as forragens de baixa qualidadegeralmente apresentam uma relação NDT:PBacima de 7, indicando deficiência de nitrogênio em relaçãoà energia disponível. O fornecimento de nitrogêniosupre a deficiência dos microrganismos ruminais por talnutriente, aumenta sua atividade, propiciando menor tempode retenção ruminal dos componentes da parede celularde menor digestibilidade e favorece aumentos noconsumo de matéria seca.
O aumento da degradação dovolumoso, em conseqüência da maior atividade fibrolíticada microbiota ruminal, pode contribuir com o aumento dataxa de passagem (Wickersham et al., 2004).O consumo de matéria orgânica digestível (CMOD)é considerado uma resposta que integra os fatoresdeterminantes do consumo e da digestibilidade e estáestreitamente ligado ao consumo de energiametabolizável e ao desempenho dos animais (Cochranet al., 1998). O CMOD apresentou comportamentoquadrático, em relação ao nível de inclusão de uréia aosuplemento (CMOD = -12,02x2 + 18,574x + 35,836,r2 = 0,3403) (Tabela 5). O ajuste matemático dos dadosobtidos mostrou que a inclusão de uréia, em quantidadeequivalente a 0,77 g UTM-1, propiciou consumo de MODde 43 g UTM-1, valor intermediário entre os máximosencontrados por Koster et al. (1996) e Mathiset al. (2000), que foram 37,4 e 58,1 g UTM-1, respectivamente. 
Tabela 5. Efeito da incorporação de nitrogênio não protéicoao suplemento, sobre o consumo de matéria orgânica total(CMO), feno (CMO Feno), fibra em detergente neutro (CFDN),matéria orgânica digestível (CMOD) e proteína degradável norúmen (CPDR); e sobre a relação CPDR:CMOD. 
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O incremento no consumo e os coeficientes dedigestibilidade observados sugerem aumentosconcomitantes na taxa de passagem e de digestão, comosugerido por Ellis (1978), na suplementação de nitrogêniopara volumosos com baixo teor de proteína bruta.Guthrie & Wagner (1988), Mathis et al. (2000), Bandyket al. (2001) e Klevesahl et al. (2003) obtiveram taxasde passagem da fase sólida do conteúdo ruminal, significativamentemaiores, com suplementação de proteínaem relação ao tratamento controle.As doses crescentes de uréia não exerceram efeitosignificativo sobre a excreção fecal metabólica (EFM),provavelmente pela baixa passagem de carboidratos, potencialmentefermentáveis, para a região do ceco e docólon (Tabela 4). A relação entre a excreção fecal metabólicae o consumo de matéria orgânica (EFM:CMO)mostrou-se constante e a variação no consumo não chegoua afetar a EFM (Tabela 4).
Como os coeficientesde digestibilidade e a EFM mantiveram-se constantes, ehouve variação no consumo, pode-se inferir que as taxasde passagem e de digestibilidade sofreram alteraçõescom a inclusão de doses crescentes de uréia.O coeficiente de adição mostra a variação no CMOD,quando é fornecido suplemento ao animal. Como oscoeficientes de digestibilidade permaneceram constantes,a variação nos coeficientes de adição ocorreu emconseqüência do CMO. No experimento, constatou-seaumento no consumo de MOD, com o aumento no fornecimentode uréia, que atingiu um coeficiente de adiçãomáximo de 1,54, com o provimento de 0,73 g uréia UTM-1(adição = - 2,5632x2 + 3,7603x + 0,1653, r2 = 0,38,p<0,01). Ao analisar a equação de regressão, constatam-seadições de 1,15, 1,55, 1,35 e 0,54 kg de MOD por quilogramade suplemento fornecido, nos tratamentos em que osuplemento continha 0,28, 0,55, 0,83 e 1,11 g uréia UTM-1,respectivamente. Esses dados indicam que, depois dedeterminado valor de inclusão de nitrogênio não protéicona dieta do animal, o CMO diminui, levando os coeficientesde adição a decrescerem.
O consumo de proteína degradável no rúmen (CPDR)respondeu de forma quadrática à quantidade de uréiaincluída no suplemento, o que pode ser explicado pelaresposta quadrática que o CMO de feno apresenta.O decréscimo no consumo de feno, a partir de determinadadose de uréia, reduziu a participação de PDR destena dieta e afetou o CPDR.A relação entre o consumo de proteína degradávelno rúmen e o consumo de matéria orgânica digestível(CPDR:CMOD) mostrou-se crescente e linear entre os tratamentos (CPDR:CMOD = 2,90x + 5,74, r2 = 0,95)(Tabela 5). Para cada grama de uréia por UTMsuplementada, houve aumento de 5,74 pontosporcentuais na relação. As relações de CPDR:CMODestão dentro das propostas pelo National ResearchCouncil (1996), que variam de 7 a 13 para volumososde baixa qualidade. 
Koster et al. (1996) e Cochran et al. (1998) relataramque a exigência de proteína degradável no rúmen,para a otimização do ambiente ruminal, pode ser obtidapela PDR, que maximiza o consumo de matéria orgânicadigestível. Isto é possível depois do ajuste da equaçãoquadrática da relação entre CPDR e o CMOD e ocálculo do ponto máximo da curva. Neste trabalho, oponto de máximo na curva foi obtido quando a relaçãoentre o CMOD e CPDR foi de 8,1%, valor dentro dointervalo proposto pelo National Research Council(1996).Koster et al. (1996) e Klevesahl et al. (2003), aoanalisar a relação entre o CPDR e o CMOD, pelo métododa regressão segmentada (broken line), encontraramvalores de 11,1% e 9%, respectivamente.
Entretanto, aoutilizar o método de ponto de máximo, obtiveram osvalores de 15,8 e 14,2%, respectivamente. Ao se utilizarneste trabalho o modelo de regressão segmentada,obteve-se uma relação ótima de 5,94% (Figura 1).Os valores da relação CPDR:CMOD, citados na literatura,foram superiores ao obtido no neste trabalho(8,1%), possivelmente pela qualidade do volumoso,particularmente quanto ao teor de FDN. Enquanto amédia de FDN dos trabalhos revisados (Koster et al.,1996; Klevesahl et al., 2003) chegava ao máximo de76,6%, o volumoso utilizado apresentava 84%, tendomenor quantidade de carboidrato não estrutural parafermentação microbiana (Dewhurst et al., 2000), maiortempo de retenção, diminuindo a eficiência da fermentação(Klopfenstein, 1996). Além disso, a suplementaçãocom fonte de nitrogênio não protéico, ao volumoso combaixo teor de proteína bruta (3,86%), pode ter limitado asíntese microbiana por deficiência de fatores de crescimento(como ácidos graxos voláteis de cadeiaramificada), peptídeos e aminoácidos (Russellet al., 1992). 
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Conclusões
1. O nível de incorporação de nitrogênio não protéicoaos suplementos afeta o consumo de matéria orgânicadigestível.
2. Conforme o modelo utilizado para estimar a exigênciade proteína degradável no rúmen, em relaçãoà matéria orgânica digestível, pode-se diminuir ematé 27% o suprimento de proteína degradável norúmen, sem prejuízo ao consumo de matéria orgânicadigestível.
Agradecimentos
À Tortuga Companhia Zootécnica Agrária e à PajoaraIndústria e Comércio Ltda., pelo apoio na execução dotrabalho.ReferênciasASSOCIATION OF OFFICIAL ANALYTICAL CHEMISTS -AOAC. Official methods of analysis. 16th ed. Washington, DC,1995. 2v.BANDYK, C.A.; COCHRAN, R.C.; WICKERSHAM, T.A.;TITGEMEYER, E.C.; FARMER, C.G.; HIGGINS, J.J. Effect ofruminal vs postruminal administration of degradable protein onutilization of low-quality forage by beef steers. Journal of AnimalScience, v.79, p.225-231, 2001.BODINE, T.N.; PURVIS II, H.T.; LALMAN, D.L. Effects ofsupplement type on animal performance, forage intake, digestion,and ruminal measurements of growing beef cattle. Journal of AnimalScience, v.79, p.1041-1051, 2001.COCHRAN, R.C.; KOSTER, H.H.; OLSON, K.C.; HELDT, J.S.;MATHIS, C.P.; WOODS, B.C. Supplemental protein sources forgrazing beef cattle. In: ANNUAL FLORIDA RUMINANTNUTRITION SYMPOSIUM, 9., 1998, Gainesville. Proceedings.Gainesvelle: University of Florida, 1998. p.123-136. 
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Autores:
Harold Ospina Patino
Universidad Federal Do Rio Grande do Sul UFRGS
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