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Zearalenona - Efeitos em suinos

Efeitos da Zearalenona em leitoas pré-púberes

Publicado: 8 de novembro de 2010
Por: L.C. Teixeira, A.I.A Fiori, , R. Locatelli-Dittrich, E. Santin e Geraldo Camilo Alberton, Universidade Federal do Paraná (UFPR), PR.
INTRODUÇÃO 
A zearalenona (ZEA) é um contaminante freqüente dos grãos e sendo a dieta de suínos composta, sobretudo por milho e soja, estes animais estão diretamente expostos a esta micotoxicose. Adicionalmente, particularidades da metabolização hepática de suínos os tornam a espécie mais susceptível, já que, ocorre a maior formação de metabólito mais tóxico que a própria ZEA, o α-zearalenol (8).
A maioria dos trabalhos que tratam de intoxicação experimental com ZEA utiliza doses superiores a 1mg/kg (11, 2). A ocorrência de sinais clínicos é dependente de fatores individuais, da dose e sua manifestação clínica está condicionada ao estresse dos animais expostos. Este estudo teve como objetivos avaliar os efeitos da exposição de fêmeas pré-púberes a uma concentração de ZEA que de acordo com a literatura é capaz de reproduzir sinais clínicos de intoxicação (4), e ainda relativamente próxima a encontrada no campo (13); estabelecendo-se a concentração de 0,75mg/kg de ZEA. Adicionalmente, os efeitos tóxicos foram avaliados utilizando-se variáveis do trato reprodutivo, hematológicos e bioquímicos sangüíneos, o ganho de peso e a resposta imune humoral frente a desafio com hemácias de carneiro (SRBC).
MATERIAL E MÉTODOS
Durante um período de 21 dias, 12 leitoas com idade média de 32 dias foram distribuídas em dois tratamentos com 6 animais cada: T1 (ração controle) e T2 (ração experimental com 0,75 mg/kg de ZEA). Os animais foram alojados em baias individuais com alimento e água fornecidos ad libitum. A ração foi produzida com milho moído, farelo de soja, núcleo vitamínico-mineral e adicionada de ZEA (Sigma Aldrich Corporation). Nestes ingredientes e na ração final (após a adição da ZEA) pesquisou-se ZEA, aflatoxinas B1, B2, G1, G2 e ocratoxina. Após as análises fez-se o cálculo de correção para obtenção final na ração da concentração de ZEA de 0,75 mg/kg.
Semanalmente as leitoas foram pesadas,obtendo-se o cálculo do ganho de peso, e realizada a vulvometria com auxílio de paquímetro digital que forneceu as medidas em milímetros da largura (eixo latero-lateral) e altura (eixo dorso-ventral) da vulva. Multiplicando-se os eixos obteve-se a área da vulva.
No primeiro e no 21° dia de experimento foram obtidas amostras de sangue com e sem EDTA para avaliação dos parâmetros hematológicos e bioquímicos sangüíneos, respectivamente. Determinou-se as concentrações séricas das enzimas AST (aspartato aminotransferase) e GGT (gamaglutamil tranferase), da uréia, PT (proteína total) e abumina; feitas em analisador bioquímico semi-automático CELM-SBA-200.
No 21° dia de experimento, os animais foram abatidos em frigorífico. Os órgãos do trato reprodutivo (TR) foram dissecados e pesados. Em seguida obteve-se o peso do conjunto ovário-útero-vagina. Calculou-se o peso relativo do trato reprodutivo e relativo do ovário-útero-vagina, dividindo-se os valores dos pesos encontrados pelo peso corporal e multiplicando-os por 100. Fragmentos do fígado, linfonodos, útero e vagina foram destinados a análise histopatológica e avaliados quanto à presença de alterações em sua morfologia. No útero mensurou-se, em três campos, a altura média da célula epitelial das glândulas endometriais e altura média da célula epitelial superficial da mucosa uterina, conforme Heneweer et al (6).
Avaliou-se a resposta imune humoral, determinando-se anticorpos anti-hemácia de carneiro pelo teste de hemaglutinação (HA) em placas com duas inoculações intramusculares de 108 SRBC diluídas em solução salina e com adjuvante completo de Freund (Modificado de 3). A primeira inoculação foi feita no 10° dia e a segunda no 17° dia do experimento, sendo coletados sangue 5 dias após a 1° inoculação e 4 dias após a 2° inoculação. O soro foi congelado (-20°C) para realização do teste de HA e os títulos determinados pelo método de diluições seriadas de acordo com Schurig et al.(10).
As médias das variáveis estudadas entre os grupos foram submetidas à avaliação estatística pela análise de variância (ANOVA). Quando detectado efeito dos tratamentos seguiu-se com o pós-teste de comparação de Tukey/Kramer para verificar diferenças entre as médias, com segurança de 95%.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Na análise micotoxicológica obteve-se a concentração final desejada de 0,75mg/kg de ZEA e nenhuma outra micotoxina foi encontrada na ração. Os resultados da análise micotoxicológica sugerem a freqüente ocorrência de ZEA nos grãos do Brasil, já que a micotoxina foi encontrada no milho e no farelo de soja, e por isso o grupo T1 apresentou a concentração de 0,335mg/kg de ZEA. Este resultado ratifica os obtidos por Salay e Mercadante (9) que em levantamento da incidência de micotoxinas no milho, amostras dos estados da região Sul do Brasil e MS, apresentaram mais de 50% de contaminação por ZEA.
Os resultados das variáveis do TR estão apresentados na tabela 1. A área vulvar no T2 apresentou diferença significativa somente no 21°dia. Andretta et al. (2) com 2mg/kg observaram tais alterações ainda na
1°semana de experimentação, reforçando a influência da dose e do tempo de exposição na manifestação da micotoxicose. Ainda neste parâmetro vale ressaltar o alto desvio padrão observado nos tratamentos, o que sugere que para testes com doses baixas de ZEA este parâmetro pode não ser confiável. Foi observado no T2 aumento do peso do trato reprodutivo, hipertrofia das células epiteliais, detectada nas medições das células da glândula endometrial e superficial da mucosa uterina, relatado em ratos por Heneweer et al. (6). Na avaliação histológica houve alterações no T2, observou-se no útero metaplasia escamosa e hiperplasia das glândulas endometriais; e na mucosa do canal vaginal, proliferação, irregularidade e aumento da camada epitelial. A ZEA atua estimulando a síntese protéica uterina induzindo a proliferação celular e aumentando a massa dos órgãos reprodutivos (5), sendo assim, os resultados observados nos peso do TR, da área vulvar, bem como da altura das células epiteliais e os achados histológicos evidenciam seu potencial estrogênico.
Na avaliação histológica de fígado observou-se discreta hiperplasia dos ductos biliares em ambos os tratamentos. Este achado pode estar relacionado com o fato de no T1, existir 0,335 mg/kg de ZEA e, sendo a sua metabolização hepática, pode ser indicativo de resposta à toxicidade leve. Além disso, pode haver outras micotoxinas presentes no milho que não foram pesquisadas ou ainda outros agentes tóxicos na dieta que resultem numa maior atividade metabólica neste órgão, inclusive no T1.
Não houve diferenças no ganho de peso entre T1 e T2. Outros estudos com ingestão de ração com doses iguais e superiores a 2mg/kg de ZEA não observaram alterações no desempenho dos animais (2,11).
Apesar de ser descrito na literatura os efeitos imunotóxicos (1,7), hematotóxicos e hepatotóxicos (1) da ZEA, não houve nenhuma alteração nos parâmetros hematológicos e bioquímicos sangüíneos e na avaliação de títulos de anticorpos anti-hemácias de carneiro no T2.
CONCLUSÃO
A concentração de 0,75mg/kg de ZEA produziu aumento do peso de trato reprodutivo, da área vulvar, da altura das células epiteliais das glândulas endometriais e das células epiteliais superficiais na mucosa uterina. No entanto, não houve alteração no ganho de peso, nem tampouco nos parâmetros hematológicos, bioquímicos sangüíneos e na resposta imune humoral contra hemácias de carneiro.
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. ABBÈS, S. et al. Preventive role of phyllosilicate clay on the Immunological and Biochemical toxicity of zearalenone in Balb/c mice. International Immunopharmacology, v.6, p.1251-1258, 2006. 2. ANDRETTA, I. et al. Alimentação de leitoas pré-púberes com dietas contendo ZEA. Arq. Bras. Med. Vet. Zootec., v.60, n.5, p.1227-1233, 2008. 3. BONNETTE, E. D.et al. Humoral and cell-mediated immune response and performance of weaned pigs fed four supplemental vitamin E levels and housed at two nursery temperatures. J Anim Sci., v.68, p.1337-1345,1990 4. DOLL, S. et al. The effect of increasing concentrations of Fusarium toxins in piglet diets on histological parameters of the uterus and vagina. Arch. Anim. Nutr., v.58, p.413-417, 2004. 5. GAUMY, J et al. Zéaralénone: propriétés et toxicité expérimentale. Revue Méd. Vét., v.152, n.3, p.219-234, 2001. 6. HENEWEER, M. et al. Estrogenic effects in the immature rat uterus after dietary exposure to ethinylestradiol and zearalenone using a systems biology approach. Toxicological sciences, v.99, n.1, p.303-314, 2007.7. LUONGO, D. et al. Effects of four Fusarium toxins (fumonisin B1, a-zearalenol, nivalenol and deoxynivalenol) on porcine whole-blood cellular proliferation. Toxicon., v. 52, p.156-162, 2008. 8. MALEKINEJAD, H. et al. Species differences in the hepatic biotransformation of zearalenone. The Veterinary Journal, v.172, p.96-102, 2006. 9. SALAY, E.; MERCADANTE, A. Z. Mycotoxins in Brazilian corn for animal feed: occurrence and incentives for the private sector to control the level of contamination. Food Control, v.13, p.87-92, 2002. 10. SCHURIG, G.G. et al. Elimination  of genital vibriosis in female cattle by systemic immunization with killed cells or cell- free extracts of Campylobacter fetus. The J. Infect. Dis. v.138, n. 4, p.463-472, 1978. 11. SPERANDA MARCELA et al. Haematological and biochemical parameters of weaned piglets fed on fodder mixture contaminated by zearalenone with addition of clinoptilolite. Acta Veterinaria (Beograd), v.56, N.2-3, p.121-136, 2006. 13. VARGAS E.A. et al. Co-occurrence of a?atoxins B1, B2, G1, G2, zearalenone and fumonisin B1 in Brazilian corn. Food Addit Contam v.18, p.981-986, 2001.
Tabela 1. Variáveis do trato reprodutivo analisadas no grupo T1 (controle) e T2 (0,75mg/kg de ZEA) 
Efeitos da Zearalenona em leitoas pré-púberes - Image 1

** O Trabalho foi apresentado durante a Pork Expo 2010, em Curitiba. 

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Autores:
Geraldo Camilo Alberton
Universidade Federal do Paraná - UFPR
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Luciana ferreira
18 de febrero de 2018
Estou c uma leitoa prenha c suspeita de Zea esya c a vulva bem inchada gostaria de saber se t tratamento e se pd contaminar o rebanho estando junta obrigado
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Maíra Vasconcelos
8 de noviembre de 2010
Olá, comunidade Engormix. Convido aos usuários a discutir sobre a zearalenona (ZEA) na suinocultura, seus efeitos em leitoas e em cachaços. Sendo que em ambos a ZEA está associada a problemas reprodutivos, quais as principais características clínicas apresentadas pelos animais contaminados? A contaminação por ZEA é mais comum no campo ou durante a armazenagem do trigo e/ou milho? E em cada caso, qual o manejo indicado para evitar a contaminação? Deixo o espaço aberto para o intercâmbio de informações. Espero seu comentário.
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