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Substituição do milho pelo Farelo de Tucumã em rações para poedeiras comerciais leves

Publicado: 31 de agosto de 2023
Por: André Ferreira Silva1, Frank George Guimarães Cruz1, João Paulo Ferreira Rufino2, Valcely da Rocha Costa1, Cristiane Cunha Guimarães1, Ramon Duque Melo1.1Faculdade de Ciências Agrárias, Universidade Federal do Amazonas, Manaus (AM), Brasil. 2Escola Superior de Ciências da Saúde, Universidade Federal do Amazonas, Manaus (AM), Brasil.
Sumário

O presente trabalho objetivou avaliar a substituição do milho pelo farelo de tucumã em rações para poedeiras comerciais leves sobre o desempenho, qualidade do ovo e análise de viabilidade econômica. O período experimental teve duração de 84 dias, com quatro ciclos de 21 dias. Foram utilizadas 180 poedeiras Hisex White (25 semanas de idade). O delineamento experimental foi inteiramente casualizado com os tratamentos constituídos por seis níveis de substituição do milho por farelo de tucumã (0, 20, 40, 60, 80 e 100%) e cinco repetições de seis aves cada. Os dados coletados foram submetidos à regressão polinomial (P ≤ 0,05). O consumo de ração aumentou (P < 0,05) a partir de 60% de substituição. Após esse nível, o consumo de ração e a produção de ovos foram drasticamente reduzidos. Esses resultados refletiram diretamente na conversão alimentar (kg.kg-1 e kg.dz-1). Os resultados de massa de ovos de aves alimentadas com farelo de tucumã foram menores que a dieta controle. O peso do ovo e o percentual de casca reduziram a partir de 40% de substituição. Até este nível, houve um aumento no percentual de gema e albúmen, altura do albúmen e da gema e coloração da gema. Em 100% de substituição houve uma redução considerável na qualidade do ovo. A substituição do milho por farelo de tucumã afetou todos os parâmetros de viabilidade econômica. Os resultados deste estudo indicaram que é possível substituir 60% do milho por farelo de tucumã em rações para poedeiras comerciais leves sem efeito negativo sobre o desempenho e qualidade dos ovos com boa viabilidade econômica.

Palavras-chave: Alimento alternativo. Amazônia. Astrocaryum aculeatum. Avicultura.

INTRODUÇÃO

Um dos maiores problemas da indústria avícola em algumas regiões brasileiras é uma grande necessidade de milho e farelo de soja, especialmente devido ao fato destes serem os principais alimentos utilizados nas rações avícolas. Nesse contexto, quando há problemas relacionados à logística ou oscilações mercadológicas em sua disponibilidade em determinada região, pode haver elevações consideráveis no custo de produção (LOPES et al., 2011; BATALHA et al., 2018).
Pesquisas com alimentos alternativos que apresentam potencial para inclusão ou substituição destes alimentos convenientes em rações avícolas vêm sendo planejadas justamente com a intenção de melhorar os custos com alimentação que podem vir a representar cerca de 70% do custo total de produção (CRUZ et al., 2016). É importante destacar que esses alimentos alternativos devem apresentar um menor custo de produção e composição nutricional semelhante ou melhor em relação aos alimentos convencionais (ENKE et al., 2010).
Nesse sentido, a Amazônia apresenta inúmeras espécies nativas de plantas com potencial econômico, tecnológico e nutricional (NASCIMENTO, 2010), pois essas características têm atraído o interesse de pesquisadores em diversas áreas da produção animal (HANNA et al., 2013). Dentre essas espécies, o tucumã se destaca por suas inúmeras propriedades nutricionais, como potencial calórico, fibra, pró-vitamina A (caroteno) e lipídios (GENTIL; FERREIRA, 2005; FERREIRA et al., 2008), além de seu processamento produtivo uma série de resíduos orgânicos com potencial biológico para reutilização.
O fruto do tucumã é o principal produto da palmeira, composto em duas espécies: Astrocaryum vulgare, encontrado na Amazônia Oriental, nos Estados do Amapá, Maranhão, Pará e Tocantins; e Astrocaryum aculeatum, que ocorre na Amazônia Central, especialmente no Estado do Amazonas (CLEMENT et al., 2005). Didonet e Ferraz (2014) afirmam ainda que cerca de 367,8 toneladas de frutos de tucumã Astrocaryum aculeatum são comercializadas anualmente em feiras e mercados de Manaus, seu grande centro comercial, gerando um grande volume de resíduos. Além disso, todo esse resíduo pode apresentar um excelente potencial nutricional, principalmente resíduos da região do mesocarpo do fruto (MILLER et al., 2013).
As referências para uso de farelo de tucumã em dietas de aves ainda são escassas, conforme descrito por Miller et al. (2013), Rufino et al. (2015) e Costa et al. (2017). No entanto, esses autores apontaram consensualmente que a extinção de tucumã apresenta um bom potencial biológico e produtivo, além de uma boa previsão econômica para sua inclusão em rações para aves. A partir dessas informações, o presente estudo tem como objetivo avaliar a substituição do milho pelo farelo de tucumã em rações para poedeiras, níveis comerciais sobre o desempenho, qualidade do ovo e análise de previsões econômicas.

2 MATERIAL E MÉTODOS

Este estudo foi conduzido no Setor de Avicultura da Faculdade de Ciências Agrárias da Universidade Federal do Amazonas, localizado no Setor Sul do Campus Universitário, Manaus, Estado do Amazonas. Os procedimentos experimentais deste estudo foram aprovados pelo Comitê de Ética no Uso de Animais (CEUA) sob protocolo nº 015/2016 da Universidade Federal do Amazonas.
O período experimental teve duração de 84 dias divididos em quatro períodos de 21 dias. No início do período experimental, as aves foram submetidas a um período de adaptação às rações e instalações por sete dias. O aviário experimental utilizado possuía dimensões de 17,0 m de comprimento e 3,5 m de largura, contendo gaiolas de arame galvanizado, comedouros tipo calha e bebedouros tipo niple.
Foram utilizadas 180 poedeiras comerciais Hisex White com 25 semanas de idade. As aves foram pesadas no início do período experimental para padronizar as parcelas, apresentando um peso médio de 1.421±0,053 kg. A coleta de ovos foi realizada duas vezes ao dia (9 da manhã e 3 da tarde), registrando-se cada ocorrência diária (mortalidade, número de ovos, entre outras informações). A temperatura e a umidade relativa foram registradas duas vezes ao dia (9 da manhã e 3 da tarde) a partir de um termo higrômetro digital posicionado acima da gaiola no aviário, com médias de 31,73 ºC a 32,45 ºC e 63,05 % a 70,31%, respectivamente.
O delineamento experimental foi casualizado sendo constituído por seis tratamentos correspondentes aos níveis de substituição do milho pelo farelo de tucumã (0, 20, 40, 60, 80 e 100%) nas rações, com cinco repetições de seis aves cada. Ao longo do período experimental, 16 horas de luz/dia (12 horas naturais + 4 horas artificiais) foram causadas às aves.
Os resíduos de tucumã (formados por casca e resíduos do despolpamento) utilizados para processamento do farelo foram coletados em feiras e mercados da cidade de Manaus, Estado do Amazonas, Brasil. Após a coleta, os resíduos foram selecionados, descartando-se todo o material em processo de decisão ou que pudesse causar problemas de saúde às aves. Em seguida, os resíduos selecionados foram lavados, secos em estufa a 60 ºC por 24 horas e triturados, obtendo-se o produto denominado farelo de tucumã. A composição do farelo de tucumã foi determinada no Laboratório de Tecnologia do Pescado da Universidade Federal do Amazonas e no Laboratório de Análise de Solos e Plantas da EMBRAPA Amazônia Ocidental, segundo a metodologia descrita pelo Instituto Adolfo Lutz (ZENEBON et al., 2008) com seus resultados apresentados na Tabela 1.
Tabela 1. Composição centesimal do farelo de tucumã
Tabela 1. Composição centesimal do farelo de tucumã
As rações isonutritivas foram formuladas utilizando o software computacional Supercrac (2004) em atendimento às exigências nutricionais das aves e conforme os valores dos ingredientes fornecidos por Rostagno et al. (2017), com exceção da composição do farelo de tucumã, e encontra-se na Tabela 2.
Tabela 2. Rações experimentais com os níveis crescentes de substituição do milho por farelo de tucumã
Tabela 2. Rações experimentais com os níveis crescentes de substituição do milho por farelo de tucumã
Para desempenho, foi avaliado em cada período o consumo de ração (g/ave/dia), produção de ovos (%), conversão alimentar (kg de ração por kg de ovo produzido - kg.kg -1 ), conversão alimentar ( kg de ração por dúzia de ovos produzidos - kg.dz -1 ) e massa de ovo (g). Nos últimos dois dias de cada período, quatro ovos de cada parcela foram selecionados aleatoriamente para avaliar a qualidade dos ovos, sendo analisados o peso do ovo (g), gema (%), álbum (%), casca (%), altura da gema (mm), altura do álbum (mm), cor da gema, espessura da casca (μm), gravidade específica (g.cm -3 ) e unidade Haugh. Antes da avaliação, para equalizar a temperatura, os ovos foram armazenados por uma hora em temperatura ambiente.
Os ovos foram pesados em balança eletrônica com cerca de 0,01 g. A massa de ovo foi obtida calculando-se o quociente entre peso do ovo e produção de ovos multiplicados por 100. Os ovos inteiros, imediatamente após a pesagem, foram colocados em cestos de arame e imersos em baldes plásticos contendo diferentes níveis de cloreto de sódio (NaCl), dos menores para a concentração mais alta, com variações de densidade de 1.075 a 1.100 g.cm -3 , com intervalo de 0,005. Os ovos foram removidos enquanto flutuavam para a superfície e seus respectivos valores foram registrados.
Para calcular a altura do álbum e da gema, estes foram colocados em uma placa de vidro plano para determinar seus respectivos valores. O seletivo para medir a altura do álbum e da gema foi mensurar a região medial entre a borda externa do álbum e a gema, sendo utilizado um paquímetro eletrônico. Em seguida, estes foram separados utilizando um separador manual de álbum e gema, sendo colocados em copos plásticos e pesados em balança analítica, sendo seus percentuais calculados com base no peso de seu ovo específico.
As respectivas cascatas foram lavadas, secas em estufa a 60 ºC por 48 horas, e pesadas em balança analítica, sendo seus percentuais calculados com base no peso de seu ovo específico. Estas mesmas cascatas secas foram utilizadas para determinar a espessura da cascata, sendo medidas através de um manual de micrômetro com leituras em três regiões da cascata: basal, equatorial e apical, com os valores registrados em micrometro (µm). A coloração da gema foi avaliada através de um leque colorimétrico da Roche© com uma escala de 1 a 15. A unidade de Haugh foi calculada utilizando-se os valores de peso do ovo e altura do álbum, sendo os resultados obtidos pela fórmula UH = 100 x log (H + 7,57 - 1,7 x W 0,37 ), em que H = altura do albúmen (mm); e W = peso do ovo (g).
Na análise de soluções econômicas, os dados obtidos sem desempenho foram utilizados. As variáveis econômicas comprovadas foram: preço da ração (R$/kg), custo de produção (R$), receita bruta (R$), lucro bruto (R$), índice de rentabilidade (%) e ponto de equilíbrio (unidade). ), de acordo com a metodologia utilizada por Costa et al. (2009), Silva et al. (2009) e Rufino et al. (2017).
Para determinar os custos com alimentação e produção, foram utilizados os valores por quilo das matérias-primas utilizadas e estes preços atualizados na região durante o período experimental, que foram: milho, R$ 0,30/kg; farelo de soja, R$ 1,20/kg; calcário, R$ 0,41/kg; fosfato bicálcico, R$ 1,92/kg; suplemento mineral e vitamínico, R$ 9,98/kg; DL-metionina, R$ 12,50/kg; óleo de soja, R$ 3,30/L; e sal, R$ 0,40/kg. Para cálculo do custo do farelo tucumã, foram considerados os gastos com transporte e relativos ao produto, sendo estimados em R$ 0,50/kg. Os custos fixos não foram alterados no curto período de tempo durante o experimento e foram considerados constantes para todos os tratamentos.
A análise de variância foi realizada pelo programa computacional SAS (2008) e as estimativas dos tratamentos foram aplicadas à análise de regressão polinomial a 5% de significância.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados de desempenho encontram-se na Tabela 3. O consumo de ração (y = - 0,0046x 2 + 0,3958x + 107,23; R² = 0,86) aumentou (p < 0,05) a partir de 60 % de substituição do milho por farelo de tucumã nas rações. Após esse nível, o consumo de ração e a produção de ovos (y = - 0,0101x 2 + 0,8975x + 76,749; R² = 0,94) foram reduzidos drasticamente.
Tabela 3. Consumo de ração (CR), produção de ovos (PO), conversão alimentar (CA, kg.kg -1 e kg.dz 1 ) e massa de ovos (MO) de poedeiras comerciais leves alimentadas com rações contendo níveis crescentes de substituição do milho por farelo de tucumã
Tabela 3. Consumo de ração (CR), produção de ovos (PO), conversão alimentar (CA, kg.kg-1 e kg.dz1 ) e massa de ovos (MO) de poedeiras comerciais leves alimentadas com rações contendo níveis crescentes de substituição do milho por farelo de tucumã
Estes resultados foram refletidos diretamente na conversão alimentar kg.kg -1 (y = 0,0002x 2 - 0,0136x + 1,2714; R² = 0,91) e kg.dz -1 (y = 0,0002x 2 - 0, 0127x + 1,5029; R² = 0,91), em que as ofertas incluem aumento a partir de 60% de substituição do milho por farelo de tucumã nas dietas. Todos os resultados de massa de ovos (y = 0,0007x 2 - 0,0706x + 69,913; R² = 0,79) de aves alimentadas com farelo de tucumã foram menores que a dieta controle.
Nossos resultados apontaram uma mudança evidente no consumo de ração de aves alimentadas com rações contendo níveis acima de 60% de substituição do milho por farelo de tucumã, observando uma adição significativa no consumo de ração, que afetou diretamente o desempenho. Essas alterações estão relacionadas às próprias características organolépticas do farelo de tucumã, que são diferentes das matérias-primas convencionais, podendo modificar a palatabilidade das rações para as aves, afetando sua ingestão e outros processos biológicos e produtivos (FREITAS et al., 2013) . Além disso, devido ao teor relativamente elevado de fibra bruta (14,04%) do farelo de tucumã, também foi obtido um aumento no teor de fibra bruta das rações, o que pode ter afetado a densidade das rações e o seu aproveitamento no trato gastrointestinal ( FREITAS et al., 2013).
Os resultados da qualidade dos ovos estão desejados na Tabela 4. O peso dos ovos (y = -0,0019x 2 + 0,1748x + 54,014; R² = 0,89) e o percentual de casca (y = -0,0005x 2 + 0,0526x + 9,6207; R² = 0,72) reduziram a partir de 40% de substituição do milho por farelo de tucumã. Até 40% de substituições de milho por farelo de tucumã houve aumento do percentual de gema (y = 0,083x + 31,42; R² = 0,84) e do percentual de álbum (y = 0,0096x + 61,99; R² = 0,87).
Tabela 4. Peso do ovo (PO), percentual de álbum (PA), percentual de gema (PG), percentual de casca (PC), altura do álbum (AA), altura da gema (AG), cor da gema (CG). ), espessura da casca (EC), gravidade específica (GE) e unidade Haugh (UH) de ovos de poedeiras comerciais níveis alimentados com rações contendo níveis crescentes de substituição do milho por farelo de tucumã
Tabela 4. Peso do ovo (PO), percentual de álbum (PA), percentual de gema (PG), percentual de casca (PC), altura do álbum (AA), altura da gema (AG), cor da gema (CG). ), espessura da casca (EC), gravidade específica (GE) e unidade Haugh (UH) de ovos de poedeiras comerciais níveis alimentados com rações contendo níveis crescentes de substituição do milho por farelo de tucumã
A altura do albúmen (y = -0,0002x 2 + 0,0333x + 7,3732; R² = 0,76), altura da gema (y = -0,0002x 2 + 0,0324x + 17,008; R² = 0, 73) e coloração da gema (y = -0,0001x 2 + 0,017x + 6,0604; R² = 0,89) apresentaram melhores resultados a partir de 80% de substituição do milho por farelo de tucumã nas rações. Em 100% de substituições houve uma especificação específica na qualidade dos ovos.
As alterações evidenciadas no comportamento alimentar ocasionadas pelo farelo de tucumã nas rações podem ter influenciado diretamente a qualidade dos ovos, especialmente a partir de níveis mais altos de substituição do milho. Entretanto, os resultados deste estudo indicaram uma boa eficiência da substituição parcial do milho pelo farelo de tucumã sobre as características internacionais do ovo, melhorando sua qualidade neste aspecto. De acordo com Trindade et al. (2007), Togashi et al. (2008) e Feijó et al. (2016), esse aumento na qualidade interna do ovo pode estar relacionado ao enriquecimento nutricional progressivo causado por rações com farelo de tucumã, principalmente pela deposição desses nutrientes em regiões específicas do ovo como o álbum e a gema.
Os resultados da análise econômica encontram-se na Tabela 5. A substituição do milho pelo farelo de tucumã prejudicial (P < 0,05) o preço da ração em até R$ 0,29 centavos. No entanto, a partir de 60% de substituições, o custo de produção (preço do ovo) aumentou (P < 0,05) (y = 0,0073x 2 - 0,0395x + 0,19; R² = 0,94) , representando uma redução (P < 0,05) na receita (y = -8,1268x 2 + 50,339x + 152,77; R² = 0,94), lucro operacional (y = - 6,5182x 2 + 32,526x + 83,62; R² = 0,94) e lucratividade (y = -1,713x 2 + 8,8818x + 51,153; R² = 0,91). Esses resultados foram refletidos diretamente (P < 0,05) no ponto de equilíbrio (y = -8,6177x + 210,4; R² = 0,61).
Tabela 5. Preço da ração (PR), custo de produção (CP), renda bruta (RB), lucro operacional (LO), lucratividade (LC) e ponto de equilíbrio (PE) de poedeiras comerciais níveis alimentados com rações contendo níveis crescentes de substituição do milho por farelo de tucumã
Tabela 5. Preço da ração (PR), custo de produção (CP), renda bruta (RB), lucro operacional (LO), lucratividade (LC) e ponto de equilíbrio (PE) de poedeiras comerciais níveis alimentados com rações contendo níveis crescentes de substituição do milho por farelo de tucumã
No aspecto econômico, o preço da ração diminuiu com o aumento do nível de tucumã nas rações, o que pode estar diretamente ligado à grande oferta de tucumã na cidade de Manaus, local onde fora desenvolvido o estudo. Além disso, o subprodutor inclusive na ração, a farinha do descarte de tucumã, apresenta um custo baixíssimo, quando comparado com outros materiais-primas utilizados para a fabricação da ração.
No entanto, obtivemos-se no custo de produção que apenas 60% da substituição de milho pelo tucumã obteve metas econômicas, com custo de produção igual ou inferior ao controle. Esse resultado, além de considerar os esportes relacionados aos custos totais, também apresenta uma relação direta com a eficiência produtiva que o subproduto inclusive na proporção tem sobre o desempenho. Nesse sentido, quando é atingido um ponto de eficiência máxima nesta relação, a tendência é que a partir daí haja um declínio, em que quanto mais o produto seja mesmo na ração a eficiência econômica ou não se alterará ou piorará.
Loureiro et al. (2007) afirmaram que o uso de resíduos agroindustriais na alimentação animal deve representar uma alternativa alimentar para resolver problemas relacionados aos altos custos de produção. Essa redução pode ser resultante da substituição total ou parcial de alimentos convencionais, principalmente o milho e o farelo de soja. Estudos utilizando alimentos alternativos em rações avícolas afirmam que estes devem reduzir o custo alimentar, o custo de produção e manter o bom desempenho das aves (COSTA et al., 2009; RUFINO et al., 2017).
Os resultados deste estudo apontaram que a substituição parcial do milho pelo farelo de tucumã foi parcialmente mais viável, apresentando até 60% melhores resultados de metas econômicas. Rufino et al. (2015) e Melo et al. (2017) também comentaram que antes da análise de soluções econômicas de alimentos alternativos em rações de aves deve-se verificar a clareza entre análise nutricional e análise produtiva no mesmo estudo, ou resultados apresentados em outros estudos utilizando alimentos alternativos semelhantes. E, além do aspecto econômico, também deve ser fornecido o impacto ambiental da reutilização desses resíduos agroindustriais (COSTA et al., 2018). O manejo incorreto e o descarte de resíduos da agroindústria podem ocasionar grande impacto ambiental, além de distúrbios econômicos (TOGASHI et al., 2008).

4 CONCLUSÃO

Para esta população, a partir dos resultados obtidos, pode-se concluir que a substituição do milho em até 60% por farelo de tucumã em rações para poedeiras comerciais leves não apresenta efeitos negativos sobre o desempenho e a qualidade dos ovos. O farelo de tucumã apresentou-se ainda como um alimento alternativo que otimiza os custos de produção e proporciona uma excelente orientação econômica.

Publicado originalmente na Revista em Agronegócio e Meio Ambiente - RAMA, 2023.
DOI:10.17765/2176-9168.2023v16n2e7619
e-ISSN 2176-9168
Esta obra está licenciada sob a Licença

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Um dos maiores problemas da indústria avícola em algumas regiões brasileiras é uma grande necessidade de milho e farelo de soja, especialmente devido ao fato destes serem os principais alimentos utilizados nas rações avícolas.
Dentre essas espécies, o tucumã se destaca por suas inúmeras propriedades nutricionais, como potencial calórico, fibra, pró-vitamina A (caroteno) e lipídios (GENTIL; FERREIRA, 2005; FERREIRA et al., 2008), além de seu processamento produtivo uma série de resíduos orgânicos com potencial biológico para reutilização.
O fruto do tucumã é o principal produto da palmeira, composto em duas espécies: Astrocaryum vulgare, encontrado na Amazônia Oriental, nos Estados do Amapá, Maranhão, Pará e Tocantins; e Astrocaryum aculeatum, que ocorre na Amazônia Central, especialmente no Estado do Amazonas (CLEMENT et al., 2005). Didonet e Ferraz (2014) afirmam ainda que cerca de 367,8 toneladas de frutos de tucumã Astrocaryum aculeatum são comercializadas anualmente em feiras e mercados de Manaus, seu grande centro comercial, gerando um grande volume de resíduos. Além disso, todo esse resíduo pode apresentar um excelente potencial nutricional, principalmente resíduos da região do mesocarpo do fruto (MILLER et al., 2013).
Autores:
Frank George Guimarães Cruz
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