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Biodisponibilidade Fósforo Avicultura Dietas

BIODISPONIBILIDADE DE FÓSFORO NA AVICULTURA E SUINOCULTURA

Publicado: 7 de novembro de 2011
Por: Luiz W. O. Souza
Introdução
As dietas utilizadas em avicultura e suinocultura exigem a inclusão de fonte de fósforo suplementar porque este é relativamente escasso e parcialmente indisponível para não-ruminantes nos principais ingredientes utilizados. Entretanto, o P não absorvido dos grãos e das fontes suplementares pode resultar em menor desempenho animal, desperdício de nutriente e poluição ambiental. Assim, o conhecimento do conteúdo e disponibilidade do P nos ingredientes convencionais e alternativos é de grande importância, principalmente porque o P é mineral que mais onera as rações.
 
Disponibilidade do P nos ingredientes orgânicos
Em geral, ingredientes originados a partir de sobras de abatedouros possuem maior teor de P que ingredientes de origem vegetal, além de apresentarem maior disponibilidade deste elemento. O conteúdo total de fósforo (Pt) nos dois principais componentes das rações para aves e suínos, o milho e o farelo de soja, é 0,24 e 0,53% respectivamente. Ambos os ingredientes, além de não serem ricos em P, ainda apresentam grande parte deste nutriente indisponível para suínos e aves (Tabela 1). O farelo de arroz desengordurado e o farelo de trigo são ingredientes com conteúdo de Pt relativamente alta, se comparados ao milho e farelo de soja. Porém, segundo a publicação de Rostagno et al. (2005), somente 20 e 33% deste P é disponível (Pd) para aves e suínos nos respectivos ingredientes.
A manipulação genética dos ingredientes comumente utilizados em dietas para não-ruminantes é uma abordagem possível para se reduzir a necessidade de suplementação. A biodisponibilidade relativa do P (BRP) com base em cinzas ósseas para ingredientes com baixo P fítico foi comparada com a de ingredientes convencionais por Borgatti et al. (2009), em um estudo com frangos de corte durante os primeiros 21 dias de vida. A BRP média do milho, da cevada e do farelo de soja convencionais foi de 18,5; 50,9 e 34,4% respectivamente, enquanto, para a do milho, da cevada e do farelo de soja com baixo fósforo fítico foram de 93,5; 132,9 e 90,9% respectivamente. O consumo de ração (CR), o ganho de peso (GP) e a mineralização óssea das aves alimentadas com as dietas com baixo fósforo fítico foram superiores aos daquelas alimentadas com as dietas convencionais. As vantagens do uso da soja desenvolvida para baixo conteúdo de oligossacarídeos e de P ligado ao fitato foram estudadas por Cromwell et al. (2000a, 2000b), os quais observaram valores médios de 0,77% de Pt, 0,22% de P fítico e 0,55 % de P não-fítico em comparação com 0,70% de Pt, 0,48% de P fítico e 0,22% de P não-fítico observado para a soja comum. O cálculo da BRP com base em características ósseas revelou que mais P presente na soja modificada estava disponível para aves e suínos, sugerindo que tal ingrediente proporciona maior mineralização óssea, menor necessidade de suplementação e menor excreção de P no ambiente.
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Disponibilidade do P nas fontes inorgânicas
O uso de fontes inorgânicas e fontes alternativas de P para suplementação de aves e suínos foi estudado por diversos pesquisadores no Brasil e exterior em função do alto custo dos fosfatos de uso em nutrição animal. Cortelazzi et al. (2011) estudaram várias fontes inorgânicas utilizadas na suplementação de frangos de corte e concluíram que a BRP média, usando como critérios o GP e o peso das cinzas na tíbia (CT) e dedo médio (CD) foi de 105,7, 88,1 e 81,5% para os fosfatos monossódico, monobicálcico e bicálcico, respectivamente. Lima et al. (1997) determinaram a disponibilidde biológica do P em vários fosfatos bicálcicos e observaram valores variando entre 97,6 e 100,6%, em relação à um fosfato bicálcico padrão. Dados publicados por Veloso & Medeiros (1999) indicam que os fosfatos supertriplo e monoamônio apresentam BRP semelhante à dos fosfatos bicálcicos (Tabela 2) para suínos enquanto o fosfato monoamônio apresentou maior BRP do aquela observada para aves por Cortelazzi et al. (2011). O fosfato de Patos de Minas estudado por Veloso & Medeiros (1999) é um fosfato de rocha não purificado, matéria-prima utilizada na produção de fosfatos para uso na alimentação animal, o qual possui menor disponibilidade do P e teor de alguns elementos acima do desejável. Os autores sugeriram a possibilidade do uso deste fosfato consorciado à outra fonte de qualidade superior na alimentação de suínos em terminação.
Nas décadas de 80 e 90, discutiu-se o uso de fosfatos de rocha na suplementação do P em rações para animais de produção como um alternativa de baixo custo aos fosfatos bicálcicos. Estas fontes foram estudadas por Souza et al. (2009). Os autores avaliaram o desempenho e características ósseas de leitões em crescimento e a biodisponibilidade relativa do P (BRP) em 3 fosfatos bicálcicos (FB) e 3 fosfatos de rocha (FR). Independente da fonte de P utilizada, houve reflexo da suplementação sobre o ganho de peso (GP), conversão alimentar (CA), teor de cinzas ósseas (CO) e resistência óssea de metacarpos/metatarsos (RM) e fêmur (RF) de 168 leitões suplementados. Contudo, a comparação entre os fosfatos bicálcicos e os fosfato de rocha indicou menor desempenho e características ósseas para animais consumindo a fonte não processada. A BRP média nas fontes de FB e FR, relativas a uma fonte padrão disponível no Brasil (ao qual se atribuiu 100% de disponibilidade), foram 89 e 49% (GP), 112 e 49% (CO), 78 e 28% (RM), e 101 e 52% (RF), respectivamente (Tabela 2). Aliada à menor BRP, a alta concentração de elementos minerais potencialmente tóxicos provavelmente contribuiu para a menor resistência óssea e menor teor de cinzas observados no estudo, dado que o F presente nos ossos encontra-se na forma instável de fluorapatita, prejudicando a biodinâmica do metabolismo ósseo (Fernandes et al., 1999). A partir destes resultados, os autores concluíram que tais fontes não processadas e purificadas, como os fosfatos de rocha, não devem ser utilizadas na alimentação de aves e suínos. Com efeito, a instrução normativa IN1, de 04/05/2000 estabelece normas para a comercialização de fosfatos de rocha e indica que o rótulo de tal produto deve informar que este não é recomendado como fonte inorgânica de P para aves, suínos e bovinos de leite. Teixeira et al. (2004) também estudaram os fosfatos bicálcico, monobicálcico e supertriplo, apresentando dados reais de disponibilidade, onde se pode observar maiores valores para o superfosfato simples, seguido pelo bicálcico e monobicálcico (Tabela 2). Enquanto a técnica de “slope ratio” utilizada por Souza et al. (2009) resulta na determinação da absorção aparente do P e indica sua biodisponibilidade em relação à uma fonte padrão, a técnica de diluição isotópica utilizada por Teixeira et al. (2004) utilizada radiotraçadores e possibilita a determinação das perdas endógenas, apresentando valores reais de disponibilidade.
Fosfatos de uso agrícola são fontes de P alternativas estudadas como fonte suplementar para aves (Tabela 3), tendo sido sugerido que tais fontes representam considerável risco de toxicicidade em razão do elevado teor de outros elementos pontecialmente tóxicos (Fernandes et al., 1999).
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Uso da enzima fitase
A enzima fitase começou a ser estudada na década de 60, mas sua aplicação passou a ser mais amplamente divulgada muito mais tarde. Atualmente, as fitases mais utilizadas são produzidas a partir de Aspergillus niger, Peniophora lycii e Escherichia coli. Há diversos estudos avaliando a eficácia de tais enzimas e comparando a eficiência entre estas (Igbasan, 2000; Brana et al., 2006; Kim et al., 2006). Não somente o microorganismo utilizado na produção da enzima, mas também características intrínsecas ao ambiente intestinal influenciam a eficiênca enzimática (Kim et al., 2006). Portanto, para uma adequada compreensão do assunto, seria necessária uma revisão específica sobre a fitase.
Oliveira et al. (2011) observaram que a inclusão de 750 unidades de fitase por quilograma de ração (UF/kg) melhorou o desempenho e a aumentou a mineralização óssea de frangos de corte. A BRP, usando o fosfato bicálcico como padrão, foi aumentada de 55,4, 70,4 e 122,4% para 170,1, 156,4 e 153,6 % no milho, farelo de soja, respectivamente, o que indica ser a fitase uma enzima eficaz em aumentar a biodisponibilidade de P em ingredientes vegetais. Martins et al. (2011) avaliaram a BRP no farelo de trigo, na soja tostada e na soja extrusada e os efeitos da adição de fitase nas dietas de frangos de corte contendo estes ingredientes. A adição de fitase aumentou o consumo de ração (CR), o GP e a CA em 3,3; 2,6, e 0,8%, respectivamente, mas as diferenças não foram significativas. O teor médio de cinzas na tíbia foi elevado em 10,8% após a inclusão da enzima às dietas. Os valores de BRP dos ingredientes testados aumentaram em 6,32, 64,32 e 76,99% para o farelo de trigo, soja tostada e soja extrusada, respectivamente, em resposta à inclusão de fitase nas dietas. A fitase reduziu significativamente a excreção de P (mg) em 12,7% e a taxa de excreção (%) em 15,0%, independente de níveis ou fontes de P na dieta. A fitase resulta em aumento linear de produção de poedeiras em resposta à concentração de fitase em dietas convencionais. A adição de de 300 UF/kg de ração aumentou a disponibilidade de P, o teor de cinzas ósseas e a resistência óssea (Silva et al., 2008), enquanto o uso de 600 UF/kg melhorou a massa de ovos, a CA por massa de ovos e a CA por dúzia de ovos. A massa de ovos foi elevada de 51,22 para 54,03, 53,67 e 52,15 g/ave/dia quando se adicionaram 300, 600 e 1.200 UF/kg ração contendo 0,494% de Pd. Como pode-se observar, a quantidade ótima de inclusão de fitase para melhorar a conversão por massa de ovos parece estar abaixo 600 UF/kg. Contudo, a eficiência enzimática varia segundo o produto adotado, conforme verificado por diversos autores. Duas enzimas diferentes foram testadas por Tejedor et al. (2001), segundo as recomendações dos fabricantes (500 e 750 UF/kg) e observaram-se aumentos no GP em 3,4 e 2,8% para cada um dos produtos. Contudo, a melhoria da CA foi de 3% para ambos enzimas. Outras melhorias observadas foram na digestibilidade da energia, proteína, cálcio e fósforo.
 
Conclusões
A suplementação de P deve ser realizada com fosfatos de uso na alimentação animal. A possibilidade do uso de fontes alternativas substituindo parcialmente os fosfatos bicálcicos poderia ser trabalhanda, mas tal procedimento merece mais estudos e cautela na realização. Na escolha de ingredientes orgânicos deve-se buscar aqueles com maior conteúdo de Pd e o uso da fitase nas dietas de aves e suínos deve ser encorajado.
Autores:
Luiz Souza
ADM Animal Nutrition
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