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Produção Carnes Regiões do Mundo

A Produção de Carnes nas Principais Regiões do Mundo

Publicado: 27 de outubro de 2011
Por: Osler Desouzart (OD Consulting)
Recentemente recebi de uma amiga e cliente que trabalha na Europa uma simpática mensagem de festas, onde dizia que ficava difícil trabalhar no setor e não encontrar referências aos prognósticos que faço até o ano 050, principalmente os de que os Países em Desenvolvimento serão os vetores da demanda futura por carnes e que água será um fator decisivo.
Dos Países em Desenvolvimento, destaquei a influência que a Ásia e a África teriam sobre esse movimento futuro. A razão primeira reside na evolução demográfica mundial, apreciável na "Tabela 1" em números bsolutos, mas sobretudo porque esses dois continentes concentrarão esse crescimento da população do mundo.
Se em 1965 África e Ásia já respondiam por 66,3% da população, esse número alcança 75,3% em 2010 e progredirá para 79,0% em 2050 (cf. Gráfico I)
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De 2010 até 2050, África e Ásia responderão por 90,6% do crescimento demográfico mundial (cf. “Tabela 2”). E verifiquem que há um crescimento dessa participação na medida em que os anos passam, pois no período de 1965 a 2050 essa previsão de concentração era de 86,3%, aumentada para 88,9% quando considerado o período de 1995 a 2050. A razão reside na progressiva perda de participação no crescimento demográfico pela Europa e pelo Caribe, América Central e América do Sul. 
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Provoca pasmo quando se menciona a América do Sul como tendo tendência demográfica descendente e creio que mais espanto provocará a afirmação de que o Brasil tende a crescimento demográfico negativo a partir de 2040 (cf.Gráfico II).
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Não quero inundar vocês de dados demográficos, mas eles são a porta de entrada para quem deseja estudar as tendências futuras, que é o tema introdutório deste artigo. A essa altura é bom relembrar que este surge do comentário de amiga e cliente sobre minhas projeções de que o futuro do consumo de carnes terá como vetor os Países em Desenvolvimento, enquanto na primeira infância da jovem indústria de pecuária de carnes (1965-1985) este eram os Países Desenvolvidos.
Quando fazemos a correlação entre crescimento da produção de todas as carnes e o crescimento demográfico no período 1965-2010, verificamos que em todas as regiões do mundo aquele superou este. À exceção do Continente Africano onde a população cresceu em 221% e a produção de carnes 215%, em todas as demais regiões houve um aumento da disponibilidade de todas as carnes para a população (cf. Gráfico III).
O fato de a Ásia ter os dois países mais populosos do planeta, China e Índia, sempre faz com que associemos crescimento demográfico com Ásia.
Os famosos “fatos & dados”, que o Mestre Vicente Falconi nos ensina a cultivar, demonstram que em termos de números absolutos isto é verdade (cf.Tabela 3), mas quem em termos percentuais o maior crescimento demográfico, entre todas as regiões mundiais, pertence à África (cf.Gráfico III; Tabela 2). Nota-se mesmo que há uma desaceleração nítida do crescimento demográfico asiático, perceptível também no Gráfico I, quando observamos que a Ásia, que hoje concentra 60,3% da população mundial, responderá por 57,2% em 2050, enquanto a África aumentará dos 15,0% em 2010 para 21,8% em 2050. 
Em termos de crescimento percentual da produção de carnes no período 1965 a 2010 (cf.Gráfico III) é explosivo o aumento da Ásia (733%) e das Américas do Sul (417%) e Central (398%), enquanto que as demais regiões ora enfocadas ficam abaixo da média mundial de 239%.
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Entretanto, quando examinamos o aumento da disponibilidade per capita de todas as carnes (cf.Gráfico IV), a liderança permanece com a Ásia, onde o crescimento da produção de carnes foi cinco vezes maior do que o de sua população. A Europa, discreta tanto demograficamente quanto em termos de produção, revela sua importância com um dos principais mercados internacionais de carnes quando se constata que no período a disponibilidade de carnes para sua população aumentou em 311,8%. A América do Sul revela sua posição exportadora com um crescimento da disponibilidade per capita de 215,% contra um aumento da produção de 417% no período.
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Neste artigo abordaremos a evolução, entre 1965 e 2010, da produção mundial de carnes pelas principais regiões do mundo: África, América Central, América do Norte, América do Sul, Ásia, Caribe, Europa e Oceania.
A razão para proceder a esta análise por regiões, e não por países, prende-se às grandes modificações que tivemos nas fronteiras do mundo a partir do fim da União Soviética em dezembro de 19918, tanto entre as quinze repúblicas que integravam a URSS quanto entre os países do Leste Europeu9. Uma análise por países só é parcialmente válida a partir de 1992 e mesmo assim algo distorcida, visto que as economias desses países estavam em transição do centralismo estatal para economias de mercado, com as conseqüências inferíveis.
Como os dados de produção apresentados nos Gráfico III e IV só mostravam percentuais de crescimento, cumpre cifrar a produção das carnes das diferentes espécies. Inauguramos com a Tabela 3 onde verificamos esses dados a nível mundial. Nele poderemos constatar que:
  • A carne bovina, que era historicamente a mais produzida perde esse primazia para a carne suína na segunda metade da década de 70 e para a carne de aves no final da década de 90;
  • A carne suína mantém a liderança em 2010 com 37,4% da produção mundial, mesmo percentual que detinha em 1965 (cf. Tabela 4)
  • As carnes de aves lideraram o crescimento no período. Em 1965, representavam 12,9% da produção mundial e finalizam 2010 com 33,4%.
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O Gráfico III já permitia visualizar que a Ásia foi a mola propulsora do crescimento da produção mundial de carnes. O Gráfico V mostra a evolução das quatro principais regiões produtoras do mundo e é nítido que ao progresso da Ásia e da América do Sul corresponde a uma retração da participação da América do Norte e, de mais ainda mais acentuada, a da Europa. A “Tabela 5” quantifica dita evolução no mundo e nas regiões selecionadas neste estudo.
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O detalhamento por espécies começará pela carne mais produzida e consumida no mundo, a suína. O gráfico VI demonstra a explosão asiática e África com um surpreendente segundo lugar. Crescimentos percentuais podem induzir a interpretações errôneas, mas exame da “Tabela 6” quantifica o expressivo crescimento da suinocultura na África. A nossa América do Sul ocupa o terceiro posto em crescimento acumulado e, à luz de que há razões para otimismo sobre a progressão do consumo doméstico da carne suína brasileira, podemos esperar uma aceleração desse crescimento nos próximos dez anos.
Em termos absolutos, Ásia, alavancada pela produção chinesa, responde por 56% da produção mundial. No Gráfico VII podemos observar que a segunda maior região produtora de carne suína, a Europa, tem perdido participação no total mundial, assim como a América do Norte. A Ásia ainda tem espaço para crescer sua produção, pois vários países da região apresentam um dinamismo muito grande, sendo o Vietnam um bom exemplo. Quanto ao Planeta China que responde por quase 48% da produção mundial, acreditamos que não descartará a possibilidade de internacionalizar a produção necessária a atender parte de sua expansão de consumo.
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A “Tabela 6” quantifica a produção de carnes suínas no mundo e nas regiões ora enfocadas.
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Passaremos agora às carnes de aves, segunda em importância e primeira em dinamismo de crescimento e que deverá ultrapassar a carne suína entre 2022 e 202318 em volume produzido. A América do Sul lidera o crescimento percentual com 2.817%, ou seja, 3,6 vezes o crescimento médio mundial, seguido da Ásia e América Central. (cf. Gráfico VIII). É relevante a contribuição brasileira para esse dinamismo da avicultura sul-americana por representar 2/3 da produção total da região e por ter sua produção expandida em 4706,4%, ou seja, um crescimento de 6,06 vezes a média mundial. O crescimento da América do Sul, excluindo-se o Brasil, teria sido de 1.537% no período.
A quantificação da produção mundial e das principais regiões, apresentada na “Tabela 7”, mostra que Ásia continua como região líder da produção mundial, seguida pelas Américas do Norte e do Sul, esta expandindo progressivamente sua participação no total mundial, o que é facilmente perceptível no Gráfico IX.
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A última série de dados apresentada corresponderá às carnes bovinas. Como não podia deixar de ser, a liderança do crescimento pertence à Ásia com 413%. É interessante notar que quando das análises das outras duas espécies principais, o crescimento mundial era 2,4 e 7,7 vezes (cf. Gráficos Vi e VIII), enquanto na carne bovina não chegou nem a dobrar no período estudado, reforçando a tese de que:
  • As espécies prevalecerão em função de sua eficiência no uso de recursos naturais, escassos e finitos;
  • Carne de frango e espécies de aqüicultura ocuparão maiores espaços no futuro pela eficiência no uso desses recursos;
  • Carne bovina se tornará cada vez mais cara e esse aumento é justificado pelos recursos naturais necessários em sua produção e o tempo requerido para que os animais fiquem prontos para o abate;
  • Não significa que a carne bovina desaparecerá, mas sim que cada vez mais os produtos industrializados e transformados prevalecerão sobre os cortes tradicionais;
  • Os cortes especiais de carne bovina se tornarão produtos de luxo, acessíveis no futuro a uma minoria de consumidores;
  • A bovinocultura como nós a conhecemos hoje sofrerá notáveis transformações no futuro e os que não se adaptarem a essa inevitável revolução de métodos produtivos desaparecerão;
  • Serão raros os casos de empresas internacionais ou glocais22 que permanecerão dedicadas a uma só espécie.
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A quantificação da produção de carne bovina (cf.Tabela 8) mostra a Europa, que dominava a produção mundial com 1/3 do total (cf.Gráfico IX) chegando em 2010 com esta participação reduzida à metade e com os mesmo volumes que produzia em 1965. As Américas do Norte e do Sul seguem tendo participação importante. A disponibilidade de recursos naturais será fundamental na determinação de quem será quem no futuro da produção de carne bovina e aí residem razões para otimismo na América do Sul. 
A evolução da participação das principais regiões na produção mundial de carne bovina pode ser conferida no Gráfico XI.
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Os dados apresentados anteriormente revelam uma nítida migração da produção das carnes dos Países Desenvolvidos para os Países em Desenvolvimento. Para efeitos deste estudo, consideramos com Países Desenvolvidos os da América do Norte, Europa, Oceania e Japão. América do Sul, América Central, Caribe e Ásia, menos Japão, foram considerados os Países em Desenvolvimento.
A “Tabela 9” apresenta a quantificação das produções das principais carnes segundo essas duas categorias de países e na “Tabela 10” a evolução do percentual de participação sobre a produção mundial total.
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Essa evolução da participação das duas categorias de países fica de mais fácil visualização no “Gráfico XII – Participação % sobre a Produção de Todas as Carnes – Categoria de Países”, onde observamos que em meados da década de 90 é que os Países em Desenvolvimento assumem a primazia da produção mundial de todos os tipos de carnes. Se apresentássemos os gráficos individuais da evolução de cada uma das principais espécies, a visualização é quase que idêntica.
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Em trabalhos anteriores afirmamos que a dieta humana caminha para maior ingestão de produtos de origem animal, principalmente carnes. Ousamos mesmo apresentar uma projeção até o ano 2050, ousadia que repetimos agora na “Tabela 11”.
Será que acertaremos à perfeição esses números como se fossem os de loteria? Seguramente não e terei que seguir trabalhando, já que temo que os nossos amados e probos Congressistas não consigam aprovar o aumento de 61,5% para as aposentadorias e para os salários dos professores, não obstante o fato de que somos todos iguais perante a lei. Há um tal de George Orwell que discordou desta opinião, mas seguramente se tratava de um desses radicais que não tinha nada para fazer e que seria incapaz de localizar o estado de Pernambuco num mapa. 
A cada ano ajustamos ditas previsões na medida em que as estatísticas mundiais são atualizadas. Fazemos esse exercício há mais de quinze anos e já tivemos resultados totais distintos dos agora apresentados. Guardem esta tabela e até o final deste ano seguramente apresentaremos uma algo distinta.
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Entretanto, seja nesta, nas anteriores e firmemente acreditamos que também nas futuras será confirmado o que é realmente relevante, a tendência. Esta era, é e será ascendente. Há, portanto “futuro no futuro”.
Sem qualquer patriotada30 ou ufanismo tolo, culto próprio dos regimes de vocação nãodemocrática e dos que se acreditam divinos, é possível comungar da opinião de inúmeros estudiosos que indicam o Brasil desempenhando papel relevante no futuro da agropecuária mundial. Junto com vizinhos da América do Sul, com os Estados Unidos, alguns países africanos, alguns do Leste Europeu, alguns asiáticos e da Oceania estaremos gerando superávits exportáveis de carnes capazes de abastecer a demanda futura de países que não possuem as condições de recursos naturais para auto-sustentar a inevitável migração da dieta de suas populações para uma maior ingesta de produtos de origem animal, principalmente carnes.
Esse papel relevante do Brasil não está assegurado por direito divino, nem por qualquer dirigente que se ache a reencarnação do Messias. Depende de trabalho, e este não tem faltado ao campo. Nosso setor agrícola tem se desenvolvido em quantidade e qualidade, gerando tecnologia de produção agropecuária tropical.
Esse esforço necessita do apoio público através de um MAPA conduzido por profissionais de notória competência; por verbas não contingenciadas para a nossa defesa sanitária, para as pesquisas da Embrapa e de suas congêneres estaduais; de verbas para as universidades; de infraestrutura que garanta que o Brasil não seja imbatível da porteira para dentro e perca competitividade da porteira para fora.
Estados modernos e competitivos são também caracterizados pelo respeito à lei, mesmo quando esta contraria ou fere nossas convicções pessoais. Recentemente li na imprensa uma frase atribuída à Presidenta31 Dilma, segundo a qual defenderia “menos ideologia e mais Constituição”. Se efetivamente assim o for, a Presidenta ganhará um admirador.
Bom futuro para vocês.
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Rodrigo Kelly
4 de junio de 2015
O artigo é muito interessante, mas eu gostaria de saber as fontes de dados de cada item como as tabelas e gráficos. Um abraço.
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