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Adubação Nitrogenada Dejeto Suíno Milheto

Substituição da Adubação Nitrogenada por Dejeto Suíno na Cultura do Milheto

Publicado: 4 de janeiro de 2013
Por: Daniela Mondardo; Deise Dalazen Castagnara; Patrícia Paula Bellon; Cristiane Cláudia Meinerz; Paulo Sérgio Rabello Oliveira; Marcela Abbado Neres e Eduardo Eustáquio Mesquita da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE).
Sumário

Resumo

Estudou-se a substituição da fertilização com nitrogênio mineral por nitrogênio orgânico oriundo de dejeto líquido suíno na produção de matéria seca (MS) da cultura do milheto, a fim de gerar informações que viabilizem a redução dos custos com a adubação de pastagens e a disposição final adequada desse resíduo suinícola. O experimento foi instalado e conduzido em casa de vegetação sob delineamento estatístico inteiramente casualizado, com seis doses de N (0; 30; 60; 90; 120 e 150 kg ha-1) e quatro repetições. A semeadura foi realizada manualmente em vasos plásticos com capacidade para 4 L, tendo solo argiloso como substrato para crescimento. A aplicação dos tratamentos e as avaliações foram realizadas aos 10 e 40 dias após a emergência, respectivamente. Houve efeito significativo das doses de N sobre a produção de MS da parte aérea de folhas e colmos com resposta quadrática às doses de N. A utilização do N orgânico elevou a produção de MS da parte aérea até a dose de 106 kg ha-1 de N.

Palavras-chave: Adubação orgânica, Matéria seca, Nitrogênio.

Introdução
Dentre as práticas de manejo aplicadas em pastagens, a adubação nitrogenada é uma das que mais incrementos traz à produção de MS, pois os solos tropicais são, em sua maioria, deficientes em resíduos orgânicos (FRANÇA et al., 2007). Porém, em função das condições necessárias para a fixação industrial de nitrogênio, o custo dos fertilizantes nitrogenados é elevado, o que confere o caráter de inviabilidade econômica à adubação nitrogenada, tornando-a pouco difundida em pastagens tropicais (BODDEY et aI., 1997). Contudo, o nitrogênio (N) é um dos nutrientes mais limitantes na produção de MS das gramíneas forrageiras, e mais extraídos do solo por ser componente crucial de compostos orgânicos essenciais à vida das plantas, como aminoácidos e proteínas, ácidos nucléicos, hormônios e clorofila (LAVRES JR.; MONTEIRO, 2003). Dessa forma sua reposição no solo torna-se fundamental para a manutenção dos índices produtivos e evitando a degradação das pastagens. O milheto tem sido cultivado em pequenas propriedades pecuárias da região Oeste do Paraná para suprir as deficiências na produção de forragem apresentadas pelas gramíneas tropicais perenes, devido à disponibilidade de sementes, velocidade de crescimento, alta produção de forragem e facilidade de manejo. É uma planta adaptada à baixa fertilidade de solos, entretanto, apresenta alta resposta de produção para solos mais férteis ou adubados (KICHEL; MIRANDA, [2000]). A Região Oeste do Paraná apresenta expressivo potencial suinícola, com a geração de grandes quantidades de dejeto líquido suíno com potencial de utilização como fertilizante nas áreas de agricultura e de pastagem. O presente trabalho teve como objetivo avaliar a substituição da adubação nitrogenada convenciona pela aplicação de dejeto líquido suíno na produção de MS da cultura do milheto na região Oeste do Paraná.
 
Metodologia
O experimento foi instalado e conduzido em casa de vegetação pertencente ao Centro de Ciências Agrárias – UNIOESTE – Campus de Marechal Cândido Rondon, PR, nos meses de janeiro e fevereiro de 2009. O clima local é classificado segundo Koppen, como do tipo Cfa, subtropical com chuvas bem distribuídas durante o ano e verões quentes. As temperaturas médias do trimestre mais frio variam entre 17 e 18 °C, do trimestre mais quente entre 28 e 29 °C (INSTITUTO..., 2007). O delineamento estatístico utilizado foi o inteiramente casualizado, com seis doses de N (0; 30; 60; 90; 120 e 150 kg ha-1 que equivaleram a 0, 23, 46, 69, 92, 115 m3 ha-1 de dejeto líquido suíno, respectivamente) e quatro repetições, totalizando 24 unidades experimentais. O dejeto líquido de suíno foi obtido em uma propriedade suinícola próxima da área experimental e no momento da coleta apresentava um tempo de detenção em esterqueira aeróbica de 117 dias e uma densidade de 1,016 g L-1. As doses de dejeto líquido de suíno foram estimadas com base na análise química, considerando um índice de eficiência na liberação dos nutrientes (da forma orgânica para a forma mineral), de acordo com a Sociedade Brasileira de Ciência do Solo (COMISSÃO..., 1995) de 50% para o N. O resultado químico da análise do dejeto suíno revelou a seguinte composição: Nitrogênio total 2,63 g kg-1; Fósforo total (P2O4) 0,26 g kg-1; Potássio total (K20) 1,45 g kg-1; Cálcio (Ca) 20,90 g kg-1; Magnésio (Mg) 3,25 g kg-1; Manganês (Mn) 2,0 mg kg-1; Cobre (Cu) 0,00 mg kg-1 e Zinco (Zn) 110 mg kg-1. A semeadura da cultivar IPA BULK 1 foi realizada manualmente em vasos plásticos com capacidade para 4 L, tendo como substrato para crescimento solo classificado como Latossolo Vermelho Distroférrico com as seguintes características químicas obtidas a partir de análise de solo realizada para a camada de 0-20 cm: pH CaCl2 5,15 mol L-1; matéria orgânica 28,71 g dm-3; Al trocável 0,10 cmolc dm-3; Ca trocável 4,89 cmolc dm-3; Mg trocável 1,89 cmolc dm-3; e K trocável 0,80 cmolc dm-3 e P disponível 23,89 mg dm-3 (Melich-1). Quando as plantas atingiram aproximadamente 5 cm de altura, foi efetuado o primeiro desbaste, permanecendo dez plantas por vaso. A aplicação das doses de dejeto foi realizada aos 15 dias após a semeadura. Os vasos foram irrigados uma vez ao dia até o 30º dia, e a partir de então passaram a ser irrigados duas vezes ao dia. No 40º dia após a semeadura, procederam-se as avaliações, nas quais, as plantas foram cortadas a uma altura de cinco centímetros do solo com auxílio de tesoura de jardim e embaladas em sacos plásticos para condução ao laboratório. No laboratório de Nutrição Animal as plantas foram separadas em laminas foliares e colmos + bainhas, que foram acondicionados em sacos de papel, para posterior secagem em estufa com circulação forçada de ar, a 60-70 ºC, por 72 horas para a determinação dos pesos secos. A partir dos pesos secos das frações das plantas, foi obtido o peso seco total possibilitando o cálculo das produções de MS da parte aérea, de folhas e de colmos. Os dados obtidos foram submetidos à análise estatística, sendo que as doses de N foram comparadas por meio de análise de regressão, observando-se as significâncias dos coeficientes das equações, bem como os coeficientes de determinação.
 
Resultados e discussões
Houve efeito significativo das doses de N sobre a produção de MS da parte aérea (P<0,05), de folhas e de colmos (P<0,05). Através da análise de regressão constatou-se comportamento quadrático das variáveis estudadas em resposta às doses de N (Tabela 1). As máximas produções de MS da parte aérea e de folhas foram obtidas com as doses de N de 106,78 e 88,71 kg ha-1, respectivamente, equivalendo a doses de dejeto suíno de 81,20 e 67,46 m3 ha-1. A mínima produção de matéria seca de colmos foi obtida com a dose de N de 59,35 kg ha-1, equivalente a 45,16 m3 ha-1 de dejeto líquido suíno. Os resultados obtidos para MS da parte aérea discordam dos obtidos por Assis (2007), que ao estudar a adubação mineral e doses de dejeto líquido suíno (60, 121, 181 e 241 m3 ha-1) sobre o capim Brachiaria, não encontrou diferenças significativas. Contudo, concordam com resultados obtidos por Heringer, Moojen (2003) e Aita, Port e Giacomini (2006). Os primeiros autores trabalharam com milheto sob pastejo, submetido a cinco doses de N (0, 150, 300, 450 e 600 kg ha-1), e encontraram relação quadrática da produção de MS da parte aérea com os níveis de N. Aita, Port e Giacomini (2006) estudaram quatro doses de dejetos de suínos sobre a produção de MS da aveia preta solteira e consorciada com ervilhaca e também encontraram resposta quadrática. Para a produção de folhas, os resultados se assemelham aos obtidos por Souza et al. (2006), que ao conduzirem um estudo em casa de vegetação para avaliar o desempenho produtivo de Panicum maximum Jacq. cv. Massai submetido a diferentes doses de adubação nitrogenada (0, 80, 160 e 320 kg ha-1 ano de N), concluíram que a produção de folhas respondeu de maneira quadrática ao aumento da adubação nitrogenada, atingindo produção máxima na dosagem de 125 kg ha-1 de N. As altas doses de N mineral utilizadas nos trabalhos anteriormente citados e as semelhanças com as respostas obtidas neste trabalho sugerem que a utilização de dejeto líquido suíno pode ser benéfica para a agricultura. Com o uso de N orgânico oriundo de dejetos líquidos de suínos em doses relativamente baixas, quando comparadas às doses de N industrial utilizadas em alguns trabalhos, foi possível a obtenção de resultados semelhantes, sugerindo que, além dos efeitos benéficos ao meio ambiente com a destinação adequada dos dejetos de suínos, pode haver uma maior eficiência, por parte das plantas, na utilização do N orgânico presente desse tipo de material.
TABELA 1. Produção de MS da cultura do milheto fertilizada com dejetos líquidos de suínos em substituição à adubação nitrogenada mineral na Região Oeste do Paraná
Substituição da Adubação Nitrogenada por Dejeto Suíno na Cultura do Milheto - Image 1
O comportamento negativo da fração colmo até a dose de 59,35 kg ha-1 de N pode ser explicada pela relação folha/colmo, pois com o aumento da disponibilidade de N para as plantas, houve um aumento na produção de MS de folhas em relação à MS de colmos. Com o aumento das doses de N acima de 59,35 kg ha-1 a produção de MS de colmos voltou a crescer, conforme já descrito na literatura. Segundo Pates et al. (2007), a adubação nitrogenada promove efeitos positivos sobre o alongamento do colmo. Oliveira et al. (2007), trabalhando com adubação nitrogenada em forrageiras, constataram que o maior comprimento do colmo e consequentemente a maior produção de MS deste componente da forragem foi obtida nos tratamentos que receberam adubação nitrogenada, confirmando o papel do N na produção de MS das forrageiras.
 
Conclusões
A utilização do N orgânico oriundo de dejetos líquidos de suínos em substituição ao N mineral na produção de MS da cultura do milheto mostrou-se promissora até a dose de 106 kg ha-1 de N, cuja dose equivalente de dejetos líquidos de suínos foi de 81 m3 ha-1, podendo ser recomendada aos produtores da região Oeste do Paraná.
 
Referências
AITA, C.; PORT, O.; GIACOMINI, S. J. Dinâmica do nitrogênio no solo e produção de fitomassa por plantas de cobertura no outono/inverno com o uso de dejetos de suínos. Revista Brasileira de Ciência do Solo, v. 30, n. 5, p. 901-910, 2006.
ASSIS, D. F. Produtividade e composição bromatológica da B rachiaria decumbens após segundo ano de aplicação de dejetos de aves e suínos. 2007. 101 f. Dissertação (Mestrado em Produção Animal) - Faculdade de Medicina Veterinária, Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, 2007.
BODDEY, R. M. et al. The contribution of biological nitrogen fixation for sustainable agricultural systems in the tropics. Soil Biology and Biochemistry, Oxford, v. 29, p. 787-799, 1997.
COMISSÃO DE FERTILIDADE DO SOLO RS/SC. Recomendações de adubação e de calagem para os Estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina. 3. ed. Passo Fundo: CNPT-EMBRAPANRS/ SBCS, 1995. 223 p.
FRANÇA, A. F. S. et al. Parâmetros nutricionais do capim-tanzânia sob doses crescentes de nitrogênio em diferentes idades de corte. Ciência Animal Brasileira, v. 8, n. 4, p. 695-703, 2007.
HERINGER, I.; MOOJEN, E. L. Potencial produtivo, alterações da estrutura e qualidade da pastagem de milheto submetida a diferentes níveis de nitrogênio. Revista Brasileira de Zootecnia, v. 31, n. 2, p. 875-882, 2003.
INSTITUTO AGRONÔMICO DO PARANÁ. Cartas climáticas do Paraná. Disponível em: <http://200.201.27.14/Site/Sma/CartasClimáticas/ClassificacaoClimáticas.htm>. Acesso em: 30 maio 2007.
KICHEL, A. N.; MIRANDA C. B. [2000]. Uso do milheto como planta forrageira. Disponível em: <www.embrapa.com.br>. Acesso em: 31 mar. 2009.
LAVRES JR., J.; MONTEIRO, F. A. Perfilhamento, área foliar e sistema radicular do capim- Mombaça submetido a combinações de doses de nitrogênio e potássio. Revista Brasileira de Zootecnia, Viçosa, MG, v. 32, n. 5, p. 1068-1075, 2003.
OLIVEIRA, A. B. et al. Morfogênese do capim-tanzânia submetido a adubações e intensidades de corte. Revista Brasileira de Zootecnia, v. 36, n. 4, p. 1006-1013, 2007.
PATES, N. M. da S. et al. Características morfogênicas e estruturais do capim-tanzânia submetido a doses de fósforo e nitrogênio. Revista Brasileira de Zootecnia, v. 36, n. 6, p. 1736-1741, 2007.
SOUZA, C. G. et al. Medidas produtivas de cultivares de panicum maximum Jacq. submetidos a adubação nitrogenada. Revista Caatinga, v. 19, n. 4, p. 339-344, 2006.
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Daniela Mondardo
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