Explorar
Comunidades em Português
Anuncie na Engormix

Perfil de ácidos graxos da gordura intramuscular da carne de novilhos submetidos a diferentes sistemas de alimentação na terminação e abatidos a uma mesma idade e grau de acabamento

Publicado: 26 de dezembro de 2008
Por: Harold Ospina Patino y Fabio Schuler Medeiros. Faculdade de Agronomia, Departamento de Zootecnia, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS, Brasi
Na década dos 90 a pesquisa mostrou que os ácidos graxos poliinsaturados (AGP) da serie n-6 apresentavam uma estreita ligação com a resposta inflamatória, o câncer e doenças coronarianas enquanto os AGP da série n-3 derivados do ácido linolênico possuíam a habilidade de modular o processo inflamatório sendo sugerida a manutenção de uma relação entre os AGP da série n-6:n-3 na dieta humana em níveis inferiores a 4 (Simopoulus, 2002).

A dieta fornecida aos animais influencia o perfil de ácidos graxos da carne sendo que bovinos alimentados em pastagens de clima temperados, em comparação a bovinos alimentados com dietas de confinamento, apresentam maiores níveis de ácido linoléico conjugado (CLA) e uma relação n-6:n-3 inferior.

Este trabalho teve por objetivo avaliar o efeito de diferentes sistemas de alimentação na terminação em pastejo e em confinamento, sobre o perfil de ácidos graxos da gordura intramuscular de novilhos de corte abatidos com o mesmo grau de acabamento, com pesos de carcaça e idade semelhantes.

Material e Métodos

O trabalho foi realizado em uma propriedade rural particular localizada no município de Restinga Seca - RS, pertencente à região fisiográfica denominada Depressão Central do estado do Rio Grande do Sul no período de 01/07 a 06/11/06.

Os tratamentos avaliados foram níveis de oferta de suplemento energético definidos conforme o peso vivo (PV) sendo: S-0 - não suplementado; S-0,4 – oferta de 0,4% do PV em suplemento; S-0,8 – oferta de 0,8% PV em suplemento; S-1,2- oferta de 1,2% PV em suplemento e CON – animais alimentados com dieta de confinamento. A área experimental foi constituída uma pastagem de mescla forrageira de Aveia Preta (Avena strigosa Schreb) e Azevém (Lolium multiflorum L.), com área total de 11,2ha, situada ao lado de uma instalação para suplementação dotada de canzis individuais para fornecimento de suplementos e de instalações de confinamento com baias individuais. Foram utilizados 30 novilhos ¾ Aberdeen Angus, ¼ Charolês.

Os animais dos tratamentos em pastejo foram suplementados diariamente às 14 horas, em canzis individuais conforme o seu peso médio estimado em cada período experimental. Os animais confinados foram alocados em baias individuais com cerca de 60 m2 por animal, dotadas de bebedouros automáticos e comedouros individuais, sendo alimentados diariamente as 9 e as 16h.

A dieta de confinamento foi formulada mantendo-se uma relação volumoso:concentrado de 50:50 na base seca e utilizando uma silagem de sorgo granífero (Sorghum bicolor L. Moench) de porte baixo como volumoso. A cada 28 dias, foram realizadas pesagens precedidas de jejum de 12 horas. Os animais foram abatidos à medida que atingiram o valor mínimo de 0,45 cm de espessura de gordura a qual foi avaliada na garupa (ponto P8) utilizando-se um aparelho de ultra-sonografia.

Durante o abate as carcaças foram identificadas, seguindo o fluxo normal da linha de abate. Após o resfriamento, as carcaças foram cortadas a altura da 13ª Costela, sendo retirada uma amostra do músculo Longíssimus dorsi entre a 13ª e a 11ª costela, sendo as mesmas identificadas quanto a sua posição e embaladas a vácuo e imediatamente congeladas para as avaliações posteriores de qualidade de carne e perfil de ácidos graxos. A sub-amostra foi seca em estufa de ar forçado a 55-60ºC e moída para determinação do teor total de lipídios na gordura intramuscular conforme a metodologia proposta por Terra & Brum (1988). Na sub-amostra B foi realizada a extração dos lipídios e sua posterior transmetilação para quantificação dos ácidos graxos mediante cromatografia gasosa. (Hara & Radin, 1978; Christie (1982).

O experimento foi conduzido em um delineamento completamente casualizado. Os resultados submetidos à análise de variância, utilizando o teor de lipídeos no músculo Longissimus dorsi como covariável para as análises de perfil de ácidos graxos, e o peso inicial para as variáveis de desempenho animal. As médias dos tratamentos foram comparadas pelo teste Tukey (5%) Foram também realizadas comparações entre os distintos níveis de suplementação em pastagem através de análise de regressão linear, sendo que as somas de quadrados obtidas foram decompostas até o grau cúbico.

Os dados foram submetidos a análise de normalidade pelo teste de Wilk-Shapiro. As análises estatísticas foram realizadas utilizado-se o PROC GLM do SAS v8 (1999), em função da perda de uma carcaça no frigorífico.


Resultados e Discussão


O consumo observado dos suplementos foi inferior ao planejado em função das elevadas disponibilidade média (1.527 kg MS/ha), oferta (14,75% PV) e qualidade nutricional da pastagem (PB – 18,32%; DIVVMS -61,3%, FDN -56,34%), observando-se consumos médios de suplemento de 0,38; 0,67 e 0,96% PV para os tratamentos S-0,4; S-0,8 e S-1,2 respectivamente.

O ácido linolênico foi o principal ácido graxo observado na composição da pastagem representando em média 30,8 % do total de ésteres metílicos de ácidos graxos, sendo o ácido palmítico o segundo mais prevalente em sua composição média.

A silagem experimental apresentou teores médios de ácido linolênico de 14,04%, sendo que os ácidos graxos de maior prevalência foram o C 18:2, C 16:0 e C 18:1 representando respectivamente 28,9, 26,7 e 21,0% do total de lipídios.

O sistema de alimentação afetou o teor de gordura intramuscular (P=0,008) sendo que os animais alimentados com dietas de confinamento apresentaram 29,36% mais gordura intramuscular (13,28%EE) do que a média apresentada pelos animais suplementados em pastejo (9,38% EE). O perfil de ácidos graxos médio da gordura intramuscular das amostras do Longissimus dorsi, mostrou que os teores dos ácidos graxos mirístico (C 14:0) e palmítico (C 16:0) e do ácido graxo esteárico (C 18:0), não foram afetados pelo tipo de dieta fornecida aos animais, representando em média 3,08, 25,78 e 20,14 % do total de ésteres metílicos de ácidos graxos, respectivamente, e em conjunto representaram 94,6% do total de AGS. Os teores totais de ácido oléico, que representaram em média 40% dos ácidos graxos da GIM e diferiram entre os tratamentos (P=0,01) entretanto, observou-se diferença significativa apenas entre os tratamentos S-0,4 e CON. Quanto aos teores totais de ácido linoléico (C 18:2), não foram observadas diferenças significativas entre os tratamentos (P=0,45).

Por outro lado os animais em pastejo sem suplementação apresentaram gordura intramuscular com níveis de CLA (C18:2 c9t11) 116% superiores em relação aos animais alimentados em confinamento (0,530 vs 0,245%) e 56% superiores ao apresentado pelos animais recebendo o maior nível de suplementação (0,530 vs 0,339%), sem que a gordura dos animais recebendo níveis baixos e médios de suplementação apresentasse diferença em relação aos animais sem suplementação (0,530 vs 0,464 vs 0,426). Os teores totais de ácido Linolênico diferiram entre os tratamentos (P<0,001), observando-se maiores níveis nos tratamentos S-0; S-0,4 e S-0,8, entretanto este último não diferiu de forma significativa do S-1,2 e CON. O ácido ά –linolênico foi superior (P<0,001) na gordura intramuscular de animais em pastejo e recebendo o menor nível de suplementação (0,4% PV), não diferindo entre os tratamentos suplementados, os quais foram superiores aos valores observados para os animais confinados. De forma semelhante os animais do S-0 e S-0,4 apresentaram níveis de ácido eicosapentaenoico (C 20:5) na gordura intramuscular 71 e 59% superiores aos apresentados pelos animais do tratamento CON (0,204 e 0,146 vs 0,06%)(P<0,001).

A gordura intramuscular do tratamento CON apresentou níveis significativamente inferiores e superiores de AGS (P=0,0008) e de AGM (P=0,0016), respectivamente, em relação aos animais em pastejo recebendo ou não suplementação e não diferindo apenas do nível intermediário de suplementação. As dietas avaliadas não geraram alterações nos níveis de AGP e nos teores totais de ácidos graxos da série n-6, a pesar dos animais em pastejo terem apresentado maiores teores de CLA do que os animais recebendo a dieta de confinamento (P<0,001).

Os níveis totais de ácidos graxos da série n-3 foram superiores nos animais em pastejo, produzindo relações n-6:n-3 mais favoráveis para os animais suplementados em relação aos animais confinados, que apresentaram valores superiores a relação recomendada de 4, entretanto, os valores observados são inferiores a outros tipos de proteínas de origem animal presentes na dieta humana como o caso da carne suína e de aves (Williams, 2007).

O nível de suplementação energética afetou a concentração de AGS, CLA, total de ácidos graxos da serie n-3 e a relação n-6:n-3, sem que fossem detectados efeitos sobre a concentração de AGM e AGP no percentual de gordura intramuscular dos animais.

O total de ácidos graxos da série n-3 respondeu linearmente ao nível de suplementação (Y= -0,335x + 0,994; R2=0,59; P<0,001; EPE=0,02) onde se observou um decréscimo de 0,33 pontos percentuais na participação dos ácidos n-3 no perfil lipídico da carne para cada 1% PV de suplementação incorporado a dieta. Este efeito, combinado a inexistência de diferença entre os níveis de suplementação quanto ao teor de ácidos graxos da série n-6, produziu um efeito linear (Y= 0,77x + 1,96; R2=0,40; P=0,0011; EPE=0,075) sobre a relação n6:n3, onde observou-se um incremento de 0,77 unidades na relação para cada 1% PV de suplemento fornecido. Verificou-se uma redução linear (Y= - 0,189x + 0,522; R2=0,52; P<0,001; EPE=0,014) nos teores do CLA (C 18:2 c9t11) com o aumento dos níveis de suplementação, observando-se redução de 0,189 pontos percentuais nos teores de CLA para cada 1% do PV.


Conclusões
A gordura intramuscular de animais terminados a pasto com níveis de suplementação observados neste experimento quando comparada com a de animais alimentados em confinamento apresenta maiores teores de CLA e menor relação n6:n3 quando comparada a carne produzida por animais em confinamento.


Literatura citada
CHRISTIE, W.W. A simple procedure for rapid transmethilation of glycerolipids and cholesterol esters. Journal of Lipid Research, v. 23, p. 1072, 1982.
HARA, A. & RADIN, N.S. Lipid extraciton of tissues with low-toxicity solvent. Analitical Biochemistry, v 90, p.420-426, 1978.
SAS INSTITUTE. SAS/STAT user guide: statistics. Version 8.2, Cary, 1999.(CDROM)
SIMOPOULUS, A.P. The importance of the ratio omega-6/omega-3 essential fatty acids. Biomed Pharmacother, v. 56, p. 365-379, 2002.
TERRA, N.N. & BRUM, M.A.R. Carne e seus derivados: Técnicas de controle de qualidade. São Paulo:Nobel, 1988. 121p.
WILLIAMS, P. Nutritional composition of red meat. Nutrition & Dietetics, v.64 (suppl 4), p. S113-119, 2007.
Tópicos relacionados:
Autores:
Harold Ospina Patino
Universidad Federal Do Rio Grande do Sul UFRGS
Recomendar
Comentário
Compartilhar
Profile picture
Quer comentar sobre outro tema? Crie uma nova publicação para dialogar com especialistas da comunidade.
Junte-se à Engormix e faça parte da maior rede social agrícola do mundo.