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Bem estar animal e Rastreabilidade

Rastreabilidade e bem-estar animal

Publicado: 26 de maio de 2010
Por: Romão Miranda Vidal (Médico Veterinário - Especialista em Rastreabilidade)
Um dia, e este não está tão distante assim, tudo aquilo que se refere ao BEM ESTAR ANIMAL estará mais ou menos assim, só para não afirmar categoricamente que será assim. Não é futurismo e nem vãs divagações. Prestemos bem atenção ao que será colocado nas próximas linhas.
Já se tem como pronto e sendo aplicado um Sistema de Sensores e Equipamentos de Vídeo-Vigilância, para auxiliar no monitoramento e efeitos negativos, que possam ocorrer, durante o transporte de bovinos para o abate. De início só para bovinos destinados ao abate.
Loucura? Quem viver verá.
Na realidade o que irá acontecer, se bem que já está em prática (um tanto reservada esta situação), é o uso de uma Caixa Preta. Para tal foi desenvolvido um Smart Box, que na realidade é a própria Caixa Preta, que terá várias funções, todas automáticas. Todas as informações serão armazenadas e catalogadas para análises posteriores (RASTREABILIDADE), que terão incidências sobre o Bem Estar Animal, assim como sobre a Qualidade da carne. O que se pretende é monitorar de forma direta e eficaz todos os procedimentos que venham a ocorrer com o tipo de modal utilizado e já se estuda a possibilidade do uso (novamente) de vagões ferroviários para transporte de bovinos, além de caminhões.

Os procedimentos como paradas, freadas bruscas, velocidade, temperatura ambiente, posição dos animais na carroceria ou no vagão ferroviário, chuva, ventos e até a poluição do ar, por onde transitam estes modais, serão registrados por sensores e por uma câmera de vídeo, que transmitirá todos estes dados, via satélite, para uma central de logística, que por sua vez irá controlar a qualidade do transporte. E pasmem. Poderá ser controlado até os batimentos cardíacos dos animais. Tudo isto no contexto RASTREABILIDADE.
O que está chamando a atenção é o fato de se iniciar treinamentos para Médico/as Veterinário/as e motoristas a respeito do Bem Estar Animal e as suas aplicações práticas no transporte de animais, destinados ao abate e as suas conseqüências relacionadas com o produto final. Qualidade, por certo. Não é exercício de futurologia. Já está em prática.

Estes estudos visam analisar o que acontece com os animais, quando transportados tanto à curta distância, como à longa distância. Quais seriam as conseqüências em relação ao surgimento do que chamam de "dark meat", ou carne escura: qual o percentual de Adrenalina presente na musculatura: qual seria a redução do aproveitamento da carcaça. Tudo isso para possibilitar a identificação de pontos críticos no transporte dos animais. Extinguir as deficiências, melhorar as condições de transporte e dar aos animais todas as condições de Bem Estar, que terá repercussões positivas no produto final, ou seja, a carne no prato.
Os estudos até então estão apresentando alguns resultados significativos e apontam todas as conseqüências relacionadas com os procedimentos relacionados com a forma de transporte dos animais. Na realidade as informações ainda são poucas para que se possa cientificamente analisar estes efeitos. Mas já é um avanço significativo. Os estudos estão sendo feitos em vários países, como Suécia, Finlândia, Alemanha, Eslovênia, Noruega, Espanha, Itália. Empresas da Suécia, Finlândia e Alemanha, já estão com estudos bem adiantados.
O que se tem até então em termos de informações mais destacadas, é que não existe uma coordenação no sistema de transporte dos animais, ou seja, entre o embarque, o percurso e o desembarque, existe uma total falta de procedimentos logísticos, que afeta duramente e diretamente os animais, com repercussões finais na Qualidade da carne. O uso de modais não adequados, o tempo em que estes animais ficam esperando para que toda a frota se movimente, ou que um só veículo se movimente, os horários de embarque, trânsito e desembarque, são pontos que estão sendo analisados.
Outras informações nos dão conta que não existe por assim dizer uma coordenação de ações entre os pecuaristas que ficam com seus animais, contidos nos currais para o embarque, na espera da liberação dos documentos, na forma de como proceder o embarque (aqui também se fala da seleção social dos animais), do horário do embarque, do tempo de percurso entre a fazenda e o frigorífico, as rotas e suas alternativas, as paradas para verificação de documentos fiscais e sanitários, de abastecimento dos modais, das paradas para refeições, das greves de funcionários, das rodovias e rotas com maiores possibilidades de acidentes, não só com os modais que transportam os animais, mas os que são provocados por terceiros, ou naturais. Todas estas formas de descoordenação implicam um desgaste acentuado nos animais, seja ele orgânico ou psicológico.
Este estado de descoordenação tem repercussões no custo final do produto, que sempre é repassado ao consumidor final, que por sua vez, tende a optar por outras carnes.
Nos estudos efetuados, se tem como certa a participação do/a Médico/a Veterinário/a para programar a produção dos animais para o embarque e abate, assim como da necessidade de se manter este/as Profissionais em regime de plantão para atender qualquer inconveniente, e sobretudo se fazer presentes na hora do desembarque, para analisar o estado físico dos animais. Quando as pesquisas se referem a presença do/as Médico/as Veterinário/as na hora do embarque dos animais, esta não está só relacionada com o estado sanitário e físico dos animais, mas também em planejar este embarque de tal forma que se obedeça a um espaço de 1,70 metro quadrado por animal, que se respeite uma ordem de classificação dos animais, em termos de porte, animais com chifres e sem chifres: e que machos e fêmeas devem ser embarcados e mantidos separados. Animais mais agressivos devem ser separados dos outros animais. Animais jovens devem ser separados dos mais idosos. O horário de embarque em relação à viagem como um todo também tem a sua importância, em relação ao Bem Estar Animal.
Muitos animais ficam expostos ao sol, às intempéries aguardando o embarque, pela simples falta de um planejamento. As recomendações indicam que os caminhões devem se fazer presentes na propriedade com pelos menos 12 horas antes do embarque. Por mais estranho que isto possa soar, é uma forma de diminuir futuros aborrecimentos. A burocracia sanitária também é um dos elementos que agrava sobremaneira o Bem Estar Animal, enquanto embarque. Existe a necessidade implícita de se programar com antecedência todos os procedimentos que antecedem o embarque: a definição de qual lote de animais será embarcado, para que se faça a sua identificação correta, a solicitação da empresa que irá realmente Certificar (*) todos os animais e seus processos de produção empregados. A aferição de pesos, a seleção dos animais, mesmo que pertencentes ao mesmo lote, a emissão dos documentos que permitam o trânsito de animais, mesmo dentro do país ou para os países da Comunidade Européia. Os recolhimentos fiscais e tributários, os possíveis defeitos mecânicos que algum veículo possa apresentar, a consulta quando possível das condições meteorológicas, a aferição da balança, a mão-de-obra disponível e outros procedimentos que antecedem o embarque dos animais também passam a fazer parte deste estudo, relacionado com transporte e o Bem Estar Animal.
Ainda se discute a duração em horas do transporte dos animais. Existem estudos informando que percursos de curta duração (menos que 3 horas) causam tanto desgaste quanto um transporte com duração de 6 horas, em virtude de que os animais não estariam adaptados a esta nova situação. De outra parte, outros estudiosos do assunto defendem que em percursos com mais de 12 horas, deve haver descanso para os animais. E outros ainda questionam: descansar como? Desembarcar os animais? Parar o modal e manter os animais embarcados? Uma nova posição também se faz presente. É ético um animal que fora criado em um determinado lugar, tenha que ser levado ao sacrifício em outro lugar tão distante?
Então esta é a situação que se avizinha, pelo menos na Europa. Na realidade, aqui no BRASIL a situação não é muito diferente. Pode até ser pior ou até o é. As distâncias são muito grandes. As unidades de abate ficam distantes das unidades produtivas. Já temos, é isto é verdade, uma certa aproximação entre ambas, mas não é regra geral. O que ainda temos que buscar no binômio Transporte Animal - Bem Estar Animal, no nosso modesto entender, está mais para a ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas, do que para outra entidade, e em especial se esta for originária do MAPA .
É oportuno se mirar nos exemplos, nos erros e nos acertos dos outros. É uma ótima oportunidade para que a pecuária de corte se molde em função dos clusters que a Cadeia Produtiva da Carne Bovina proporciona.
Oportunidade especial para a implantação das Zonas de Excelência em Pecuária de Corte, onde por sinal a RASTREABILIDADE verdadeira será a base de tudo.
(*) O grifo é nosso.
Finalizando, os animais merecem ser tratados com dignidade.
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Romão Miranda Vidal
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Romão Miranda Vidal
1 de noviembre de 2012
Senhor Oswaldo. O Umbilical65 é da Destron. Sou suspeito a falar sobre este produto, uma vez que um colega de profissão não procedeu éticamente comigo sobre este produto. Mas são fatos passados. Qual a vantagem do transponder umbilical? Monitorar temperatura? Estado sanitário? Por favor analise bem para não adotar um produto com tecnologia embarcada pobre. Software Pecuárius? Embrapa e provavelmente do colega PPP. Vou fazer o meu merchandisigne. Eu elaborei o projeto ZEPC -ZONA DE EXCELÊNCIA EM PECUÁRIA DE CORTE - com 19 Protocolos. Uma pequena informação. Primeiro o senhor tem que ter a nítida idéia de que em Pecuária de Corte Bovina os valores são elevados. Segundo que não existe Recall. Terceiro nem todas as tecnologias desenvolvidas em outros países e até mesmo em outras regiões do Brasil, são aplicáveis. Quarto o Planejamento Estratégico de uma propriedade ou mais propriedades são distintos e podem ou não ser interativos. Quinto qual o "share" que o senhor tem ou pretende ter? Sexto:Qual a sua área geográfica de atuação em relação ao porto mais próximo? Sétimo:Conforme o volume pretendido de produção e o tipo que se pretende adotar, o uso deste tipo de transponder é contra-indicado. Oitavo: A melhor maneira do senhor resolver estes pequenos iniciais problemas é a contratação de um Médico Veterinário que entenda não só de Rastreabilidade, mas que tenha noção de Gestão, de ABC, de IFLP e que não se deixe impressionar pelas pseudos tecnologias. Softwares o senhor encontra aos bortotões. O senhor mesmo pode desenvolver um com a planilha do Excell. Em relação ao Bem Estar Animal é uma situação que muito me agrada. Um abraço. Médico Veterinário Romão Miranda Vidal
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Oswaldo José Ribeiro
1 de noviembre de 2012
Concordo, não estamos tão longe disso. Hoje a tecnologia nos traz cada vez mais a sensação de magia pura. Represento grupo empresarial e estamos assumindo propriedades rurais no MS, temos o firme propósito de qualificar nossa gestão e nosso produto, para tal estamos estudando a implantação só SISBOV baseado em RFid e com uso de transponder umbilicais. Nossa propensão e pelo uso do transponde de dupla finalidade, isto e, além de transmitir o seu número, transmite também a temperatura do animal, isso nos trará grandes vantagens na identificação do melhor momento para a monta e mesmo quando nosso animal estiver com alguma doença. O sr pode nos auxiliar nisso? O sr conhece quem já se utiliza desse tipo de tecnologia? Quais softwares que podem nos ajudar nessa empreitada? Vimos o Umbilical65 e o software Pecuarius, queremos conhecer outras alternativas para podermos nos definir pelo caminho que julgarmos mais conveniente para nosso negocio, agora e nos futuro, conforme nosso planejamento estratégico. Conto com sua ajuda e com a ajuda de quem vir esse meu comentário. Abraços, Oswaldo
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