Introdução
Na criação das aves, os fatores de alimentação, manejo e ambiente são fundamentais para obter uma máxima rentabilidade com uma eficiente produção de carne e ovos. Desde meados do século passado, a avicultura alcançou um desenvolvimento tal que permitiu obter altas produções no âmbito industrial. Os trabalhos de melhoria e desenvolvimento foram viabilizados graças às vantagens oferecidas pelas aves, fundamentalmente no que diz respeito à densidade da população (Wright, 1996).
A adequada alimentação das aves começa nas primeiras semanas de vida e deve ser rigidamente acompanhada durante o período de crescimento, para chegar a obter um máximo de produção, o que constitui um desafio para quem trabalha no setor (Velasco, 1998). Para atingir estes objetivos, foram utilizados, desde 1980, os aditivos naturais quando Vogt et al. (1981) recomendaram os ácidos cítricos ou fumáricos em doses de 4.5 %, no entanto os resultados no comportamento têm variado ao serem utilizados estes aditivos. Com a restrição dos antibióticos como promotores de crescimento, o volume de pesquisas aumentou e a lista destes aditivos cresceu segundo Griggs & Jacob, 2005. Entre estes, podem ser mencionados os ácidos orgânicos e inorgânicos, prebióticos, probióticos, vitaminas, antioxidantes, entre outros; esperando-se como resposta, que se mantenha a saúde intestinal dos animais (Penz & Gianfellici, 2008). Ao estudar as características da vinhaça de destilaria (pH, compostos químicos, fermentos, minerais e vitaminas), se poderia pensar numa fonte de importante valor como aditivo na produção animal (Mc-Pherson et al., 2002). Estudos realizados por Lewicki (2001) e Stemme et al. (2005) relatam diminuições nos custos de alimentação e resultados produtivos mais eficientes, ao utilizar a vinhaça de beterraba. Além disso, foi detectado um efeito estimulante sobre o consumo e o comportamento animal, como resposta ao alto conteúdo de vitaminas do complexo B presentes na vinhaça (Gohl, 1991). Por esta razão, o objetivo destes experimentos foi avaliar o comportamento das aves ao ser utilizada a vinhaça de destilaria de álcool como aditivo na alimentação.
Materiais & Métodos
Em frangos de corte, foram utilizados 240 machos do híbrido EB34 com 1 dia de idade e com 42 g de peso médio, distribuídos segundo desenho completamente aleatorizado, em dois tratamentos, com dez repetições. As aves foram alojadas em gaiolas metálicas de 1.06 m2com 12 frangos/gaiola, com bebedouros niple e 1.20 m de frente de comedor; além disso, receberam 24 h de iluminação, durante os 42 dias. Foi utilizado um sistema de alimentação trifásico (tabela 1), de forma manual e à vontade. O experimento consistiu na suplementação com vinhaça de destilaria. O volume de vinhaça administrado aumentou em cada etapa de produção (início: 5 mL/animal/dia; crescimento: 10 mL/animal/dia e finalização 15 mL/animal/dia). Foram vacinados contra varíola, New Castle e Gumboro. Houve observação clínica diária, com controle de mortalidade, autópsia aos animais doentes e mortos.
Para avaliar o comportamento produtivo, foram controlados os indicadores de consumo de ração, mortalidade e peso vivo das aves aos 42 dias. Posteriormente, foi calculada a conversão alimentícia, ganho de peso e viabilidade. Aos 42 dias de idade, foram abatidos 10 animais por tratamento, para determinar o peso total em carcaça, peito, sobrecoxa + coxa, vísceras e gordura abdominal.
Em franguinhas de substituição White Leghorn da linha L33, desde o primeiro dia de idade até as 18 semanas. As aves se alojaram em gaiolas metálicas, segundo desenho completamente aleatorizado com 4 tratamentos (0, 1%, 1.5 % e 2 % de vinhaça) e 5 repetições cada um. Foram submetidos a condições semelhantes de manejo e alimentação, com fornecimento de água à vontade, consumo controlado de ração e controle da iluminação. Cada repetição foi constituída por uma gaiola com 30 franguinhas em início e 15 franguinhas em crescimento e desenvolvimento, as quais receberam água e alimentação ad-libitum, em comedouros e bebedouros lineares. Durante o experimento, foram registrados os indicadores de mortalidade, consumo de ração, peso vivo e conversão alimentícia por tratamento. Para a medição de uniformidade do lote, formam pesados todos os animais por tratamento e se trabalhou com a média.
Tabela 1. Composição e aporte da dieta basal para frangos de corte (%)
(1) Suplemento vitamínico: vitamina A, 10000 UI; vitamina D3, 2000 UI; vitamina E, 10 mg; vitamina K3, 2 mg; tiamina, 1 mg; riboflavina, 5 mg; piridoxina, 2 mg; vitamina B12, 15.4 μg; ácido nicotínico, 125 mg; pantotenato de Ca, 10 mg; ácido fólico, 0.25 mg; biotina, 0.02 mg (2) Suplemento mineral: selênio, 0.1 mg; ferro, 40 mg; cobre, 12 mg; zinco, 120 mg; magnésio, 100 mg; iodo, 2.5 mg; cobalto, 0.75 mg.
Tabela 2. Composição e aporte da dieta para franguinhas de substituição (%)
(1) Suplemento vitamínico: vitamina A, 10000 UI; vitamina D3, 2000 UI; vitamina E, 10 mg; vitamina K3, 2 mg; tiamina, 1 mg; riboflavina, 5 mg; piridoxina, 2 mg; vitamina B12, 15.4 μg; ácido nicotínico, 125 mg; pantotenato de Ca, 10 mg; ácido fólico, 0.25 mg; biotina, 0.02 mg (2) Suplemento mineral: selênio, 0.1 mg; ferro, 40 mg; cobre, 12 mg; zinco, 120 mg; magnésio, 100 mg; iodo, 2.5 mg; cobalto, 0.75 mg.
A análise da vinhaça foi realizada segundo AOAC (2000).
Tabela 3. Composição da vinhaça
Tabela 4. Caracterização microbiológica da vinhaça
*Não foram detectados fungos em nenhuma das amostras
O processamento dos dados foi realizado através do software estatístico de dados INFOSTAT (2001) e, quando necessário, da comparação múltipla entre médias, segundo Duncan(1955), para P< 0.05.
Resultados & Discussão
A adição de vinhaça garantiu um maior peso vivo final dos animais (tabela 5); resultados que se relacionam com os mecanismos de ação dos ácidos orgânicos (propiônico, butírico, acético), além de outros nutrientes que fazem parte deste resíduo.
Tabela 5. Comportamento de frangos de corte de 42 dias
Tabela 6. Pesagem de porções comestíveis
Segundo (Mc-Pherson et al., 2002), os efeitos positivos ao adicionar a vinhaça provêm dos ácidos orgânicos presentes nela, e - por sua vez - estes ácidos são potencializados por outros nutrientes. O conteúdo de paredes de fermentos, minerais e vitaminas do complexo B aumenta a eficiência de utilização dos nutrimentos e, por isso, um melhor comportamento dos animais. Segundo (Morales, 2007), os polissacarídeos da parede celular da levedura, tipo beta-glucanos e mananos, podem provocar efeitos no sistema imune do frango e na exclusão de patógenos a escala digestiva. Como resposta a estes efeitos, se favorece o desenvolvimento da mucosa digestiva e se mantém um melhor estado de imunocompetência da ave. Nas etapas, o ganho de peso vivo e a conversão alimentar foi levemente superior no tratamento experimental, coincidindo com (Upendra & Yathiraj, 2003); que detectaram uma melhor conversão e peso vivo nas aves que consumiam combinações de aditivos. Esta superioridade coincide com pesquisas realizadas na Holanda, Bélgica e Francia, citadas por (Sarria & Preston, 1992); demonstraram que, com a vinhaça concentrada, era possível melhorar a rapidez de crescimento em 5% e diminuir o preço da ração em 15%, recomendando para as aves entre 2 e 3% de inclusão. A tabela 6 mostra o efeito nas porções cárnicas a favor do tratamento com vinhaça; resultados similares foram obtidos por (Miazzo et al., 2005; 2007), que detectaram melhoras no rendimento de sobrecoxas e diminuição da gordura abdominal, assim como uma tendência na melhora do peso do peito em frangos que consumiam o agregado de levedura de cerveja. Nas vísceras só houve diferenças no peso do fígado, o que sugere uma atividade probiótica sobre o órgão.
Na criação de franguinhas, a inclusão de vinhaça na dieta propiciou uma maior viabilidade, com melhores resultados para 2% de inclusão. Estes mecanismos, segundo (Brugalli, 2003), produzem alterações na microflora intestinal, aumento da digestibilidade e absorção de nutrientes. A partir dos 42 dias, começa a ser evidenciada uma superioridade nos indicadores a favor da vinhaça. Observa-se um efeito estimulante sobre o consumo e o comportamento, como resposta ao alto conteúdo de vitaminas presentes na vinhaça (Gohl, 1991). Demonstra-se que, desde o ponto de vista nutricional, é possível incluir até 2% de vinhaça nas dietas de início de substituição de poedeiras, semelhantes aos mencionados por (Javierre, 2006), que relata um melhor comportamento para o peso vivo, ganho de peso e mortalidade nas aves que consomem combinações de acidificantes.
Tabela 7: Comportamento de franguinhas a 42 dias
a,b Médias dentro de cada fila com letras não comuns diferem significativamente entre si a P<0.05 (Duncan 1955)
* P<0.05 ** P< 0.01 ***P< 0.001
Gráfico 1. Aparelho reprodutor
A viabilidade resultante para os tratamentos com vinhaça, se expressam de forma mais eficientes, demonstrando-se que o uso da vinhaça na alimentação das aves não compromete a saúde dos animais, ao contrário, melhora os indicadores.
O peso do trato reprodutor e a contagem de folículos demonstra, segundo Nakano et al. (1999), o desenvolvimento reprodutivo. Portanto, a resposta dada pelas frangas ao utilizar a vinhaça de destilaria demonstra as potencialidades para considerar estes resíduos como aditivo, aperfeiçoadores do comportamento produtivo e reprodutivo, além da saúde das frangas de substituição. É importante destacar que o começo da postura marca uma vantagem produtiva nesta espécie, pois se traduz numa maior produção de ovos na etapa. Estes resultados confirmam os resultados obtidos por Nakano et al. (1999), que demonstraram uma estreita relação entre o peso vivo e o aparelho reprodutor, ao utilizar aditivos em poedeiras.
Conclusões
Os resultados sugerem que o uso da vinhaça como aditivo em frangos de corte e na substituição de poedeiras pode otimizar a utilização dos nutrimentos da dieta, garantir um adequado comportamento produtivo nos animais e, além disso, poderiam ser alcançados benefícios econômicos propiciados pelo melhor desenvolvimento das aves.
Bibliografia
AOAC. 2000. Official Methods of analysis of the Association of Official Analytical Chemistries. 17th Edition. Arlington, Virginia.
Brugalli I. 2003. Alimentação alternativa: a utilização de fitoterápicos ou nutracêuticos como moduladores da imunidade e desempenho animal. Anais do Simpósio sobre Manejo e Nutrição de Aves e Suínos; 2003; Campinas, São Paulo. Brasil. Campinas: CBNA; p.167.
Duncan D. 1955. Multiple ranges and multiple F test. Biometrics 11:1.
Griggs JP & Jacob JP. 2005. Alternatives to antibiotics for organic poultry production. J. Appl. Poult. Res. 14:750.
Gohl B. 1991. Tropical feeds (edición computarizada). Oxford Computer Journals: Oxford and FAO: Roma.
INFOSTAT, Software estadístico. 2001. Balzarini, G. M., Casanoves, F., Di Rienzo, I. A., González, L. A y Robledo, C. W. Manual de usuario. Versión 1. Córdoba, Argentina.
Javierre J. 2006. Acidificantes Sinérgicos en Avicultura: Aplicación Específica para el Manejo del Estrés de Calor. Disponible en: http://64.76.120.161/acidificantes_sinergicos_avicultura_aplicacion_s_articulos_961_.htm. Acceso: Diciembre, 2008.
Lewicki W. 2001. Introduction to vinasses (cms) from sugarbeet and sugar cane molasses fermentation. International Sugar Journal 103:126.
Mc-Pherson D, Reyes K, Socarrás Y. 2002. Evaluación de alternativas para el aprovechamiento del mosto alcoholero de destilería y la reducción de la contaminación ambiental. Tecnología Química 22:5.
Miazzo R, Peralta M, Picco M, Nilson A. 2005. Productive parameters and carcass quality of broiler chickens fed yeast (Saccharomyces cerevisiae). Proc. XII European Simposium on the quality of Poultry Meat. Holanda. World's Poultry Science Asoc. 84:330.
Miazzo RD, Peralta, MF, Nilson AJ, Picco M. 2007. Calidad de la canal de broilers que recibieron levadura de cerveza (S. cerevisiae) en las etapas de iniciación y terminación. XX Congreso Latinoamericano de Avicultura, Porto Alegre, Brasil. Premio al Mérito Científico "Lauriston Von Schmidt".
Morales R. 2007. Las paredes celulares de levadura de Saccharomyces cerevisiae: un aditivo natural capaz de mejorar la productividad y salud del pollo de engorde. Tesis presentada en opción al título académico de Doctor en Producción Animal. Barcelona, España. p 3.
Nakano T, Shimuzu M, Fukushima. 1999. Effects of a probiotic on the lipid metabolism of pullet hen as a colesterol-enriched diet. Biotechnology and Biochemistry 63:1569-1575.
Penz A & Gianfellici M. 2008. Actuales desafíos de la nutrición en pollos de engorde. World Poultry 26:10.
Sarria P & Preston TR.1992. Reemplazo parcial del jugo de caña con vinaza y uso del grano de soya a cambio de torta en dietas de cerdos de engorde. Livestock Research for Rural Development 4:80.
Stemme K, Gerdes B, Hams A, Kamphues J. 2005. Beet-vinasse (condensed molasses solubles) as an ingredient in diets for cattle and pigs-nutritive value and limitations. Journal of Animal Physiology and Animal Nutrition 89:179.
Upendra H & Yathiraj S. 2003. Effect of supplementing probiotics and Mannan oligosaccharide on body weight, feed conversion ratio and viabilidad in broiler chicks. Indian Veterinary Journal 80:1075.
Velazco E. 1998. Manejo de las reproductoras y sus remplazos. Revista cubana de ciencias avícolas 22(2):15.
Vogt VH, Mathes S, Harnisch S. 1981. Archir für Geflugelkunde 45:221.
Wright RA. 1996. Nutrición de las aves. Selecciones avícolas 38(9):531.