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Bem-Estar Aves Desenvolvimento e Produção

Bem-Estar das Aves e Suas Implicações sobre o Desenvolvimento e Produção

Publicado: 1 de janeiro de 2002
Por: Renato Luis Furlan e Marcos Macari (Dpto. Morfologia e Fisiologia Animal,FCAV/UNESP), Mateus J.R. Paranhos Da Costa (Dpto. Zootecnia, FCAV/Unesp) São Paulo, Brasil.
Introdução
A importância econômica da produção de aves e ovos no mundo é indiscutível. O desenvolvimento de linhagens genéticas com alta velocidade de crescimento e alta produção de ovos, associado ao desenvolvimento tecnológicos na área de nutrição, manejo e sanidade, conduziram a criação de aves em níveis industriais.

Embora tais condições tenham proporcionado ganhos econômicos e sociais, também têm resultado em problemas quanto ao bem estar das aves, dada a utilização de certas práticas de criação e de manejo. Na visão de muitos, o desafio atual seria desenvolver sistemas de produção eticamente aceitáveis e economicamente viáveis. Neste sentido, cabe aos pesquisadores e criadores avaliar objetivamente os diferentes sistemas de produção, para assegurar que tais sistemas não prejudiquem a qualidade de vida e a produtividade das aves.
No entanto, o estudo do bem estar animal continua se confrontando com duas persistentes e interrelacionadas questões: Como definir bem estar animal? e Como determinar quais parâmetros devem ser usados para esta avaliação? De acordo com Mench (2000) um potencial indicador do bem estar animal é a presença ou ausência de estresse. É muito comum em trabalhos zootécnicos e veterinários citar o estresse como um dos fatores que afetam o desempenho ou que predispõem a uma doença. Mas afinal o que é o estresse?
Como vemos, vários questionamentos surgem a todo instante. No entanto, nosso objetivo nesta palestra, não é responder a estas questões ou dar soluções, mesmo porque a comunidade científica ainda não têm a maioria das respostas, mas sim de mostrar quais são as bases fisiológicas do bem estar animal principalmente relacionado ao que chamamos de estresse.

Entendendo o bem-estar animal
O entendimento do bem-estar animal não é simples, como já relatado exige amplo conhecimento sobre a espécie em questão e de suas relações com o meio. Isto exige uma abordagem multidisciplinar, com a integração de conceitos de diversas áreas do conhecimento e exige também uma definição clara e inequívoca do que é bem-estar animal.
Neste artigo adotamos a definição de Broom (1986), que caracterizou o bem-estar como o estado de um dado organismo durante as suas tentativas de se ajustar com o seu ambiente. Segundo Broom e Johnson (1993: p. 75 e 76) esta definição tem várias implicações, das quais destacamos três. São elas:

• Bem-estar é uma característica de um animal, não é algo que pode ser fornecido a ele. A ação humana pode melhorar o bem-estar animal, mas não nos referimos como bem-estar ao proporcionar um recurso ou uma ação.
• Bem-estar pode variar entre muito ruim e muito bom. Não podemos simplesmente pensar em preservar e garantir o bem-estar, mas sim em melhorá-lo ou assegurar que ele é bom.
• Bem-estar pode ser medido cientificamente, independentemente de considerações morais. A sua medida e interpretação deve ser objetiva.
Assumindo estas implicações assumimos também que bem-estar não é sinônimo de estar bem, sendo este apenas uma dos estados possíveis do bem-estar de um dado indivíduo. A definição do estado de bem-estar animal geralmente é realizada levando-se em conta uma das três seguintes abordagens:
• Estado psicológico do animal – quando o bem-estar definido em função dos sentimentos e emoções dos animais, sendo que animais com medo, frustração e ansiedade, enfrentariam problemas de bem-estar.
• Funcionamento biológico do animal – segundo este ponto de vista, os animais deverão manter suas funções orgánicas em equilíbrio, sendo capazes de crescer e de se reproduzir normalmente, estando livre de doenças, injúrias e sem sinais de má nutrição, além de não apresentarem comportamentos e respostas fisiológicas anormais.
• Vida natural – neste caso assume-se que os animais deveriam ser mantidos em ambientes próximos ao seu habitat natural, tendo liberdade para desenvolver suas características e capacidades naturais, dentre elas a expressão do comportamento.

Embora estas três abordagens apresentem formulações diferentes para justificar a preocupação com o bem-estar animal, podemos assumir que o objetivo é único e que, por isso, deveriam ter um caráter complementar e não exclusivo. No entanto, não é o que acontece na prática. Por exemplo, um avilcultor usando o critério baseado do funcionamento biológico, poderia concluir que o bem-estar de um grupo de galinhas poedeiras confinadas em gaiolas seria bom porque elas estariam sendo bem alimentadas, produzindo eficientemente e livres de doenças e injúrias. Entretanto, este tipo de análise ignora totalmente o equilíbrio psicológico do animal e sua necessidade de expressar comportamentos naturais.

Na prática, os estados físico e mental têm efeitos recíprocos, sendo que problemas físicos invariavelmente levam a deterioração do estado psicológico e vice-versa. Em certos casos uma análise simplificada pode ser muito útil. Por exemplo, a detecção de problemas de saúde, de ferimentos e de necessidades nutricionais não atendidas são indicativos seguros de que o estado de bem-estar de um dado animal não é bom. Por outro lado, em outras situações, envolvendo certos estados psicológicos dos animais, como medo, frustração ou ansiedade, é mais difícil avaliar e quantificar seu bem-estar.
Não é por acaso que há convergência de interesses quando abordamos o tema bem-estar animal cientificamente. Ou seja, ao conhecer e respeitar a biologia (e psicologia) dos animais que criamos, podemos melhorar o seu bem-estar em todos os sentidos; podemos também obter melhores resultados quando lidamos com animais de produção, quer aumentando a eficiencia do sistema de criação quer obtendo produtos de melhor qualidade.

Para melhor compreender o conceito de bem-estar animal, é necessário entender também os conceitos de homeostase. A homeostase, ou manutenção do meio interno do organismo em equilíbrio, se dá através de uma série de sistemas funcionais de controle, envolvendo mecanismos fisiológicos e reações comportamentais (Cannon, 1929), mantendo estável, por exemplo, a temperatura corporal, o balanço hídrico, as interações sociais, etc.. O bem-estar é prejudicado quando o animal não consegue manter a homeostase ou quando ele consegue mantê-la às custas de muito esforço.

Bases fisiológicas do estresse
Como vimos anteriormente, os seres vivos sobrevivem graças à manutenção de um equilíbrio complexo, dinâmico e harmonioso, denominado homeostase, que é resultante de respostas fisiológicas reguladoras. Portanto, toda vez que o organismo é ameaçado (fisicamente ou psicologicamente) ocorrem uma série de respostas adaptativas que se contrapõem aos efeitos dos estímulos, na tentativa de restabelecer a homeostasia. Nesta condição dizemos que o animal está em estado de estresse.
O estresse, antes de mais nada, é uma palavra. Uma palavra que é amplamente usada na linguagem atual e nos meios de comunicação, sem que se tenha a compreensão exata dos fenômenos pelos quais ele ocorre. Apesar do fato do termo estresse ser impreciso, porque ele significa diferente coisas para diferentes pessoas, o conceito ou o estado tem provado ser extremamente forte.

Para Hans Selye, o pioneiro no estudo do estresse, a terminologia estresse, descreve um mecanismo de defesa animal e o estímulo ao estresse (estressor) como qualquer situação que induz a respostas defensivas, ou seja, o estresse corresponde a uma interação entre o indivíduo e o meio (ambiente). Desde que o ambiente no qual a ave vive incluem várias combinações de condições, por exemplo, externas (temperatura, luz, etc) ou internas (doenças, parasitas), o sucesso das aves em manter a homeostasia frente a estas variáveis, vai depender da habilidade fisiológica da ave em responder aos agentes estressores, bem como da severidade dos mesmos.

Existem dois tipos gerais de resposta: uma específica e outra não-específica. Por exemplo, frangos mantidos em alta temperatura ambiente apresentam elevação da temperatura corporal, como resposta, o frango aumenta a freqüência respiratória e promove vasodilatação nos músculos esqueléticos para maior dissipação de calor e redução da temperatura corporal. Um processo não-específico ocorre quando, independente do estímulo ambiental, o animal responde de uma maneira generalizada, ativando vários sistemas do organismo animal (Figura 1).
Bem-Estar das Aves e Suas Implicações sobre o Desenvolvimento e Produção - Image 1Figura 1


As respostas das aves frente aos agentes estressores, dependem da integração de diferentes sistemas fisiológicos principalmente, o sistema nervoso e o sistema endócrino. O sistema nervoso (Figura 2) é o responsável pelo contato que o animal tem, tanto com o meio externo (exteroceptiva) como com o meio interno (interoceptiva). As informações sensitivas, exteroceptivas e interoceptivas, que são transmitidas ao sistema nervoso através de fibras nervosas para serem decodificadas, fazem com que o animal tenha a sensação, ou seja, a percepção de uma informação. Os estímulos sensoriais são, na maioria das vezes seguidos de respostas rápidas ou lentas. Para as respostas rápidas, há o envolvimento do sistema nervoso que, através de fibras nervosas leva a informação efetuando a ação. Assim, a ativação do sistema nervoso autônomo simpático, libera epinefrina, principalmente nos terminais simpáticos e nor-epinefrina, principalmente na medula da adrenal, afetando várias funções do corpo de uma forma instantânea e direta.
Bem-Estar das Aves e Suas Implicações sobre o Desenvolvimento e Produção - Image 2Figura 2

Respostas lentas têm participação e mecanismos que envolvem síntese e liberação de hormônios, como por exemplo, aumento ou diminuição do metabolismo quando as aves se expõe ao frio ou calor, respectivamente. Resposta adaptativa hormonal frente ao estresse é desencadeada inicialmente pela ativação do eixo hipotálamo-pituitária-adrenal (HPA). Os estímulos interno e externo canalizados via sistema nervoso até o hipotálamo estimulam a produção do hormônio liberador de corticotrofina (CRH), o qual estimula então a glândula pituitária anterior a aumentar a síntese de hormônio adenocorticotrófico (ACTH). O ACTH através do sangue chega até a glândula adrenal e estimula a síntese e liberação de glicocorticóides (cortisol) pelo cortex da adrenal que em conjunto com as catecolaminas da medula da adrenal produzem lipólise, glicogenólise e catabolismo de proteínas (Figura 2). Siegel (1980) observou um aumento significativo na produção de corticosteróide após uma única injeção de ACTH, atingindo o pico de produção por volta de uma hora e então retornando aos níveis basais cerca de 2,5 horas após a injeção. Em outro estudo, Edens & Siegel, (1975) submeteram as aves a uma temperatura de 45°C por 2,5 horas. Estes autores verificaram um rápido aumento nos níveis plasmáticos de corticosteróide e de epinefrina como conseqüência do estresse calórico agudo.
Bem-Estar das Aves e Suas Implicações sobre o Desenvolvimento e Produção - Image 3Figura 3

Portanto, catecolaminas e corticosteróide, mobilizam a produção e distribuição de substratos energéticos durante o estresse, bem como induzem alterações em várias funções do organismo que darão o suporte necessário para restabelecer o equilíbrio (homeostase). Portanto, essas ações asseguram a manutenção do organismo durante situações adversas A resposta frente aos hormônios é um pouco mais lenta porém com grande efeito sobre o organismo animal.
Assim, hormônios e neurônios, comunicando com células do organismo e criam um delicado e dinâmico balanço entre o animal e o meio.
Este padrão de resposta fisiológica, que prepara o organismo para uma emergência gera algumas condições no organismo animal como: aumenta a freqüência cardíaca e respiratória; eleva a taxa de glicose sangüínea (energia); dilata a pupila e melhora a audição, eleva o suprimento de sangue para o cérebro, secreta endorfinas, atua sobre a secreção de leptina e Neuropeptideo Y (NPY). Estas respostas são normais em qualquer situação na qual o corpo precisa se ajustar frente a um estímulo. O perigo para o organismo passa a ocorrer quando a ativação dos sistemas nervoso (Sistema nervoso autônomo) e endócrino (eixo (HPA) se torna crônico. Assim, reconhece-se que o estresse possui fases, que se sucedem quando os agentes estressores continuam de forma não interrompida em sua ação. De acordo com a Sindrome Geral de Adaptação proposta por Hans Selye, existem 3 fases evidente no estresse:

Fase de Alarme: Esta é a fase em que os estímulos estressores começam a agir; resposta aguda frente ao estresse;
Fase de Resistência: Se o agente estressor torna-se crônico, o organismo se adapta e parece normal até a resistência diminui;
Fase de Exaustão: O estressor é tão severo ou continuo por muito tempo que a habilidade de resistir é reduzida. É nesta fase que o organismo mostra os efeitos do estresse.

Conseqüências do estresse
De um modo geral, a conseqüência primária do estresse é uma alteração sobre a homeostase orgânica do animal. Neste sentido, se em um certo momento o animal não consegue manter a homeostasia, a conseqüência, mesma que rápida e eventual, será um prejuízo ao bem estar animal (Fraser & Broom, 1990). Não é nosso objetivo tratar de técnicas ou manejo que possam afetar o bem estar animal. No entanto, a seguir serão feitos alguns comentários a respeito das conseqüências do estresse sobre as aves.

Metabolismo intermediário
Todos os organismos vivos requerem um suprimento de energia contínuo para manter os gastos energéticos de mantença e produção. Este suprimento de energia para os tecidos do corpo é derivado principalmente da glicose e dos ácidos graxos livres. De acordo com Steffens & de Boer (1999) tanto o estresse emocional quanto o trabalho físico podem afetar o metabolismo da glicose e dos ácidos graxos livres. O estresse emocional, através do sistema nervoso simpático, ativa a medula da adrenal aumentando a liberação de epinefrina (adrenalina), que eleva a produção de glicose mas tem pouco efeito sobre a atividade de lipólise. Por outro lado, o trabalho físico, através da atividade neural do sistema nervoso simpático, resulta na liberação de nor-epinefrina (nor-adrenalina) que possui um potente efeito lipolítico com efeito menor sobre a produção de glicose. Estes efeitos sugerem que a natureza do estresse induz a liberação do substrato metabólico apropriado, para cobrir as necessidades metabólicas existente durante uma determinada situação.

Reprodução
No caso da reprodução, os hormônios liberados em resposta ao estresse (eixo H-H-A) podem alterar as funções reprodutivas através do eixo hipotálamo- pituitária -gonadas, inibindo a secreção de hormônio liberador de gonadotrofina (GnRH) e, consequentemente, interferindo na liberação do hormônio folículo estimulante (FSH) e do hormônio luteinizante (LH), alterando assim, o efeito estimulatório das gonadotrofinas na secreção de esteróides sexuais.

Distúrbios esqueléticos
O aumento dos níveis de corticosteróides também inibem a calcificação do esqueleto em frangos em crescimento e induzem osteoporose em frangos adultos (Siegel & Latimer, 1970). Portanto, o estresse crônico ou agudo e o subsequente aumento dos níveis de corticosteroides reduzem o crescimento e o desenvolvimento ósseo em frangos jovens. (Bartov, 1980). Para Julian (1998) os distúrbios esqueléticos podem conduzir a situações estressantes como: - dores crônicas; - e a incapacidade de movimentação, ficando os frangos sujeitos a agressões de outras aves, incapazes de aproximar-se do comedouro e bebedouro, sendo que essas aves normalmente morrem por desidratação. Para evitar o sofrimento dessas aves elas devem ser retiradas diariamente do lote.

Densidade de criação
A criação de frangos em alta densidade proporciona uma melhor utilização das instalações, uma vez que produção de frango vivo por área de piso (kg/m2) aumenta proporcionalmente com o aumento da densidade populacional (Goldflus, 1997). No entanto, a criação em alta densidade constitui-se em uma importante fonte geradora de estresse (Vo & Fanguy, 1982). Cravener et al. (1992) conduziram um estudo para avaliar os índices de estresse de frangos criados em densidades de 0,05; 0,07; 0,09 e 0,11 m2 por ave. Foi observado que com o aumento da densidade ocorre aumento de lesões no peito, o que teoricamente, seria um indicativo de maior estresse. No entanto, o índice heterófilos/linfócitos aumentou com a diminuição da densidade de criação, mostrando maior grau de estresse para as aves criadas em baixa densidade. Esse resultado mostra a complexidade que envolve a definição de índices para a quantificação do estresse.

Para poedeiras comerciais, a elevação da densidade de criação conduziu a um aumento dos níveis plasmáticos de corticosteróides (Craig et al., 1986; Mench et al. 1986) o que não foi verificado por Cunningham et al. (1988). Mench et al. (1986) não verificaram alteração no índice heterófilos/linfócitos em função das densidades de criação para poedeiras comerciais.

Transporte
Durante o transporte para o local de abate os frangos estão sujeitos a uma série de fatores estressantes: temperatura elevada, vibração, aceleração, impactos, barulho, jejum alimentar e hídrico (Mitchell & Kettlewell, 1998). Essas condições induzem a aumento dos níveis plasmáticos de corticosteróides (Freeman et al., 1984) e do índice heterófilo/linfócito (Maxwell, 1993).
Dentre os fatores estressantes durante o transporte, a condição térmica é a de maior importância. Para Mitchell & Kettlewell (1998) frangos de 2 kg produzem de 10 a 15 W de calor, e ocorre evaporação de 10,5 g de água\hora\ave. Supondo um caminhão com capacidade para transportar 6.000 frangos tem-se uma produção de calor de 90 kW/hora e de umidade de 63 kg/hora, o que eleva a temperatura e a umidade no caminhão de transporte. Os mesmos autores observaram que frangos submetidos as altas temperaturas ambiente e umidade relativa do ar durante o transporte, apresentaram elevação da temperatura corporal, entraram em alcalose respiratória e ocorreu aumento do índice heterófilos/linfócitos. Assim, durante o transporte é necessária uma adequada taxa de ventilação para evitar o estresse por calor e o conseqüente estresse fisiológico, com prejuízos para o bem estar animal.

Atordoamento e Abate
Antes da sangria, as aves devem ser atordoadas, visando um menor grau de sofrimento e estresse. O atordoamento normalmente é feito através do choque elétrico. No entanto, esse método de atordoamento apresenta uma série de inconvenientes: - é necessária a retirada das aves das caixas de transporte, que em seguida são penduradas, resultando em contusões na carcaça e estresse; - comumente as aves esbarram as asas na água eletrificada, em especial os perus; - ao se debater as aves tendem a elevar a cabeça o que pode reduzir a eficiência do atordoamento. Para Haj (1998) o atordoamento ou o abate com o uso de gases constitui-se em uma importante alternativa. Com essa técnica, não necessária a retirada das aves da caixa de transporte. Aquele autor verificou que o uso do gás argon ou sua combinação com o dióxido de carbono (CO2) foi eficaz no atordoamento dos frangos. O uso somente do CO2 não é recomendável, pois esse gás é picante e traz desconforto durante sua inalação. Em um recente estudo, Webster & Fletcher (2001) submeteram frangos de corte a seis diferentes tipos de gases: - ar (controle); - 30, 45, 60% de CO2; - 70% argon + 30% CO2; - 100% argon. Quando administrou-se 100% de argon as aves comportaram-se como se estivessem exposta ao ar (controle) até que ocorresse a morte por anoxia. As aves submetidas a qualquer nível de CO2, mesmo para o tratamento com 70% de argon, fizeram esforços para manter a respiração e balançaram a cabeça, demonstrando certo grau de incomodo e sofrimento antes de morrer.

Poedeiras - Gaiolas enriquecidas
Estima-se que aproximadamente 70 a 80% das poedeiras comerciais são criadas em gaiolas em todo o mundo, em quando nos países desenvolvidos esse valor sobe para 90%. Dentre as razões que justificam a criação de poedeiras em gaiolas inserem-se a maior economicidade e a melhora na higiene/saúde das aves (Tauson, 1998). Para Abrahamsson & Tauson (1995) quando as poedeiras são criadas no chão o índice de canibalismo aumenta em função do maior tamanho do lote, o que é minimizado nas gaiolas em função do pequeno número de aves (3 a 6 aves). Outros problemas da criação no chão incluem o maior índice de coccidiose (Engstrom & Schaller, 1993) e a maior quantidade de poeira e amônia no galpão contribuindo para piores condições de trabalho. No entanto, o pequeno espaço a que as aves são submetidas limita drasticamente as características comportamentais das poedeiras.

Atualmente, tem sido propostas três tipos de modificações nas gaiolas das poedeiras, visando melhores margem para comportamento.
A primeira delas refere-se a implementação de artefatos nas gaiolas convencionais, tais como: - fitas abrasivas: até 30% das poedeiras quebram suas unhas no final do ciclo de postura (Tauson, 1998). Dessa forma, o uso de fitas abrasivas nas gaiolas constitui-se em uma forma efetiva de reduzir a incidência de unhas quebradas, mantendo-as sempre curtas. No entanto, mesmo com lesões nas unhas ou com as unhas cumpridas, as poedeiras são capazes de produzir ovos em níveis normais (Tauson, 1986); - poleiros: esse recurso é bastante utilizado pelas poedeiras, em especial durante a noite (Abrahamsson & Tauson, 1993), o que contribui para a redução no consumo de ração. Com isso, a resistência óssea a quebra foi aumentada em torno de 15% (Duncan et al., 1992) reduzindo o risco de quebra dos ossos durante o manejo das aves. No entanto, pode ocorrer aumento da incidência de ovos trincados, quebrados e sujos. Também, o acúmulo de excretas no poleiro contribui para piora da higiene, podendo aumentar a incidência lesões nos pés e na quilha do peito.

O segundo tipo de gaiola foi elaborado para um número grande de aves (até 60 aves) (Appleby, 1998) e contém ninho e área para banho de areia, além daqueles recursos anteriormente citados. O grande problema desse tipo de gaiola refere-se a grande pressão social a que as aves são submetidas, o que freqüentemente faz aumentar a incidência de canibalismo. Também, ocorrem problemas de higiene e dificuldade para apanhar as poedeiras.

O terceiro tipo de gaiola é semelhante ao anteriormente citado, no entanto, para um número reduzido de poedeiras (5 a 10 aves) (Tauson, 1998). Recentemente, Appleby & Hughes (1995) verificaram que nesse tipo de gaiola (The Edinburgh modified cage), a produção de ovos de 20 a 44 semanas de idade, foi semelhante a observada para as gaiolas convencionais, observando ainda que mais de 95% dos ovos foram postos nos ninhos.

Considerações finais
Há novos desafios para a produção animal, além de buscar melhor produtividade e aumento na qualidade do produto, devemos também ter em conta que há uma demanda pela população por sistemas de produção que não agridam ao ambiente e assegurem que o bem-estar das aves não será comprometido. Para melhor avaliar as atuais estratégias de produção de aves é necessário ampliar o conhecimento sobre seus comportamentos e bem-estar, independente dos sistemas de criação. Só assim poderemos interferir de forma adequada, propondo novos sistemas de produção que proporcionem instalações e manejos adequados.

Nos dias de hoje é relativamente simples reconhecer e corrigir problemas de bem-estar quando a situação é critíca, tonando-se mais difícil a medida que há melhoria nas condições de bem-estar. Entretanto, não há, ainda, conhecimento suficiente que oriente todas nossas ações para o aprimoramento do bem-estar animal; surgem então dois grandes desafios para a ciencia do bem-estar animal: identificar bons indicadores de estados positivos de bem-estar e encontrar soluções para resolver problemas menos evidentes.

A discussão desse tema (ou novo conceito) é, sem dúvida, extensa e muito importante, não sendo possível esgotá-la neste artigo. Fica a mensagem, com a expectativa de que ela estimulará a reflexão sobre os procedimentos que temos adotado para a obtenção de produtos de origem animal. Se isto ocorrer, independentemente das conclusões a que os leitores chegarem, teremos alcançado nosso objetivo.

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Autores:
Renato Luis Furlan
UNESP - Universidad Estatal Paulista
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Marcelo Lopes da Silva
28 de mayo de 2018
olá gostaria de saber sé em Pernambuco sertão sé tem augo orgodo bem está animais de aves de postura eu tenho uma firma legal de hortifrutigranjero tendo vários cousso de aves como de galinhas de postura e comercialização de ovos obrigado
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joaquim Afranio
29 de octubre de 2016
Olá comunidade académica!!!! Achei interessante as informações, gostaria de saber a data na qual os mesmos foram publicados?
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