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Suplementação L-Tirosina L-triptofano Estresse Suínos

Efeitos da suplementação de L-Tirosina e L-triptofano na redução do estresse em suínos

Publicado: 27 de março de 2012
Por: Jose Sidney Flemming
A produção de suínos no Brasil tem se caracterizado por ganhos expressivos na última década, fundamentado em avanços genéticos nutricionais e tecnológicos. A produção de animais tem como objetivo principal atender a demanda crescente da indústria por carcaças de boa qualidade, observando-se as recomendações do mercado internacional quanto às práticas de conforto e bem estar animal. Assim, a exigência atual é por animais criados em condições de conforto ambiental e com estresse mínimo, procurando-se não elevar os custos de produção.
Entretanto, na maioria dos sistemas de criação são corriqueiras a superlotação de instalações, manejo inadequado e desequilíbrio nutricional, induzindo os animais a situações de estresse com relativa freqüência. Esta situação é freqüente no desmame, nas transferências para creches e de todo ciclo, culminando com o transporte e o pré- abate. Como resultado do estresse, os animais apresentam perdas no desempenho, menor ganho de peso e conversão alimentar com diminuição da imunidade, tornando-se mais susceptíveis a doenças e perda de qualidade de carcaça. Estes fatores podem ser agravados pelo estresse térmico, que determina alterações na fisiologia e metabolismo com reflexos no sistema endocrinológico, afetando a homeostase com efeitos negativos na qualidade da carne (Li et al , 2006).
O somatório destes fatores, acrescidos a orientação genética para a produção de carne magra provocou modificações na composição e características bioquímicas do músculo. Dentre estas alterações, adquirem importância aquelas ligadas ao gene do estresse suíno, também chamado de gene halotano (gene hal), que codifica a proteína reguladora do fluxo de cálcio (rianodina) para os canais liberadores de cálcio (CRC) do retículo sarcoplasmático do músculo esquelético (Fujii et al., 1991). Este gene está associado com o aparecimento da Síndrome do Estresse Suíno (PSS), e com o aparecimento de carnes com características de baixa capacidade de retenção de água, textura flácida e cor pálida, com elevadas perdas de água durante o processamento. Este comprometimento na qualidade da formação das carnes recebeu a denominação de PSE (sigla inglesa de Pale, Soft e Exudative), ou seja, carne pálida, mole e exudativa que é indesejável tanto para os consumidores como para a indústria de processamento (Jaturasitha, 2000). Pesquisadores têm correlacionado o aparecimento da PSE com o estresse e dietas deficientes em aminoácidos (Ekkel, et al 1997; Li et al 2006; Koopmans,et al 2006).
Aldeola & Ball (1992) realizaram amplo estudo com o controle do estresse, e constataram que um grupo de aminas está relacionado à formação de neurotransmissores envolvidos no mecanismo do estresse, que incluem a serotonina (5-hidroxitriptamina) e também as catecolaminas (adrenalina, noradrenalina e dopamina). Cita que estes são sintetizados na sua grande maioria a partir da decarboxilação de aminoácidos aromáticos (fenilalanina, tirosina e triptofano) e que a tirosina pode ser obtida da fenilalanina sendo o aminoácido precursor das catecolaminas. A serotonina é em grande parte condicionada pela proporção de triptofano e aminoácidos neutros de cadeia longa como a tirosina e leucina, ou ainda, aqueles conhecidos como BCCAs, que são a fenilalanina, isoleucina, valina.
Pesquisas foram conduzidas e direcionadas no sentido de avaliar o real envolvimento de fatores dietéticos com a produção de serotonina e catecolaminas, e ainda se estas poderiam ser manipuladas através do fornecimento de uma alimentação com maiores inclusões de triptofano e tirosina para suínos, principalmente em dietas pré abate (Fernstrom1994, Liebermann 1994, Li et al 2006). Luo et al, (1992) constataram que o 5-hidroxi-triptofano e os aminoácidos neutros de cadeia longa, principalmente a tirosina competem para entrar na barreira hemato-encefálica através do mesmo sistema de transporte enquanto que somente o 5-hidroxi-triptofano leva à produção de serotonina; daí a importância da relação do triptofano com estes aminoácidos. A concentração e perfil da proteína das dietas engorda e pré abate afetam a fisiologia do animal durante o período ante-mortem, mas efeitos específicos de aminoácidos selecionados não têm sido reportados. A utilização de aminoácidos no intuito de manipular o estresse com efeitos na melhora da carcaça pode ser resumida nos seguintes mecanismos:
a)Fornecer aminoácidos que tenham efeitos reguladores no mecanismo do estresse como os substratos para neurotransmissores;
b) ou ainda, que participem ativamente da síntese protéica;
c) ou que funcionem como substratos para neoglicogenese.
A suplementação de suínos com tirosina, um aminoácido neutro de cadeia longa tem sido explorada como uma estratégia nutricional para reduzir as conseqüências do estresse agudo que caracteriza o pré-abate, onde a tirosina funcionaria como um precursor do neurotransmissor dopamina (DA), cujo processo tem início com a tirosina hidroxilase, e o produto dessa reação é a diidroxifenilalanina (DOPA). O produto de descarboxilação da DOPA é convertido, na medula adrenal, em norepinefrina e epinefrina (ou adrenalina). Podem-se referir como principais efeitos da dopamina e seus precursores (norepinefrina e epinefrina) um aumento na freqüência cardíaca, com aumento na demanda de oxigênio.
Esta alteração desencadeia um processo fisiológico com constrição das arteríolas da pele e mucosas, associada à dilatação dos vasos que irrigam o fígado e a musculatura esquelética. Estes fatores induzem a um aumento da permeabilidade com influxo de sódio e cálcio, provocando vasodilatação, e relaxamento da musculatura lisa, como principal efeito metabólico é notado a lipólise, com degradação de triglicerídeos. Este comprometimento da síntese de catecolaminas torna os animais menos resistentes ao estresse desenvolvendo um conjunto de comportamentos contraproducentes caracterizado por mudanças fisiológicas (Lieberman, 1994). Estudos com a administração de tirosina antes de situações estressantes têm assegurado níveis adequados de norepinefrina, protegendo parcialmente os animais das conseqüências comportamentais do estresse (Luo et al., 1992). A administração prévia de tirosina aos animais antes do estresse pode ajudar a regular a resposta a formação do cortisol, com a norepinefrina suprimindo a síntese do cortisol via hormônio adrenocorticotrópico hipofisário. As implicações da suplementação de tirosina na fase ante-mortem de suínos não tem sido totalmente explorada. Adeola and Ball (1992) constataram que a utilização de 10g de L- tirosina /kg de ração nos cinco dias antes do abate de suínos aumentava significativamente a concentração de tirosina no plasma, com diminuição dos níveis de cortisol. Entretanto, quando a tirosina foi utilizada em suínos altamente estressados por transporte e manejo apenas poucas horas antes do pré abate, não se evidenciaram alterações na cor e pH do lombo ou pernil.
O triptofano origina a serotonina que é um neurotransmissor presente no cérebro e causa contração da musculatura lisa de arteríolas e bronquíolos. Koopmans et al (2006) referem que o triptofano compete com os aminoácidos neutros de cadeia longa (LNAA) como a tirosina e fenilalanina, bem como com os BCCA´s leucina isoleucina e fenilalanina para o transporte através da membrana hematoencefálica. Fernstrom (1994) demonstrou que a suplementação destes aminoácidos em duas a quatro vezes reduziam grandemente a atividade de serotonina no cérebro, contudo os carboidratos da dieta podem potencializar o efeito do triptofano afetando a qualidade do músculo. Roberts et al (1996) constataram que a suplementação extra de triptofano diminuía a formação de dopamina β- hidrolixase modificando o fluxo das catecolaminas, mas os efeitos práticos sobre a qualidade de carcaça não foram significativos.
A falta de energia durante o jejum pré abate oriunda da extinção das reservas de glicogênio, faz com que entrem em ação outras vias metabólica de produção de energia. A primeira é representada pelas vias metabólicas capazes de transformar os ácidos graxos da reserva lipídica em energia. Desta forma, os ácidos graxos de número ímpar de carbonos ou contendo ramificações na sua molécula, quando oxidados, originam acetil-CoA e propionil-CoA, compostos possíveis de serem transformados em succinil-CoA, um intermediário do ciclo de Krebs, que pode gerar glicose (Aldeola et al,1992). Entretanto, este é um processo metabolicamente lento e relativamente pouca energia é fornecida. Como alternativa viável o organismo utiliza os aminoácidos glicoformadores como a alanina, glutamina e glicina que tem uma grande capacidade de passagem e rápida transformação no tecido periférico (Schaefer e Scott, 1993). Pesquisas de Millward et al. (1989) citam que a utilização de glutamina na dieta reduz o gasto destes aminoácidos, pois em casos de estresse serve como fonte de nitrogênio lábil evitando as perda de massa muscular .
Concluindo, pode-se afirmar que a complexidade das interações entre os diferentes nutrientes abre um amplo espaço para o desenvolvimento de pesquisas e estudos, enfatizando-se a procura por melhores carcaça e a preservação do bem estar animal.
Bibliografia
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Universidade Católica do Paraná
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