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PESO FETAL E MIOGÊNESE DE SUÍNOS EM DIFERENTES PERÍODOS GESTACIONAIS

Publicado: 10 de novembro de 2016
Por: JORGE Y. P. PALENCIA1*, CÉSAR A. P. GARBOSSA1, LEONARDO S. FONSECA1, ELOIZA LANFERDINI1, MARINA A. G. LEMES1. 1 Departamento de Zootecnia – Universidade Federal de Lavras - Lavras/MG –
Sumário

Foi realizado um estudo com o objetivo de avaliar os efeitos do peso fetal sobre a miogênese de suínos em diferentes idades gestacionais. Foram utilizadas 15 fêmeas suínas primíparas, distribuídas em três grupos de acordo com a idade gestacional de abate: 50, 80, 106 dias. Após o abate os fetos foram extraídos do útero, pesados e divididos em quatro tratamentos de acordo com o peso. Foi realizada a remoção do músculo Semitendíneo para as análises morfológicas pela técnica de coloração em Hematoxilina e Eosina e a utilização do programa Image J® para as análises das imagens obtidas. Independentemente do período gestacional, o desenvolvimento do músculo Semitendíneo é negativamente afetado em fetos de menor peso, enquanto aos 80 dias a hiperplasia de fibras secundárias é prejudicada em fetos de baixo peso. Conclui-se que a miogênese muscular de suínos é afetada pelo peso dos fetos.

 

Palavras-chave: fibras primárias; fibras secundárias; capacidade uterina.

 
Introdução
O crescente desenvolvimento da suinocultura tem trazido melhoras na produtividade da fêmea suína, expressa no aumento do número de leitões nascidos vivos. Entretanto, fêmeas hiperprolíficas geram leitões de baixo peso ao nascimento e leitegadas desuniformes, devido à competição por nutrientes e oxigênio, própria de um ambiente intrauterino superlotado (FIX et al., 2010). O desenvolvimento muscular durante a gestação pode ser influenciado por diversos eventos e fatores pré-natais relacionados ao ambiente uterino. Estes podem influenciar direta ou indiretamente a diferenciação das fibras musculares e determinar o número destas fibras, bem como sua taxa de crescimento. Isto é mais evidente na formação de fibras musculares secundárias entre os 55 e 95 dias de gestação, pela maior susceptibilidade a fatores estressantes do ambiente intrauterino (ZHU et al., 2008). Leitões de baixo peso estão relacionados com baixo número de fibras musculares, crescimento pós-natal comprometido e pior qualidade da carne ao abate (REHFELDT & KUHN, 2006). Portanto, torna-se importante conhecer como esses aspectos relacionados ao ambiente uterino atuam sobre o desenvolvimento muscular do suíno, visando a otimização no desempenho pós-natal desses animais. Objetivou-se com o presente estudo avaliar os efeitos do peso fetal sobre a miogênese de suínos em diferentes idades gestacionais.
 
Material e Métodos
Os procedimentos descritos neste trabalho foram aprovados pela Comissão de Ética no Uso de Animais da Universidade Federal de Lavras, protocolo número 079/11. Foram utilizadas 15 fêmeas suínas primíparas de linhagem comercial, de peso e idade semelhantes (153,5 ± 11,9 kg, aproximadamente 240 dias), distribuídas em três grupos de acordo com a idade gestacional de abate: 50, 80 e 106 dias. O delineamento experimental utilizado foi o inteiramente casualizado, sendo que em cada período gestacional os fetos foram divididos em quatro tratamentos de acordo com o peso (classes de peso 1,2, 3 e 4). O critério para a escolha da quantidade de classes foi baseado no menor desvio padrão entre elas. No quarto cio detectado, as marrãs foram inseminadas artificialmente com sêmen de um único reprodutor (Large White). Todos os animais receberam água ad libitum e ração farelada a base de milho, farelo de soja e farelo de trigo duas vezes ao dia. Aos 50, 80 e 106 dias de gestação, as cinco fêmeas de cada grupo foram abatidas e os fetos foram extraídos do útero e pesados. Foi realizada a remoção do músculo Semitendíneo, pertencente ao grupo muscular da face caudal do membro pélvico esquerdo. As amostras foram submetidas a tratamento com crioprotetor (talco neutro e isopentano), criopreservadas em nitrogênio líquido a -196°C e armazenadas em freezer a -80°C. Foram obtidos cortes do músculo Semitendíneo de 12 μm de espessura em criostato a -20°C. Para as análises morfológicas foi utilizada a técnica de coloração em Hematoxilina e Eosina. As amostras foram analisadas em microscópio de luz comum, objetiva 40x, acoplado a uma câmera para captura de imagens. Foram obtidas quatro imagens por amostra, posteriormente analisadas no programa Image J® para a mensuração das variáveis histológicas: número, densidade, área e diâmetro de fibras primárias aos 50 dias, número, relação, densidade, área e diâmetro de fibras primárias e secundárias aos 80 dias e número, densidade, área e diâmetro de fibras totais aos 106 dias. Os dados obtidos foram submetidos à análise de variância, sendo as médias obtidas comparadas pelo teste Tukey a 5%. Para as análises estatísticas utilizou-se o pacote estatístico do SAS (9.3).
 
Resultados e Discussão
 A tabela 1 expõe as características histológicas do músculo Semitendíneo de fetos suínos aos 50, 80, e 106 dias de gestação, apresentadas em função de quatro diferentes clases de peso. Independentemente do período gestacional, houve efeito (P<0,05) do peso com as caraterísticas histológicas do músculo Semitendíneo dos fetos suínos. Sendo que fetos pertencentes a classes de baixo peso apresentaram maior número e densidade de fibras musculares quando comparados a classes de maior peso. Entretanto, a área e o diâmetro das fibras musculares foram maiores em fetos com maior peso em ralação a fetos de menor peso.
 
Geralmente tem-se considerado que um menor peso está relacionado ao menor número de fibras musculares (REHFELDT & KUHN, 2006). O contrário foi observado no presente estudo, estando isto associado ao tamanho das fibras musculares, sendo que em uma mesma área, fibras de menor tamanho poderiam estar mais concentradas quando comparadas com fibras de maior tamaño que ocupariam um maior espaço, isto é valido ao observar maior área e diâmetro das fibras em fetos de maior peso (Tabela 1). Além disso, variações na metodologia utilizada explicam a controvérsia dos resultados, sendo que outros trabalhos quantificaram o número total de fibras musculares, tendo em consideração a área total ou peso do músculo, o qual não foi considerado neste trabalho.
 
O segundo e terceiro terço da gestação são caracterizados pelo desenvolvimento e crescimento fetal acentuado e com isso a competição por espaço e nutrientes. Este fato somado ao aumento do número de fetos dentro do útero de fêmeas suínas hiperprolíficas e ao déficit do fluxo sanguíneo (FIX et al., 2010), ocasiona variação na nutrição fetal e com isso crescimento desuniforme ao longo da gestação. Isto explica as diferenças encontradas entre as classes de peso, sendo que o desenvolvimento do tecido muscular pode ser afetado pelo déficit de nutrientes, considerando que o tecido muscular apresenta menor prioridade na partição de nutrientes (ZHU et al., 2008).
 
Aos 80 dias, a relação fibras secundárias/primárias, área de fibras secundárias e diâmetro de fibras secundárias foram menores em fetos de menor peso, indicando que a hiperplasia e hipertrofia de fibras secundárias é afetada negativamente em fetos de baixo peso. Devido ao grande número de fibras secundárias que necessitam ser formadas (até 20 por cada fibra primária), a miogênese nesta etapa apresenta grande susceptibilidade ao estresse originado pela falta de nutrientes, reduzindo o número e a taxa de crescimento das fibras musculares do feto (ZHU et al., 2008).
 
Tabela 1. Características histológicas do músculo Semitendíneo de fetos suínos relacionadas com as classes de peso aos 50, 80 e 106 dias de gestação.
PESO FETAL E MIOGÊNESE DE SUÍNOS EM DIFERENTES PERÍODOS GESTACIONAIS - Image 11 NFP=Número de fibras primárias por campo (40X); DFP=Densidade de fibras primárias em 15.000 μm2; AFP=Área de fibra primárias (μm2); DIFP=Diâmetro de fibras primárias (μm); NFS=Número de fibras secundárias/campo (40X); RNSP=Relação fibras secundárias/primárias; DFS=Densidade de fibras secundárias em 15.000 μm2; AFS=Área de fibras secundárias (μm2); DIFS=Diâmetro de fibras secundárias (μm); NFT=Número de fibras totais por campo (40X); DFT=Densidade de fibras totais em 15.000 μm2; AFT=Área de fibras totais (μm2); DIFT=Diâmetro de fibras toais (μm); CV=Coeficiente de variação.
Médias seguidas por diferentes letras na linha diferem pelo teste Tukey (P<0,05).
 
Conclusões
A miogênese do músculo Semitendíneo é afetada pelo peso dos fetos. A hiperplasia e hipertrofia de fibras secundárias é afetada negativamente em fetos de baixo peso.
 
Agradecimentos
À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG).
 
Referências Bibliográficas
1. FIX, J.S.; CASSADY, J.P.; HERRING, W.O.; HOLL, J.W.; CULLBERTSON, M.S.; SEE, M.T.; 2010. Effect of piglet birth weight on body weight, growth, backfat, and longissimus muscle area of commercial market swine. Livestock Science, (127):51–59.
2. REHFELDT C.; KUHN G.; 2006. Consequences of birth weight for postnatal growth performance and carcass quality in pigs as related to myogenesis. Journal of Animal Science, (84):113–123.
3. ZHU, M.J, HAN, B., TONG, J., et al.; 2008. AMP-activatéd protein kinase signalling pathways are down regulatéd and skeletal muscle development impaired in fetuses of obese, overnourished sheep. Journal Physiology, (586):2651-2664.
 
***O TRABALHO FOI ORIGINALMENTE APRESENTADO DURANTE O XVII CONGRESSO ABRAVES 2015- SUINOCULTURA EM TRANSFORMAÇÂO, ENTRE OS DIAS 20 e 23 DE OUTUBRO, EM CAMPINAS, SP.
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Autores:
Jorge Y. P. Palencia
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