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Nutrição Marrãs

Nutrição de marrãs: programa nutricional diferenciado

Publicado: 1 de janeiro de 2002
Por: Melissa I. Hannas (Zootecnista, DSc.) e Júlio Maria. Ribeiro Pupa (Méd. Veterinário, DSc.) Consultores All Nutri – Consultoria em Planejamento e Nutrição Animal
A recomendação nutricional correta durante todo o crescimento das marrãs como um fator essencial para um bom desenvolvimento reprodutivo

A correta nutrição de marrãs durante o seu crescimento tem impacto significativo no desenvolvimento reprodutivo das fêmeas. Assim, o manejo destes animais deve começar nos estágios iniciais de sua vida e terminar quando estas completarem a sua primeira lactação.

Para entendermos a relação entre reprodução e o desenvolvimento das marrãs, é importante lembrarmos que enquanto a função reprodutiva está sujeita a um controle hormonal fechado, o seu desempenho é drasticamente influenciado por fatores externos como o ambiente, a nutrição e o manejo.
Nas condições normais de produção animal sempre existirá a interação entre os fatores fisiológicos, genéticos, bioquímicos, comportamentais e físicos interagindo sobre a vida das fêmeas reprodutoras, fazendo com que não apenas seja necessário que o complexo sistema hormonal trabalhe em um nível ótimo, mas que haja uma combinação favorável entre o ambiente externo e o interno.

Para o preparo adequado das futuras reprodutoras existem recomendações prescritas e geralmente utilizadas que são apresentadas na Tabela 1.

Nutrição de marrãs: programa nutricional diferenciado - Image 1
Entretanto, o desafio da suinocultura atual é atender as características específicas das marrãs e porcas que estão associadas à genética, ambiente e instalações e que em conjunto alteram os requerimentos nutricionais destes animais.

Entre as dificuldades em adequar o programa nutricional das marrãs destacamos principalmente: o reduzido número de informações sobre o requerimento nutricional de algumas genéticas; a utilização de mais de uma genética dentro do mesmo sistema de produção; a seleção das matrizes dentro da granja sem um manejo diferenciado até a primeira cobertura; e a falta de preparo da mão de obra, que nem sempre é treinada a dar atenção a esta fase de produção.

Recomendações nutricionais diferenciadas

Com relação à nutrição, deve-se garantir que as marrãs tenham uma nutrição diferenciada dos animas destinados ao abate. Diversas revisões sugerem níveis nutricionais para as marrãs selecionadas em diferentes idades (Tabela 2), sem, no entanto, fazerem considerações às diferentes genéticas.

Nutrição de marrãs: programa nutricional diferenciado - Image 2

Para cada genética existe uma recomendação nutricional que possibilita as fêmeas atingirem a condição corporal considerada ótima à cobertura e a menor mobilização de reserva durante a lactação. Logo, este deve ser um dos principais alvos a serem atingidos e será um ponto decisivo para o sucesso reprodutivo do plantel.
As tabelas e dados dos manuais da genética específica devem, portanto, ser utilizados como referência. Recentemente, uma das empresas de genética divulgou recomendações técnicas nutricionais para marrãs em crescimento e para marrãs e porcas em gestação e lactação.

O que se tem visto nos programas de arraçoamento é uma maior ênfase para a nutrição das marrãs da sua seleção ao primeiro serviço e uma nutrição diferenciada na primeira lactação.

Nutrição das marrãs da seleção à primeira cobertura:

De acordo com as recomendações para a genética citada, os alvos a serem atingidos para crescimento e composição corporal são: ganho diário de peso entre 630 e 660 g/dia; peso corporal de 118 a 126 ao primeiro serviço, com idade entre 210 e 240 dias e espessura de toucinho no ponto P2 entre 16 e 18 mm.

Os requerimentos nutricionais da fase inicial a puberdade, apresentados na Tabela 3, são estabelecidos objetivando proporcionar às fêmeas um adequado desenvolvimento de proteína e deposição de gordura corporal e não o máximo ganho de peso que é alvo nos programas de nutrição para animais em crescimento e terminação destinados à produção de carne, ressaltando assim a importância de se considerar as marrãs como animais diferenciados dentro do plantel.

Nutrição de marrãs: programa nutricional diferenciado - Image 3

Em média a recomendação de energia dietética para marras é de 5 a 6% inferior que para animais em crescimento e terminação. Se a taxa de crescimento obtido exceder o alvo, deve-se reduzir a concentração de energia da dieta através da adição de fibra. A diluição da energia deve ser realizada apenas após 60 kg de peso vivo mantendo-se a relação entre lisina e energia metabolizável.
Os requerimentos de vitaminas e minerais são mais altos que aqueles recomendados para animais destinados à produção de carne, e tem como objetivo preparar as marrãs para adequada função reprodutiva.

Nutrição da cobertura a lactação

As recomendações nutricionais e o manejo da alimentação para fêmeas em gestação e lactação são diferenciados entre marrãs e porcas (Tabela 4 e 5).

Nutrição de marrãs: programa nutricional diferenciado - Image 4

Nutrição de marrãs: programa nutricional diferenciado - Image 5
- quantidades sugeridas para rações de gestação contendo e 3230 kcal/kg de EM e rações de lactação contendo 3270 kcal/kg de EM.
1 – nível de alimentação deve ser dependente do peso de entrada da marrã. Considerar alimentação a vontade para fêmeas com peso inferior a 114 kg, e limitar a quantidade de ração em 2,3 kg /dia para fêmeas com peso superior a 114 kg.
2 - Lactação 1 ou 2 – dependendo da ordem de parição.
3 – fornecida 2 a 3 vezes ao dia, podendo ser substituída pela ração lactação quando observa-se baixo consumo de ração.


É importante, principalmente, que as marrãs desenvolvam adequada reserva tecidual de proteína, gordura e minerais durante a gestação para suportarem o alto nível de produção de leite durante a primeira lactação.
Pesquisas mais recentes mostraram que fêmeas primíparas que perderam quantidade de massa protéica de 9 para 12% na lactação apresentaram decréscimo na taxa de crescimento da leitegada e na performance reprodutiva subsequente.
Portanto, o programa de alimentação na gestação deve possibilitar o consumo de nutrientes adequado por dia, e ser fornecido nas quantidades estabelecidas para cada período. No intervalo entre o 5 e 90 dia de gestação, o consumo de ração deve ser estabelecido em função do escore corporal na cobertura e o alvo considerado ideal para a parição (Tabela 6). Entretanto, ao longo desse período, o arraçoamento tem que respeitar certas particularidades, como, por exemplo, a formação dos alvéolos mamários (número de células secretoras, DNA e RNA na glândula mamária).

Nutrição de marrãs: programa nutricional diferenciado - Image 6

A determinação da reserva de gordura corporal deve ser feita com o auxílio do aparelho de ultra-som, uma vez que o escore corporal determinado através de análise visual tem baixa correlação com espessura de toucinho e as características de conformação das diferentes genéticas dificultam a avaliação visual. Conforme, recentes estudos de Young et al. 2001, fêmeas com escore corporal 3 determinado através de análise visual, apresentaram espessura de toucinho variando entre 7,5 e 23 mm. Isto indicou que para a adequada determinação da condição corporal das marrãs e porcas e conseqüentemente, otimização de manejo nutricional deve-se utilizar uma metodologia de determinação da reserva de gordura mais precisa, como o uso de medidores específicos.

No terço final da gestação, recomenda-se um aumento do consumo de ração. De acordo com BOYD et al. (2002), nesta fase ocorre um aumento exponencial do requerimento de nutrientes e um aumento no consumo de ração nesta fase pode prevenir a perda de proteína corporal materna que normalmente é mobilizada para suportar o desenvolvimento materno e fetal.
Entre as diferenças nos requerimentos nutricionais das marrãs e porcas em lactação destacam-se a exigência de lisina e demais aminoácidos, dos minerais cálcio e fósforo e das inter-relações dos nutrientes com a energia total da ração.
Para a lactação das matrizes recomenda-se o uso de duas rações de lactação distintas, uma para as fêmeas de primeira lactação e outra para fêmeas de lactações posteriores (Tabela 4). Porém, na prática, na maioria das granjas, esta distribuição fica comprometida.

Quando possível, recomenda-se separar dentro das salas de maternidade estes grupos de animais e fornecer a ração de lactação marrã apenas para as fêmeas de primeira lactação, visando minimizar a perda de peso e de tecido durante a primeira lactação. A utilização de uma única ração de lactação para porcas aumenta o potencial de perda de proteína corporal para as marrãs, o que em alguns casos pode ser corrigido com o uso de suplementos.

A fêmea prolífica de primeira cria pode perder acima de 15% de sua proteína corporal durante a primeira lactação. A conservação de sua massa protéica corporal durante esta fase pode reduzir o intervalo desmama-cio e aumentar o tamanho da leitegada subseqüente em até 1,2 leitões/leitegada.
Para as fêmeas em lactação, um novo conceito de proteína ideal está sendo estabelecido, no qual a nutrição das porcas em lactação deve considerar o impacto da mobilização de aminoácidos que será responsável pela alteração no padrão dos aminoácidos limitantes.

Em pesquisas recentes, foi determinado que a treonina e a lisina são os primeiros aminoácidos limitantes seguidos pela valina, quando ocorre mobilização de tecido durante a lactação. No entanto, a lisina é o primeiro aminoácido limitante, valina o segundo e treonina o terceiro aminoácido limitante quando as porcas não mobilizam tecido durante a lactação, o que indica que a ordem de limitação dos aminoácidos depende da ingestão de ração e mobilização de tecido durante a lactação. Isto origina o conceito de “proteína ideal dinâmica”, uma vez que o padrão de aminoácidos ideal para estes animais é dinâmico e dependente da expectativa de perda de peso durante a lactação.

Considerações finais: Frente à busca do máximo desempenho zootécnico e retorno econômico dentro do sistema de produção de suínos, a nutrição diferenciada das fêmeas em função da genética utilizada, da fase de reprodução, do ambiente e manejo tornou-se uma estratégia essencial.

Bibliografia consultada:

BOYD, R. D., CASTRO, G.C.; CABRERA, R.A. Nutrition and management of the sow to maximize lifetime productivity. In: BANFF CONFERENCE, 2002.
CLOSE, W.H.; COLE, D.J.A. Nutrition of sows and boars. 2001. Nottinghan University Press: United Kingdom. 377p.
KIM, S.W.; BAKER, D.H.; EASTER, R.A. 2001. Dynamic ideal protein and limiting amino acids for lactating sows: the impact of amino acid mobilization. J. Anim. Sci. 79:2356-2366.
PIC USA, Nutrition Technical Update. 2003. PIC USA Nutrient Specifications.
PIC USA, Production Technical Update. 2003. Body Condition Management (BCM).
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