INFLUÊNCIA DO NÍVEL DE FIBRA NO DESENVOLVIMENTO DOS ORGÃOS DIGESTIVOS DE LEITÕES RECÉM-DESMAMADOS.

O interesse no estudo da fibra nas dietas para leitões recém-desmamados resulta da possibilidade da mesma estar envolvida na manutenção da saúde intestinal, prevenindo algumas doenças, como a diarreia pós-desmame, que tem impactos negativos diretos no desempenho e mortalidade dos leitões (MONTAGNE et al., 2003; BINDELLE et al., 2008; BUDIÑO et al., 2010). Diversos estudos tem sugerido que o uso moderado da fibra pode atuar na manutenção das funções digestivas e na saúde intestinal de leitões em função dos efeitos fisiológicos e metabólicos da fibra dietética, decorrente de alterações nas propriedades do bolo alimentar, como volume, viscosidade, pH e fermentabilidade, aliado a modificações na taxa de passagem do alimento pelo trato gastrintestinal, que interferem na composição da microbiota do trato digestivo e nas suas atividades metabólicas. Contudo as pesquisas com suínos nas fases de crescimento e terminação (KASS et al., 1990; JORGENSEN et al., 1996; PEKAS et al., 1983) tem mostrado que esses efeitos tendem a provocam mudanças morfológicas nos órgãos digestivos de suínos, sendo escassos resultados de pesquisas com leitões e fibra na dieta. Diante do exposto, o objetivo do presente trabalho foi avaliar o desenvolvimento dos órgãos digestivos de leitões alimentados com níveis de fibra em detergente neutro.

 

Foram utilizados 30 leitões, machos castrados, da linha genética Topigs, desmamados aos 21 dias de idade com peso médio de 7,48 ± 0,46 kg, durante período de 21 a 42 dias de idade. Os animais foram distribuídos em um galpão de alvenaria divido baias equipadas com comedouro semiautomático, bebedouro tipo chupeta e cortinas laterais, seguindo um delineamento em blocos casualizados de cinco tratamentos, considerando os níveis de fibra em detergente neutro (FDN) de 8,5; 10,5; 12,5; 14,5 e 16,5% com seis repetições por tratamento e um animal por unidade experimental, sendo os pesos iniciais dos animais o critério utilizado para a formação dos blocos. As rações experimentais utilizadas foram formuladas para serem isocalóricas e isonutritivas, considerando-se as exigências nutricionais para leitões de 21 a 32 e 33 a 42 dias de idade, de acordo com Rostagno et al. (2011). Durante todo o período experimental as rações e a água foram fornecidas aos animais à vontade. Para avaliar o desenvolvimento dos órgãos digestivos aos 42 dias de idades todos os leitões foram sacrificados por atordoamento elétrico e sangria total. Por ocasião do abate, os órgãos do trato digestório foram retirados e separados, sendo o estômago, intestino delgado, intestine grosso, ceco e colón esvaziados, e logo após pesados individualmente, assim como o pâncreas, fígado e do baço. O peso relativo dos órgãos foi calculado com base no peso vivo de cada animal. Os dados foram submetidos à análise de regressão, onde os graus de liberdade, referentes aos níveis de fibra em detergente neutro nas rações, foram desdobrados em polinômios, para estabelecer a curva que melhor descrevesse o comportamento dos dados.

 

Foram observados alterações no peso em segmentos do trato gastrointestinal em função do nível de FDN, sendo detectado efeito linear crescente nos pesos do estômago e ceco e colón à medida que houve aumento no nível de FDN nas rações (Tabela 1).

 

Tabela 1 - Peso médio dos órgãos digestivos (expressos em porcentagem de peso vivo) de leitões aos 42 dias de idade alimentados com rações contendo níveis de fibra em detergente neutro

¹CV - coeficiente de variação; ²NS - não significativo; ³y = 0,7225 + 0,0091x e R² 0,86; ⁴y = 1,5135 + 0,0144x e R² 0,84.

 

Esse efeito pode ser uma resposta morfológica adaptativa as dietas com alto teor de fibra, caracterizadas pela maior volumetria (ANNISON & CHOCT, 1994), responsável pela expansão do volume do bolo alimentar que pode ter promovido maior distensão das paredes do estômago, ceco e colón, resultando em órgãos mais pesados.

 

É importante ressaltar que a natureza dos incrementos de peso e a sua importância biológica ainda não são claras, mas presume-se que a ingestão prolongada de dietas com alta concentração de fibra podem conduzir a uma hipertrofia e, consequentemente, aumento do peso dos segmentos do trato gastrointestinal (STAGONIAS & PEARCE, 1985). Além disso, o ceco e colón são os principais sítios de fermentação do material fibroso não hidrolisado pelas enzimas digestivas, sofrendo influência direta do nível de fibra, uma vez que o maior teor de fibra tende a resultar na maior quantidade de substrato para as bactérias e, consequentemente, na maior produção de AGCC, usados como principal fonte de energia na multiplicação e renovação das células epiteliais da mucosa intestinal.

 

Estudos anteriores demonstraram um aumento nos pesos dos órgãos viscerais em resposta à inclusão de fibra na dieta de suínos. Pekas et al. (1983) encontraram maior peso do colón, de suínos em terminação alimentados com 50% de feno de alfafa. Já Jorgensen et al. (1996) verificaram que os animais alimentados com dietas contendo 26.8% de fibra dietética apresentaram estômago, ceco e colón mais pesados. Por outro lado, Kass et al. (1990) verificaram menor peso do estômago e maior peso do intestino delgado, ceco e colo de suínos em crescimento alimentados com dietas com 43% de FDN, enquanto, Jin et al. (1994) não verificaram efeito sobre o peso dos órgãos viscerais ao compararem rações com 11.6 e 16.5% de FDN.

 

Conclui-se que o aumento do teor de fibra nas dietas promove aumento do peso do estomago e ceco e cólon de leitões recém-desmamados.

 

1. ANNISON, G.; CHOCT, M.; 1994. Plant polysaccharides – their physicochemical properties and nutritional roles in monogastric animals. In: LYONS, T.P.; JACQUES, K.A. Biotechnology in the Feed Industry. Proceedings of the 10th Alltech Annual Symposium; 1994; England. Nottingham University Press. p.51-66.

2. BINDELLE, J.; LETERME, P.; BULDGEN, A.; 2008. Nutritional end environmental consequences of dietary fibre in pig nutrition. Biotechnologie, Agronomie, Société et Environnement, (12): 69-80.

3. BUDIÑO, F.E.L; CASTRO JÚNIOR, F.G.; OTSUK, I.P.; 2010. Adição de frutoligossacarídeo los Dietas parágrafo Leitões desmamados: desempenho, Ocorrência de diarreia e metabolismo. Revista Brasileira de Zootecnia, (39): 2187-2193.

4. JIN, L. et al.; 1994 Effects of dietary fiber on intestinal growth cell proliferation and morphology in growing pigs. Journal of Animal Science, (72): 2270-2278.

5. JORGENSEN, H.; ZHAO X.; BACH KNUDSEN, K.E.; 1996. The influence of dietary fibre source and level on the development of the gastrointestinal tract, digestibility and energy metabolism in broiler chickens. British Journal of Nutrition, (75): 379-395.

6. KASS, M.L.; VAN SOEST, P.J.; POND, W.G.; 1980. Utilization of dietary fiber from alfalfa by growing swine. II. Volatile fatty acid concentrations in and disappearance from the gastrointestinal tract. Journal of Animal Science, (50): 192-197.

7. MONTAGNE, L.; PLUSKE, J.R.; HAMPSON D.J.; 2003. A review of interactions between dietary fibre and the intestinal mucosa and their consequences on digestive health in young non-ruminant animals. Animal Feed Science and Technology, (108): 95-117.

8. PEKAS, J. C.; YEN, J. T.; POND, W. G.; 1983. Gastrointestinal carcass and performance traits of obese versus lean genotype swine: effect of dietary fiber. Nutrition Reports International, (27): 259- 270.

9. ROSTAGNO, H.S.; ALBINO, L.F.T.; DONZELE, J.L.; et al., 2011. Tabelas brasileiras para aves e suínos: composição de alimentos e exigências nutricionais. Viçosa, MG: Universidade Federal de Viçosa, 252p.

10. STAGONIAS, G.; PEARCE, G.R. 1985. The digestion of fibre in the pigs. 1. The effects of amount and type of fibre on apparent digestibility, nitrogen balance and rate of passage. British Journal of Nutrition, (53):513-530.