Explorar
Comunidades em Português
Anuncie na Engormix

IMPORTÂNCIA DO FORNECIMENTO DE COLOSTRO E DE SUPLEMENTO NUTRICIONAL PARA A SOBREVIVÊNCIA DE LEITÕES DE BAIXO PESO

Publicado: 15 de março de 2016
Por: LETICIA P. MOREIRA1*, MARIANA B. MENEGAT1, GIULIANO P. BARROS1, MARI L. BERNARDI2, IVO WENTZ1, FERNANDO P. BORTOLOZZO1 1 Setor de Suínos, Faculdade de Veterinária - Universidade Federal do Rio Grande do Sul-UFRGS, 2Departamento de Zootecnia, Faculdade de Agronomia - UFRGS.
Sumário

O objetivo do trabalho foi avaliar a concentração de imunoglobulina G (IgG), a sobrevivência e o ganho de peso de leitões com baixo peso (BP) ao nascimento, de acordo com a quantidade de colostro ingerida com ou sem um suplemento proteico-energético (SPE). Leitões com peso ao nascimento entre 800 e 1200g foram submetidos, nas primeiras 24h, a diferentes tratamentos com amamentação natural ou recebendo colostro (120 ou 200 ml) por sonda orogástrica, com ou sem o fornecimento de SPE. Após 24h os leitões foram colocados para mamar em mães adotivas, em média durante 20,4 dias. Os leitões foram pesados individualmente ao nascimento, 24h após, aos 7 e 20 dias de vida. O fornecimento de 200 mL de colostro ou de SPE garantem maior concentração de IgG sérica, ganho de peso nas primeiras 24h de vida e maior sobrevivência de leitões de BP ao nascimento.

 

Palavras-chave: colostro; suínos; mortalidade neonatal; imunoglobulina G; suplemento proteicoenergético.

 
Introdução.
A seleção para hiperprolificidade na produção de suínos trouxe como consequência a variabilidade no peso ao nascer e maior mortalidade pré-desmame. O baixo peso ao nascimento é uma das causas mais frequentes de mortalidade no período neonatal (FURTADO et al., 2012). O colostro e leite são as principais fontes de nutrição e imunidade passiva para o leitão (SVENDSEN et al., 2005). Estudos que estimam a quantidade de colostro consumida (DEVILLERS et al., 2004; THEIL et al., 2014), recomendam a ingestão mínima de 200g de colostro por leitão para garantir imunidade passive e sobrevivência (DEVILLERS et al., 2005; QUESNEL et al., 2012). Visando aumentar a viabilidade dos leitões de baixo peso ao nascer, é possível assegurar a ingestão de colostro e absorção de IgG, pelo uso de sonda orogástrica (SVENDSEN et al., 2005; CABREIRA et al., 2013), assegurando uma oferta precoce, contínua e suficiente de colostro a estes leitões. Da mesma forma, há a necessidade de avaliar se o fornecimento de um suplemento proteico-energético poderia incrementar o consumo de colostro ou atuar em sinergia com o colostro oferecido. O objetivo desse trabalho foi avaliar a absorção de IgG, o desempenho e a sobrevivência de leitões de baixo peso ao nascimento submetidos à alimentação por sonda orogástrica ou amamentação natural, recebendo ou não SPE, nas primeiras 24 h de vida.
 
Material e Métodos.
O experimento foi realizado em uma granja suinícola com plantel de 4300 matrizes, localizada no estado de Santa Catarina, entre Janeiro e Abril de 2014. Foram utilizados 180 leitões de fêmeas Camborough 25® (Large White x Duroc x Landrace; Agroceres PIC®). Leitões com peso ao nascimento entre 800 e 1200g foram distribuídos entre os tratamentos. Ao nascimento, os leitões foram pesados e ficaram impedidos de mamar até serem distribuídos aleatoriamente nos tratamentos, em média aos 100,3 ± 3,6 minutos após o nascimento. Em dois tratamentos, os leitões foram amamentados naturalmente pelas respectivas mães biológicas e competiam com seus irmãos de leitegada (em média 12 leitões), ao longo das primeiras 24h de vida: leitões controle com a mãe biológica (CM; n=30) e leitões com a mãe biológica mais o SPE (CMS; n=30). Nos outros quarto tratamentos, os leitões permaneceram em um Deck (D) de alimentação nas primeiras 24h de vida e não consumiram colostro de suas mães. Esses leitões receberam colostro por sonda orogástrica, em diferentes quantidades, com ou sem SPE: 120 mL de colostro (D120; n=30); 120 mL de colostro e SPE (D120S; n=30); 200 mL de colostro (D200; n=29) e 200 mL de colostro e SPE (D200S; n=27). O suplemento proteico-energético (Mig Dose Evolution, Mig Plus, Casca, Brasil) fornecido aos leitões dos grupos CMS, D120Se D200S foi administrado por via oral em três aplicações de 1,33 mL, de 6 em 6 h, totalizando quatro mL nas primeiras 24h de vida. O colostro foi armazenado a -20ºC, sendo descongelado por 40 minutos a 38ºC e fornecido aos leitões de acordo com os tratamentos. A composição do colostro fornecido foi a seguinte: sólidos totais (25,4%); proteína bruta (14,3%); lipídios (5,4%) e concentração de IgG (50,5 mg/mL). Foram formadas 15 leitegadas com 12 leitões (2 leitões de cada tratamento), os quais mamaram em mães adotivas, de ordem de parto média igual a 3, durante um período médio de lactação de 20,4 dias. Nas 24 h após o início dos tratamentos, os leitões foram pesados e amostras de sangue foram coletadas para determinar a concentração de IgG no soro. Foram também realizadas pesagens no 7º e 20º dia de vida dos leitões. Os leitões foram acompanhados  diariamente e as causas das mortes foram registradas de acordo com o resultado da necropsia. As análises estatísticas foram efetuadas com o uso do software SAS® (Statistical Analysis System; versão 9.1; 2005).
 
Resultados e Discussão.
Os leitões D200 e D200S apresentaram concentração sérica de IgG maior do que a dos leitões CM, D120 e D120S (P<0,05; Tabela 1). Os leitões CMS apresentaram concentração de IgG menor (P<0,05) do que a dos leitões D200S, mas semelhante (P>0,05) à dos leitões D200.O maior ganho de peso nas 24h (GPD) iniciais de vida foi observado nos leitões CMS,os quais permaneceram com a mãe biológica e receberam o SPE (P<0,05; Tabela 1). Os leitões D120e D120S perderam peso nas primeiras 24h de vida (P<0,05). Os leitões D200 e D200Stiveram GPD 24h semelhante (P>0,05) aos leitões CM. Não houve diferença entre os tratamentos (P>0,05) no GPD entre o primeiro dia e o desmame ou no peso aos sete e 20 dias de vida (Tabela 1). Apesar das diferenças no GPD 24h, o crescimento dos leitões até o desmame não foi afetado pela quantidade de colostro ingerida, corroborando os resultados de Svendsen et al. (2005). Isto confirma que o desempenho no primeiro dia de vida pode não afetar diretamente o peso ao desmame, pois múltiplos fatores influenciam no desempenho no período lactacional, tais como a produção de leite, aspectos sanitários, nutricionais e de manejo (QUESNEL et al., 2012).
 
Tabela 1. Efeito dos tratamentos sobre a concentração de IgG plasmática, ganho de peso diário (GPD) e peso dos leitões (Médias ± Erro padrão da média).
IMPORTÂNCIA DO FORNECIMENTO DE COLOSTRO E DE SUPLEMENTO NUTRICIONAL PARA A SOBREVIVÊNCIA DE LEITÕES DE BAIXO PESO - Image 1
a,b,c indicam diferença significativa na coluna (P<0,05). Os tratamentos foram aplicados nas primeiras 24h de vida.
 
Os leitões D120 apresentaram menor sobrevivência (P<0,05) do que os leitões CMS, D120S, D200 e D200S, ao longo da lactação (Figura 1). A causa de mortalidade não diferiu entre os tratamentos (P>0,05). A menor sobrevivência dos leitões D120 está de acordo com a maior mortalidade em leitões com ingestão de colostro <150-160g (DECALUWÉ et al., 2014; FERRARI et al., 2014). É provável que a deficiência energética, pelo menor consumo de colostro e ausência de suplementação, tenha sido o principal fator contribuindo para a maior mortalidade desses leitões. No geral, a causa de mortalidade mais frequente foi desnutrição (51,9%; 14/27), em que os animais apresentavam-se magros, desidratados e com extremidades ósseas proeminentes. As outras causas observadas foram esmagamento (40,7%; 11/27), anemia (3,7%; 1/27) e meningite (3,7%; 1/27).
 
IMPORTÂNCIA DO FORNECIMENTO DE COLOSTRO E DE SUPLEMENTO NUTRICIONAL PARA A SOBREVIVÊNCIA DE LEITÕES DE BAIXO PESO - Image 2
Figura 1. Curva de sobrevivência dos leitões ao longo da lactação.a,b indicam diferença significativa (P<0,05).
 
Conclusões.
Garantir a ingestão de 200mL de colostro ou fornecer um suplemento proteico-energético, nas primeiras 24 h devida, aumenta a chance de sobrevivência dos leitões de baixo peso ao nascimento.
 
Referências Bibliográficas.
1. CABRERA, R.; LIN, X.; ASHWELL, M.; et al., 2013. Early postnatal kinetics of colostral immunoglobulin G absorption in fed and fasted piglets and developmental expression of the intestinal immunoglobulin G receptor. Journal of Animal Science, v. 91, p. 211-218.
2. DECALUWÉ, R.; MAES, D.; WUYTS, B.; et al., 2014. Piglets' colostrum intake associates with daily weight gain and survival until weaning. Livestock Science, v. 162, p. 185–192, 2014.
3. DEVILLERS, N.; VAN MILGEN, J.; PRUNIER, A.; LE DIVIDICH, J.; 2004. Estimation of colostrum intake in the neonatal pig. Animal Science, v. 78, p. 305-313.
4. FERRARI, C.V.; SBARDELLA, P.E.; BERNARDI, M.L.; et al., 2014. Effect of birth weight and colostrum intake on mortality and performance of piglets after cross-fostering in sows of different parities. Preventive Veterinary Medicine, v. 114, p. 259-266.
5. FURTADO, C.S.D.; MELLAGI, A.P.G.; CYPRIANO, C.R.; et al., 2012.Influence of birth weight and of oral, umbilical or limb lesions on performance of suckling piglets. Acta Scientiae Veterinariae, v. 40 (4), p. 1077.
6. QUESNEL, H.; FARMER, C.; DEVILLERS, N.; 2012. Colostrum intake: Influence on piglet performance and factors of variation. Livestock Science, v. 146 (2-3), p. 105-114.
7. SVENDSEN, J.; WESTRÖM, B.R.; OLSSON,A.C.H.; 2005. Intestinal macromolecular transmission in newborn pigs: implications for management of neonatal pig survival and health. Livestock Production Science, v. 97, p.183–191.
8. THEIL, P.K.; FLUMMER, C.; HURLEY, W.L.; et al.,2014.Mechanistic model to predict colostrum intake based on deuterium oxide dilution technique and impact of gestation and lactation diets on piglet intake and sow yield of colostrum. Journal of Animal Science, v. 92, p. 5507-5519.
 
***O TRABALHO FOI ORIGINALMENTE APRESENTADO DURANTE O XVII CONGRESSO ABRAVES 2015- SUINOCULTURA EM TRANSFORMAÇÂO, ENTRE OS DIAS 20 e 23 DE OUTUBRO, EM CAMPINAS, SP.
Tópicos relacionados:
Autores:
Fernando Bortolozzo
Universidad Federal Do Rio Grande do Sul UFRGS
Recomendar
Comentário
Compartilhar
Edson Luiz Hacker
23 de marzo de 2016
Será que poderia fornecer Colostro de vaca,para os leitões como suplemento?
Recomendar
Responder
Profile picture
Quer comentar sobre outro tema? Crie uma nova publicação para dialogar com especialistas da comunidade.
Junte-se à Engormix e faça parte da maior rede social agrícola do mundo.