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EFEITO DA IDADE E DO GANHO DE PESO DA LEITOA NO DESEMPENHO REPRODUTIVO E TAXA DE RETENÇÃO ATÉ O TERCEIRO PARTO

Publicado: 9 de janeiro de 2017
Por: JAMIL E. G. FACCIN1*, FERNANDA LASKOSKI1, ANDRÉ L. MALLMANN1, ALINE F. L. PASCHOAL1, MARI L. BERNARDI2, IVO WENTZ1, FERNANDO P. BORTOLOZZO1. 1 Setor de Suínos, Faculdade de Veterinária, UFRGS, Porto Alegre/RS– 2 Departamento de Zootecnia, Faculdade de Agronomia, UFRGS, Porto Alegre/RS
Sumário

Com o intuito de maximizar a longevidade de uma matriz e obter lucro pela sua produtividade, a preparação da leitoa exerce papel fundamental no sistema de produção. Neste contexto, a cobertura da leitoa é baseada em alguns parâmetros zootécnicos como idade, peso, ganho de peso diário (GPD) e número de cios pré-cobertura. Foram coletados dados referentes a esas características, em leitoas de uma unidade especializada em produzir fêmeas de reposição. Foram formados grupos retrospectivos de acordo com a idade (<210 dias e ≥210 dias) e o (GPD ≥700 g/d e GPD <700 g/d) na cobertura. Após a exclusão dos dados de fêmeas cobertas com menos de 130 kg e/ou 180 dias de idade e das que receberam tratamento hormonioterápico prévio à primeira cobertura, foram analisados os dados de 703 leitoas prenhes que foram enviadas para 28 unidades produtoras de leitões (UPL). Posteriormente, foram coletadas informações de produtividade até o terceiro parto das mesmas matrizes nas UPL. Não foram observados efeitos dos grupos de idade e de GPD (P>0,05) nas seguintes variáveis: taxa de parição nos partos 1, 2 e 3; total de leitões nascidos nos partos 1, 2, 3 e acumulado em três partos, e taxa de retenção até a terceira parição. Fêmeas acasaladas com <210 dias atingiram o terceiro parto com 20,6 dias de idade a menos que as com idade ≥210 dias (P<0,001). Não há comprometimento da produtividade e da longevidade, da primeira prenhez até o terceiro parto em leitoas Camborough 23®, se forem acasaladas com no mínimo 130 kg e com idade não inferior a 180 dias, sendo possível obter um menor número de dias não produtivos (DNP).

 

Palavras-chave: leitoa; longevidade; produtividade; reprodução.

 
Introdução
Por ser a categoria mais numerosa de fêmeas nas granjas tecnificadas, sendo responsável por 18% a 20% dos partos, as leitoas assumem papel fundamental na produtividade e consequente lucratividade dos sistemas de produção. Segundo Pinilla & Lecznieski (2010), são necessários, em média, três partos para uma matriz amortizar seu custo de produção, sendo necessários quatro partos para gerar uma margem positiva de retorno sobre investimento. De posse destas informações, os sistemas de produção, de maneira estratégica, têm investido em granjas conhecidas como “Quarto Sítio”, uma unidade especializada nos manejos de preparação da nova matriz para a vida reprodutiva. Fatores relacionados à condição corporal da leitoa como peso, GPD e quantidade de reservas corporais, assim como idade e número de cios, são pontos chave para a determinação da primeira inseminação artificial (IA). No entanto, torna-se complexo encontrar o momento ideal para realizar a cobertura, pelo fato de que todas essas variáveis estão correlacionadas, mudam conjuntamente e, muitas vezes, são alcançadas em períodos diferentes (KUMMER et al., 2006). Recomenda-se reter no plantel, até a terceira parição, cerca de 70% e 75% das leitoas que foram cobertas. Entre a segunda e quinta parição é o momento de pico de produtividade da fêmea suína, tanto em produção de leitões como de leite, e as granjas que não conseguem atingir metas de taxas de retenção e de reposição acabam não desfrutando deste fato (PINILLA & LECZNIESKI, 2010). O objetivo deste trabalho foi avaliar o impacto do GPD e idade de cobertura no desempenho reprodutivo (taxa de parto e leitões nascidos nos três primeiros partos) e na taxa de retenção das fêmeas até a terceira parição.
 
Material e Métodos
Em um primeiro momento, em uma granja de sistema Quarto Sítio, foram coletadas informações de leitoas Camborough 23®, no dia da primeira cobertura, tais como idade, peso, número de cios pré-cobertura e ganho de peso diário de vida (GPD). Foram excluídas do estudo fêmeas com prévio tratamento hormonal indutor de cio, sangramento durante a cobertura ou com problemas locomotores. Nos 14 dias antes do momento planejado para a cobertura, as leitoas foram transferidas para gaiolas para receber ração ad libitum e, aproximadamente 28 dias após a IA, foi realizado exame ultrassonográfico para diagnóstico de prenhez. Com 34 dias pós-IA, as fêmeas prenhes foram enviadas para 28 unidades produtoras de leitões (UPL). Posteriormente, foram coletadas informações nas UPL referentes à taxa de parição e remoção, idade e total de leitões nascidos. Após a exclusão dos dados de fêmeas cobertas com menos de 130 kg e/ou 180 dias de idade e das que receberam tratamento hormonioterápico prévio à primeira cobertura, os dados de 703 leitoas prenhes foram incluídos na análise, a qual foi baseada na formação retrospectiva de grupos de acordó com a idade (<210 dias e ≥210 dias) e GPD (≥700 g/d e <700 g/d) na cobertura. O número de leitões nascidos e a idade ao terceiro parto foram analisados com o PROC MIXED do SAS. O número de cios pré-cobertura, intervalo desmame-cio e leitões nascidos em partos anteriores foram incluídos como covariáveis, no modelo de análise de leitões nascidos. Para as taxas de parto e de retenção até o terceiro parto, foi utilizada análise de regressão logística (PROC GLIMMIX do SAS). Em todas as análises foram incluídos os efeitos da idade, do GPD e de sua interação.
 
Resultados e Discussão
Não houve diferença (P>0,05) para as variáveis taxa de parto e nascidos totais nas três parições (Tabela 1). Em outros estudos, fêmeas com GPD >700 g/d tiveram mais leitões nascidos no primeiro parto (Kummer et al., 2006; Amaral Filha et al., 2010), embora a produção de leitões até o terceiro parto não tenha sido afetada pelo GPD na cobertura (Kummer et al., 2006). No estudo de Lesskiu et al. (2015), fêmeas cobertas com <139 kg tiveram menos leitões no segundo parto e no total de três partos. No presente estudo, embora 59% das fêmeas acasaladas com GPD <700 g/d e idade <210 dias tenham tido peso entre 130 e 138 kg, seu desempenho não foi prejudicado. É possível que fêmeas de outro genótipo, como as estudadas por Lesskiu et al. (2015), possam ser mais sensíveis ao efeito do menor peso à cobertura, já que, em geral, possuem recomendações de acasalamento mais tardio e com maior peso (Ketchem & Rix, 2009; Danbred, 2012).
 
O fato da taxa de retenção até o terceiro parto não ter sido afetada pelas condições da fêmea na cobertura está de acordo com resultados de outros estudos (Kummer et al., 2006; Lesskiu et al., 2015), porém são inferiores aos 90% de retenção até o terceiro parto, de fêmeas prenhes recebidas de quarto sítio, relatados por Lesskiu et al. (2015) (Tabela 2). É possível que outros fatores, que não a idade e peso de cobertura, tais como o peso no primeiro desmame, ganho de peso desde a primeira inseminação até o primeiro desmame e produção de leitões no primeiro parto, tenham contribuído para o descarte até o terceiro parto, conforme evidenciado por Lesskiu et al. (2015). A idade ao terceiro parto foi influenciada pela idade à cobertura (P<0,001), sendo que leitoas acasaladas com <210 dias chegaram à terceira parição com 20,6 dias a menos que as leitoas acasaladas com mais idade. De certa forma, esta diferença era esperada, no entanto indica que é possível obter os mesmos índices reprodutivos e taxa de retenção com menos DNP.
 
Tabela 1 – Taxa de parto e leitões nascidos nos três primeiros partos e acumulado até a terceira parição, de acordo com a idade (dias) e o GPD (g/dia) à cobertura (médias ± erro padrão).
EFEITO DA IDADE E DO GANHO DE PESO DA LEITOA NO DESEMPENHO REPRODUTIVO E TAXA DE RETENÇÃO ATÉ O TERCEIRO PARTO - Image 1Não houve diferença estatística em nenhuma das variáveis analisadas (P>0,05);
*Fêmeas que não pariram receberam valor zero.
 
Tabela 2 – Percentual de fêmeas retidas e idade até a terceira parição (média ± erro padrão) de acordó com o GPD (g/dia) e idade (dias) de cobertura.
EFEITO DA IDADE E DO GANHO DE PESO DA LEITOA NO DESEMPENHO REPRODUTIVO E TAXA DE RETENÇÃO ATÉ O TERCEIRO PARTO - Image 2a,b: Médias seguidas de letras diferentes, na mesma linha, diferem estatisticamente entre si (P<0,001).
 
Conclusões
Leitoas com ao menos um cio pré-cobertura, GPD mínimo de 550g e 130 kg de peso, podem ser cobertas a partir dos 180 dias de idade sem comprometimento do número de leitões produzidos, taxa de parto e retenção até o terceiro parto. Há redução de 20,6 DNP se a fêmea for coberta antes dos 210 dias de idade.
 
Referências Bibliográficas
1. DANBRED. 2012. Guia de Manejo de Fêmeas DB-Danbred. Management guide to DB-Danbred females. 2.ed., 46p.
2. KETCHEM, R.; RIX, M. 2009. Are you reaching the potential for total pigs born? The Danbred Edge, v.4, p.3. Disponível em: <http://www.danbredna.com/pdfs/December2009.pdf>. Acessado em: 05 de junho de 2015.
3. KUMMER, R; BERNARDI, M. L.; WENTZ, I.; et al., 2006. Reproductive performance of high growth rate gilts inseminated at an early age. Animal Reproduction Science, (96): 47-53.
4. LESSKIU, P. E.; BERNARDI, M. L.; WENTZ, I.; et al., 2015. Effect of body development from first insemination to first weaning on performance and culling until the third farrowing of Landrace x Large White swine females. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, (67): 465- 473.
5. PINILLA, J. C.; LECZNIESKI, L. 2010. Parity distribution management and culling. In: Manitoba Swine Seminar, 24, 2010, Manitoba. Proceedings … Manitoba: [s.n.].
 
***O TRABALHO FOI ORIGINALMENTE APRESENTADO DURANTE O XVII CONGRESSO ABRAVES 2015- SUINOCULTURA EM TRANSFORMAÇÂO, ENTRE OS DIAS 20 e 23 DE OUTUBRO, EM CAMPINAS, SP.
Tópicos relacionados
Autores:
André Luis Mallmann
Samitec
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Fernando Bortolozzo
Universidad Federal Do Rio Grande do Sul UFRGS
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Ivo Wentz
Universidad Federal Do Rio Grande do Sul UFRGS
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