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DETECÇÃO DE BETA-LACTAMASES DE ESPECTRO ESTENDIDO EM ENTEROBACTEREACEAS ISOLADAS DE SUÍNOS

Publicado: 10 de novembro de 2016
Por: KETRIN C. SILVA1*, MARINA MORENO1, CARLOS EMILIO CABRERA MATAJIRA1, NILTON LINCOPAN2, ANDREA M. MORENO1. 1Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia – FMVZ/USP- São Paulo/SP – 2 Instituto de Ciências Biomédicas - ICB- São Paulo/SP.
Sumário

As beta-lactamases de espectro estendido (ESBL) são amplamente disseminadas no Brasil em enterobactérias de origem hospitalar e comunitária, sendo pouco relatadas na produção animal. Suabes retais de suínos de 33 granjas de seis estados brasileiros, mais o Distrito Federal foram triados quanto a presença de enterobactérias produtoras de ESBL através do teste da dupla difusão em disco, resultando no isolamento de 66 estirpes produtoras de ESBL. A ocorrência destas estirpes em suínos indica a necessidade de monitoria constante da disseminação desses fenótipos resistentes, tanto pelo risco em saúde pública quanto para garantir ao Brasil vantagens competitivas frente a mercados exigentes.

 

Palavras-chave: ESBL, enterobactérias, ceftiofur.

 
Introdução
O Brasil é um dos líderes mundiais na produção de alimentos de origem animal, sendo o quarto maior exportador de carne suína (FNP, 2006), com mercados importadores em ascensão (REGITANO et al, 2010). O aumento do número de sistemas intensivos de produção animal tornou necessário o uso de antimicrobianos, administrados de forma terapêutica, metafilática, profilática, ou como promotores de crescimento (PALERMO NETO; ALMEIDA, 2006). Porém, essa prática tem sido apontada como uma das principais causas de desenvolvimento de resistência em bacterias intestinais. A seleção de estirpes resistentes a antimicrobianos que apresentam importância em medicina humana é frequente em animais de produção, uma vez que as drogas usadas pertencem às mesmas classes (OIE, 2012; WHO, 2007). Além deste fato, outra preocupação da comunidade científica é o risco de colonização do intestino humano por estes enteropatógenos e transferência dos mecanismos de resistência para a microbiota intestinal humana a partir de estirpes de origem animal. Beta-lactâmicos, especialmente as cefalosporinas, são antibióticos criticamente importantes no tratamento de infecções tanto em medicina veterinária como humana (OIE, 2012; WHO, 2007). Por sua vez, as beta-lactamases de espectro estendido (ESBL) e AmpC tem sido descritas como o principal mecanismo de resistência a cefalosporinas de terceira e quarta gerações. Dessa forma, o presente trabalho tem como objetivo identificar a produção de ESBL e AmpC em enterobactérias isoladas de fezes de suínos de granjas comerciais.
 
Materiais e Métodos
Em 2012 foram coletados e processados 500 suabes retais de suínos provenientes de 33 granjas de seis estados brasileiros (Minas Gerais, São Paulo, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Mato Grosso, Paraná), além do Distrito Federal. A produção de ESBL foi detectada por sinergismo pelo teste da dupla difusão em disco (DDST) com meio MacConkey. As estirpes produtoras de ESBL foram isoladas, identificadas por MALDI-TOF e novamente submetidas ao DDST. A concentração inibitória mínima das estirpes produtoras de ESBL e/ou AmpC foi determinada por microdiuição em caldo utilizando a placa Sensititre -ESBL Confirmatory MIC plate. Finalmente, a clonalidade das estirpes foi avaliada por ERIC-PCR.
 
Resultados e Discussão
No total foram processados 500 suabes retais de suínos saudáveis de granjas brasileiras, sendo identificadas um total de 66 estirpes positivas para ESBL e 3 positivas para AmpC (Tabela 1). Escherichia coli foi a espécie mais frequentemente isolada, totalizando 51 isolados, seguida de Klebsiella pneumoniae, as quais apresentaram altos valores de CIM para cefotaxima (≥128 μg/ml), ceftriaxona (≥256 μg/ml) e ciprofloxacina (≥4 μg/ml) e resistência variável a cefepime (MIC50= 16 μg/ml), cefoxitina (MIC50=8 μg/ml) e cefttazidima (MIC50= 16 μg/ml). Além disso, uma estirpe de Klebsiella pneumoniae produtora de ESBL apresentou perfil de resistência intermediário ao imipenem (MIC=2 μg/ml) e uma estirpe era resistente a piperacilina/tazobactam. O ERIC-PCR revelou a disseminação multiclonal das estirpes produtoras de ESBL, sugerindo a transferencia horizontal dos genes codificadores de AmpC e ESBL. Enquanto a prevalência de produtores de ESBL considerando todos os estados foi de 14%, o estado de Minas Gerais apresentou uma prevalência de 54%, superando os dados em amostras de origem clínica humana. Na produção suína, o estado de Mato Grosso foi o único no qual não foi isolado nenhum fenótipo resistente ao ceftiofur. De fato, a produção de ESBL por enterobactérias tem sido frequentemente relatada em estirpes de origen hospitalar e comunitária (ROSSI, 2011), permanecendo pouco frequente na produção animal. Surpreendentemente, esse trabalho relata a alta prevalência de produtores de ESBL na produção suína, especialmente em MG, alertando para a necessidade de medidas que previnam a disseminação desses fenótipos nos demais estados.
 
Conclusões
A alta prevalência de produtores de ESBL na produção suína, além das implicações em saúde pública, pode se tornar um entrave para a exportação de carne suína e produtos derivados para importadores exigentes. Dessa forma, faz-se necessário a adoção de medidas para prevenir a disseminação desses fenótipos resistentes, como maior rigor sanitário nas granjas, administração de antibióticos de espectro restrito frente as cefalosporinas, adoção do vazio sanitário e desinfecção das baias positivas para produtores de ESBL.
 
Tabela 1 - Distribuição por estado de produtores de ESBL e pAmpC isolados de suabes retais de Suínos.
DETECÇÃO DE BETA-LACTAMASES DE ESPECTRO ESTENDIDO EM ENTEROBACTEREACEAS ISOLADAS DE SUÍNOS - Image 1
 
Referências Bibliográficas
1. FNP Consultoria e comércio. ANUALPEC, 2007. Anuário da pecuária brasileira. São Paulo, 2006, 868p.
2. OIE. International Animal Health Code. OIE list of antimicrobials of veterinary importance. Disponível em: http: //web.oie.int/downld/Antimocrobials/OIE_list_antimibrobials.pdf Acesso em 20 de março de 2012.
3. PALERMO NETO, J.; ALMEIDA, R. T. Antimicrobianos como aditivos em animais de produção. In: SPINOSA, H. S.; GÓRNIAK, S. L.; BERNARDI, M. M. Farmacologia Aplicada à Medicina Veterinária. 4. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2006. p. 640-658.
4. REGITANO, BJ. B.; LEAL, R. M. P. Comportamento e impacto ambiental de antibióticos usados na produção animal brasileira. R. Bras. Ci. Solo, 34: 601-616, 2010.
5. ROSSI, F. The challenges of antimicrobial resistance in Brazil. Clinical infectious diseases, 52 (9): 1138-43, 2011.
 
World Health Organization. Critically Important Antimicrobials for Human Medicine: Categorization for the development of risk management strategies to contain antimicrobial resistance due to nonhuman antimicrobial use, 2007. Disponível em: ww.who.int/foodborne_disease/resistance/antimicrobials_human.pdf Acesso em 20 de março de 2012.

***O TRABALHO FOI ORIGINALMENTE APRESENTADO DURANTE O XVII CONGRESSO ABRAVES 2015- SUINOCULTURA EM TRANSFORMAÇÂO, ENTRE OS DIAS 20 e 23 DE OUTUBRO, EM CAMPINAS, SP.
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Autores:
Ketrin C. Silva
USP -Universidade de São Paulo
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