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Cio Lactação Porcas

Cio de Lactação em porcas: mito ou realidade.

Publicado: 6 de agosto de 2012
Por: Gustav Decuadro-Hansen.
Introdução.
 
O número de kg de suíno vendido por fêmea/ano é o principal critério de lucratividade da suinocultura moderna e é influenciado por um número importante de fatores - entre os quais está o período de lactação da porca. 
A fisiologia da reprodução das porcas é caracterizada por uma inibição do ciclo folicular e do comportamento do cio durante a lactação (quadro1). Embora os mecanismos hormonais que atuam inibindo o reinício da atividade cíclica ovariana e retardando a recuperação da capacidade reprodutiva plena após o parto ainda não sejam totalmente compreendidos nas matrizes suínas, algumas evidências indicam que a supressão da liberação de GnRH e a conseqüente inibição dos pulsos de LH, sejam os fatores endócrinos preponderantes na ocorrência de um período de anestro pós-parto.
 
Cio de Lactação em porcas: mito ou realidade. - Image 1
O intervalo desmame cio longo (IDC) influência negativamente o tamanho da leitegada.
 
Cio de Lactação em porcas: mito ou realidade. - Image 2
 
Este anestro de lactação pós-parto das fêmeas suínas seria a conseqüência de um reflexo neuro-endócrino mediado pela prolactina e ocitocina liberados pela amamentação (retroalimentação negativa da secreção de FSH e LH(09). Segundo Bevers e col. (1978), os níveis de prolactina do sangue periférico durante a lactação variam de 8-30 ng/ml e, no desmame ou retirada dos leitões, induz uma queda rápida a níveis de 1-2 ng/ml. Na realidade, no último mês de gestação a secreção de FSH e LH está deprimida e é aumentada imediatamente após o parto, porém é inibida pela amamentação dos leitões, sendo a freqüência e intensidade de amamentação os fatores que desencadeiam este reflexo(03).
Este anestro fisiológico de lactação é rapidamente revertido após o desmame em matrizes bem alimentadas e sem problemas sanitários, seguindo um recrutamento folicular e apresentando um cio 3-7 dias pós-parto(09). Em geral, em granjas com manejo e sanidade corretas, mais de 85% das fêmeas apresentam cio em um período inferior a sete dias após o desmame.
 
Cio de Lactação em porcas: mito ou realidade. - Image 3
 
Para obter uma alta taxa de partos em granjas comerciais, os principais pontos a serem observados e controlados são:.
 
1) Uma rápida entrada em cio no grupo de matrizes desmamadas (intervalo desmame-cio);
2) O maior número de matrizes gestantes com o maior número de embriões possíveis, refletindo um ótimo trabalho reprodutivo;
3) Que o máximo de embriões produzidos se transformem em leitões nascidos vivos;
 
Se estes 3 pontos são controlados com a máxima eficiência, atinge-se os 3 objetivos primordiais de um bom manejo reprodutivo: Intervalo desmame-cobertura reduzido, máxima fertilidade e máxima prolificidade.
O intervalo desmame-cio (IDC) é um dos fatores com maior impacto sobre o desempenho reprodutivo da fêmea e é fortemente influenciado pelo manejo e a sanidade da granja. Todos os fatores que afetam a fisiologia e o estado metabólico das matrizes na lactação e no desmame podem influenciar o retorno ao cio(09). O aumento desse período da vida reprodutiva da matriz está correlacionado com a diminuição do tamanho da leitegada, número de leitões nascidos vivos e a taxa de parição.(12, 11). 
 
Ele é influenciado por numerosos fatores como clima, fotoperíodo, tipo de alojamento, idade das matrizes, nutrição, consumo de água na maternidade, sanidade, duração da lactação, genética e contato com o macho.
Quando se tenta reduzir o intervalo desmame-cobertura deve-se respeitar ao máximo o período de rápida entrada em cio fisiológico. Entre as medidas de manejo a considerar se encontra um adequado manejo de alimentação durante a lactação, controle da temperatura ambiental e do fotoperíodo, evitar períodos de lactação demasiadamente grandes ou pequenos, tratamentos hormonais e um correto manejo da detecção de cios.
 
Após a ocorrência do cio clínico ou silencioso e a ovulação, as concentrações de progesterona sanguínea (P4), testemunho da existência de um corpo lúteo, aumentam rapidamente a partir do segundo dia pós-ovulação e induzem modificações no comportamento da porca, incluindo a não aceitação do macho(05). A secreção de P4 pelo corpo lúteo aumenta até chegar a um valor máximo (às vezes de até 33 ng/ml) nos dias 11-12 do ciclo estral, permanecendo estável durante 2-3 dias e no dia 14-15 diminui (se não houver gestação), após a regressão do corpo lúteo em aproximadamente 48 horas caindo a níveis de menos de 1 ng/ml. Se houver gestação os níveis de P4 permanecem altos e a concentração deste hormônio é sempre superior a 5 ng/ml(01). A utilização “a campo” deste tipo de medida do P4 circulante é uma ajuda valiosa para o profissional veterinário (ver quadro 2 e figura 3). Assim por exemplo, durante um diagnóstico de problemas reprodutivos em uma granja (anestro, IDC prolongado por cio durante a lactação), esta medida pode impedir o envio a abate de matrizes produtivas em pseudo anestro e a utilização desnecessária de hormônios gonadotróficos para a estimulação ovariana, evitando o risco de aparição de cistos ovarianos em matrizes produtivas (quadro 2).
 
Cio de Lactação em porcas: mito ou realidade. - Image 4
O tipo de instalação, ambiente e manejo nutricional são fatores que afetam diretamento o IDC.

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Entretanto, a existência de “cios de lactação” é descrita na literatura(07): um cio de lactação pode ser definido como a reaparição da atividade folicular com ovulação e eventualmente com comportamento estral. 
Este tipo de problema foi, inclusive, observado como conseqüência de protocolos experimentais sob o comportamento das matrizes na maternidade, frente a medidas de manejo particulares, tais como a indução de “desmame parcial” ou a presença de um macho(07, 06).
 
Assim, por exemplo, Kuller e col. praticaram um desmame parcial ou temporário em 112 matrizes, separando os leitões durante 12 horas entre o dia 14 a 25 (Dia 0 = dia do parto) e obtiveram 20 % de porcas em cio antes do dia do desmame. 
Os objetivos deste estudo foram:.
 
• Determinar se os cios de lactação são uma das causas do prolongamento do “Intervalo do Desmame-Cio”,
• Avaliar se os cios de lactação têm impacto sobre a performance reprodutiva da granja.
 
Materiais e métodos.
 
O protocolo é baseado nas seguintes hipóteses:.
 
• O cio de lactação é seguido por um ciclo estral normal, incluindo uma fase luteal de 16 dias.
• O ciclo estral não é interrompido pelo desmame. O primeiro cio depois do desmame é então deslocado
• Durante a fase luteal, a presença do corpo lúteo pode ser detectado por dosagem da progesterona, do segundo ao 14° dia seguinte à ovulação.
 
Dessas hipóteses conclui-se que uma dosagem da P4 (progesterona) permite detectar o cio de lactação que ocorre entre o 14° dia e o segundo dia antes do desmame. Considera-se então que uma porca que apresentou um cio de lactação:.
 
1) Seu IDC se encontra entre 7-22 dias;
2) Se a dosagem da P4 (progesterona) no momento do desmame é positiva (Tabela 01).
 
O estudo foi realizado em sete granjas (A, B, C, D, E, F e G) na França, onde foi observado um retorno ao cio pós-desmame tardio (IDC longo).As granjas foram selecionadas pelo programa de gestão GTTT em dois dos maiores grupos de produtores deste país. Os suinocultores  selecionados seguiram o seguinte protocolo:.
 
1) Não praticar tratamentos hormonais no desmame;
2) Anotar as datas de inseminação; 
3) Ter durante quatro semestres sucessivos um mínimo de 7 % de IDC prolongado (sétimo e 22° dias) e/ou um porcentual anormalmente elevado de retornos ao cio irregulares.
 
Cio de Lactação em porcas: mito ou realidade. - Image 6
É essencial diferenciar o IDC longo de outras causas como a sindrome do segundo parto.
 
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Em cada granja um exame de sangue foi previsto no dia do desmame, no conjunto das porcas de duas a quatro bandas. As amostras foram centrifugadas logo após a colheita e o plasma foi congelado. O intervalo de desmame da primeira inseminação é anotado para cada porca. Neste estudo, o intervalo de desmame, a primeira inseminação é tomada como equivalente ao IDC. No total, 540 porcas foram examinadas pela dosagem do P4 e 492 foram incluídas no estudo (20 a 181 porcas por suinocultor). Os critérios de exclusão foram: IDC não incluído entre o quarto e o 22° dias após do desmame, um tratamento hormonal nos sete dias seguintes ao desmame, quantidade insuficiente de soro sanguíneo. As matrizes se desmamaram na maioria aos 27 dias (58 % das fêmeas) ou aos 21 dias (37%) de lactação.
 
Cio de Lactação em porcas: mito ou realidade. - Image 8
 
As porcas com um IDC superior a sete dias foram consideradas com um IDC longo e aquelas com um IDC inferior a sete dias com IDC normal. Por cada porca selecionada com um IDC longo foi também selecionada uma porca com um IDC normal (controle) da mesma ordem de parto e banda. Um diagnóstico de gestação por ecografia foi realizado quatro semanas após a inseminação.
 
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O conjunto dos plasmas das porcas “IDC Longo” e “IDC Normal” foram analisados no laboratório de análises hormonais de l’INRA de Nouzilly. A análise é quantitativa com um limiar de positividade de (2,3 ng/ml), permitindo determinar se uma porca está ciclando ou não (positivo) (Quadro 4).
 
Cio de Lactação em porcas: mito ou realidade. - Image 10
 
Resultados.

Das 492 matrizes que participaram no teste, 66 porcas (13 %) apresentaram um IDC Longo e uma suspeita de cio em lactação (Figura 1). 
A proporção de matrizes com IDC longo é nitidamente superior na granja G (23 %) em relação aos outras granjas (8%). Porém, esta granja representa uma parte importante das amostras (37%) (Figura 2).
 
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Uma correlação positiva entre ordem de parto e IDC longo foi constatada na granja G (Fischer, p <0.0001), enquanto o mesmo não foi observado em outras. (2).
 
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A relação entre IDC e a progesteronemia é altamente significativa (Quadro 1χ , 2 p<0.0001). Todas as matrizes que apresentarem um IDC normal (4-6 dias) foram negativas à dosagem de P4 no dia do desmame. A proporção de porcas à progesteronemia positiva entre os “IDC longos” e menos importante na granja G (15 %) que nas outras granjas (40%) (Fig.2). A incidência de cios de lactação confirmados é de 3,3% na população de 492 porcas estudadas. Esta incidência não é diferente entre a granja G e as outras granjas.
 
O resultado do diagnóstico de gestação é conhecido por 97% de porcas analisadas, incluindo 13 das 16 que apresentaram um cio de lactação (IDC longo e progesteronemia positiva). A gestação foi confirmada em 98% das porcas, incluindo 12 das 13 que apresentaram um cio de lactação. Chama a atenção, que as matrizes que apresentaram um cio de lactação desmamaram significativamente menos leitões que aquelas que não o sofreram (Quadro 6).
 
Cio de Lactação em porcas: mito ou realidade. - Image 13
 
Discussão.
 
Este estudo permite confirmar a existência de cios de lactação nas granjas de suínos. A ausência de porcas à progesteronemia positiva entre as porcas à IDC normal permite confirmar a especificidade do método utilizado. É importante realizar um diagnóstico diferencial com outras causas de alongamento do IDC, em particular a síndrome de segunda leitegada. A comparação de incidência de IDC longos entre as primíparas e as multíparas permite realizar este diagnóstico diferencial. Entre as seis granjas onde não existe síndrome de segunda leitegada, os cios de lactação representaram 40% do IDC longos. Trata-se seguramente de um número mínimo, uma vez que a progesteronemia foi medida unicamente no desmame — o que não permitiria detectar os cios intervenientes menos de cinco dias ou mais de 14 dias antes do desmame.
 
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O IDC pode contribuir até em 25% nos dias não produtivos (DNP) de uma granja. Numa criação com bom manejo se pode obter um objetivo de 85 a 90% de matrizes cobertas até 7 dias pós-desmame. Um atraso no retorno ao cio pode indicar, entre outras coisas, que a matriz perdeu demasiado peso durante a lactação mas também que teve um cio neste período. Uma duração da lactação de 18 a 28 dias é pouco provável que influencie no intervalo desmame-cobertura se a nutrição durante a lactação foi adequada. Sem dúvida, uma má detecção do cio pode conduzir a que se perca um elevado percentual de perdas de cio. 
O IDC pode ser reduzido adotando-se boas práticas de manejo como:.
 
• Tendo as matrizes em boas condições corporais no momento do desmame,
• Realizando um ótimo manejo (leitões e matrizes) na maternidade com o objetivo de evitar cios na lactação,
• Separando no desmame as matrizes que tenham menos de 14 mm de gordura dorsal em P2 uma semana antes do desmame ou que hajam tido uma diminuição da ingestão de ração na metade da lactação. 
• Fazendo um bom manejo reprodutivo. Por ordem de importância:.
 
1) Detecção do cio,
2) Momento das inseminações
3) Boa técnica de inseminação
4) Sêmen diluído fresco e de boa qualidade
5) Bom manejo depois da inseminação.
 
É interessante ressaltar neste momento a eficácia que constatamos em algumas granjas de reagrupar os cios das matrizes por intermédio do uso de injeções de prostaglandina no dia do desmame. Temos constatado vantagens econômicas desta prática de manejo, uma vez que reduz os DNP e melhora a organização do trabalho de inseminação.
 
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Como resultado, o uso de prostaglandina sintética (alfaprostol) no dia do desmame permite, em algumas granjas, melhorar de forma significativa o IDC assim como agrupar os cios das matrizes(08, 04). 
 
Prostaglandinas sintéticas (Alfaprostol) ou naturais (dinoprost) eliminam o corpo lúteo depois do período refratário prostaglandinas (12 dias antes da ovulação), uma ferramenta útil para provocar a saída do cio antes do desmame.
Injetando prostaglandinas no desmame conseguimos sincronizar os cios, agrupá-los, e encurtar o IDC. É interessante perguntar porque em algumas granjas esta medida é eficaz? Um dos fatores que explica este efeito pode ser a existência de corpos lúteos no momento de desmame induzidos por cios lactacionais, não obstante o papel que as prostaglandinas tem na estimulação intrafolicular de produção de colágeno e elastase que agem na ruptura folicular não deve ser descartado(08). Sem dúvida, é necessário esclarecer a sensibilidade dos corpos lúteos da matriz durante a lactação à prostaglandina. 
 
Em conclusão, este estudo permite confirmar:.
 
1) Que os cios durante a lactação existem;
2) Que é necessário de incluir este problema na síndrome do alongamento do IDC e, sobretudo, que é preciso saber diferenciá-los da síndrome da segunda leitegada;
3) Em granjas onde não existe a síndrome da segunda leitegada o cio de lactação pode representar 40% das causas de cio tardio pós-desmame;
4) Uma terapia hormonal pós-desmame é uma importante ferramenta para estimular a ocorrência de cio em granjas que apresentam este problema, permitindo a sincronização e concentração dos cios, assim como melhorar a performance reprodutiva.
 
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