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Tecnologias Embrapa Pecuária Agricultura

Tecnologias da Embrapa Pecuária Sudeste para agricultura familia

Publicado: 7 de novembro de 2011
Por: Alberto Carlos de Campos Bernardi Airton Manzano Ana Carolina de Souza Chagas Ana Rita Araújo Nogueira André de Faria Pedroso André Luiz Monteiro Novo; Armando de Andrade Rodrigues; Artur Chinelato de Camargo; Gilberto Batista de Souza; Joaquim
Introdução
Este trabalho reúne algumas tecnologias geradas ou adaptadas pela Embrapa Pecuária Sudeste e que podem constituir inovação tecnológica em sistemas de produção familiares.
São apresentadas tecnologias simples e de fácil acesso, com breve descrição de sua finalidade e dos impactos socioeconômicos e ambientais que são esperados em decorrência de sua utilização, bem como publicações técnicas disponíveis sobre os temas.
A aplicação da maioria dessas tecnologias não se restringe à agricultura familiar, pois elas também podem ser aplicadas em propriedades de qualquer nível ou extensão.
O objetivo geral destas tecnologias é proporcionar alternativas para a melhoria de qualidade de vida do agricultor familiar, pela diversificação da atividade, pela obtenção de produtos com qualidade e pela geração de renda adicional.
1. Técnicas de produção intensiva de leite
Tecnologias da Embrapa Pecuária Sudeste para agricultura familia - Image 1
Trata-se de um conjunto de tecnologias para produção de leite e de práticas de transferência de tecnologias, integrado na cadeia pesquisa-extensãoprodução e de tal maneira articulado que permite elevar em curto prazo (menos de três anos) o nível tecnológico de sistemas de produção familiares de muito baixo para muito alto. Essa integração envolve o treinamento de extensionistas e de produtores e o controle e o monitoramento rigoroso do processo de adoção. Esse conjunto de tecnologias inclui a utilização de forrageiras tropicais e de outros recursos naturais, sob manejo adequado.
Impacto socioeconômico
Esta tecnologia é capaz de promover o aumento da produtividade do estabelecimento (litros de leite por hectare), a redução no custo de produção do litro de leite e o aumento da produtividade por animal (litros por vaca por dia). Em 2005, a média anual de ganho unitário de propriedades que adotaram este conjunto de tecnologias ficou entre R$ 15.671,00 e R$ 26.456,00, em Minas Gerais e em São Paulo, respectivamente, contra os atuais benefícios auferidos pela agricultura familiar no Brasil, estimados em R$ 2.717,00 por propriedade, enquanto a média patronal é de R$ 19.085,00. Isso representa um ganho líquido do 25% ao ano do capital investido. Destaca-se ainda que o sistema pode ser adotado por qualquer produtor de leite, desde que exista serviço local de extensão rural treinado e que haja espírito inovador e pessoa habilitada a preencher planilhas de controle zootécnico e de fluxo diário de caixa.
O sistema favorece a inclusão social de todos os membros da família e estimula a participação futura dos filhos na atividade agrícola. Quando se considera a redução da estacionalidade de produção e o aumento na produção de leite em função da melhoria na eficiência técnica das propriedades familiares e do uso mais intensivo de insumos externos, verifica-se maior necessidade de mão-de-obra capacitada em tempo integral, distribuída ao longo do ano, para homens e mulheres da família, no sistema de produção. O impacto sobre o emprego também é observado nos elos “a montante” e “a jusante” na cadeia produtiva. Com o melhor controle de uso dos insumos e do tempo no sistema de produção, e a conseqüente maior produtividade, reduz-se a ociosidade em toda a cadeia.
Impacto ambiental
A intensificação do sistema de produção promovida por este conjunto de tecnologias tem como base a melhoria das qualidades do solo e da sua capacidade de suporte biológico, por meio da elevação do conteúdo de matéria orgânica e da atividade da fauna do solo, como minhocas e besouros coprófagos. Isso é alcançado com a melhoria da cobertura vegetal e com o retorno de material orgânico ao solo, o que resulta em maior permeabilidade do solo a águas pluviais. O manejo rotacionado dos bovinos auxilia o rompimento do ciclo biológico de carrapatos e isso permite seu controle com uso de métodos biológicos. O aumento na disponibilidade de recursos financeiros, de tempo e de área possibilita restaurar a infra-estrutura ambiental essencial exigida por lei, como as matas ciliares, as reservas legais e a proteção de mananciais, e estabelecer quebra-ventos e sombra para o conforto animal. A melhoria da qualidade ambiental é um componente essencial deste conjunto de tecnologias.
2. Análise estratégica de custos de produção de leite
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A tecnologia consiste em três partes: 1) planilhas para coleta de dados de campo, 2) um programa de computador específico, que necessita ser operado por pessoa treinada, para interpretar os dados, e 3) um manual de utilização desse programa. Ela constitui um conjunto de instrumentos elaborados para coleta e para análise de dados técnicos e econômicos de propriedades leiteiras. Trata-se de um questionário, a ser preenchido pelo produtor, e de uma planilha de custos, em que os dados dos questionários poderão ser transformados em informações relevantes para tomada de decisão. As planilhas e os questionários servem também para medição da eficiência relativa de custo de produção ou dos sistemas produtivos de leite. A tecnologia permite detectar atividades ineficientes e que necessitam de melhoria para o processo produtivo tornar-se mais eficaz e competitivo.
Impacto socioeconômico
A medição da eficiência relativa de custo pode ser realizada por profissionais devidamente treinados dos órgãos de extensão ou das empresas de fomento e permite o monitoramento da atividade leiteira nas propriedades rurais. O método empregado para medir a eficiência relativa utiliza técnicas de programação matemática e gera relatórios individuais para cada produtor e lhe possibilita visualizar a sua posição na classificação dos produtores da sua cooperativa, o seu benchmarking (referencial superior de eficiência dentro do grupo avaliado) e os ajustes a serem feitos no uso dos insumos e na sua produção.
A análise estratégica de custos pode evitar gastos excessivos de alimentos concentrados e de mão-de-obra na produção de leite, decorrentes da produção de volumosos de baixa qualidade, tanto na época da seca como na época das águas, e da utilização de animais de baixo potencial genético. A tecnologia destina-se a medir a eficiência técnica na utilização dos insumos, a eficiência da alocação de recursos e a combinação de ambas, ou seja, a eficiência no custo de produção.
Em 2004, a análise da eficiência de custo de uma amostra de 30 produtores pertencentes a cooperativas do Estado de São Paulo detectou níveis de ineficiência relativa de custo da ordem de 30%, para o conjunto de produtores amostrados, quando apenas dois insumos empregados foram avaliados (alimentos concentrados e mão-deobra).
Ou seja, os produtores estavam gastando 30% a mais desses insumos para o nível de produção obtido, tanto por ineficiência técnica (gasto em excesso de concentrado e de mão-de-obra) quanto por ineficiência alocativa (combinação errada de concentrado e de mão-de-obra). Nesse ano, os gastos anuais da propriedade com mão-de-obra e com concentrados foram em média de R$ 77.247,00. Neste caso, a ineficiência de custo de 32,7% na produção de leite da amostra em questão representa a média de gasto a mais, por produtor, de R$ 25.259,85. Os impactos negativos reduzirão a renda líquida do produtor e, no caso de cooperativas, aumentarão o custo dos produtos processados, se elas atenderem às reivindicações de aumento de preço pago pelo leite na plataforma, feitas por produtores ineficientes, o que inevitavelmente reduzirá a competitividade das cooperativas no mercado. O benefício econômico estimado da análise estratégica de custos poderá ser de aproximadamente R$ 11,5 milhões por ano, ajustando-se os custos em 20% do atual nível estimado, se for considerada a taxa de adoção de 30% numa amostra de 10.000 produtores vinculados às cooperativas nas regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste do País. A análise estratégica de custos mostrou ser eficiente e, quando devidamente adotada, poderá resultar em grande economia para toda a cadeia produtiva da pecuária bovina de leite no Brasil. Há impacto sobre o conhecimento, pois a procura por melhoria do manejo zootécnico e econômico do sistema de produção exige maior capacitação do gerente e da mão-de-obra, bem como dos profissionais da extensão rural.
Impacto ambiental
A tecnologia avaliada e validada por produtores de leite constitui ferramenta de apoio gerencial e de tomada de decisões muito importante para a racionalização de uso de insumos externos nos sistemas de produção de leite, o que, além de propiciar vantagens econômicas e sociais, também traz vantagens ambientais, especialmente com respeito à redução de contaminação por excesso de insumos externos.
3. Sobressemeadura de aveia forrageira, no período do inverno, em pastagens de gramíneas tropicais irrigadas e submetidas a pastejo rotacionado
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A sobressemeadura de 60 kg/ha de aveia forrageira é realizada em área irrigada formada com capim tropical, aproveitando-se a mesma área e o mesmo equipamento de irrigação, na época em que os dois fatores ficariam ociosos em decorrência da limitação de crescimento do pasto tropical. A tecnologia é adaptada às regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul do Brasil e proporciona redução no custo de produção de carne e de leite, por permitir menor utilização de alimentos conservados (silagem e feno) e de alimentos concentrados, em razão da alta qualidade nutricional do pasto tropical consorciado com a aveia.
Impacto socioeconômico
Com a adoção desta tecnologia, é possível aumentar a lotação animal das áreas de pastagens tropicais irrigadas de 2,5 para 4 a 5 unidades animais (uma unidade animal = 450 kg) por hectare, o que consiste em grande vantagem, porque os pastos tropicais apresentam crescimento muito lento na época seca do ano nas regiões em que há limitações de temperatura e de fotoperíodo. Na avaliação de impacto desta tecnologia no ano de 2005, detectou-se redução no custo de alimentação de R$ 77,25 por vaca no período avaliado (inverno). Em termos sociais, o trabalho braçal para o corte de cana-de-açúcar e para o transporte de cana ou de silagem diminui, e é substituído pelo trabalho menos árduo do manejo da irrigação e da pastagem. Da mesma forma, diminui a exposição dos produtores rurais e de sua família à poluição oriunda do funcionamento dos motores movidos a óleo diesel dos tratores.
Impacto ambiental
Com o aproveitamento da mesma área de pastagem de verão para o cultivo de aveia, há redução de abertura de novas áreas para produção de forragem conservada. Da mesma forma, não há abertura de novas áreas para produção de milho, de soja e de outros alimentos concentrados, uma vez que o consumo de aveia reduz a utilização desses grãos. Além disso, esta técnica de sobressemeadura não requer o uso de agrotóxicos para a sua implantação, o que diminui a contaminação ambiental. O uso de óleo diesel, na maioria das propriedades adotantes, diminui nessa época, pois ele é em parte substituído pela energia elétrica dos equipamentos de irrigação, que é uma forma de energia mais limpa.
4. Variedade IAC86-2480 de cana-de-açúcar - nova opção para fins forrageiros
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A variedade IAC86-2480 de cana-deaçúcar apresenta menor teor de fibra em detergente neutro (FDN) e maior teor de sacarose do que outras variedades industriais, e pode ser uma opção para alimentação de bovinos no período seco do ano, com a finalidade de reduzir a estacionalidade de produção de carne ou de leite. Novilhas de corte em regime de terminação, alimentadas com esta variedade, apresentaram ganho de peso adequado.
Impacto socioeconômico
A cultivar IAC86-2480 de cana-de-açúcar apresentou teor de sacarose (POL, teor de sacarose medido com polarímetro) em níveis superiores a 14% entre maio e outubro.
Essa característica permite estender seu período de utilização, comparativamente às cultivares de cana-de-açúcar geralmente utilizadas por pecuaristas nas regiões Sudeste e Centro-Oeste. O menor teor de fibra da cultivar (44,8% de FDN, comparado aos 50,9% apresentados pela cultivar RB72-454, a mais plantada no Brasil), parcialmente por causa da despalha natural, lhe confere maior digestibilidade in vitro da matéria seca, que alcançou valor superior a 63% nas três ocasiões em que foram feitas avaliações (maio, agosto e outubro). A relação FDN:POL de 2,88 sugere valor nutricional mais elevado nessa cultivar do que nas cultivares utilizadas para fins forrageiros, em especial se comparada à cultivar RB72-454. Sua produtividade é semelhante à das demais cultivares (média de 100 t por hectare de matéria verde). Estas características atestam a importância dessa cultivar para a alimentação de bovinos.
O aspecto mais relevante dessa nova cultivar refere-se às vantagens no ganho de peso e no índice de conversão alimentar resultantes do consumo dessa forragem por bovinos; os valores dessas variáveis foram 18% superiores aos obtidos com a cultivar RB72-454. O ganho de peso vivo de novilhas da raça Canchim alimentadas com a cana IAC86-2480 foi de 890 g por dia, na fase de recria, em dieta suplementada com 1,3 kg de concentrado por animal por dia. A conversão alimentar foi de 7,64 kg de matéria seca por quilograma de ganho de peso vivo. Outras características altamente vantajosas dessa nova cultivar para fins forrageiros são a ausência de florescimento (quando a cana floresce torna-se “isoporizada”, chocha; material geralmente refugado pelos animais) e a alta capacidade de rebrota. Em vista dessas vantagens, os impactos esperados são melhoria nos índices de produtividade da pecuária de leite e de corte.
Pressupõe-se que as vantagens no ganho de peso e no índice de conversão alimentar obtidos com a cultivar IAC86-2480, em relação à cultivar testemunha RB72- 454, possam ser estendidas de novilhas para bovinos de confinamento. Se assim for, é possível estimar economia de R$ 5,00 por arroba no custo de produção, em conseqüência da redução do período de confinamento de 100 dias para 85 dias. Essa redução ocorre em função dos melhores índices de conversão alimentar e de ganho de peso obtidos com a nova cultivar de cana, mantidos constantes todos os demais fatores.
Do total de animais confinados no Brasil, cerca de 30% têm como único alimento volumoso a cana-de-açúcar. Estima-se que 10% desses animais serão alimentados com a nova cultivar de cana-de-açúcar testada, tão logo esteja disponível em escala comercial.
Nesse caso, o benefício econômico estimado da tecnologia será da ordem de R$ 2,7 milhões por ano.
Impacto ambiental
O principal impacto é a redução da emissão de metano pelos animais alimentados com essa variedade, já que ocorre menor emissão desse gás por quilograma de peso vivo animal.
5. Casinha tropical - abrigo individual móvel para bezerras na fase de aleitamento
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Esse abrigo foi adaptado para atender às condições básicas para o alojamento de bezerras em fase de aleitamento, levando em conta as características do clima tropical predominante no Brasil. Suas características especiais são: 1) possuir telhado duplo, que propicia temperatura interna mais amena, 2) não possuir paredes laterais e 3) ser leve, o que facilita seu manejo e reduz a incidência de pneumonias e de diarréias, doenças comuns em animais abrigados em ambientes mal ventilados e úmidos, característicos de bezerreiros coletivos e de abrigos individuais tradicionais.
Impacto socioeconômico
A produção de bezerras sadias, com baixo custo, é um dos aspectos importantes para a sustentabilidade de sistemas de produção de leite. O uso da casinha tropical em propriedade de agricultura familiar resultou na redução da taxa de mortalidade dos animais, de 8% para 1%, e no tempo necessário para a bezerra atingir 70 kg (peso para desmama), de 90 para 60 dias. A redução do tempo para desmama das bezerras permite menor gasto com alimentos (concentrados e leite) e com mão-de-obra, o que proporciona decréscimo de 41% no custo da bezerra desmamada. A utilização do abrigo provê maior segurança e melhor saúde ocupacional na propriedade, devido à diminuição do acúmulo de fezes e de urina e redução na necessidade de manipulação de bezerras doentes e de aplicação de quimioterápicos.
Impacto ambiental
O uso da casinha tropical resulta em menor variedade e em uso menos freqüente de medicamentos, com menor geração de resíduos, também na forma de embalagens. Ocorre melhor descarte dos dejetos e menor produção de gases amoniacais e de efeito estufa (metano, por exemplo). De forma geral, verificou-se que a tecnologia adaptada da casinha tropical proporciona mais conforto animal, permite gerar rebanhos mais saudáveis e possibilita menor exposição de risco à saúde dos empregados.
6. Cocho do tipo trenó – cocho móvel para alimentos volumosos
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A suplementação alimentar é essencial para a produção pecuária eficiente e lucrativa, em especial no período seco do ano. Para tanto, toda propriedade deve dispor de cochos suficientes para o arraçoamento do rebanho. Cochos simples de madeira apresentam baixa durabilidade e são de difícil manejo. Cochos construídos com tábuas comuns e colocados diretamente sobre o solo estragam rapidamente - pois ficam em contato com o esterco e a urina, que se acumulam ao seu redor - e podem ficar presos na lama. O cocho móvel do tipo trenó, aperfeiçoado pela Embrapa Pecuária Sudeste, é construído com pranchões de 4 cm de espessura, sobre duas vigotas que funcionam como esquis e que facilitam a movimentação, pois ele pode ser rebocado por um trator ou por animal de tração. Os esquis servem também como suporte para a caçamba do cocho, o que evita que esta fique em contato com o solo, aumentando sua vida útil. O madeiramento e a estrutura são reforçados, fazendo com que o cocho resista por longo tempo aos efeitos do sol e da chuva e aos desgastes provocados pelo transporte e pelos animais.
Impacto socioeconômico
O emprego deste tipo de cocho e a sua freqüente movimentação no pasto reduz a necessidade de colheita e de transporte de esterco e promove a distribuição de esterco nas pastagens. Dessa forma, reduz a necessidade de adubos químicos e de uso da mãode- obra no manejo dos rebanhos, e aumenta a eficiência e a rentabilidade na produção de carne e de leite.
Impacto ambiental
O uso do cocho do tipo trenó evita o acúmulo de esterco em locais inadequados nas propriedades de produção de carne e de leite, diminui a poluição de cursos de água e reduz a produção de gases de efeito estufa e de mau cheiro e a proliferação de moscas.
7. Sistemas intensivos de exploração de pastagens
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Em sistemas intensivos de exploração de pastagens adota-se um conjunto de práticas relacionadas ao manejo da planta forrageira e à correção e à manutenção da fertilidade do solo. Essas práticas são realizadas numa seqüência racional, de forma a proporcionar máxima eficiência do uso da pastagem, mediante a utilização de tecnologias diversas, criteriosamente escolhidas para cada caso, que garantem os melhores resultados econômicos, sociais e ambientais do uso do solo.
Impacto socioeconômico
A utilização do conjunto de tecnologias, que favorecem a expressão do potencial de produção das gramíneas forrageiras tropicais, possibilita aumentar as taxas de lotação das propriedades de cerca de 0,6 unidade animal por hectare em sistemas extensivos para 5 unidades animais por hectare sem irrigação e para no mínimo 10 unidades animais por hectare sob irrigação. A produtividade anual de leite e de carne pode alcançar, respectivamente 20.000 e 1.000 kg por hectare. O conjunto de tecnologias contribui ainda para tornar a pecuária nacional mais rentável e mais competitiva diante de outras alternativas de uso do solo, uma vez que reduz o custo de produção.
Impacto ambiental
Este conjunto de tecnologias constitui uma das formas de reduzir o desmatamento, aumentar a cobertura vegetal, minorar as perdas de água e de solo por erosão e diminuir o assoreamento dos cursos d’água, preservando o ambiente.
As doses de fertilizantes utilizadas neste sistema são maiores do que na maioria das culturas, por isso alguns cuidados devem ser considerados, como monitorar as condições climáticas, especialmente precipitação e temperatura mínima, e adequar a lotação animal às doses de fertilizantes que estão sendo empregadas. No caso do nitrogênio, por exemplo, as doses devem ser calculadas em função do tipo de capim, da lotação animal e da matéria orgânica do solo. Além disso, a adubação nitrogenada deve ser realizada nas condições para aumentar a eficiência do uso, evitando especialmente as perdas por volatilização e por lixiviação. Por isso, o produtor deverá sempre recorrer a um bom profissional para realizar as recomendações de fertilização.
8. Técnicas de recuperação de pastagem sem revolvimento do solo
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A recuperação de pastagem é a associação de tecnologias que englobam o manejo adequado da planta forrageira e a restituição e a manutenção da fertilidade do solo, visando aumentar a produção de forragem, garantir a persistência das pastagens tropicais por tempo indeterminado, utilizar menos área para produzir carne ou leite e preservar o ambiente natural.
Impacto socioeconômico
O aumento de produtividade da pastagem de 2 t/ha de matéria seca por ano para 10 t e depois para até 30 t, conforme a intensidade de adoção de tecnologia prevista para cada situação, 1) reduz o uso de insumos, pois elimina a necessidade de reforma de pastagem, minimizando o uso de sementes e o revolvimento do solo, quer por aração e gradagem quer por aeradores de solo, e 2) diminui a severidade da seca, porque é possível utilizar o pasto mais precocemente após o período de estiagem. A recuperação das pastagens contribui para melhorar a paisagem das áreas destinadas à pecuária e diminui a apreensão dos proprietários rurais quanto à escassez de alimentos, trazendo-lhes tranqüilidade para desenvolver novas atividades e para aplicar novas tecnologias, além de liberar tempo dos proprietários para o lazer, uma vez que o corte de alimentos volumosos diminui drasticamente nas propriedades adotantes.
Do ponto de vista econômico, a recuperação das pastagens proporciona redução de custos, em torno de R$ 300,00 por hectare (elimina preparo de solo e compra de sementes), quando comparada com a reforma convencional das pastagens, e propicia aumento da receita anual, correspondente a no mínimo 15@/ha.
Impacto ambiental
A tecnologia reduz erosão (aumento da cobertura do solo), diminui assoreamento de cursos d’água e de reservatórios, atenua a pressão para abertura de novas áreas e melhora a qualidade do solo e da água (aspectos químicos, físicos e biológicos).
9. Método EPS (evaporação-precipitação-solo) de irrigação, em Latossolos de textura média
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O manejo da irrigação, recurso disponível para racionalizar a aplicação de água em culturas e em pastagens, requer determinação do turno ou da freqüência de rega, bem como da lâmina ou da quantidade de água para a próxima irrigação. A tecnologia orienta os usuários para os procedimentos necessários.
Impacto socioeconômico
Pelo método EPS, são determinados os parâmetros, com base na diferença entre a evaporação acumulada (EV) e a precipitação pluvial (PR), que possibilitam decidir quando é necessário irrigar, durante o desenvolvimento de uma planta em Latossolos de textura média. Ou seja, quando essa diferença atingir de 25 a 30 mm (EV – PR = 25 a 30 mm), aplicam-se de 15 a 20 mm de água de irrigação, que corresponde à capacidade de armazenamento de água desses solos, os quais constituem grande parte das áreas agrícolas do País. O método exige a disponibilidade de um pluviômetro, de um evaporímetro de Piché e de uma planilha para contabilizar a água disponível no solo, todos de fácil manejo. O uso da água balizado por esses indicadores reais, em área com plantio convencional, permite reduzir a necessidade de água e de energia elétrica em 30% e, em área de plantio direto que tenha boa cobertura do solo com resíduos vegetais, em até 50%. O método EPS de irrigação pode ser adaptado a todas as regiões do Brasil.
Impacto ambiental
O método possibilita a redução de uso dos recursos (água e energia elétrica) e evita situações de estresse das plantas por falta ou por excesso de água, como ocorre em regas programadas em intervalos fixos.
10. Soro alcalinizante para tratamento de diarréias de bezerros por via oral
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trata-se de uma solução que contém glicose e íons de bicarbonato, de sódio, de cloro e de potássio, em concentrações isotônicas. A solução deve ser administrada por via oral, na quantidade de quatro a sete litros por dia, de maneira preventiva, logo após o aparecimento dos primeiros sinais de diarréia em bezerros.
Impacto socioeconômico
O soro é uma opção disponível aos produtores rurais para tratamento de animais afetados por diarréias - que atingem em torno de 20% dos bezerros, especialmente no verão -, muito mais simples de ser administrado do que aqueles que devem ser aplicados por via endovenosa. Desse modo, evita-se que ocorra a desidratação e a acidose metabólica, problemas que causam óbitos nos bezerros afetados por diarréias. A tecnologia abrange tratamento de baixo custo, facilidade de aplicação e redução de óbitos, e é adequada para todas as regiões do Brasil e para todos os tipos de sistema de produção. A utilização da hidratação por via oral, conforme a indicação, reduz os gastos com medicamentos e com atendimento veterinário e evita a perda de peso do animal.
Impacto ambiental
O produto, por ser preparado na propriedade, não utiliza embalagens plásticas, o que diminui os resíduos indesejáveis que acompanham medicamentos e soros que devem ser administrados por via endovenosa.
11. Uso de forno de microondas doméstico para agilizar a determinação de matéria seca e de umidade em solos e em plantas
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A tecnologia é um método alternativo ao método convencional de secagem de amostras de solo e de planta, para monitoramento de umidade do solo para fins de irrigação, e do teor de matéria seca em materiais forrageiros destinados ao preparo de silagem de boa qualidade.
Impacto socioeconômico
No método convencional, utiliza-se estufa de secagem como equipamento. Esse método demanda de 12 até 72h para completar o teste. Já no método alternativo utiliza-se o forno de microondas doméstico e ele demanda 10 ou 14min para secar solo ou planta, respectivamente.
O método proposto tem efeito no incremento de produtividade laboratorial, na diminuição da geração de resíduos, na redução de custo da análise, na rapidez de fornecimento de resultados para os sistemas de produção, na possibilidade de composição de dietas mais adequadas para animais e na realização de regas mais controladas das lavouras, com a utilização de equipamentos simples e acessíveis aos produtores familiares. O custo total da análise por este método é reduzido em 61%, em relação ao convencional. O aumento do número de análises e a alteração do equipamento utilizado permitem que o custo de energia, que representava 6% do custo total no método convencional, ficasse próximo de 1% no método alternativo. Esta é uma tecnologia integralmente desenvolvida pela Embrapa.
Na confecção de silagem, muitos produtores trabalham na faixa de 25% de teor de matéria seca (MS), pelo fato de não terem controle efetivo do ponto adequado de MS para ensilagem. Quando o controle desse teor é realizado na própria fazenda, com utilização de forno de microondas, a ensilagem é possível mais próxima do ideal, em torno de 35% de MS. Em razão disso, há redução no custo da silagem decorrente da diferença de custo no transporte e na compactação do material entre os níveis de 25% e de 35% de MS. Há reflexo na produção de leite bovino; o rendimento da silagem feita com plantas que continham 25% de MS foi de 25,9 L de leite por animal por dia, enquanto com 35% de MS a produção foi de 28,3 L. Com base no preço unitário de R$ 0,47/L de leite e no custo adicional de R$ 0,19/L, em 2005, o ganho unitário foi de R$ 0,93, com vacas leiteiras de média produção. Com animais de alta produção (próximo a 40 L por animal por dia), o custo adicional reduziu para R$ 0,14.
No manejo da irrigação, o forno de microondas pode ser utilizado para determinar a umidade do solo, que é um instrumento auxiliar de calibração do método EPS de manejo de irrigação (ver Tecnologia no 9).
Impacto ambiental
No âmbito laboratorial, existe menos consumo de energia e menos produção de ruído. No campo, em razão do maior controle no teor de água da forrageira granífera (milho ou sorgo), o que permite a compactação adequada do material picado, há redução no perigo de crescimento de microrganismos bacterianos ou fúngicos indesejados, o qual pode causar a necessidade de descarte da silagem, para não afetar a eficiência alimentar e a saúde dos animais. Além de evitar o consumo de energia para transporte de material fora de especificação do campo de produção até o silo, ocorre menor descarte de material inutilizado. No caso da irrigação, a tecnologia permite estabelecer consumo racional e preciso de água por meio do manejo controlado. Pelo fato de a água ser um recurso em via de escassez, a redução de desperdício é de fundamental importância.
12. Sistema intensivo de uso de pastagens para a produção de ovinos do tipo carne em propriedades familiares
Tecnologias da Embrapa Pecuária Sudeste para agricultura familia - Image 12
O sistema se baseia na manutenção das matrizes em pastagens formadas com gramíneas forrageiras de alta produção por área, o que permite elevada lotação animal em regime de pastejo rotacionado. Em adição, há rigoroso acompanhamento sanitário do rebanho (método Famachaâ de controle das verminoses), programação da reprodução em épocas estratégicas e terminação dos cordeiros em confinamento logo após a desmama.
Impacto socioeconômico
Este sistema é um conjunto de tecnologias de produção de ovinos acessível a múltiplos sistemas de produção. Ele utiliza forrageiras tropicais e demais recursos naturais manejados adequadamente. Ocorre aumento da produtividade do estabelecimento (quilogramas de carne por hectare) e da produtividade por animal (quilogramas de cordeiro abatido por ovelha por ano). Em uma unidade de produção, com 4,0 ha de área e com 120 matrizes e seis reprodutores, foi atingida receita bruta de R$ 32.100,00 anuais e rentabilidade líquida de até R$ 2.127,00 por hectare por ano. Quando se considera a programação da produção, verifica-se aumento na eficiência técnica dessas propriedades, bem como uso mais racional e mais intensivo dos insumos. Em decorrência, a mão-de-obra deve ser capacitada para a permanente otimização do sistema de produção. Esta capacitação eleva a condição profissional do trabalhador, com reflexos na sua autoestima.
Impacto ambiental
Ruminantes de pequeno porte, como os ovinos, permitem a otimização da ocupação do espaço e exigem menor quantidade absoluta de forragens e de água para sobreviver e para produzir carne do que bovinos. Como as condições de solo e de clima da região Sudeste são propícias para o crescimento de gramíneas de alta produção e de alta qualidade nutricional, o uso intensivo de pastagens é vantajoso para a criação de ovinos nas propriedades de base familiar. Além disso, o manejo rotacionado auxilia o rompimento do ciclo biológico de endoparasitas gastrintestinais, o que facilita seu controle com uso de métodos biológicos. De fato, ocorre redução da contaminação da pastagem por ovos e por larvas de helmintos, com conseqüente decréscimo do uso de produtos químicos e da geração de resíduos.
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