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A opinião de jovens filhos de produtores de leite ligados a cooperativa sobre a atividade leiteira

Publicado: 20 de novembro de 2013
Por: Sergio Rustichelli Teixeira, Pesquisador da Embrapa Gado de Leite; Marne Sidney de Paula Moreira, Supervisor do NUTTEC da Embrapa Gado de Leite, e William Fernandes Bernardo, Analista da Embrapa Gado de Leite.
O Censo Agropecuário de 2006 contou cerca de 1,3 milhões de produtores de leite, sendo 80,7% familiar e 19,3% patronal. A agricultura familiar representa cerca de 10% do PIB brasileiro, parcela bastante expressiva. Entretanto, na agricultura familiar, há incerteza quanto à continuidade na atividade agropecuária pelos filhos dos produtores, o que aponta para dificuldades com relação à sucessão. A Organização das Cooperativas de Minas Gerais (OCEMG), em parceria com a Embrapa Gado de Leite tem desenvolvido ações tanto para ajudar os produtores e leite e seus filhos quanto para entrevista-los e melhor compreender intenções dos destes jovens e o mecanismo de sucessão. Para saber a opinião destes jovens foram feitas entrevistas com aqueles que participaram de um treinamento no Campo Experimental José Henrique Bruschi em Coronel Pacheco/MG em 2010, para avaliar o que eles pensam sobre a atividade leiteira.
Os jovens entrevistados demonstraram entender a necessidade da busca por conhecimentos na atividade leiteira. Os dados mostram que 78% destes jovens trabalham (Tabela 1), sendo que deste percentual somente 4% não está em alguma atividade ligada ao campo. Dos que trabalham na atividade, 26% trabalham em diversas áreas da propriedade e 17% trabalham com a gerência da mesma.
 
Tabela 1. Tipo de trabalho dos jovens entrevistados
A opinião de jovens filhos de produtores de leite ligados a cooperativa sobre a atividade leiteira - Image 1
 
Dentre os 23 jovens entrevistados, somente dois, manifestaram vontade de deixar a atividade leiteira. Estes dois jovens tinham grau de escolaridade mais baixo que os demais. No grupo com maior nível de instrução, os jovens afirmaram que são capazes de executar diversas atividades além da produção leiteira e não acreditam que permanecer no campo é uma "obrigação cultural". Dos 52% que atualmente residem em regiões urbanas, somente 22% pretende continuar na cidade no futuro. Isso se reflete na escolha de suas atividades futuras, pois todos os entrevistados desejam executar funções ligadas à agropecuária. Segundo eles, a rotina pesada da produção leiteira é compensada pela possibilidade de estar em uma atividade que eles gostam e da qual são donos. Eles acreditam que, se bem trabalhada, esta é uma atividade rentável (Tabela 2).
 
Tabela 2. Intenção de trabalho dos jovens entrevistados
A opinião de jovens filhos de produtores de leite ligados a cooperativa sobre a atividade leiteira - Image 2
 
Analisando a Tabela 3 observa-se que quase a metade das propriedades de origem dos jovens em estudo (41%) produz mais que 500 l/dia. Em relação à escolaridade, 72% ainda estão estudando, seja no nível fundamental, médio ou superior. Além da formação básica, 46% deles se dedicam à formação na área agropecuária de nível técnico ou superior. Os jovens declararam receber incentivos dos seus pais para continuar os estudos. Alguns afirmaram que é maior o incentivo para estudar do que o incentivo para continuar na produção de leite. Entretanto, estes jovens demonstram que o maior motivo para continuar os estudos é o fato de acreditar que a educação formal é condição básica para tornar a atividade leiteira mais profissional e rentável. Os jovens que têm nível de educação superior consideram aspectos educacionais associados às informações de mercado, gerência e qualidade como fundamentais para o exercício da atividade leiteira.
 
Tabela 3. Produção média diária de leite da propriedade da família (litros)
A opinião de jovens filhos de produtores de leite ligados a cooperativa sobre a atividade leiteira - Image 3
 
Os dados levantados evidenciaram que 87% das famílias dos jovens entrevistados participam das cooperativas a que pertencem, sendo que a maior parte desta participação se concentra em reuniões/gestão (39%) e eventos técnicos (17%). Percebe-se que estes jovens tem atitude diferenciada nas cooperativas a que são filiados, pois 65% participam ativamente de suas cooperativas, concentrando-se em eventos técnicos (30%). Uma das principais críticas feitas por eles às cooperativas é a falta de programas que incentivem os jovens para o envolvimento efetivo no cooperativismo. Eles consideram que este seria um meio para facilitar a interlocução entre os hábitos do produtor e as novas alternativas técnicas disponíveis. O jovem é mais "receptivo" a novas ideias e práticas, associado ao fato de que conhece a realidade do produtor. Acreditam, também, que o cooperativismo pode estimular a continuidade da atividade leiteira. Segundo os jovens, a maior parte dos produtores de leite não se posiciona nas reuniões para discutir os assuntos das cooperativas, mas quando estão fora deste ambiente reclamam da atividade sem buscar ou indicar soluções práticas. O cooperativismo, na visão destes jovens, é o mecanismo que pode fortalecer e unir os produtores, trazer benefícios em relação à competitividade e orientar sobre a atividade leiteira tanto em produção quanto em gestão. Com o exercício da participação efetiva dos jovens nas cooperativas, os entrevistados acreditam que serão mais participativos que seus pais.
Os entrevistados utilizam de diversos meios para informar-se sobre a atividade e, talvez por isso, articulam com facilidade informações sobre mercado e gerenciamento da produção. Muitos deles acreditam que mudanças efetivas na produção em direção à especialização ocorrerão somente quando eles próprios assumirem suas propriedades. Eles acreditam que os produtores mais antigos desconfiam de novas técnicas e são apegados aos métodos tradicionais de produção.
Para concluir, pode-se dizer que, avaliar o que pensam os jovens cooperativistas filhos de produtores de leite demonstrou ter importância tanto para a atividade quanto para o modo de pensar o cooperativismo, assim como para o desenvolvimento de políticas sociais e de iniciativas tecnológicas. As razões apontadas pelos entrevistados para o desestímulo dos jovens na continuidade da atividade leiteira foram à baixa rentabilidade da atividade ou o trabalho penoso, a distância física das cidades, a falta de acesso à internet, a carência de comunicação com outros jovens, a escassez de alternativas de diversão, etc. Entretanto, a pesquisa identificou que quando o jovem tem incentivo e preparo técnico, há motivação necessária para que a atividade leiteira se posicione em seu horizonte de possibilidades profissionais. Os entrevistados querem continuar na atividade, por gostar dela. Os produtores, ao contrário, ficam por falta de opção.
Portanto, os resultados da pesquisa com os jovens sugerem que a educação formal e técnica para a atividade leiteira podem motivar a inserção de uma nova geração de produtores de leite. Por conta da maior escolarização, esta nova geração, na visão deles próprios, terão uma visão mais profissional e cooperativista que seus pais. Importante ressaltar que eles consideram o trabalho na atividade leiteira como estimulante e rentável. Esta, sem dúvida, não deixa de ser uma boa notícia para o setor, ao menos para os jovens de escolarização mais alta.
***O trabalho foi originalmente publicado na Panorama do Leite, Embrapa Gado de Leite.
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Autores:
Sérgio Rustichelli Teixeira
Embrapa
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Janilson dos santos
15 de abril de 2021
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