Introdução
Para que o aumento em produção de forragem seja convertido em aumento de produção animal, o intervalo de desfolhação deve ser reduzido para ajustar a colheita à precocidade de desenvolvimento da forragem adubada com nitrogênio (Alexandrino et al., 2004). Essa não é uma meta simples e, para que isso ocorra, é necessário entender e quantificar as variações em estrutura do dossel como forma de ajustar o processo de pastejo, o que geralmente é feito por meio de combinações entre freqüência e intensidade de desfolhação.
Para caracterizar a forragem disponível aos animais em pastejo, o fracionamento da massa em seus componentes morfológicos (folhas, colmos e material morto) descreve melhor as alterações morfológicas e fisiológicas decorrentes dos processos de crescimento e senescência de plantas forrageiras (Sarmento, 2007). Por essa razão, o presente experimento teve por objetivo avaliar e descrever a massa de forragem pré-pastejo em termos de seus componentes morfológicos de pastos de capim-marandu submetidos a estratégias de pastejo rotativo e adubação nitrogenada.
Material e Métodos
O experimento foi conduzido no Instituto de Zootecnia (IZ), município de Nova Odessa, SP (22º 42' (sul), 47º 18' (oeste) e 528 m de altitude). O solo da área experimental é classificado como Latossolo Vermelho Distrófico típico (EMBRAPA, 1999). Os pastos de capim-marandu, implantados há 13 anos, foram roçados a 20 cm de altura antes do início do experimento. O tempo de implantação dos tratamentos e adaptação dos pastos aos tratamentos (outubro de 2008 a março de 2009) foi seguido pelo período de avaliação de seis meses (abril a setembro de 2009). Os tratamentos corresponderam a combinações entre dois intervalos de pastejo (período de tempo necessário para o dossel forrageiro atingir as alturas de 25 e 35 cm) e duas doses de nitrogênio (50 e 200 kg/ha.ano), e foram alocados às unidades experimentais (UE) segundo um arranjo fatorial 2x2 e delineamento de blocos completos casualizados, com quatro repetições. A altura de resíduo mínima utilizada como meta foi 15 cm. Cada UE foi constituída de um módulo de seis piquetes de 5.000 m2 cada, nos quais os lotes de três animaisteste mais os reguladores de carga permaneceram em pastejo durante todo o período experimental. As condições experimentais foram monitoradas por avaliações periódicas de altura do dossel forrageiro utilizando-se um bastão medidor (sward stick). As adubações nitrogenadas (uréia e nitrato de amônio) foram realizadas após a saída dos animais de cada piquete em janeiro (50 kg/ha) para todos os tratamentos e mais duas aplicações parceladas nos tratamentos de 200 kg/ha de N nos meses de fevereiro e março de 2009 (75 kg/ha de N cada). Durante o período estudado foram realizados, em media, três ciclos de pastejo para a altura de entrada de 25 cm e dois ciclos para a de 35 cm. A massa de forragem, antes da entrada dos animais, era amostrada, ao acaso, em seis pontos por piquete (0,5 x 1,0m), perfazendo um total de 6,0 m2. O corte era feito rente ao solo com uso de equipamento podador de cerca viva. A forragem proveniente de cada ponto amostrado era pesada e dela foi retirada uma sub-amostra para separação dos componentes morfológicos: folhas (lâminas foliares), colmos (colmos+bainhas foliares) e material morto. Estes foram colocados para secagem em estufa de circulação forçada de ar a 65oC até peso constante. Os dados foram analisados utilizando-se o procedimento PROC GLM do programa SAS (Statistical Analysis System), SAS Institute (1990), adotando-se nível de significância de 5 %.
Resultados e Discussão
A massa seca de folhas (MSF) variou com altura de entrada (P=0,0102) e dose de N (P=0,0064), sendo que não foi detectado efeito da interação altura x dose. A MSF foi maior nos pastos manejados a 35 cm (Tabela 1), porém, para a altura 25 cm, a relação folha/colmo foi maior (1,03) que aquela de pastos manejados a 35 cm (0,87), indicando maior proporção de folhas nos pastos manejados a 25 cm. Pastos adubados com 200 kg/ha de N apresentaram a maior MSF (Tabela 1) e maior relação folha/colmo (1,05) que pastos adubados com 50 kg/ha de N (0,87), indicando que o manejo do pastejo aplicado desde o verão e as dose de N empregadas proporcionaram maior proporção de folhas no período de outono/inverno. A massa seca de colmos (MSC) foi maior nos pastos manejados a 35 cm (P=0,0028) (Tabela 1), não tendo sido afetada pela dose de N (P=0,9442) ou pela interação altura x dose (P=0,9755). A massa seca de material vivo (MSV – folha + colmo) variou com a altura de entrada (P=0,0007), mas não foi influenciada pela dose de N (P=0,0779) em pela interação altura x dose (0,9904). Não houve diferença entre tratamentos em termos de massa seca de material morto (MSM). O material morto existente, principalmente na base do dossel forrageiro, já estava presente desde o início do período de adaptação, após a roçada de uniformização. Como a quantidade inicial era grande, essa pode ter sido a razão para a ausência de diferenças entre tratamentos em relação a esse componente morfológico. Para Sarmento (2007), em trabalho com capim-marandu submetido à lotação rotativa no período de outono a início da primavera, a proporção de MM variou de 10,9% nos pastos manejados a 95%IL (equivalente à altura de entrada 25 cm neste experimento) a 12,3% nos pastos manejados a 100% IL (equivalente à altura de entrada de 35 cm), enquanto neste experimento a proporção de material morto foi de 49,5% (35 cm) a 56,9% (25 cm), reforçando a forte influência da condição anterior dos pastos sobre os resultados.
Tabela 1- Massa de forragem dos componentes morfológicos (kg/ha de MS) em pastos de capimmarandu submetidos a estratégias de pastejo rotativo e adubação nitrogenada de abril a setembro de 2009.
Conclusões
A altura pré-pastejo de 35 cm resultou em maior massa dos componentes morfológicos (folhas e colmos), porém a altura 25 cm resultou em forragem com maior proporção de folhas, fato que foi intensificado pela maior dose de N, indicando a importância do manejo de verão sobre a estrutura dos pastos e valor nutritivo da forragem produzida.
Agradecimentos
Ao Dr. Joaquim Carlos Werner, pesquisador aposentado do Instituto de Zootecnia (IZ), pelas importantes sugestões, valiosos ensinamentos e pela grande colaboração na condução deste projeto. Aos funcionários e estagiários do Instituto de Zootecnia pelo auxilio na condução do experimento. À FAPESP pelo financiamento do projeto.
Literatura citada
ALEXANDRINO, E.; NASCIMENTO JR., D.; MOSQUIM, P.R.; REGAZZI, A.J.; ROCHA, F.C. Características morfogênicas e estruturais na rebrotação da Brachiaria brizantha cv. Marandu submetida a três doses de nitrogênio. Revista Brasileira de Zootecnia, v.33 n. 6 p.1372-1379, 2004.
EMBRAPA. Sistema Brasileiro de Classificação dos Solos. Brasília: EMBRAPA. Produção de Informação, 1999, 412p.
SARMENTO,D.O.L. Produção, composição morfológica e valor nutritivo da forragem em pastos de Brachiaria brizantha (Hochst ex. A. Rich) Stapf cv. Marandu submetidos a estratégias de pastejo rotativo por bovinos de corte.. Piracicaba, (2007). 144p. Tese (Doutorado) – Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz", Universidade de São Paulo.