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Distribuição espacial da pecuária leiteira no Brasil

Publicado: 5 de fevereiro de 2008
Por: Rosangela Zoccal, Alziro Vasconcelos Carneiro e Lorildo Aldo Stock da Embrapa Gado de Leite, Juiz de Fora; Homero Chaib Filho da Embrapa Cerrados, Planaltina; Fernando Garagorry da Embrapa SGE, Gado de Leite, Secretaria de Gestão Estratégica, Brasília, e Glauco Rodrigues Carvalho, Economista, M.Sc. da Embrapa Gado de Leite.
Sumário

A produção total de leite no Brasil, em 2006, foi de 25,7 bilhões de litros, gerando uma receita de, aproximadamente, 6,25 bilhões de dólares e só no setor primário envolveu cerca de cinco milhões de pessoas, considerando os 1,3 milhões de produtores de leite. O conhecimento da estrutura e da distribuição espacial da pecuária leiteira no Brasil é de grande relevância para definição de políticas de infra-estrutura, transporte e logística, e subsidiar estudos de viabilidade de projetos de desenvolvimento regional e setorial. Este estudo da dinâmica da produção de leite foi realizado tendo-se como base a classificação de microrregiões homogêneas. Considerou-se o conceito de densidade (litros de leite/km²). A região Sudeste foi a líder, contribuindo em 2006, com 38% da produção de leite nacional. As regiões Sul e Centro-Oeste participaram com 27 e 15% respectivamente, e as regiões Nordeste com 12%, e Norte com 8%. De 2001 a 2006, a participação das regiões Norte, Nordeste e, especialmente, Sul cresceu de forma consistente. Já a participação da região Centro-Oeste manteve-se praticamente inalterada e a Sudeste decresceu de 42 para 38% da produção nacional.

Palavras-chave: Leite, Sistemas de produção, Dinâmica da produção.

INTRODUÇÃO
A importância da pecuária de leite no desempenho econômico e na geração de empregos no país é incontestável. A produção total de leite em 2006 foi de 25,7 bilhões de litros gerando receita aproximada de 6,25 bilhões de dólares (CNA). O setor primário envolve cerca de cinco milhões de pessoas, considerando, também, os 1,3 milhões de produtores de leite.
Neste contexto, o conhecimento da distribuição espacial da pecuária leiteira no Brasil é de grande relevância para definição de políticas de infra-estrutura, transporte, logística e análise de viabilidade de projetos de desenvolvimento regional e setorial. É importante também para o estabelecimento de estratégias de vigilância sanitária, rastreabilidade, avaliação de risco geográfico de doenças e estudos de dinâmica do setor agropecuário.
 
MATERIAL E MÉTODOS
A distribuição espacial da pecuária leiteira no Brasil foi realizada com informações oriundas da base de dados oficial do Governo Brasileiro, publicadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE. Utilizaram-se dados da Pesquisa da Pecuária Municipal (IBGE, 2007). As microrregiões foram classificadas tendo-se como referência a quantidade de leite produzido por área, expresso em litros de leite produzidos por km2. Com base neste índice, procedeu-se um ordenamento das microrregiões e, em seguida, a divisão em quartis em relação ao valor total da variável. Para uma análise mais simplificada, agrupou-se as microrregiões limítrofes em zonas de produção. O agrupamento das microrregiões em quartis, possibilitou que cada conjunto reunisse aproximadamente 25% da produção nacional. Posteriormente, as microrregiões com maior densidade de produção (quartis 1 e 2), que juntas totalizaram 50% do volume total de leite produzido, foram agrupadas em dez zonas de concentração, de acordo com a proximidade geográfica. Desse modo, tornou-se possível visualizar as áreas de maior concentração da produção de leite no Brasil. Para isto utilizou-se o software SAS (1990). A dinâmica da atividade leiteira foi avaliada pela taxa de crescimento nos últimos cinco anos.
 
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Volume
A distribuição das microrregiões mais produtoras de leite, baseada no índice de densidade da produção por área (litros/km²), e separadas em quatro grupos estão na Tabela 1. No primeiro quartil, com produção entre 24 a 89 mil litros de leite/km², verificou-se que 25% da produção nacional ficou concentrada em apenas 36 (6.5%) das microrregiões, de um total de 558. O segundo conjunto, foi formado por 52 microrregiões, e apresentou índice de densidade de produção variando entre 16 e 23 mil litros/km². Estas 88 microrregiões (15.8% do total), juntas, responderam por 50% da produção de leite nacional (12,8 bilhões de litros/ano).
Tabela 1. Densidade de produção de leite em microrregiões homogêneas, 2006.
Distribuição espacial da pecuária leiteira no Brasil - Image 1
Na Tabela 2 e na Figura 1, estão relacionadas as microrregiões de maior densidade na produção de leite e que juntas totalizam 50% da produção. Elas foram agrupadas em dez zonas de produção, de L1 a L10. Na Região Sul concentrou o maior número de microrregiões com alta densidade de produção de leite por área. A zona L1, que abrange o Norte do Rio Grande do Sul, Oeste de Santa Catarina, e Sudoeste do Paraná, produz anualmente 4,3 bilhões de litros de leite e ocupa uma área de 109 mil km2.
Os Estados do Sudeste abrigam uma grande região produtora de leite. Esta região foi separada em três áreas de concentração: L2 que reúne o Centro Sul do Estado de Minas Gerais, Leste de São Paulo, Norte do Vale do Paraíba e Sul do Rio de Janeiro. Esta zona abrange 170 mil km2 e produziu 4,1 bilhões de litros de leite por ano. A Zona L3 localizada na Zona da Mata de Minas Gerais, norte do Rio de Janeiro e sul do Espírito Santo, ocupa 48 mil km2 e produziu 1,1 bilhão de litros de leite por ano.
A região Centro-sul do Estado de Goiás representa a Zona L4, com 51 mil km2 e produção anual de 1 bilhão de litros. Na Zona L5 foram agrupadas as microrregiões do Triângulo Mineiro e Noroeste de São Paulo com 35 mil km2 e 702 milhões de litros.
Outras áreas de concentração de produção, L6 e L7, localizaram-se no Nordeste (Estados de Pernambuco, Alagoas e Sergipe), com 579 milhões de litros e em Rondônia, no norte do País, com 435 milhões de litros por ano. A Zona L8, situada na região de Ponta Grossa no estado do Paraná, produz 253 milhões de litros. Rio do Sul e Ituporanga, em Santa Catarina, são microrregiões que se destacaram na produção de leite, configurando a Zona 9, com 106 milhões de litros de leite anualmente. Duas microrregiões, Mantena em Minas Gerais e Barra de São Francisco no Espírito Santo, que fazem parte do grupo com maior densidade de produção de leite, formam a Zona L10, com produção anual de 102 milhões de litros e área de 5.878 mil km2.
Mesmo com o indicativo de produção de leite em todas as 558 microrregiões brasileiras, existem áreas/regiões de maior concentração da atividade, como foi mostrado na figura 1. Vale lembrar que no computo da produção de leite e área das microrregiões separadas em zonas, não foram consideradas as microrregiões do terceiro e quarto grupo, com menor densidade de produção, mas que juntas dão origem aos outros 50% da produção nacional de leite.
Tabela 2: Zonas de maior densidade da produção de leite (50% do leite nacional).
Distribuição espacial da pecuária leiteira no Brasil - Image 2
 
Dinâmica
A dinâmica da produção de leite foi avaliada considerando o acréscimo de volume de leite produzido nos últimos cinco anos, de 2001 a 2006. Primeiro calculou-se a diferença do volume de leite produzido e posteriormente classificou as microrregiões pelo valor da diferença. A representação das áreas de maior crescimento pode ser observada na Figura 2. As Zonas de concentração da produção de leite especializada são também as Zonas de maior crescimento: norte do Rio Grande do Sul, oeste de Santa Catarina e sudoeste do Paraná (L1). Outra grande região de incremento da produção é o Centro Sul de Minas Gerais, Zona da Mata Mineira, Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba do Estado de Minas Gerais (L2, L3 e L5).
Duas regiões que se destacaram pelo crescimento da produção de leite e não apareceram nas Zonas de produção foram a) o centro-leste do Pará, centro-oeste do Maranhão e norte do Tocantins e b) sul da Bahia. Embora a produção de leite destas regiões não tenha relevância, quando avaliadas pelo índice de densidade por área, a análise da dinâmica mostrou que a produção de leite vem crescendo, possivelmente pela disponibilidade de grandes áreas de terras e crescente produção de grãos.
O Estado de São Paulo abriga o maior número de microrregiões onde a atividade leiteira está reduzindo, seguido pelo sul do Rio Grande do Sul.
 
CONCLUSÃO
A produção de leite brasileira cresce tanto em especialização da atividade como na incorporação de novas áreas, como é o caso do Norte do país.
 
LITERATURA CITADA
CNA. 2007, Confederação Nacional da Agricultura. Indicadores econômicos. www.cna.org.br, acessado em maio de 2007.
IBGE. 2007. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa da Pecuária Municipal. www.ibge.gov.br acessado em fevereiro de 2007.
SAS Institute, Inc. 1990. SAS / STAT User´s guide, Version 6. 4th edition. SAS Inst., Inc., Cary, NC.
 
Figura. 1. Distribuição espacial da produção de leite em microrregiões no Brasil, 2006.
Distribuição espacial da pecuária leiteira no Brasil - Image 3
Figura. 2. Variação da produção de leite em microrregiões do Brasil, no período de 2001 a 2006.
Distribuição espacial da pecuária leiteira no Brasil - Image 4
***O trabalho foi originalmente publicado pela Embrapa Gado de leite / Coordenação do Centro de Inteligência do Leite (CILeite).
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Autores:
Glauco Rodrigues Carvalho
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