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Desempenho de consórcios forrageiros de estação fria com espécies leguminosas em diferentes anos de cultivo

Publicado: 6 de agosto de 2013
Por: Gustavo Martins, Engenheiro Agrônomo, Doutor, Pesquisador da Embrapa Pecuária Sul (CPPSul); Felipe Bortolin, Aluno de Graduação de Agronomia/UNIJUÍ, bolsista REDE LEITE e estagiário Embrapa-CPPSul; Diego Bernardi, Douglas Wenningkamp e Luis Michel Goulart Bergoli, Alunos de Graduação do Curso de Agronomia/UNIJUÍ e bolsistas PIBIC/CNPq; Patrícia Juswiak, Aluna de Graduação do Curso de Agronomia/UNIJUÍ e bolsista CNPq, e outros.
Sumário

A fixação biológica de nitrogênio e os benefícios que podem acarretar desta capacidade atestam a importância do uso de leguminosas forrageiras na produção animal a pasto. O objetivo foi avaliar a produção de consórcios forrageiros com leguminosas de estação fria no 1° a 3° anos de cultivo. Os tratamentos constituíram os consórcios de aveia preta + azevém com cornichão e trevos. As unidades amostrais foram piquetes de 450 m² pastejados por vacas em lactação. Foram avaliadas a produção de matéria seca total e de lâminas foliares dos consórcios e das leguminosas, acumuladas durante o período experimental. Não foi verificada diferença significativa na produção de matéria seca total e de lâminas foliares dos consórcios, mas é evidente a contribuição do trevo branco na produção de lâminas foliares dos consórcios, especialmente após sua perenização. Foi verificada diferença significativa na produção de matéria seca total e de lâminas foliares das leguminosas nos anos de cultivo, com superioridade para as áreas de 3° ano, o que evidencia a importância do manejo objetivo ao estabelecimento e à perenização destas forrageiras para desempenhos superiores. A produção de matéria seca total e de lâminas foliares das leguminosas é superior no 3° ano de cultivo em relação ao 1° ano e pastagens compostas por trevo branco se destacam pela maior produção de lâminas foliares.

Palavras–chave: consórcios forrageiros, Lotus corniculatus, perenização, Trifolium pratense, Trifolium repens, Trifolium vesiculosum

Introdução
A atividade da pecuária leiteira é muito importante para região noroeste do estado do Rio Grande do Sul, compondo grande parte da renda das pequenas propriedades rurais. Essa produção leiteira, em sua maioria, é desenvolvida a pasto e deve ser realizada, preferencialmente, em pastagens de consorciação com espécies leguminosas. Tal prática traz muitos benefícios ao sistema de produção, a citar: a redução da utilização de adubação nas pastagens, devido à capacidade dessas plantas fixarem biologicamente nitrogênio atmosférico; o aumento do período de produção de forragem e disponibilidade aos animais, aumentando a vida útil da pastagem; o incremento de nitrogênio ao solo para ser aproveitado pela atividade subsequente; entre outros. Porém, como consequência do elevado custo de implantação, do histórico de insucessos, da maior exigência em fertilidade do solo e do lento estabelecimento, a utilização exclusiva ou em consórcio de leguminosas forrageiras cultivadas não é expressiva no Estado (Rocha et al., 2007).
 
Material e Métodos
O experimento foi realizado no Instituto Regional de Desenvolvimento Rural, em Augusto Pestana/RS, de 28/06 a 28/10/2010. Foram avaliados sete consórcios forrageiros de estação fria, todos envolvendo a mistura (testemunha) de aveia preta (Avena strigosa) cv. Comum e azevém anual (Lolium multiflorum) cv. Comum (AA), semeada à razão de 80 e 40 kg ha-1 de sementes puras e viáveis (SPV), respectivamente. Aliando-se a essas gramíneas, semearam-se seis combinações de espécies leguminosas e densidades de semeaduras como seguem: trevo vesiculoso (Trifolium vesiculosum) (AAVes), 8 kg ha-1; trevo vesiculoso e trevo branco (Trifolium repens) (AAVesB), 8 e 4 kg ha-1, respectivamente; trevo branco (AAB), 4 kg ha-1; cornichão (Lotus corniculatus) (AAC), 7 kg ha-1; cornichão e trevo branco (AACB), 7 e 4 kg ha-1, respectivamente; e trevo vermelho (Trifolium pratense) (AAVer), 7 kg ha-1. Os consórcios com espécies leguminosas foram avaliados em áreas de 1° ano cultivo (estabelecimento) e de 3° ano de manejo, que foi realizado visando sua perenização. No ano do ensaio (2010), as áreas de 3° ano de cultivo foram ressemeadas apenas com aveia preta + azevém. Foram utilizados 300 kg ha-1 de adubo da fórmula 5-20-20 na linha de semeadura e foram aplicados 40 kg ha-1 de nitrogênio na forma de uréia após a segunda avaliação (26/08). Já as áreas de 1º ano de cultivo foram semeadas primeiramente com as leguminosas, inoculadas com rizóbio específico e peletizadas. Após essa semeadura a lanço, foi feita a mistura proporcional das sementes das gramíneas e estas semeadas em linhas distantes de 20 cm. Cada tratamento constou de um piquete de 450 m², sendo todos manejados sob pastejo com vacas em lactação. O pastejo foi realizado sempre que as pastagens atingissem cerca de 20 cm de altura, e, após o pastejo, eram realizados cortes da vegetação em quadros de 0,25m2 que ficavam protegidos por gaiolas de exclusão. Ao todo foram realizados quatro cortes durante a estação de crescimento. Procedeu-se a separação manual das lâminas foliares de cada espécie forrageira. As amostras foram secas em estufa de ar forçado (50°C) até atingirem peso constante, e pesadas. Foram avaliadas a produção de matéria seca total e de lâminas foliares dos consórcios e das leguminosas (kg ha-1), acumuladas durante o período experimental. Os resultados foram submetidos à análise estatística multivariada, na qual cada unidade amostral (UA) foi representada por um piquete, caracterizada pelas quatro variáveis de produção forrageira.
 
Resultados e Discussão
Na Tabela 1 são apresentados os resultados de produção de matéria seca total e de lâminas foliares do consórcio e das leguminosas (kg ha-1), acumuladas durante o período experimental. Na análise de agrupamentos verificou-se que a partição em dois grupos foi a mais significativa. No diagrama de dispersão de pontos (Figura 1), obtido através da análise de ordenação, pode-se observar os dois grupos formados, os quais estão marcados no próprio diagrama, compostos pelas UAs de 1º e de 3º ano de cultivo cada um. O distanciamento entre os pontos que representam os piquetes de 3° ano de cultivo é devido às diferenças peculiares das leguminosas componentes de cada consórcio, como, por exemplo, a maior produção de forragem em função de uma maior persistência na pastagem. O eixo das abcíssas e das ordenadas são responsáveis por 75,9% e 20,8% da variação dos dados, respectivamente. O alto coeficiente de correlação negativo entre o eixo das abcíssas e as variáveis produção de matéria seca total das leguminosas (r=-0,988) e produção de matéria seca de folhas dos consórcios (r=-0,915) e das leguminosas (r=-0,983) permite concluir que os pontos localizados mais à esquerda no diagrama de dispersão representam os piquetes (UAs) que apresentaram os maiores valores dessa variáveis, como fica fácil de constatar tomando como exemplo o piquete com o consórcio AAB3º. Por outro lado, o eixo das ordenadas apresentou alta correlação negativa com a produção total acumulada dos consórcios.
Observando-se a Tabela 1 deduz-se que as variáveis produção de matéria seca total e de folhas dos consórcios apresentaram menor variação entre os piquetes, em relação às outras duas variáveis, indicando que a sua influência na formação dos grupos foi relativamente pequena. Todos os consórcios com leguminosas e no 3º ano de cultivo mostraram valores de produção de forragem acima do cultivo exclusivo de gramíneas, o que certamente influenciou na distinção dos grupos. Foi evidente a contribuição do trevo branco na produção de lâmina foliar dos consórcios por ele compostos, em ambos os anos de cultivo, mas especialmente após a sua perenização (3º de cultivo), o que pode estar relacionado principalmente ao hábito de crescimento prostrado (estolonífero) que concentra a produção de colmos junto ao solo e disponibiliza a fração foliar ao pastejo. Embora as produções de matéria seca total das leguminosas verificadas nesse trabalho sejam inferiores aos obtidos em outros trabalhos, como por exemplo Rocha et al. (2007) constataram em cultivo estreme, os resultados atestam a importância da perenização dessas espécies para a formação de pastagens de maior qualidade e mais persistentes.
Tabela 1. Produção de matéria seca total e de lâminas foliares do consórcio e das leguminosas (kg ha-1), acumuladas durante o período experimental. IRDeR/DEAg/UNIJUÍ. 2010.
Desempenho de consórcios forrageiros de estação fria com espécies leguminosas em diferentes anos de cultivo - Image 1
Figura 1. Diagrama de dispersão de pontos obtido pela análise de ordenação, onde cada ponto (unidade amostral) representa um piquete com consórcios forrageiros de 1° e 3° anos de cultivo. IRDeR/DEAg/UNIJUÍ, 2010.
Desempenho de consórcios forrageiros de estação fria com espécies leguminosas em diferentes anos de cultivo - Image 2
 
Conclusão
A produção de matéria seca e de lâminas foliares das leguminosas no 3° ano de cultivo condiciona uma pastagem com mais forragem e folhas ofertada por essas espécies em relação ao ano de estabelecimento, o que pode ser uma grande vantagem em termos de persistência e qualidade de pastagens de inverno consorciadas com gramíneas.
 
Literatura Citada
ROCHA, M.G. da.; QUADROS, F.L.F. de.; GLIENKE, C.L.; CONFORTIN, A.C.C.; COSTA, V.G. da; ROSSI, G.E. Avaliação de espécies forrageiras de inverno na Depressão Central do Rio Grande do Sul. Revista Brasileira de Zootecnia, v.36, n.6, p.1990-1999, 2007.
 
***Fonte Original:XXI CONGRESSO BRASILEIRO DE ZOOTECNIA -Universidade Federal de Alagoas Maceió. / INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS E MERCADO CONSUMIDOR.
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Autores:
Gustavo Martins
Embrapa
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