Explorar
Comunidades em Português
Anuncie na Engormix

Cigarrinha-das-pastagens: uma praga que retorna com as chuvas.

Publicado: 15 de fevereiro de 2012
Por: José Raul Valério

Com a chegada das chuvas, as pastagens se recuperam iniciando um novo período em que os animais se desenvolvem, adquirindo, por exemplo, condições para a reprodução e o abate. No entanto, após terem enfrentado o problema da seca, os produtores podem enfrentar um outro inconveniente: as cigarrinhas-das-pastagens. Assim como ocorre em todos os anos, a chegada das chuvas representa também o início da infestação das cigarrinhas: as principais pragas de gramíneas forrageiras em toda a América Latina. Conhecidos da maioria dos pecuaristas, estes insetos, se, em grandes populações, podem amarelecer as pastagens resultando em paisagens muito semelhantes àquelas comumente vistas no período da seca. E, mais uma vez, o produtor poderá enfrentar problemas de pasto para seus animais.
As cigarrinhas são insetos sugadores que, durante o período da seca, permanecem na pastagem na fase de ovo. São os chamados ovos em diapausa. Estes só dão origem às ninfas (formas jovens das cigarrinhas) quando do início do período chuvoso. Além do calor, as cigarrinhas dependem, para o seu desenvolvimento, de muita umidade. Isto é facilmente notado, uma vez que as ninfas, geralmente localizadas na base das plantas, vivem no interior de massas de espuma secretadas pelas mesmas. Nesta fase do desenvolvimento, as cigarrinhas causam algum dano, no entanto, os maiores prejuízos são causados pelas cigarrinhas adultas. Estas, ao se alimentarem, injetam substâncias de dois tipos: umas que se coagulam no interior dos tecidos da folha, possivelmente desorganizando o transporte da seiva; e outras solúveis, que se translocam nas folhas, predominantemente no sentido apical, determinando a morte dos tecidos.

Em geral, as folhas atacadas pelas cigarrinhas morrem a partir das pontas, apresentando, posteriormente, um aspecto retorcido. Exceto no que se refere às plantas muito jovens, as cigarrinhas não matam as touceiras, que rebrotam e se recuperam com o tempo.

Quando em altas populações, as cigarrinhas reduzem drasticamente o crescimento das gramíneas, diminuindo a produção das pastagens. Cumpre lembrar que as pastagens severamente atacadas pelas cigarrinhas podem apresentar menores teores de proteína e fósforo, além de um teor mais elevado de fibra. Portanto, tem-se, além de uma reduzida produção, pastos de menor qualidade. Nestas condições, a pastagem tem sua capacidade de suporte reduzida.

Pelas características extensivas da nossa bovinocultura de corte, o controle destes insetos não é tarefa fácil. Pastagens são consideradas culturas de baixo valor por unidade de área. Neste caso, o controle químico, comum em outras culturas de maior valor por unidade de área como o algodão e a soja, por exemplo, torna-se, na maioria das vezes, antieconômico.

Há casos em que o controle químico poderá ser utilizado como, por exemplo, em áreas destinadas à produção de sementes, ou em outras a critério do produtor. O importante é que este controle seja feito somente com produtos inseticidas registrados para o controle das cigarrinhas, e apenas nos locais e momentos adequados. Alerta-se para um aspecto de interesse. É comum o produtor, após constatar a pastagem amarelecida, pensar em adotar o controle químico. Através de resultados de pesquisas, verificou-se que os sintomas de danos demoram ao redor de três semanas para se manifestarem plenamente. Entretanto, como os adultos das cigarrinhas vivem em média dez dias, ao se constatar as pastagens amarelecidas, a maior parte da população que ocasionou estes danos já morreu, não justificando, portanto, a adoção de controle naquele momento.

Dadas as características do sistema de produção e também pelas dificuldades práticas de se definir momentos adequados de adoção de medidas curativas, o controle das cigarrinhas deve ter um enfoque preventivo.

A principal recomendação é que o produtor, dentro do possível, diversifique a sua propriedade incluindo no sistema de produção gramíneas resistentes às cigarrinhas-das-pastagens. Atualmente, as gramíneas Brachiaria brizantha cv. Marandu e Andropogon gayanus cv. Planaltina são as melhores alternativas.

Presentemente, no Centro Nacional de Pesquisa de Gado de Corte (CNPGC) da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), estão sendo conduzidas avaliações em centenas de novas introduções do gênero Brachiaria e também da espécie Panicum maximum, visando, entre outros objetivos, a identificação de gramíneas resistentes às cigarrinhas.

Uma recomendação complementar refere-se ao manejo das pastagens. O produtor deve procurar adequar a carga animal de modo a evitar sobra de pasto (evitando, é claro, o superpastejo). A sobra de pasto resulta, ao longo do tempo, em maior quantidade de palha acumulada ao nível do solo. Verificou-se que esta palha propicia microclima favorável ao desenvolvimento das cigarrinhas, garantindo maior sobrevivência, resultando em maiores populações.

Tópicos relacionados
Autores:
José Raul Valério
Embrapa
Siga
Junte-se para comentar.
Uma vez que se junte ao Engormix, você poderá participar de todos os conteúdos e fóruns.
* Dados obrigatórios
Quer comentar sobre outro tema? Crie uma nova publicação para dialogar com especialistas da comunidade.
Criar uma publicação
Eduardo Machado
15 de febrero de 2012

Muito importante este artigo sobre a cigarrilha seria de extrema importância aprofundar nas variedades de capim resistentes a cigarrilha que já assumiu o papel de destruidor de pastagens ,tornando se ao longo do tempo um desastre para a pecuária brasileira principalmente na região centro norte do pais
Eduardo Machado

Vmg
21 de febrero de 2012

Parabéns pela Matéria Dr. José Raul Valério, informativa, esclarecedora e que desperta a curiosidade. Neste sentido e aproveitando que o manejo do pastejo tem se baseado na altura do pasto para fazer o seu manejo, qual seria a recomendação em relação à prevenção do ataque da cigarrinha? Se no rotativo a recomendação é manejar com base na interceptação luminosa e qdo contínuo as alturas metas para se manter o pasto, isto poderia prevenir tbém o ataque da praga?
Virgílio Gomes
Montes Claros - MG (Norte de Minas)

1
Junte-se à Engormix e faça parte da maior rede social agrícola do mundo.
Iniciar sessãoRegistre-se