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Uma nova forma de produzir ou uma nova forma de buscar um novo nicho de mercado? Parte I

Publicado: 6 de maio de 2013
Por: Romão Miranda Vidal, Médico Veterinário.
A humanidade sempre se deparou com o fenômeno fome.
Vamos entender como sendo fome a necessidade fisiológica de ingerir algo que venha a dar a sensação material de saciedade, mesmo que este não venha de encontro com as suas necessidades biológicas, mas que ao atingir a plenitude gástrica, transmita ao cérebro que a fome encontra-se sob controle.
Vez por outra noticia-se que em esta ou aquela nação milhares e milhares de seres humanos morreram de fome, ou que a fome assola vários países em função de intempéries atmosféricas, que resultam na perda parcial ou total de alimentos.
Os mais cultos citam várias teorias, pensamentos e até tomam posições a respeito da fome. Houve no século 18 um Pastor anglicano que por razões outras desenvolveu uma teoria a respeito da fome.
Historicamente a fome despertou vários interesses, a ponto de um Pastor de uma Igreja Anglicana pregava que as famílias só tivessem filhos se tivessem terras cultiváveis para delas tirar os alimentos que iriam alimentar seus filhos. E o Pastor Anglicano e Economista desenvolveu uma teoria a respeito da fome, cujo enunciado até hoje é aceito por alguns postulantes ecológicos: -“a população cresce em progressão geométrica, enquanto a produção de alimentos aumenta em progressão aritmética”. Do alto do seu púlpito o autor do Ensaio sobre a População, defendia que se a sua comunidade não produzisse comida (este é o termo correto), na mesma proporção que crescia em termos de fiéis (demograficamente), haveria uma carestia, ocorreria uma situação na qual os membros da sua comunidade morreriam de fome. E então duas situações se fariam presentes. A primeira com o aumento de pessoas nascidas nas famílias da sua comunidade e não havendo alimentos, a Igreja Anglicana, devido aos preceitos cristãos, deveria alimentá-los de uma forma ou de outra. A segunda, à medida que as pessoas morressem de fome, haveria uma queda substancial na arrecadação do dízimo. Conclusão. Para Malthus manter o crescimento da população na mesma proporção da produção de alimentos seria o ideal e mais seguro. Pessoas alimentadas, pessoas produzindo alimentos e vendendo-os, igual dízimo garantido. A realidade destes fatos pode ser (a nível tupiniquim) consultada nos escritos de Josué de Castro. Independente das Teorias propostas por filósofos, pensadores, economistas, administradores, profetas, sociólogos, políticos, estudiosos e outros mais, a fome é um tema que sempre estará em pauta.
As Teorias a respeito da fome já são conhecidas desde os tempos imemoriais. Quando Moisés resolveu peregrinar pelo deserto em busca da Terra Prometida, onde os cachos de uva eram de tamanho descomunal, onde havia mel e leite à vontade -já é por demais conhecida-, houve até um início de rebeldia, como pode-se notar no texto bíblico: "Era melhor termos sido mortos pela mão de Javé na terra do Egito, onde sentávamos junto à panela de carne, comendo pão com fartura. Vocês nos trouxeram pelo deserto para fazer toda esta multidão morrer de fome”. Ou ainda Os mortos à espada eram mais ditosos do que os mortos à fome, pois estes se esgotavam, como traspassados, por falta dos frutos dos campos. Lamentações de Jeremias 4:9 (VIDAL.R.M. 27/03/2011- BIOTECNOLOGIA E A FOME QUE SE AVIZINHA).
Isto posto podemos entrar no mérito da questão.
A modernidade que estamos a experimentar, representada pelos avanços tecnológicos, nos induze a buscar nos mais variados ângulos novas perspectivas relacionadas com a produção de alimentos, como é o caso em pauta. Lógico que existem “N” ângulos em que os avanços tecnológicos se fazem presentes.
E foi justamente neste sentido dos avanços tecnológicos, como o uso de produtos químicos, como o Hexaclorociclo-hexano – vulgarmente chamado de BHC e os organoclorados, organofosforados e os carbamatos (hoje senão banidos, mas sob vigilância estrita das autoridades sanitárias), que devido às resultantes negativas em relação ao ser humano, o instinto de sobrevivência da humanidade buscou na natureza a sua resposta, ante a uma situação que se aproximava do desastre.
Mesmo sabendo ou por saber que existem 900 princípios ativos em mais de 4.000 formulações diferentes de agro defensivos, a humanidade corre em direção de uma forma alternativa de produzir alimentos se não isentos destes elementos tóxicos, mas muito próximos da sua total presença. À medida que os avanços conceituais se fazem presentes e são absorvidos, cresce a necessidade de se produzir alimentos dentro do que se pode classificar como sendo de Segurança Alimentar: A Segurança Alimentar e Nutricional significa garantir, a todos, condições de acesso a alimentos básicos de qualidade, em quantidade suficiente, de modo permanente e sem comprometer o acesso a outras necessidades essenciais, com base em práticas alimentares saudáveis, contribuindo, assim, para uma existência digna, em um contexto de desenvolvimento integral da pessoa humana.
Atualmente a produção de alimentos é vista como uma das formas mais responsáveis, pelo enunciado acima citado e pode-se notar nas entrelinhas “...com base em práticas alimentares saudáveis, contribuindo, assim, para uma existência digna, em um contexto de desenvolvimento integral da pessoa humana.”
Conceitos, posturas, atitudes, postulados holísticos, filosóficos, radicalismos fazem parte de um todo, de um movimento em que se dinamizam objetivos comuns: Alimentos saudáveis, para uma população saudável, que pode até ser parafraseado como- diga-me o que comes que te direi quem és...-.
O Brasil sempre foi destaque em termos de produção de alimentos, desde os anos de 1.500 quando por aqui aportaram os extraviados navegantes lusitanos e impressionados ficaram com a abundância de alimentos, “nunca antes vistos e saboreados...”.
Atualmente a diversidade produtiva alimentícia é sem par, se comparado às demais nações que apresentam condições edafo-climáticas para tal.
Um dos elos focados no Arranjo Produtivo Local – Proteínas Nobres ou de Origem Animal – apresentam uma diversificação considerável, que vai da produção de tais alimentos em escala ao sistema de produção em micro escala e neste patamar os Orgânicos e os Naturais.
Natural é um tipo de alimento produzido dentro de padrões pré-estabelecidos de acordo com a legislação vigente : “todo alimento de origem vegetal ou animal, para cujo consumo imediato se exija apenas, a remoção da parte não comestível e os tratamentos indicados para a sua perfeita higienização e conservação” (BRASIL, 1969). Segundo estudiosos do assunto: “por item natural quer-se dizer aquele que não foi mudado de nenhuma forma significativa pelo contato com humanos. Ele pode ser colhido e transportado, mas tem sua essência quimicamente idêntica ao mesmo item em seu lugar natural”( Rozin e colaborador 2004).
Estamos então diante de uma situação um tanto inusitada: Entende-se por alimento natural, tão somente os alimentos de origem vegetal? Segundo a legislação brasileira, não, pois é taxativa ao especificar “todo alimento de origem animal vegetal ou animal...”. Mas em outra definição temos:... aquele que foi não mudado de nenhuma forma significativa pelo contato com humanos.....tem sua essência quimicamente idêntica ao mesmo item em seu lugar natural”. Praticamente exclui os alimentos de origem animal.
Controvérsias a parte, pode-se inferir que alimento natural deve ser aquele que no seu processo produtivo fez uso de recursos naturais disponíveis, não permitindo a interferência, direta ou indireta, do ser humano em todo o seu processo produtivo, em especial processos produtivos que antecedem e posteriormente a sua multiplicação, v.g.: sementes crioulas; suínos crioulos; bovinos Crioulos do pantanal e o cavalo pantaneiro, considerando ainda a ovelha pantaneira.
Neste contexto podemos entender que alimento natural difere e em muito do alimento orgânico. Em uma plasticidade de raciocínio e muito simplista, o alimento natural é decorrente de todo um sistema propiciado pela Natureza e se deduz que o simples fato da não ingerência humana permite que haja uma intercorrência natural dos elementos-água, ar, terra, luz natural, calor natural, frio natural e toda a biologia telúrica. O equilíbrio entre as plantas, no concernente a concorrência natural por elementos nutritivos e ações defensivas, ocorrem de uma forma integrada, uma vez que preciso será equilibrar entre o que será necessário para uma defesa natural contra predadores como insetos, por exemplo, que se alimentam digamos das partes aéreas das plantas, para que possam dar continuidade à vida, assim como de pássaros que necessitam de insetos para se alimentar e dar continuidade à vida. De outro lado temos as ações naturais integradas, quando os insetos se alimentam de organismos vivos, no caso aqui exemplificados pelos afídeos – pulgões -, onde os coleópteros – joaninhas – servem de alimento natural para que estas (as joaninhas) consigam dar continuidade à vida. De outra forma a queda e morte de folhas, raízes, restos culturais contribuem para o ciclo ser completado. A simbiose entre o que se produz e se recicla permite o estabelecimento de um ciclo natural, onde os elementos naturais água, luz, calor e solo (com toda a sua microbiologia) se fazem presentes.
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Autores:
Romão Miranda Vidal
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