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Qualidade Milho Armazenado

Em busca da qualidade do milho armazenado.

Publicado: 19 de junho de 2012
Por: Julian Cristina Borosky .
O milho é uma das principais fontes de energia para a alimentação humana e para os animais. Dentro do contexto da alimentação animal, a disponibilidade desse insumo afeta diretamente o custo de produção de aves e suínos e sua qualidade pode afetar o desempenho zootécnico.
A composição e qualidade bromatológica do milho pode ser influenciada pelo tipo de solo, adubação, condições climáticas e tipo de híbrido, além de possíveis contaminações química, física e microbiológica.
Os fungos são a principal causa de deterioração e as perdas são imperceptíveis a olho nu. Os prejuízos de sua ação só são visíveis em nível de consequencia econômica (Puzzi, 1986).
Além desses prejuízos econômicos, os fungos são produtores de micotoxinas, que, quando consumidas pelos animais, podem deprimir o desempenho zootécnico como também desencadear doenças específicas (como o caso de edema pulmonar em suínos, que é associado a fumonisina).
Segundo Tanaka et al (2001) o milho pode ser contaminado por vários tipos de fungos , desde a sua formação, durante o seu desenvolvimento e também após a colheita, no armazenamento.
O controle fúngico deve ser iniciado na lavoura e se extender durante todas as etapas de processamento e armazenamento do grão até seu uso como matéria-prima para ração.
Tradicionalmente divide-se os fungos presentes na cultura de milho em dois grupos: os de campo e os de armazenamento. Essa divisão ocorreu pela observação mais comum de determinadas espécies durante um período ou outro, no entanto os fatores inerentes da contaminação por um gênero ou outro é a temperatura e a umidade relativa do ar.
O surgimento de fungos típicos da armazenagem, ainda no campo depende das condições climáticas durante a cultura e, o tempo de sobrevivência dos fungos que normalmente crescem no campo depende das condições climáticas do armazém.
Fungos do gênero Fusarium são normalmente encontrados em culturas de milho, ainda no campo, podendo ser isolados na maioria dos grãos, inclusive aqueles que parecem saudáveis (Hesseltine et al., 1981 citados por Marassas et al., 2000). 
Quanto aos fungos mais frequentemente encontrados durante o armazenamento destacam-se o Aspergillus spp. e Penicillium spp. (Tuite et al., 1985; Luz, 1995; Pinto, 1998). A figura 1 mostra um resumo das principais variáveis ambientais que determinam o crescimento fúngico no armazém e no campo, bem como as principais espécies e toxinas por elas produzidas.
Em busca da qualidade do milho armazenado. - Image 1
Figura 1:. Classificação dos diferentes tipos de fungos, local de crescimento e produção de micotoxinas, segundo as características de umidade relativa do ar e atividade de água do grão (Selko, 2011).
O período e condições de armazenamento está diretamente relacionado com a qualidade final do milho.
O armazenamento de grãos pode ser definido como um ecossistema em que, mudanças qualitativas e quantitativas podem ocorrer devido a interações entre fatores químicos, físicos e biológicos (Faroni et al, 2005).
Os fatores mais importantes que afetam o grão durante o armazenamento são: temperatura, umidade e concentração de dióxido de carbono e oxigênio, características dos grãos, presença de microorganismos, insetos, condições do clima e estrutura do grão (Sinha, 1973).
Segundo a literatura, a faixa de temperatura favorável para o crescimento fúngico é muito ampla, abrangendo temperaturas de 5 a 37oC. 
Dessa forma, a umidade relativa do ar e a atividade de água do grão são fatores limitantes para o crescimento fúngico e produção de micotoxinas. 
A tabela 1 apresenta os resultados de um trabalho que avaliou a influência da umidade no interior do silo e da atividade de água do grão sobre de crescimento fúngico durante os 10 primeiros dias de armazenamento de milho, sob temperatura ambiente de 30 graus e umidade relativa do ar de 85%. 
Tabela 1:. Crescimento fúngico, umidade e atividade de água do grão nos 10 primeiros dias de armazenamento, em temperatura ambiente 30oC e URA de 85%.
Em busca da qualidade do milho armazenado. - Image 2
Por sua vez, a tabela 2 demonstra valores de atividade de água do grão, relacionada com o crescimento fúngico e para a produção de micotoxinas.
Tabela 2:. Atividade de água mínima para crescimento fúngico e produção de micotoxinas.
Em busca da qualidade do milho armazenado. - Image 3
 
A literatura tem apontado também que silos metálicos, expostos diretamente ao sol, favorecem a tranferência de umidade em seu interior. 
A Incidência solar sobre a parede metálica favorece a um aquecimento exacerbado na massa de grãos, promovendo evaporação da umidade. Durante a noite, a temperatura das paredes e do teto do silo se encontra mais baixa promovendo a condensação da umidade do ar interno e consequente gotejamento sobre a massa de grãos armazenada (figuras 2 e 3).
Em busca da qualidade do milho armazenado. - Image 4
Figura 2:. Esquema da distribuição da umidade em silos metálicos.
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Figura 3: milho brotando no topo da massa armazenada, devido a gotejamento (autor desconhecido.)
Vários achados na literatura demonstram que a infestação por insetos durante o armazenamento provoca danos ao tegumento dos grãos, produz gás carbônico (CO2) e água (H2O), contribuindo para o aumento do teor de umidade, que, por sua vez, aumenta a respiração dos grãos e, conseqüentemente, a temperatura, facilitando a multiplicação dos fungos (Penz Jr, 2010; AGRAWAL, 1957; MATIOLI e ALMEIDA, 1979; PUZZI, 1986). 
Como citado anteriormente, um dos resultados da contaminação fúngica é a depreciação bromatológica do milho. A tabela 3 apresenta resultados de uma análise bromatológica de milho classificados como "bom" e "fungado". 
Tabela 3: Comparação bromatológica de milho bom com milho fungado.
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Como visto acima, o principal nutriente consumido pelo fungo é a energia do milho, presente no gérmen. Sabe-se também que os carotenos responsáveis pela coloração do grão também se encontra no gérmen, então espera-se que milhos contaminados apresentem uma coloração mais pálida quando comparados com grãos classificados como "bons" (figura 4).
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Figura 4:. Milho fungado comparado com milho bom (autor desconhecido.)

Baseado nessas informações fica evidente a necessidade de se obter condições ideais de armazenamento de grãos, que atendam as necessidades básicas de beneficiamento e tratamento contra pragas.
Segundo Silva (2005), os cuidados mínimos necessários para armazenamento adequado de milho envolve:.
• realizar a colheita tão logo seja atingido o teor de umidade que permita proceder a operação;
• ajustar os equipamentos de colheita para proceder a máxima limpeza da massa de grãos e evitar danos mecânicos;
• desinfetar as instalações e os equipamentos de colheita;
• limpar os silos e graneleiros removendo pó, lixo e outros materiais;
• proceder de forma correta as operações de pré-limpeza e limpeza; removendo impurezas, grãos danificados, finos e materiais estranhos;
• proceder a operação de secagem de forma correta garantindo a redução e uniformidade do teor de umidade a níveis que não permitam o desenvolvimento de fungos;
• monitorar a temperatura da massa de grãos e aerar sempre que necessário, para uniformizar a temperatura;
• adotar técnicas para o controle de insetos e roedores, pois geralmente a proliferação dos fungos está associada ao ataque destas pragas.
Dentres os diferentes tipos de tratamento disponíveis, as misturas de ácidos orgânicos têm se mostrado eficientes no controle do crescimento fúngico.
Segundo Penz Jr e colaboradores (1983) o uso dessas misturas parece inibir o desenvolvimento de fungos e potencializar a disponibilidade de nutrientes de matérias primas e rações.
Essa inibição ocorre pois os ácidos orgânicos têm baixo potencial de ionização e são potentes inibidores do transporte de aminoácidos por parte da célula fúngica, pela ionização interna do citoplasma e acidificação do conteúdo celular, impedindo a sobrevivência do microorganismo (Santurio, 1995)
Grigoletti e colaboradores (2007) estudaram diferentes inclusões (0; 1,0; 1,5; 2,0 e 2,5 l/ton de milho) de uma mistura de ácidos orgânicos (propiônico, acético, outros ácidos e seus sais de amônia) na preservação de milho contaminado por fungos e micotoxinas durante seu armazenamento. Durante esse período os autores coletaram amostras para análise bromatológica, micológica e de toxinas.
Os autores concluíram que a associação de ácidos orgânicos foi eficiente para reduzir a contaminação fúngica no milho armazenado e que o tratamento mais eficiente foi a dosagem de 2,5 L/ton.
Resultados semelhantes também foram observados por Martinez e colaboradores (2000), eles avaliaram diferentes fontes de ácido propiônico na conservação de milho inoculado experimentalmente por A. flavus durante 30 dias de armazenamento. Os autores também observaram redução na contaminação por aflatoxina nas amostras tratadas com ácido propiônico em detrimento as amostras não tratadas e contaminadas pelo fungo.
Considerando que todos os nutrientes das dietas animal são calculados pelo teor de energia da dieta e, sendo o milho a principal matéria-prima energética das formulações, o uso de farelo desse insumo contaminado por fungos trará sérios problemas para o desenvolvimento animal. Pesquisas têm sido desenvolvidas a fim de se buscar alternativas para contornar os problemas relacionados ao menor valor nutricional dessas dietas, porém os riscos das micotoxinas continuam elevados, havendo necessidade de se buscar outros aditivos que reduzam a absorção desses metabólitos fúngicos pelos animais, aumentando assim os custos finais com formulações.
Em contra-partida, o tratamento do milho com ácidos orgânicos durante o armazenamento tem se mostrado mais eficiente para controle das micotoxinas e preservação da qualidade nutricional do grão com custos menores se compararmos às alterativas disponíveis para corrigir esses desvios durante a formulação.
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Autores:
Julian  Borosky
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