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Prevalência de aflatoxinas em amendoim e seus derivados, destinados ao consumo humano, no Estado do Rio Grande do Sul

Publicado: 12 de abril de 2013
Por: Carlos Augusto Mallmann, Carlos Alberto de Almeida, Lisandra Mürmann e Vanessa G. Silveira do Laboratório de Análises Micotoxicológicas -LAMIC-, Universidade Federal de Santa Maria -UFSM-, RS, e Claudia Hoffmann Kowalski, acadêmica Curso de Farmácia, Bolsista CNPq.
Sumário

As micotoxinas são toxinas naturalmente produzidas por fungos, sendo contaminantes de grande variedade de alimentos, como o amendoim. As aflatoxinas apresentam potencial carcinogênico, mutagênico, teratogênico e imunossupressor. O objetivo deste trabalho foi verificar o grau de contaminação de derivados de amendoim usados na alimentação humana, afim de determinar a prevalência destas micotoxinas no estado do Rio Grande do Sul (RS), bem como, fornecer subsídios técnicos para alertar as autoridades no sentido de avaliar a eficiência das atuais medidas de vigilância adotadas no RS. Foram analisadas 664 amostras no período de março de 2000 a abril de 2002. Para a extração das aflatoxinas foi empregada a metodologia automatizada preconizada por MALLMANN et al. (2000) [1] e a quantificação foi realizada através de Cromatografia Líquida de Alta Eficiência (CLAE). Através desse levantamento observamos que 31,3% das amostras apresentavam contaminação com aflatoxinas sendo a maioria proveniente de produtores informais que comercializam produtos que não sofrem fiscalização sanitária. Devido a importância toxicológica destas toxinas enfatizamos a necessidade de um monitoramento eficaz para garantirmos a qualidade do alimento.

Palavras-chave: amendoim, aflatoxina, CLAE, alimentação humana.

1. INTRODUÇÃO
Aflatoxinas (AFs) são as micotoxinas produzidas pelo metabolismo de fungos, especialmente Aspergillus flavus e parasiticus (AOAC [2]). Estes se desenvolvem favoravelmente nas seguintes condições: umidade relativa do ar de 85% e temperatura ambiente de 27°C. Sendo o Brasil, um país predominantemente de clima tropical, apresenta portanto, condições favoráveis ao seu desenvolvimento (Pregnolatto e Sabino [3]).
Quimicamente as AFs são difurocumarolactonas, sua estrutura consiste de um anel bifurano fundido com um núcleo cumarínico e mais um núcleo pentanona (Lesson, Diaz e Summers [4]). Estes metabólitos fúngicos são causadores de efeitos deletérios à saúde. A aflatoxina B1 é a micotoxina de maior prevalência e também a de maior toxicidade, provocando profundas alterações orgânicas traduzidas por hemorragias através da inibição dos fatores II e VII da coagulação sangüínea, imunodepressão, lesões agudas e crônicas nos hepatócitos podendo levar a câncer hepático. Além destes, as aflatoxinas apresentam efeitos teratogênicos e mutagênicos (Sabino et al [5]).
O fígado é o órgão alvo para esses compostos, sendo que em diversos casos de morte causados pela destruição desse, foram identificadas AFs no mesmo. Além de induzir o câncer no fígado, as AFs podem ocasionar outros efeitos como: cirrose hepática, diminuição da resistência imunológica propiciando surtos de hepatites virais tipo B, estando também associada à Síndrome de Reye, febre, convulsões, vômito, coma, etc (AOAC [2]).
No presente trabalho, avaliou-se o grau de contaminação por aflatoxinas no amendoim e seus subprodutos, destinados à alimentação humana, em decorrência da importância toxicológica desta toxina nos alimentos. O conhecimento dos níveis de contaminação, fornece subsídios para prevenção do problema para produtores e consumidores do Estado.
 
2- MATERIAL E MÉTODOS
Esse trabalho foi realizado no Laboratório de Análises Micotoxicológicas (LAMIC), da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e contou com o auxílio financeiro do Conselho Regional de Desenvolvimento (COREDE).
2.1- Material
Foram adquiridas 664 amostras de amendoim e derivados destinados ao consumo humano provenientes de 77 municípios distribuídos aleatoriamente no Estado do Rio Grande do Sul.
2.2 - Métodos
O método empregado para a extração, purificação e quantificação das aflatoxinas foi preconizado por MALLMANN et al. (2000), que consiste na extração com ACN:H2O (84:16, v/v), secagem, ressuspenssão com ACN:H2O:HAc (840:160:5, v/v/v), seguida de purificação automatizada com sílicas, derivatização com TFA e injeção em sistema de cromatografia líquida dotado de detecção por fluorescência (HPLC-FLD).
 
3- RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os resultados obtidos nas análises das 664 amostras de amendoim e seus derivados revelaram que 208 amostras (31,33%) apresentaram positividade para aflatoxinas. Deste total, verificou-se que 98 amostras (14,85%), procedentes de 35 municípios, tiveram níveis de contaminação superior a 20 ppb, limite máximo conforme as normas estabelecidas pela Legislação do Mercosul (Sabino et al [6]), com uma média de 92,1 ppb e nível máximo de 5476 ppb de aflatoxinas.
TABELA 1: Níveis de contaminação por aflatoxinas das amostras de amendoim e derivados analisadas no período de março de 2000 a abril de 2002, no estado do Rio Grande do Sul.
Prevalência de aflatoxinas em amendoim e seus derivados, destinados ao consumo humano, no Estado do Rio Grande do Sul - Image 1
Também foi observada a correlação entre a positividade das amostras e o seu grau de industrialização. Entre as amostras industrializadas, 20,8% apresentavam contaminação. Essa porcentagem aumentou para 43,2% quando as amostras eram de procedência colonial.
 
4- CONCLUSÃO
Com a realização deste trabalho ampliou-se a visão geral do grande problema que são hoje as micotoxinas. 31,33% das amostras comercializadas no Rio Grande do Sul apresentam contaminação detectável por aflatoxina. Destas, 47,1% apresentaram contaminação acima do permitido pela Legislação do Mercosul. A maioria dessas amostras era proveniente de produtores informais que comercializam seu produto sem sofrerem fiscalização. Nos últimos anos percebe-se uma diminuição no número de amostras contaminadas, mas os níveis encontrados nesta pesquisa sugerem que o monitoramento rígido e contínuo do amendoim e seus derivados deve ser mantido.
 
5- REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
[1] MALLMANN C.A. et al. Automation of the analytical procedure for the simultaneous determination of aflatoxins AFB1, AFB2, AFG1 and AFG2. In: X International IUPAC Symposium on Mycotoxins and Phycotoxins 2000. Guarujá – São Paulo – Brasil. 21-25 de maio, p.35.
[2] ASSOCIATION OF OFFICIAL ANALYTICAL CHEMISTS Official methods of analysis of the Association Official Analytical Chemists 12 nd ed. Washington. AOAC, p.455, 1982.
[3] PREGNOLATTO, W. & SABINO, M. Pesquisa e dosagem de Aflatoxina em amendoim e derivados e em outros cereais. Rev. Inst. Adolfo Lutz. 29/30, p. 65-71, 1969.
[4] LESSON, S., DIAZ, GONZALO J., SUMMERS, J.D. Poultry metabolic disorders and mycotoxins 352p, p. 249-298, 1995.
[5] SABINO, M. et al. Ocorrência de Aflatoxina B1 em produtos alimentícios e rações animais, consumidos no estado de São Paulo e várias regiões do Brasil, no período de 1980 a 1987. Rev. Inst. Adolfo Lutz, São Paulo, v..48(1-2), p. 81-85, 1998.
[6] SABINO, M., Normas e Níveis de tolerânica de micotoxinas no Brasil, no MERCOSUL e no mundo. Simpósio sobre micotoxinas em grãos, p. 183-192, Santo Amaro, São Paulo, Brasil, 1999.

***Informação bibliográfica: ANAIS 2º SIMPÓSIO EM CIÊNCIA DE ALIMENTOS, 2003
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Autores:
CA Mallmann
LAMIC - LABORATÓRIO DE ANÁLISES MICOTOXICOLÓGICAS
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