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Micotoxinas Zearalenona Leitoa

Eficácia de aditivo anti-micotoxina em leitoas expostas à zearalenona

Publicado: 10 de novembro de 2010
Por: Geraldo Camilo Alberton (Universidade Federal do Paraná -UFPR); Teixeira, L.C.; Silva, M.V..; Aguiar, T.N.; Santin E.1
PALAVRAS-CHAVE: Útero, suínos, filossilicato, bentonita, epoxidase, hidrolase
INTRODUÇÃO
A contaminação dos grãos pela ZEA pode, em alguns momentos do ano, superar os níveis toleráveis mesmo com a prática de medidas preventivas. Neste caso, vale-se a adoção de medidas corretivas como o uso de aditivos anti-micotoxinas (AAM) na ração. Os AAM disponíveis no mercado possuem diversos constituintes, dentre eles destaca-se a classe de argilas dos aluminossilicatos, bastante empregada para adsorção de micotoxinas. No caso da ZEA sua característica apolar dificulta a ligação nos AAM constituídos por aluminossilicatos (5,7), entretanto quando estes são submetidos a modificações químicas consegue-se expandir a sua superfície hidrofóbica e a afinidade para moléculas apolares (2). Outra alternativa, é o uso de AAM com enzimas detoxificantes, que apresentam resultados satisfatórios na detoxificação da ZEA (13).
A efetividade dos AAM é analisada inicialmente in vitro; entretanto, a confirmação in vivo é imprescindível para verificação da real eficácia do produto (7,3). Neste sentido, os objetivos do presente estudo foram avaliar a eficácia in vivo do AAM Elitox®, composto de filossilicatos, biopolímeros (quitosanas) e as enzimas epoxidases e hidrolases, e de uma formulação experimental deste produto adicionada de bentonita orgânica ativada em evitar os efeitos tóxicos no trato reprodutivo (TR) e no fígado e a ação de 0,5mg/kg de ZEA também nestas variáveis.
 
MATERIAL E MÉTODOS
Utilizou-se 36 leitoas pré-púberes com idade média de 32 dias no início do experimento. Os animais foram expostos a seis tratamentos com seis repetições cada durante 21 dias, sendo alojados em baias individuais com alimento e água ad libitum. A dieta das leitoas compôs-se de milho, soja e núcleo vitamínico-mineral formulada de acordo com o NRC (9). Nesta dieta foi adicionada ZEA e o AAM Elitox® (Impextraco, Bélgica) sendo os tratamentos: T1: controle, T2: 0,5 mg/kg ZEA (controle positivo), T3: 0,5 mg/kg ZEA + 0,1% AAM, T4: 0,5 mg/kg ZEA + 0,15%AAM, T5: 0,5 mg/kg ZEA + 0,25%AAM, T6: 0,5 mg/kg ZEA + 0,4%AAM. No tratamento 3 foi avaliada uma formulação experimental do Elitox® adicionada de bentonita orgânica ativada. Para confirmação da concentração de ZEA e pesquisa das aflatoxinas B1, B2, G1, G2; amostras de cada tratamento foram enviadas para análise micotoxicológica. O milho para preparo das rações foi adquirido de duas procedências, o milho do T1 de empresa que realiza seleção por mesa densimétrica e dos restantes tratamentos de empresa que não possuía critério de seleção, sendo que, antes do preparo das rações amostras da soja e dos milhos foram enviadas para as análises bromatológicas e pesquisa das mesmas micotoxinas, assim foi possível o cálculo de correção para obtenção final de ZEA de 0,5 mg/kg.
Semanalmente foi feita a vulvometria com paquímetro digital da largura (eixo latero-lateral) e altura (eixo dorso-ventral) da vulva. Multiplicando-se os eixos obteve-se a área vulvar. Após 21 dias do fornecimento das rações experimentais, os animais foram abatidos em frigorífico. Os órgãos do TR (útero, ovário, vagina e vulva) foram dissecados e pesados. Em seguida, obteve-se o peso somente do ovário-útero-vagina. Para evitar influência do peso dos animais no peso do trato reprodutivo, calculou-se o peso relativo do trato reprodutivo e relativo do ovário-útero- vagina, dividindo-se os valores dos pesos encontrados pelo peso corporal e multiplicando-os por 100. Fragmentos do útero e fígado foram obtidos para avaliação histopatológica. No útero mensurou-se, em três campos, a altura média da célula epitelial das glândulas endometriais (8) e altura do endométrio.
As médias das variáveis estudadas entre os grupos foram submetidas à avaliação estatística pela análise de variância (ANOVA). Quando detectado efeito dos tratamentos seguiu-se com o pós-teste de comparação de Tukey/Kramer para verificar diferenças entre as médias, com segurança de 95%.
 
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O resultado da análise micotoxicológica das rações demonstrou a concentração de ZEA pré-definida de 0,5 mg/kg, exceto no grupo controle negativo (T1) no qual foi encontrado 0,132mg/kg de ZEA devido a prévia contaminação do milho, que apesar de seleção criteriosa possuiu ainda 0,210mg/kg. No milho destinado aos demais tratamentos encontrou-se 0,349mg/kg. Este apresentou ainda qualidade bromatológica inferior ao T1, principalmente para proteína e gordura bruta. A atividade metabólica do fungo associada à respiração aeróbica utiliza gordura e carboidrato dos grãos (11) justificando assim, a pior qualidade do grão com o maior nível de micotoxinas. Os resultados micotoxicológicos refletem a contaminação freqüente do milho por ZEA como já apresentado por Salay e Mercadante (10). Observa-se também que o milho obtido por mesa densimétrica apresentou menor contaminação, sugerindo que esta ferramenta pode ser eficaz na seleção de grãos como apresentado por Silva et al. (12).
Não foi observada diferença na área de vulva entre os tratamentos (Tabela 1). No entanto, na avaliação de peso relativo total do trato reprodutivo e peso relativo de útero-ovário-vagina houve diferenças entre os controles T1 e T2 (Tabela 1). DOLL et al.(4) também com dose baixa (0,42mg/kg) observaram aumento do peso do TR de leitoas. A alta variação observada na área vulvar indica que o uso de apenas esta variável pode não ser aplicável em intoxicações com baixas doses.
Nas medições das células epiteliais das glândulas endometriais não houve diferença significativa entre os tratamentos (P= 0, 199). No entanto, na altura do endométrio os grupos T1 e T3 (formulação experimental do Elitox® em inclusão de 0,1%) apresentaram valores médios inferiores aos do T2 (tabela 1). Na análise histopatológica do útero houve alterações discretas nos T2,T3,T4,T5 e T6; como proliferação e irregularidade das células da camada epitelial da mucosa uterina, sendo mais notáveis e distribuídas pela extensão da mucosa dos animais do T2. Os resultados no aumento de peso do TR, da altura do endométrio somados a avaliação histopatológica do útero, observados especialmente no T2, evidenciam o potencial estrogênico da ZEA. Esta micotoxina atua como o estrógeno, estimulando a síntese protéica uterina induzindo a proliferação celular e aumentando a massa dos órgãos reprodutivos (6), e conseqüentemente da altura do endométrio. Não foi observada nenhuma alteração na análise histopatológica do fígado.
As adições do AAM nos tratamentos, para as demais variáveis (peso de TR, peso de ovário-útero-vagina e altura do endométrio), reduziram apenas numericamente os efeitos tóxicos da ZEA (Tabela 1) comparando-se ao T2 (controle positivo). Este resultado pode estar ligado à capacidade limitada dos adsorventes e enzimas se ligarem às micotoxinas, principalmente in vivo. É importante ainda salientar que a diferença da qualidade nutricional observada no milho utilizado no T1 em relação aos demais tratamentos, pode ter influenciado na resposta dos animais à micotoxina.
 
CONCLUSÃO
A concentração de 0,5 mg/kg de ZEA não reproduziu os sinais clínicos de aumento de vulva. Entretanto, a capacidade estrogênica da ZEA foi observada nas variáveis peso do trato reprodutivo e altura do endométrio. Os tratamentos com AAM não diferiram estatisticamente dos grupos controles, com e sem ZEA, nas variáveis peso de trato reprodutivo e altura de endométrio, com exceção para o grupo com a formulação experimental do AAM, adicionada de bentonita, que foi capaz de reduzir significativamente a altura do endométrio.
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
 
1.ABBÈS, S. et al. Preventive role of phyllosilicate clay on the Immunological and Biochemical toxicity of zearalenone in Balb/c mice. International Immunopharmacology, v.6, p.1251-1258, 2006. 2. DAKOVIC, A. et al. Adsorption of mycotoxins by organozeolites. Colloids and Surfaces B: Biointerfaces v.46, p.20-25, 2005. 3. DIAZ, D.E.; SMITH,T.K. Mycotoxin sequestering agents: Practical tools for the neutralization of mycotoxins. . In. The Mycotoxin Blue Book. Nottingham, UK: Nottingham University Press, 2005, p.323-335. 4. DOLL, S. et al. Effects of graded levels of Fusarium toxin contaminated maize in diets for female weaned piglets. Archives of Animal Nutrition v.57,p.311-334, 2003. 5. DOLL, S et al. The ef?cacy of a modi?ed aluminosilicate as a detoxifying agent in Fusarium toxin contaminated maize containing diets for piglets. Journal of Animal Physiology and Animal Nutrition, v.89, p.342-358, 2005. 6. GAUMY, J et al. Zéaralénone: propriétés et toxicité expérimentale. Revue Méd. Vét., v.152, n.3, p.219-234, 2001. 7. HUWIG, A. et al. Mycotoxin detoxication of animal feed by different adsorbents. Toxicology Letters, v.122, p.179-188, 2001. 8. HENEWEER, M. et al. Estrogenic effects in the immature rat uterus after dietary exposure to ethinylestradiol and zearalenone using a systems biology approach. Toxicological sciences, v.99, n.1, p.303-314, 2007. 9. NRC. Nutrient requirements of swine. Washington: National Academy of Science, 1998. 10. SALAY, E.; MERCADANTE, A. Z. Mycotoxins in Brazilian corn for animal feed: occurrence and incentives for the private sector to control the level of contamination. Food Control, v.13, p.87-92, 2002. 11. SANTIN, E. Mould growth and mycotoxin production. In. The Mycotoxin Blue Book. Nottingham, UK: Nottingham University Press, 2005, p.225-234. 12. SILVA, C.S. et al. Valores nutricionais de milhos de diferentes qualidades para frangos de corte. R. Bras. Zootec., v.37, n.5, p.883-889, 2008.13. TAKAHASHI-ANDO, N. et al. A novel lactonohydrolase responsible for the detoxi?cation of zearalenone: enzyme puri?cation and gene cloning. Biochem. J., v.365, p.1-6, 2002.

Tabela 1. Média ± desvio padrão das variáveis do trato reprodutivo analisadas nos tratamentos.
Eficácia de aditivo anti-micotoxina em leitoas expostas à zearalenona - Image 1
(T1: controle negativo, T2: 0,5 mg/kg zearalenona (ZEA), T3: 0,5 mg/kg ZEA + 0,1% AAM, T4: 0,5 mg/kg ZEA + 0,15%AAM, T5: 0,5 mg/kg ZEA + 0,25%AAM, T6: 0,5 mg/kg ZEA + 0,4%AAM)
*** O trabalho foi originalmente apresentado durante a Pork Expo 2010, em Curitiba. 
 
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Autores:
Geraldo Camilo Alberton
Universidade Federal do Paraná - UFPR
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