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Genótipo e época de colheita na incidência de fumonisinas em milho

Publicado: 18 de fevereiro de 2013
Por: Valéria A.V. Queiroz, Rodrigo Véras da Costa, Lauro José Moreira Guimarães, Jéssica Ferreira das Neves, Mariana de Campos Guimarães, Flávia Ferreira Mendes e Rafael de Araújo Miguel da Embrapa Milho e Sorgo.
Sumário

RESUMO - As fumonisinas são micotoxinas produzidas, principalmente, por Fusarium verticillioides, capazes de causar danos à saúde de animais e humanos. Além de fatores genéticos, condições ambientais podem influenciar a incidência de fungos e a produção de micotoxinas. Objetivou-se avaliar o efeito do genótipo e da época de colheita sobre a incidência de fumonisinas em milho. O delineamento foi em blocos casualizados, em esquema fatorial 2 anos x 7 épocas de colheita x 3 genótipos. Utilizaram-se colunas FumoniTest e detecção dos teores de fumonisinas por fluorimetria. Os genótipos analisados foram DKB 390YG ; BRS 1035, e Attack. Houve diferença significativa entre genótipos, anos e para a interação entre ambos. As safras 2009/10 e 2010/11 apresentaram teores médios de fumonisina de 3,90 e 1,67 µg g-1 , respectivamente. Observou-se diferença entre a cultivar DKB 390YG e as demais nos dois anos, com médias, respectivamente, de 0,37; 5,68, e 5,65 µg g-1 para a safra 2009/10 e de 0,28; 2,09 e 2,63 µg g-1 para a safra 2010/11. O híbrido Bt DKB 390YG apresentou maior resistência à produção de fumonisinas (redução de mais de 80%) que os genótipos BRS 1035 e Attack. A época de colheita não influenciou nos teores dessa micotoxina nos dois anos de avaliação.

Palavra-chave: micotoxinas, Fusarium verticillioides, Zea mays L., fungos de campo

Introdução
O Brasil é o terceiro produtor mundial de milho logo após os Estados Unidos e a China. A produção nacional do cereal na safra 2010/2011 foi de 58,9 milhões de toneladas de grãos (CONAB, 2011).
O milho está entre os cereais de maior importância social e econômica para a humanidade, pelo seu uso na alimentação humana e animal. A sua crescente demanda exige atenção destacada dos centros de pesquisa no que tange às práticas culturais, aos sistemas de armazenamento e conservação de grãos, bem como ao melhoramento da cultura em relação ao rendimento, à tolerância às doenças e às qualidades nutritivas (SANTIN, 2001).
A cultura do milho é muito vulnerável às pragas e doenças que causam danos na plantação, tanto nos grãos recém-colhidos, quanto nos armazenados. Geralmente, o processo de infecção pelos fungos nas sementes e nos grãos inicia no campo, durante a fase de maturação dos grãos, e prossegue nas etapas seguintes: colheita, secagem, armazenamento, transporte e processamento. Os efeitos do crescimento fúngico incluem diminuição do poder de germinação, descoloração, odor desagradável, perda de matéria seca, aquecimento, mudanças químicas e nutricionais, perda de qualidade e produção de compostos tóxicos, as micotoxinas (HERMANNS et al., 2006).
As micotoxinas são metabólitos fúngicos secundários, as quais são produzidas, principalmente, por espécies dos gêneros Fusarium, Aspergilus e Penicilium. Os relatos da presença de fungos toxigênicos em milho no Brasil apontam a predominância de Fusarium, seguido de Penicilium e Aspergillus (KAWASHIMA; SOARES, 2006).
As fumonisinas são micotoxinas produzidas principalmente por Fusarium verticillioides, capazes de causar danos à saúde de animais e humanos, Estão envolvidas na doença da leucoencefalomalácea equina e associadas à síndrome de edema pulmonar em suínos e câncer de esôfago em humanos (HERMANNS et al., 2006).
Existe variabilidade em milho para a resistência a fungos causadores de podridões de espigas, entretanto, além dos fatores genéticos, os fatores ambientais condicionados por épocas de plantio e de colheita, região, sistemas de cultivo e práticas culturais influenciam a ocorrência e o nível de incidência de grãos ardidos e micotoxinas (RIBEIRO et al., 2002; PINTO, 2007; JULIATTI et al. 2007). De acordo com Lima e Souza (2005) a colheita tardia, com o objetivo de reduzir a umidade do grão, pode trazer como consequência o aumento do ataque de insetos nos grãos e também a possibilidade de maior contaminação com fungos e produção de micotoxinas.
Por outro lado, Dowd (2000) relatou que a utilização de variedades geneticamente modificadas com o gene Bt e a aplicação de inseticidas podem reduzir o teor de micotoxinas nos grãos. Segundo esse autor, a utilização de variedades de milho Bt reduz a infestação de lepidópteros-praga na espiga, que pode levar à consequente redução de micotoxinas nos grãos.
Esse trabalho teve como objetivo avaliar o efeito de genótipos e de épocas de colheita sobre a incidência de fumonisinas em milho.
 
Material e Métodos
Foram avaliados grãos dos híbridos de milho BRS 1035, Bt DKB 390YG e Attack em dois anos (safras 2009/2010 e 2010/2011) de produção e em sete épocas de colheita (maturação e 15, 30, 45, 60, 75 e 90 dias após a maturação dos grãos).
Os experimentos foram plantados em parcelas de 4 linhas de cinco metros, com espaçamento de 0,8 m entre linhas. Entre cada parcela, foi deixada uma linha sem plantar. A adubação de plantio foi de 300 kg/ha, da formulação NPK 08-28-16+Zn.
Foram colhidas todas as espigas e após debulhadas, uma amostra de cerca de 5 kg de grãos de cada uma das parcelas foi coletada aleatoriamente. As amostras foram homogeneizadas e, em seguida, subamostras de cerca de 1 kg de cada parcela foram encaminhadas ao Laboratório de Micotoxinas da Embrapa Milho e Sorgo para armazenamento a – 18 ºC até análise.
Para determinação do teor de fumonisinas nos grãos, estes foram previamente secos em estufa a 65 ºC por 96 horas com a finalidade de homogeneizar o teor de água das amostras. Em seguida, os grãos foram moídos em moinho marca Trapp - modelo TRF 90, e a farinha obtida foi homogeneizada em quarteador tipo Y. O teor de fumonisinas totais foi determinado em 10g de amostra, em duplicada, em fluorímetro marca VICAN de acordo com os procedimentos descritos nos manuais VICAN, utilizando colunas de imunoafinidade FumoniTest®.
Os experimentos foram conduzidos em delineamento experimental de blocos casualizados e esquema fatorial 2 x 7 x 3 (ano x época de colheita x genótipo), em três repetições de campo. Os dados foram submetidos a análise de variância e quando necessário as médias foram comparadas utilizando teste de Tukey a 1% de probabilidade. As análises estatísticas foram realizadas em Programa Estatístico GENES (CRUZ, 2001).
 
Resultados e Discussão
Os resultados da ANOVA mostraram que houve diferença significativa (p<0,01) apenas para os fatores genótipo, ano e para a interação entre esses dois fatores (Tabela 1).
Assim, foi realizada ANOVA dentro de cada ano (Tabelas 2 e 3) e as médias dos genótipos foram comparadas por teste de Tukey (p<0,01).
Os resultados dos teores de fumonisnas encontram-se nas Tabelas 4 e 5. Não foi verificado, nesse trabalho, efeito da época de colheita sobre a incidência de fumonisinas em milho. Santin (2001) encontrou resultados diferentes ao avaliar, além de outras variáveis, o efeito do retardamento da colheita na ocorrência de fungos patogênicos e de grãos ardidos e a possível contaminação por micotoxinas na lavoura e durante o armazenamento de milho. O autor observou que o retardamento da colheita gerou condições favoráveis para a elevação da incidência dos fungos Aspergillus spp., Cephalosporium spp., Fusarium graminearum e Penicillium spp. e influenciou na ocorrência de micotoxinas na lavoura. Essas diferenças entre os dois trabalhos podem ser devidas a outras variáveis envolvidas na síntese de micotoxinas em grãos, como umidade, genótipo, temperatura entre outras (SCUSSEL, 1998).
Os tores médios de fumonisinas foram diferentes entre as safras de avaliação (p<0,01), com valores de 3,90 mg g-1 e 1,67 mg g-1 para as safras de 2009/10 e 2010/11, respectivamente. Nas duas safras observou-se diferença significativa nos teores de fumonisinas entre o milho geneticamente modificado DKB 390 YG e os genótipos BRS 1035 e Attack, com concentrações médias, respectivamente, de 0,37; 5,68 e 5,65 mg g-1 para o primeiro ano e de 0,28; 2,09 e 2,63 mg g-1 para o segundo ano (Tabelas 4 e 5). O híbrido DKB 390 YG apresentou valores mais de 90% inferiores na safra 2009/10 e mais de 80% inferiores na safra 2010/11 em relação aos demais. As diferenças observadas nos teores de fumonisinas entre as cultivares analisadas podem ser devidas a fatores genéticos intrínsecos a esses materiais, bem como pelo fato do DKB YG 390 ser um híbrido de milho geneticamente modificado, que expressa a proteína Cry1Ab de Bacillus thuringiensis (Bt), que confere resistência a insetos. Folcher et al. (2010) relataram resultados semelhantes em pesquisas realizadas no sudoeste da França, onde observaram redução de 90% nos níveis de fumonisinas em híbridos de milho Bt MON 810 em relação ao seu isogênico não Bt. Para Frizzas (2003), as plantas geneticamente modificadas podem reduzir a incidência de patógenos devido à redução no dano causado pelos insetos-praga, essa redução implicaria em menores níveis de micotoxinas, que são bastantes prejudiciais à saúde de humanos e animais.
 
Conclusão
O genótipo de milho DKB 390 YG mostrou maior resistência à síntese de fumonisinas em relação aos híbridos BRS 1035 e Attack nas safras 2009/2010 e 2010/2011.
A época de colheita não influenciou os níveis de fumonisinas em milho nas duas safras avaliadas.
 
Agradecimentos
À FAPEMIG, pela concessão de apoio financeiro, à Embrapa pela oportunidade de estágio e ao CNPq pela bolsa de estudos.
 
Literatura Citada
CONAB - Companhia Nacional de Abastecimento. Acompanhamento da safra brasileira: grãos, décimo primeiro levantamento. 2011. Disponível em: <http://www.conab.gov.br/OlalaCMS/uploads/arquivos/11_08_09_11_44_03_boletim_agos to-2011..pdf>. Acesso em: 20 maio 2012.
CRUZ, C. D. Programa Genes: versão Windows; aplicativo computacional em genética e estatística. Viçosa: Editora UFV, 2001. 648 p.
DOWD, P. F. Indirect reduction of ear molds and associated mycotoxins in Bacillus thuringiensis corn under controlled and open field conditions: utility and limitations. Journal of Economic Entomology,College Park, v. 93, n. 6, p. 1669 -1679, 2000.
FOLCHER, L.; DELOS, M.; MARENGUE, E.; JARRY, M.; WEISSENBERGER, A.; EYCHENNE, N.; REGNAULT-ROGER, C. Lower mycotoxin levels in Bt maize grain. Agronomy for Sustainable Development, Paris, v. 30, p. 711-719, 2010.
FRIZZAS, M. R. Efeito do milho geneticamente modificado MON 810 sobre a comunidade de insetos. 2003. 206 p. Tese (Doutorado em Entomologia) - Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, Universidade de São Paulo, São Paulo.
HERMANNS. G.; PINTO. F. T.; KITAZAMA. S. E.; NOLL. I. B . Fungos e fumonisinas no período pré-colheita do milho. Ciência eTecnologia de Alimentos, Campinas, v. 26, n. 1, p. 7-10, 2006.
JULIATTI, F. C.; ZUZA, J. L. M. F.; SOUZA, P. P.; POLIZEL, A. C. Efeito do genótipo de milho e da aplicação foliar de fungicidas na incidência de grãos ardidos. Bioscience Journal, Uberlândia, v. 23, n. 2, p. 34-41, 2007.
KAWASHIMA, L. M.; SOARES, L. M. V. Incidência de fumonisina B1, aflatoxinas B1, B2, G1 G2, ocratoxina Ae zearalenona em produtos de milho. Ciência e Tecnologia de Alimentos, Campinas, v. 26, n. 3, p. 516-521, 2006.
LIMA, G. M. M.; SOUZA, O. W. Importância da qualidade de grãos na produção de suínos. In: SEMINÁRIO INTERNACIONAL SOBRE PRODUÇÃO, MERCADO E QUALIDADE DE CARNE DE SUÍNOS - AVESUI, 2002, Florianópolis, SC. Anais... Concórdia: Embrapa Suínos e Aves, 2002. p. 45-62. Disponível em: <http://www.cnpsa.embrapa.br/sgc/sgc_publicacoes/publicacao_b3o47o3m.pdf>. Acesso em: 28 maio 2012.
PINTO, N. F. J. A. Reação de cultivares com relação à produção de grãos ardidos em milho. Sete Lagoas: Embrapa Milho e Sorgo, 2007. 4p. (Embrapa Milho e Sorgo.Comunicado Técnico, 144).
RIBEIRO, N. A.; CASA, R. T.; BOGO, A.; SANGOI, L.; MOREIRA, E. N.; WILLE, L. A. Incidência de podridões do colmo, grãos ardidos e produtividade de grãos de genótipos de milho em diferentes sistemas de manejo. Ciência Rural, Santa Maria, v. 35, n. 5, p. 1003- 1009, 2005.
SANTIN, J. A. Fungos de pré e pós colheita e a qualidade de grãos de milho. 2001. 219 p. Tese (Doutorado em Fitotecnia) - Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre.
SCUSSEL, V. M. Micotoxinas em alimentos. Florianópolis: Editora Insular, 1998.
 
Tabela 1. ANOVA dos teores de fumonisinas (µg g-1) em função de três genótipos de milho, sete épocas de colheita e dois anos de cultivo
Genótipo e época de colheita na incidência de fumonisinas em milho - Image 1
Tabela 2. ANOVA dos teores de fumonisinas (µg g-1) em função de três genótipos de milho e sete épocas de colheita na safra 2009/10 (ano 1)
Genótipo e época de colheita na incidência de fumonisinas em milho - Image 2
Tabela 3. ANOVA dos teores de fumonisinas (µg g-1 ) em função de três genótipos de milho e sete épocas de colheita na safra 2010/11 (ano 2)
Genótipo e época de colheita na incidência de fumonisinas em milho - Image 3
Tabela 4. Teores médios de fumonisinas totais (µg g-1 ) em genótipos de milho, em sete épocas de colheita dos grãos, safra 2009/10 (ano 1)
Genótipo e época de colheita na incidência de fumonisinas em milho - Image 4
Tabela 5. Teores médios de fumonisinas totais (µg g-1 ) em genótipos de milho, em sete épocas de colheita dos grãos, safra 2010/11 (ano 2)
Genótipo e época de colheita na incidência de fumonisinas em milho - Image 5
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