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Tendências para o mercado de ovos e outras commodities

Publicado: 5 de maio de 2015
Por: Lygia Pimentel é médica veterinária e consultora pela Agrifatto
Lygia Pimentel é médica veterinária e consultora pela Agrifatto
Para analisar qualquer mercado é importante entender primeiramente o contexto no qual ele está inserido. Ele sofre com os humores do Dólar? Ele perderá força caso a economia mundial esteja em dificuldades?
Portanto, é importante traçar um contexto macroeconômico para podermos então colocar a lente de aumento que nos ajudará a traçar as principais tendências para o mercado brasileiro de ovos.
Comecemos, portanto, falando sobre macroeconomia.
1. Macroeconomia
A população mundial está em crescimento. Em 1804 éramos 1 bilhão de habitantes no mundo. Em 123 alcançamos a marca de 2 bilhões. Mais 32 anos e chegamos aos 3 bilhões.
Ao mesmo tempo que crescíamos, diminuíamos o período necessário para atingir novas marcar de bilhão. A explicação é sempre aquela: a população cresce em progressão geométrica.
Em 2011, chegamos aos 7 bilhões de habitantes e a ONU (Organização das Nações Unidas) estima que atingiremos os 8 bilhões em 2024.Observe a figura 1.
Figura 1. Datas em que o aumento do número de pessoas alcançou novas marcas até chegar a 7 bilhões em 2011.
Tendências para o mercado de ovos e outras commodities - Image 1
Pelos motivos óbvios a progressão geométrica, além de reduzir o intervalo em que atingimos novas marcas populacionais, também intensifica a pressão sobre a produção de alimentos. Maior demanda sem oferta na mesma proporção significa preços em ascensão.
Assim, analisaremos o efeito aqui chamado de “6-7 bilhões” para evidenciar o que ocorre com os valores das commodities sobre pressão de consumo. Observe a tabela 1.
Tabela 1. Variação dos preços das principais commodities entre as datas em que a população vaiou de 6 a 7 bilhões de habitantes.
Tendências para o mercado de ovos e outras commodities - Image 2
A tabela mostra de forma evidente que os produtos se valorizaram mais de 100% devido à pressão inflacionária causada pelo aumento populacional e a consequente demanda por alimentos.
Uma segunda conclusão que podemos tirar é que bens finitos variaram quase 500% no mesmo período. A consequência disso é o aumento dos custos de produção acima da valorização da commodity agrícola, prejudicando as margens e forçando o produtor a adotar tecnologia para poder compensar a perda com o aumento de custos em ganho por escala.
Como exemplo, temos que enquanto o preço dos ovos reagiu 142%, os fertilizantes subiram 270%, o combustível subiu 225% e a mão-de-obra subiu 302% no Brasil.
Além disso, uma das principais matérias-primas para a produção de ovos também se valorizou acima do preço de nossa commodity-alvo: o milho subiu 223% no mesmo período.
O que ocorre é que com a última crise do petróleo nos Estados Unidos (que culminou com a Guerra do Golfo), o uso do milho para a produção de etanol ficou em evidência e valorizou os preços agrícolas. Ao longo dos anos seguintes, a produção de etanol passou a consumir 40% da safra de milho norte-americana contra 3% nos anos 90. Isso reduziu os estoques globais e colocou os preços agrícolas em evidência e gerou um grande fluxo especulativo sobre esses ativos.
Já nos anos 2000, com a crise norte-americana, a política governamental de juros-zero dificultou o investimento por parte de grandes fundos, o que novamente chamou a atenção para as commodities agrícolas, que já haviam ganhado notoriedade. Então, produtos escassos tornaram-se alternativas de investimento para o “juro zero” vigente nos EUA durante a crise. O preço do milho saltou dos US$2,50/bu para US$ 8,50/bu.
Tais fatos imprimem uma volatilidade elevada às commodities, e consequentemente a importantes itens que compõem o custo de produção, forçando o produtor a lidar com anos bons e ruins mais intensamente ou então a procurar algum método de gerir o risco. Foi o que vimos entre 2010 e 2012.
Choques de oferta seguidos e ganho lento de produtividade exigem período longo para superar o descasamento entre oferta e demanda.
O cenário global apresenta uma nova conjuntura.
Figura 2. Ranking dos maiores PIBs e taxa de crescimento nos últimos 4 anos.
Tendências para o mercado de ovos e outras commodities - Image 3
Apesar de ainda contarmos com Estados Unidos e China como os dois primeiros maiores PIBs (produto interno bruto) do mundo, o foco do crescimento econômico tomou outro rumo e está concentrado sobre os países emergentes: China, Brasil, Rússia e Índia.
Isso provocou um forte aumento do consumo de alimentos, traduzido pela chegada de 700 milhões de novos habitantes ao planeta, 88% deles provenientes da África e da Ásia. Também observamos um maior poder de compra, já que 1,4 bilhão de pessoas foram inseridas na classe C. Outro movimento que favoreceu a alta de preços foi a migração de 1 bilhão do campo para as cidades.
Portanto, entre 2002 e 2013, o que observamos foi uma forte tendência de alta que trouxe valorização relevante para as commodities agrícolas. O Brasil, um dos maiores produtores e exportadores de commodities do mundo, viu o principal alicerce de sua balança comercial – as commodities – se valorizando mundo afora. Assim, muito dinheiro entrou no Brasil no período descrito.
2. Mercado interno
Assim sendo, o Brasil cresceu, gerou empregos e arrecadou mais impostos do que nunca. Entretanto, a entrada de capital não foi utilizada na ampliação da infraestrutura, mas na instituição de uma nova matriz econômica populista, baseada na ampliação de crédito, política fiscal expansionista, juros mais baixos, crédito subsidiado e câmbio desvalorizado.
Como resultado, tivemos forte estímulo ao consumo interno, sentido com bastante força sobre o consumo de proteínas e sobre os custos de produção, mas não formou-se uma base forte para sustentar tal movimento. Sem estrutura para produzir e sustentar a nova matriz, a saturação de tais medidas chegou com o tempo e levou a uma elevação substancial da dívida bruta do Governo. Além disso, observamos a menor alta da massa salarial e o maior endividamento populacional da história do Brasil. E, por último, nossa inflação fugiu completamente do centro da meta estabelecida anteriormente, que era de 4,5%.
Agora, colhemos os efeitos das medidas adotadas.
Figura 3. Variação do IPCA (%).
Tendências para o mercado de ovos e outras commodities - Image 4
3. Commodities
Após um longo período de rally de alta, as commodities agrícolas encontram acomodação e até mesmo pressão baixista na desaceleração do crescimento de países emergentes, na crise mundial e também na queda forte dos preços do petróleo
O Índice de Commodities Contínuo (CCI, em inglês), deu início à formação e posterior manutenção de declínio, em boa parte devido à manutenção da taxa de câmbio em alta (também ocasionada pela tentativa do Banco Central Europeu de lutar contra a deflação). Na Grécia, a pressão por mudanças políticas e um calote são fortes. A ineficiência do pacote de incentivos financeiros da UE fortalecer os preços das commodities é um sinal de mercado baixista. Mais um fator que corrobora é o menor crescimento da economia chinesa. A tendência de é de alta para o dólar em 2015, o que deve favorecer exportações.
3.1. Milho
Para o milho, as exportações norte-americanas (até o último relatório em 15 de janeiro) estiveram acima das expectativas, em 2,3 milhões de toneladas. Além do bom volume, compradores tradicionais fecharam preços acima da média.
A partir de agora, entretanto, devemos observar dificuldades para avançar. A Ucrânia retornou a ser uma vendedora agressiva e agora é o vendedor com o menor custo para entrega em abril. Se levarmos em conta uma área de plantio para nova safra de 36 milhões de hectares – o que é mais provável em meio ao recente declínio da soja – os valores para o milho de dezembro terão dificuldades em manter-se sustentados, o que pode favorecer os custos.
A safrinha de milho começou no Brasil e produtores não estão mostrando muitas mudanças na área de plantio em relação ao ano passado, o que favorece baixa probabilidade de pressão altista.
3.2. Proteínas
Para o mercado de ovos, a perspectiva é positiva. Além de expectativa de custos mais baixos com a alimentação, a antecipação do descarte de poedeiras velhas deve fazer com que a oferta neste início de ano seja mais comedida.
Apesar de dificuldades que fazem retrair o consumo, como inflação e desemprego voltando à tona (além de mais impostos, conta de energia mais alta e ajuste da gasolina), um primeiro movimento resultante desta dificuldade deve ser a substituição de proteínas mais caras por aquelas de menor valor, como o frango e os ovos.
Em outras palavras, o brasileiro pertencente à classe C que come dois bifes bovinos por semana está propenso a substituir um deles por frango ou ovos, o que deve manter o consumo sustentado apesar das dificuldades econômicas.
Um grande fator de risco reside na manutenção do cenário desfavorável, que em um segundo momento poderia desacelerar o consumo de proteínas como um todo, inclusive aquelas provenientes de animais com maior eficiência alimentar.
4. Exportações
As exportações de ovos sofreram em 2014. Apesar do câmbio apreciado, o que torna nosso produto competitivo frente a nossos clientes internacionais, houve queda de 1,4% para o volume e 20,6% para o faturamento com as vendas externas.
Houve um grande impacto proveniente da suspensão angolana, que ocorreu entre março e abril. Mesmo com a retomada, os níveis não atingiram o mesmo patamar, apontando redução de 71% em relação ao desempenho de 2013.
Mesmo assim, Emirados Árabes foram responsáveis por equilibrar a situação, pois aumentaram suas compras em 65%, gerando receita em alta de 56%. Outro destaque ficou por conta da Arábia Saudita, com alta de 198% em volume e 195% em faturamento.
Para 2015, espera-se recuperação do volume exportado, com a retomada gradual de Angola, intensificação de exportações para a Ásia e sustentação do volume para a União Europeia.
Figura 4. Share enviado ao exterior e destinado ao mercado interno.
Tendências para o mercado de ovos e outras commodities - Image 5
5. Conclusões
Entre os fatores de longo-prazo, podemos citar:
a) Manutenção do aumento da população e do consumo em países emergentes, porém com crescimento menos acelerado. Os países desenvolvidos mantém recuperação em ritmo lento.
b) Custos de produção em alta, especialmente bens tangíveis.
c) Aumento da demanda por alimento de qualidade nos países emergentes (proteínas), especialmente provenientes de animais com alta eficiência alimentar.
d) Limite de áreas para produzir e intempéries climáticas pressionando as cotações positivamente, levando junto os custos de produção.
e) População mais urbanizada, forçando ajuste de produtividade dentro das propriedades.
Entre os fatores de médio-prazo, podemos citar:
a) Economia brasileira com grandes dificuldades: crescimento inexpressivo, inflação pressionada e acima do teto da meta, câmbio apreciado, desemprego em alta, maior carga tributária.
b) Preocupações de âmbito global: default grego, default argentino, EUA crescendo abaixo do ritmo esperado, Rússia com grandes dificuldades advindas da crise do petróleo, América Latina com baixo crescimento do PIB.
c) Classe C ainda dará suporte ao consumo doméstico de ovos, carne de frango e carne suína, com crescimento mais intenso para frango e ovos, respectivamente.
d) Manutenção da participação do volume exportado em níveis baixos no Brasil, porém em expansão, o que pode favorecer os preços.
e) Poder de compra do brasileiro ainda elevado historicamente, mas com imensa dificuldade de desenvolver-se devido à deterioração do cenário econômico.
f) Inflação impulsiona o aumento do consumo per capita de ovos e carne de frango.
g) Dólar mantém a competitividade das exportações brasileiras.
Lembre-se, apesar de termos traçado aqui as perspectivas para o ano, a mudança de apenas uma das variáveis aqui citadas pode mudar todo o panorama. Portanto, é necessário acompanhar o mercado e “calibrar” a análise para evitar frustrações futuras.
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