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Sódio na muda induzida em galinhas poedeiras

Publicado: 7 de outubro de 2021
Por: Tatiana Marques Bittencourt, Heder José D’Ávila Lima, Jean Kaique Valentim, Caio Silva Quirino, Elieverson Firmiani Freitas Amaral, Lorena Zulian Andreotti,
Introdução
O sódio tem grande importância na manutenção das funções vitais do organismo: este mineral é o principal cátion presente nos fluidos extracelulares e atua no equilíbrio ácido-básico, na pressão osmótica, na transmissão do impulso nas células nervosas e na pulsação do músculo cardíaco, assim como na permeabilidade celular e na absorção de monossacarídeos e aminoácidos (Ribeiro et al., 2008).
As exigências nutricionais de sódio para poedeiras no primeiro e segundo ciclo de postura são menos estudadas em detrimento de outros nutrientes que oneram as rações. Tanto o excesso quanto o déficit de sódio na ração tornam-se prejudiciais para o organismo animal e, principalmente, para o desempenho. Níveis elevados de sódio na dieta de aves estimula o consumo de água, aumentando, assim, a umidade das excretas e facilitando a produção de gases tóxicos (amônia e sulfídrico), o que pode comprometer o manejo e gerar perdas econômicas (Ribeiro, 2008; Lima et al., 2015). Por outro lado, níveis abaixo dos recomendados nas dietas de poedeiras provocam redução no consumo, peso corporal, desempenho produtivo da ave e peso dos ovos (Murakami et al., 2003).
A muda induzida é uma forma artificial de simular o que poderia ocorrer com as aves livres na natureza, podendo fazer a renovação da plumagem para um novo ciclo de produção (Teixeira et al., 2014). Diante do cenário atual de produção, a preocupação com o bem-estar das aves é frequente. São necessários métodos alternativos para a indução da muda, sem a restrição total de alimentos, e que causem menores agressões às aves (Souza et al., 2010).
Toda dieta para poedeiras é composta de macro e microingredientes, todos com funções de extrema importância para o crescimento e produção das aves. O sódio é um mineral de baixo custo e de fácil disponibilidade na forma de cloreto de sódio (Rodrigues et al., 2004). Em falta ou excesso pode acarretar deficiências para as aves, o que pode gerar estresse e levar ao processo de renovação do aparelho reprodutivo.
Dessa forma, objetivou-se avaliar a restrição dietética de sódio como método alternativo de muda induzida para galinhas poedeiras.
Material e métodos
O experimento teve duração de 42 dias e foi desenvolvido no Setor de Avicultura do Departamento Acadêmico de Zootecnia e Extensão Rural da Fazenda Experimental da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), localizada na cidade de Santo Antônio do Leverger/MT. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética no Uso de Animais (CEUA) da UFMT, sob o protocolo 23108.194864/2017-37.
Foi utilizado um plantel de 96 galinhas poedeiras (Hisex Brown) com 64 a 74 semanas de vida, as quais foram distribuídas em delineamento inteiramente casualizado com quatro dietas experimentais e seis repetições, com quatro aves por unidade. As dietas foram: 1 (15 dias com restrição de sódio), 2 (20 dias com restrição de sódio), 3 (25 dias com restrição de sódio), 4 (30 dias com restrição de sódio). Após 30 dias foi fornecida ração única para todos os tratamentos, atendendo às exigências nutricionais das aves.
As aves foram alojadas em gaiolas individuais, com as dimensões de 46 cm x 25 cm (comprimento x largura), fornecendo uma área de 1,15 m²/ave, apenas com fotoperíodo natural. As gaiolas foram equipadas com comedouros do tipo calha e bebedouros tipo nipple. As rações experimentais (Tabela1) foram formuladas à base de milho e farelo de soja, sendo isoenergéticas e isoproteícas, de acordo com as recomendações nutricionais de Rostagno et al. (2017).
Todas as aves foram pesadas ao início e término do experimento para determinação da variação do peso, sendo os valores expressos em g/ave. O total de aves mortas foi anotado e subtraído do número total de aves vivas, sendo os valores convertidos em porcentagem no final do período experimental.
Foi avaliada a quantidade de ração consumida por ave (g/ave/dia) em cada tratamento, pesando no início e a sobra no final de cada período estipulado. A produção de ovos foi avaliada diariamente no período com restrição de sódio a fim de se obter o período que as aves iriam cessar a postura.
Sódio na muda induzida em galinhas poedeiras - Image 1
Após o período de restrição de sódio na dieta, todas as aves receberam ração única durante dois períodos de 21 dias, computandose o número de ovos produzidos, incluindo os quebrados, trincados e os anormais (ovos com casca mole e sem casca), sendo expressa em porcentagem a média de aves do período (ovo/ ave/dia). Para determinação da produção de ovos comercializáveis, desconsiderou-se o número de ovos quebrados, trincados, com casca mole e sem casca da produção total de ovos, sendo então calculada a relação entre os ovos íntegros e o total de ovos produzidos durante o período de 21 dias.
O peso médio dos ovos foi obtido pela pesagem durante os três últimos dias de cada período de 21 dias experimentais, em cada repetição, obtendo-se, assim, uma média em gramas. Após a identificação, foram selecionados quatro ovos para verificação da gravidade específica por meio da imersão dos ovos em soluções salinas com densidade variando de 1,070 a 1,095 g/cm³, com intervalo de 0,005 g/cm³, devidamente calibradas por meio de um densímetro (OM-5565, Incoterm).
A gema foi separada do albúmen e seu peso foi registrado. O peso do albúmen foi obtido por meio da diferença do peso do ovo menos o peso da gema mais o peso da casca, sendo este obtido após lavagem da casca e posterior secagem ao ar por 72 horas. A porcentagem do albúmen, gema e casca foi obtida dividindo-se o peso dos respectivos componentes pelo peso médio dos ovos e o resultado multiplicado por 100.
Os parâmetros avaliados foram submetidos a uma análise de variância pelo programa SISVAR e as médias comparadas pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade. Em seguida, efetuou-se a análise de regressão para os tratamentos avaliados.
Resultados e discussão
Para os parâmetros de consumo de ração (g/ ave/dia), produção de ovos (%) e viabilidade (%), no período da muda induzida, não foi observada diferença significativa (p > 0,05) entre os dias com a restrição de sódio na dieta (Tabela 2).
Sódio na muda induzida em galinhas poedeiras - Image 2
Diferentemente do que é encontrado em outros métodos de muda induzida, a produção de ovos não foi cessada com os dias de restrição de sódio na dieta. Houve apenas uma redução na produção de ovos de 40%, o que pode estar relacionado com a dieta fornecida que, aliada às características do lote, permitiu que as funções reprodutivas das aves fossem mantidas mesmo diante do déficit nutricional, tendo em vista que os animais, independente do tratamento recebido, apresentaram o mesmo consumo de ração (p > 0,05).
São necessárias mais pesquisas com maiores períodos de restrição de sódio para verificar uma possível pausa total da produção de ovos. Tal fato também foi observado por Scherer et al. (2009a), que utilizou diferentes métodos de muda forçada para aves da linhagem Isa Brown com 80 semanas. Os autores constataram que aves alimentadas com dietas restritivas não apresentaram cessação da produção de ovos, enquanto aves em jejum cessaram a postura em 100% logo na segunda semana.
Souza et al. (2010), avaliando métodos alternativos de restrição alimentar qualitativa em comparação à técnica convencional de muda induzida, observaram que durante o processo de muda, o consumo médio diário de ração para a restrição de 50% da dieta foi de 34,11; 43,03 e 47,83 g/dia de ração até as aves atingirem redução de 15, 20 e 25% do peso corporal. Já para a redução dos mesmos percentuais de peso corporal, as aves submetidas à restrição de 75% consumiram 9,93; 9,27; 10,71 g/dia.
O período de 25 dias com restrição de sódio foi o que proporcionou maior perda de peso nas aves em muda, resultado encontrado também por Scherer et al. (2009b), que não observaram diferença significativa (p > 0,05) na redução do peso das galinhas submetidas a métodos alternativos de muda induzida, demonstrando boa uniformidade do lote. Segundo Scherer et al. (2009a),o ideal é que aves submetidas aos diferentes métodos de muda forçada percam ate 25% do seu peso corporal durante o processo, fato positivo para o bom andamento dos programas de muda. Ocak et al. (2004), entretanto, afirmam que essa perda de peso corporal pode ser ampliada para 30%, tendo em vista que ela é necessária para que ocorra uma satisfatória regressão do aparelho reprodutor da ave, para que a mesma possa alcançar bons níveis produtivos após o processo de muda forçada.
Após o período de restrição de sódio, para a produção de ovos e ovos comercializáveis foi observado efeito linear (p < 0,05) entre os tratamentos (Tabela 3).
Sódio na muda induzida em galinhas poedeiras - Image 3
Ao avaliar o desempenho e a qualidade dos ovos de poedeiras comerciais no segundo ciclo de produção, houve significância apenas na porcentagem de postura, resultado encontrado também por Brito et al. (2009). Na literatura, recomendam-se diferentes níveis de sódio para poedeiras, que podem ser atribuídos com a utilização de aves com idades, linhagens ou condições ambientais variadas, além do efeito nutricional dos demais componentes da dieta, uma vez que a associação desses fatores pode proporcionar diferentes respostas aos parâmetros avaliados.
Para a conversão alimentar por massa de ovos, por dúzia de ovos e para o consumo individual não houve variação (p > 0,05) após o período de muda das galinhas, visto que este período está relacionado à recuperação do consumo da ração e baixa produção de ovos. Resultado diferente foi encontrado por Souza et al. (2010), que observaram diferença na conversão alimentar em aves após o período de restrição alimentar no período de muda.
Avaliando métodos de muda, Giampauli et al. (2006) observaram que não houve efeito significativo no desempenho produtivo, nem na qualidade do albúmen e da casca dos ovos de poedeiras de 70 a 90 semanas de idade, concordando com os resultados do presente trabalho.
No peso do ovo e seus componentes (gema, casca e albúmen) não houve diferença significativa (p > 0,05), corroborando resultados encontrados por Magalhães et al. (2011), que não observaram diferença significativa entre os métodos de indução da muda sobre os parâmetros densidade específica, unidade Haugh e percentagem de gema, casca e albúmen. Quanto à gravidade especifica, não se verificou efeito significativo (p > 0,05), o que pode estar relacionado com a idade das aves.
Os resultados obtidos comprovam que as dietas com restrição de sódio não causaram grande interferência sobre o consumo, ganho de peso e qualidade dos ovos, mas que favoreceram a produção de ovos e os ovos comercializáveis.
Conclusão
A restrição de sódio na ração por 25 dias mostrou melhores resultados para produção no segundo ciclo, mesmo não cessando a produção durante o período. A restrição de sódio na ração pode aumentar o número de ovos produzidos e comercializáveis no segundo ciclo de postura, sendo, contudo, necessários estudos com maiores períodos de restrição para completa pausa de produção durante o processo de muda.
Esse artigo foi originalmente publicado em Revista Acadêmica Ciência Animal, [S.l.], v. 18, p. 1 - 7, fev. 2020. ISSN 2596-2868. Disponível em: https://periodicos.pucpr.br/index.php/cienciaanimal/article/view/25634 doi:http://dx.doi.org/10.7213/2596-2868.2020.18003.

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Otto Mack Junqueira
UNESP - Universidad Estatal Paulista
13 de octubre de 2021
Quero cumprimentar os autores do trabalho pela contribuição científica. Peço-lhes permissão para fazer algumas considerações que julgo pertinentes: Nas décadas de 70 e 80 inúmeros trabalhos foram conduzidos por R. Harms, Hamilton, Waldroup, Miles e outros na tentativa de elucidar o metabolismo do sódio e suas relações com o fósforo, cloro, magnésio, trabalhos estes publicados no Journal of Poultry Science. Ficou claro que não é o sódio em si que faz com que haja redução na postura e induzindo a ave à muda de penas. Em verdade, o que ocorreu neste trabalho foi a retirada do sódio e também do cloro, através da não inclusão do cloreto de sódio (38% Na e 60% Cl). Conseguimos naquela época, através da inclusão do bicarbonato de sódio (27% Na, 0% Cl) a redução da postura em 4 dias e total ausência de postura em 10 dias. Ficou portanto demostrado que o sódio não exerceu influência sobre a produção e sim o cloro. As causas dessa redução não foram elucidadas na época, porém, sugeriu-se que o maiores fatores foram uma alcalose respiratória e redução na síntese de anidrase carbônica, cuja enzima é cloro dependente e responsável direta pela síntese do carbonato de cálcio (componente da casca dos ovos). Ainda, neste experimento, não houve a inclusão do tratamento com a presença do sal na ração. Ou seja, mesmo sem a indução da muda essas aves não estariam com a mesma taxa de produção em relação aquelas aves induzidas à muda? Sugiro portanto aos autores que testem uma ração com sódio, incluindo em torno de 0,91 % de bicarbonato de sódio. Certamente os resultados serão os já descritos. Mais uma vez, meus parabéns.
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