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Salmonella Patos Silvestres Argentina

Frequência de isolamento de Salmonella em patos silvestres presentes em pântanos da província de Entre Ríos, Argentina. Estudos preliminares

Publicado: 19 de outubro de 2011
Por: DJ Bueno1*, J Osinalde2, H Schell2 - 1EEA INTA Concepción del Uruguay, Entre Ríos, Argentina; 2Ministerio de la Producción de Entre Ríos, Paraná, Entre Ríos, Argentina.
Sumário

Neste trabalho, foi determinada a frequência de isolamento da Salmonella em patos silvestres da província de Entre Ríos, Argentina, utilizando diferentes tipos de amostras. A captura e amostragem destes patos começou em junho de 2010, e continuou até fevereiro de 2011, nos pântanos de Entre Ríos. Como amostra, de cada ave, foram tomados um hisopado cloacal, uma porção de fígado e outra de ceco. Somente uma amostra de ceco resultou positiva a Salmonella, correspondendo a uma taxa de isolamento de 1,2% para esse órgão. A linhagem bacteriana foi uma Salmonella móvel, isolada de um só meio de cultivo sólido seletivo, a partir de um Pato Cutiri (Amazonetta brasiliensis) do departamento de Uruguai. A baixa frequência de isolamento nos patos silvestres indica que estas aves não representam um alto risco para as aves comerciais de Entre Ríos, a província com maior densidade e população de aves comerciais da Argentina.
Palavras-clave: Patos silvestres, Pântanos, Salmonella, Argentina.

Introdução
Argentina é o segundo país em extensão do Neotrópico e se destaca por sua grande biodiversidade, abrangendo cinco Domínios Fitogeográficos e os Oceânicos Tropical, Magalhânico e Antártico (Cabrera, 1976). Possui uma grande variedade de pântanos, assim como costas marítimas, estuários, lagos andino-patagônicos, lagoas pampianas, brejos e esteros, rios e arroios de planícies e lagos salinos de altura, distribuídos em seis grandes regiões de pântanos: Bacia do Plata, Chaco, Pampas, Patagônia, Puna e Zona Costeira Patagônica (Canevari et al., 1998). Por sua vez, possui uma grande variação altitudinal e latitudinal na distribuição de seus pântanos, desde o nível do mar até as lagoas da Puna (4500 msnm) e desde o Trópico de Capricórnio até os S 55º. Estas características permitem o desenvolvimento de uma grande variedade de ambientes aquáticos que alojam ao redor de 250 espécies de aves aquáticas, entre residentes e migratórias, o que representa cerca de 25% das espécies de aves aquáticas do mundo (Delany & Scott, 2006) e aproximadamente a mesma porcentagem do total de espécies de aves da Argentina (Narosky & Izurieta, 2003).
Entre Ríos é uma província do nordeste da Argentina, localizada na chamada região mesopotâmica. Com uma superfície de 78.781 quilômetros quadrados (distribuídos territorialmente em 66.976 km² de terra firme e 11.805 km² de ilhas e terras inundáveis), seus limites estão dados por rios ou arroios: ao oeste e sul, o rio Paraná; ao norte o Guayquiraró, o Mocoretá e os arroios Basualdo e Tunas; e ao leste, o rio Uruguai. Isto transforma a província em um tipo de ilha. As precipitações anuais chegam a 1.150 mm em média e os climas característicos são o subtropical sem estação seca ao norte e o temperado pampiano ao sul (De Chemin et al., 1992). Estas condições permitem que muitas aves silvestres aquáticas encontrem um lugar adequado para sua permanência transitória ou permanente. Além disso, este ambiente pertence ao corredor dos pântanos do litoral fluvial da Argentina e da Bacia do Plata, que cumpre funções funções insubstituíveis para suavizar as inundações, garantir a qualidade da água e manter as grandes áreas naturais de criação de peixes (Chefatura de gabinete de ministros, Secretaria de ambiente e desenvolvimento sustentável da Nação e Grupo de trabalho de recursos aquáticos, 2006). Por outro lado, Entre Ríos tem aproximadamente 2.490 granjas avícolas, que correspondem a 47% das granjas do país. Do total das granjas existentes, de frango para grelhados, destaca-se a margem do rio Uruguai, que conta com cerca de 70% das granjas, em comparação com a margem do rio Paraná, que concentra 70% de granjas produtoras de ovos para consumo (Schell et al., 2010).
Por outro lado, a Salmonella, bactéria pertencente à família Enterobacteriaceae, é um patogênico de humanos e animais domésticos e selvagens (Bell & Kyriakides, 2002). A excreção fecal dos animais com esta bactéria contribui para a difusão da Salmonella no ambiente. Por isso, os animais portadores jogam um papel importante na difusão da Salmonelose. Diferentes sorovariedades de Salmonella são considerados patogênicos para as aves comerciais (Gast, 2003). No entanto, pouco se conhece das salmonelas que afetam as aves aquáticas silvestres. Bueno et al. (2010) informaram uma baixa prevalência de Salmonella em uma pesquisa com 432 aves aquáticas silvestres no oeste de Entre Ríos e num departamento de Corrientes, realizada através de um hisopado cloacal individual destas aves. Este tipo de aves pode difundir a Salmonella pelas áreas das granjas avícolas da região e produzir um impacto negativo sobre elas. Por isso, o objetivo deste trabalho foi estudar a frequência de isolamento da Salmonella em patos silvestres dos pântanos de Entre Ríos, utilizando distintos tipos de amostrar para a análise.
Materiais & Métodos

Amostragem e lugares de estudo
As amostragens foram realizadas através de 8 saídas para captura, desde junho de 2010 até fevereiro de 2011, nos pântanos dos departamentos de  Gualeguay (Santa Rosa), Paraná (rio Paraná, baixos Arroio Antonio Tomás e ilhas Hernandarias), Uruguai (Colônia San Ramón, e arroio Gená) e Victoria (Rincón del Doll, arroio El Timbocito-laguna La Larga, lagoa Grande-arroio Espinillo) da província de Entre Ríos, Argentina (Tabela 1). As aves foram capturadas utilizando redes para tal fim ou armas de fogo, durante o período de caça, ou por captura científica e nomeada segundo a proposta de Narosky & Izurieta (2003). Foram tomadas 85 aves aquáticas silvestres da família Anatidae (ordem Anseriformes), pertencentes a 6 espécies. As amostras corresponderam a um hisopado cloacal, porção de fígado e ceco de cada ave, que foram colocadas individualmente num tubo estéril. Estas amostras foram transportadas a 4ºC, em caixas de esferovite, desde o campo ao Laboratorio de Sanidad Aviar de la EEA INTA Concepción del Uruguay (Entre Ríos, Argentina) e mantidas a essa temperatura até seu processamento.
Isolamento de Salmonella sp.
No laboratório, as amostras foram cultivadas individualmente em 5 ml de caldo tetrationato base (Acumédia, Estados Unidos) com o agregado de solução iodada, verde brilhante e novobiocina durante 5 dias a 35 ± 2 ºC. Ao 1º e 5 º dia de incubação, o cultivo foi semeado em estrias por esgotamento em ágar entérico Hektoen (Britania, Argentina) e Ágar Salmonella-Shigella (SS, Merck, Alemanha) e se incubou a 35 ± 2ºC durante 24 h. As colônias compatíveis com Salmonella spp. foram caracterizadas por testes bioquímicas e foram sorotipificadas com antisoros somáticos comerciais.

Tabela 1. Patos silvestres capturados nos departamentos de Entre Ríos, Argentina, para o isolamento de Salmonella sp.
Nome
Número de aves segundo departamento de Entre Ríos, Argentina
Total
Gualeguay
Paraná
Uruguai
Victoria
Pato Picaço(Netta peposaca)
11
0
0
42
53
Pato Cutiri (Amazonetta brasiliensis)
0
7
5
1
13
Siriri Colorado (Dendrocygna bicolor)
0
0
0
8
8
Pato Capuchino (Anas versicolor)
0
1
1
4
6
Siriri Pampa (Dendrocygna viduata)
0
0
3
0
3
Pato de colar (Callonetta leucophrys)
0
2
0
0
2
TOTAL
11
10
9
55
85
Resultados & Discussão
Somente uma amostra de ceco de um pato Curiti (Amazonetta brasiliensis) resultou positiva a Salmonella sp. Pelas características bioquímicas, correspondeu a uma Salmonella móvel, isolada só a partir de ágar Hektoen, semeado no 1º dia de incubação do caldo tetrationato. Esta amostra foi tomada no arroio Gená, Pronunciamiento, pertencente ao departamento de Uruguai, no leste de Entre Ríos, durante o mês de fevereiro de 2011.
As aves utilizadas em nosso estudo são consideradas por Narosky & Izurieta (2003) como frequentes ou fácil de encontrar na Argentina, salvo para o Pato do Colar que é de baixa frequência ou com poucas possibilidades de ser observado. Assim também, todas estas espécies podem imigrar para a Argentina, a partir de outros países, especialmente os limítrofes (Narosky & Izurieta, 2003), incrementando a possibilidade de transmissão de Salmonella e outros micro-organismos às aves silvestres residentes em nosso país ou a outras aves migratórias. Isto pode complicar o controle de qualquer doença em províncias como Entre Ríos, onde os pântanos em que residem as aves silvestres estão próximos das granjas avícolas. Por outro lado, as aves estudadas no departamento Uruguai são consideradas residentes comuns, que fazem seus ninhos na área (Raffo et al., 2009). Este departamento se caracteriza por uma grande densidade de frangos para grelhados (Schell et al., 2010)
Mitchell & Ridgwell (1971) analisaram 477 amostras de excretas de patos silvestres numa reserva de Londres e 4 % das amostras foram positivas a Salmonella, em sua maioria Salmonella Typhymurium. Por outro lado, Goope et al. (2000) estudaram a presença de Salmonella spp. em aves silvestres em cativeiro num zoológico de Trinidad e encontraram uma frequência de isolamento desta bactéria de 3 %. Por outro lado, Waldrup e Kocan (1985) não puderam isolar Salmonella de swabs cloacais provenientes de aves silvestres aquáticas em Oklahoma, Estados Unidos, contudo algumas delas reagiram sorologicamente para esta bactéria. Os resultados de nosso estudo foram semelhantes aos descritos anteriormente e ao relatado por Bueno et al. (2010), mostrando uma baixa frequência de isolamento de Salmonella sp., que para nosso caso foi de 0 % para as amostras de swabs cloacais e fígado e de 1,2 % para as amostras de ceco.
Conclusões
A baixa frequência de isolamento da Salmonella em patos silvestres dos pântanos de Entre Ríos indica que estas aves não representam um alto risco para a produção comercial de aves desta província. No entanto, os monitoramentos desta bactéria devem continuar sendo feitos também em outras áreas pantanosas da província para poder localizar possíveis focos de Salmonella, que possam comprometer a produção  avícola comercial de Entre Ríos, próvincia com a mais alta densidade e população de aves comerciais da Argentina.
Bibliografia
Bell C & Kyriadkides A. 2002. Salmonella: a practical approach to the organism and its control in foods. Blackwell Science Ltd., Oxford.
Bueno DJ, Osinalde J, Soria MA, Bujia D, Schell H. 2010. Screening of free-ranging waterfowl in Entre Rios, Argentina, for Salmonella. En XIII European Poultry Conference, Tours, Francia.
Cabrera AL. 1976. Regiones Fitogeográficas Argentinas. Enciclopedia Argentina de Agricultura y Jardinería, 2da. Ed., Tomo II, Fasc. 1, Buenos Aires.
Canevari P, Blanco DE, Bucher EH, Castro G, y Davidson I. 1998. Los humedales de la Argentina: Clasificación, situación actual, conservación y legislación. Wetlands International, Publ. 46, Buenos Aires, Argentina.
De Chemin MP, Gabas WO, Saluzzi MC, Grosso LS, Giudice LT, & Arozena HN. 1992. Geografia elemental de Entre Ríos. MC Ediciones, Parana, Argentina.
Delany S & Scott D. 2006.  Waterbirds population estimates - Four Edition. Wetlands International. Wageningen, Netherlands.
Gast RK. 2003. Paratyphoid Infections, pp. 583-599. En Diseases of poultry, Saif YM, Barnes HJ, Fadly AM, Glisson JR, Mcdougald LR, Swayne DE (eds.). Iowa State Press. USA.
Gopee NV, Adesiyun AA, Caesar K. 2000. Retrospective and longitudinal study of Salmonellosis in captive wildlife in Trinidad. J Wildlife Dis. 36:284-93.
Jefatura de Gabinete de Ministros, Secretaría de Ambiente y Desarrollo Sustentable de la Nación y Grupo de Trabajo de Recursos Acuáticos. 2006. Humedales de la República Argentina. VISSUAL Comunicación & Diseño. http://www.ambiente.gov.ar/archivos/web/GTRA/File/folleto 2 %20final %20 reducido.pdf.
Mitchell TR & Ridgwell T. 1971. The frequency of Salmonellae in wild ducks. J Med Microbiol 4: 359-361.
Narosky T & Izurieta D. 2003. Guía para la identificación de aves de Argentina y Uruguay. Edición De Oro. 15º Ed. Buenos Aires, Argentina.
Raffo FC, de la Peña MR, Laene Silva R, Capuccio Martinez G, Bonin LM. 2009. Aves del río Uruguay, guía ilustrada de las especies del bajo río Uruguay y embalse de Salto Grande. Comisión Administradora del río Uruguay, Montevideo, Uruguay.
Schell H, Cumini ML, Cislaghi AM, Bujía D. 2010. Información de la actividad avícola de Entre Ríos, período enero-mayo 2010. Subsecretaría de Producción Animal, Entre Ríos, Argentina.
Waldrup KA & Kocan AA. 1985. Screening of free-ranging waterfowl in Oklahoma for Salmonella. J Wildlife Dis. 21:435-437.
 
 
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