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Qualidade da carne de frangos de corte submetidos a diferentes tipos de cama com inclusão de gramínea

Publicado: 17 de setembro de 2021
Por: Jean Kaique Valentim, Fábio Mascarenhas Dutra, Luanne Escobar do Nascimento Oliveira, Cláudia Marie Komiyama, Bruna Barreto Przybulinski, Deivid Kelly Barbosa, Rodrigo Garófallo Garcia, Vivian Aparecida Rios de Castilho, Felipe Cardoso Serpa, Maria Fernanda de Castro Burbarelli e Bruna de Souza Eberhart.
1. Introdução
A expansão da avicultura ocorreu devido ao crescimento dos índices zootécnicos, que estão intimamente ligados à evolução genética, nutrição e o manejo das aves. Embora os fatores produtivos sejam o foco principal, existe necessidade de buscar alternativas sustentáveis de produção, já que o perfil do consumidor sofreu alteração nos últimos anos e cada dia mais estão preocupados em saber como os animais de produção são criados. Dentre estes aspectos, a cama de frango torna-se uma vertente importante a ser estudada. O material geralmente utilizado para compor a cama do frango de corte é um constituinte importante da produção avícola, pois tem influência direta no bem-estar dos animais, na saúde do lote, na segurança alimentar, nos impactos ambientais e na eficiência da produção (Munir et al. 2019).
No atual sistema atual de frangos de corte é comum encontrar animais alojados nos mais diversos tipos de cama. Seu papel principal está em absorver a umidade das excretas das aves, manter o ambiente o mais seco possível e adequado para que os frangos cresçam sem desenvolver lesões pelo corpo. Os materiais comumente utilizados como cama em aviários são maravalha, casca de arroz, bagaço de cana, espigas de milho, casca de aveia e palha de trigo por terem alta capacidade de absorção de umidade (Kheravii et al. 2017).
A escolha pelo material a ser utilizado é feita conforme a oferta da região e o custo, sendo mais utilizado no Brasil a maravalha de Pinus (Mendes et al, 2004; Macari et al., 2014). A casca de arroz é outro material que possui grande disponibilidade em algumas regiões, sendo também utilizada na avicultura. Utilizar materiais alternativos, como resíduo do corte de grama é interessante para a produção, já que além de diminuir os custos, contribui de forma sustentável, dando destino para resíduos que seriam descartados no ambiente.
O material utilizado como cama pode sofrer variações relacionadas a emissão de amônia, pH, teor de nitrogênio e umidade e temperatura (Liu et al 2007), podendo assim inferir em quesitos de bem-estar e qualidade da carne das aves (Souza et al. 2016). Wei et al., (2014) relata que concentrações de amônia acima do limite fisiológico da ave, ao ser inalado reduzem a capacidade antioxidante do organismo, acarretando em estresse oxidativo nos tecidos musculares, diminuição da deposição de proteína e alterando aspectos físico-químicos e de qualidade da carne.
Desta forma, este trabalho buscou verificar a qualidade da carne do peito de frangos de corte criados em diferentes tipos de cama, maravalha e casca de arroz, com inclusão de níveis de feno de gramínea
2. Material e métodos
O experimento a campo foi realizado no galpão experimental de frangos de corte da Universidade Federal da Grande Dourados. O projeto foi aprovado pelo comitê de ética no uso de animais (CEUA) da UFGD sob protocolo número 07/2019. Foram utilizadas 1080 pintinhos machos, da linhagem comercial Cobb 500, com ± 45 g, distribuídas em 36 parcelas experimentais com 4,2 m², sendo cada parcela constituída de 30 animais, perfazendo uma densidade de 14 aves por m². O galpão com 10 metros de largura, 50 de comprimento e pé direito de 3 metros, orientado no sentido leste-oeste, equipado com sistema de cortinas externas nas laterais com acionamento mecânico tipo catracas, exaustores, ventilador, painel evaporativo, e sistema de nebulização para controle de temperatura e umidade interna, com forros e cortina interna, e o telhado constituído de telhas de barro.
O sistema de aquecimento foi realizado por meio de lâmpadas de infravermelho de 250 W de potência, instaladas individualmente em cada boxe experimental. O sistema de iluminação apresenta acendimento automático por meio de um timer. O fornecimento de água e ração do 1° ao 7° dia foi realizado em copo de pressão e comedouro infantil, respectivamente, para o período de 8 a 42 dias o fornecimento de ocorreu via bebedouro pendular, e a ração em comedouros tubulares, com arraçoamento realizado duas vezes ao dia e reviragem diária da cama.
A sexagem, pesagem e distribuição de machos em suas respectivas parcelas, foram realizadas na data da chegada das aves. Para distribuição das aves nas parcelas, foram selecionados 30 pintos de um dia de idade, que foram pesados, descartando-se os leves e pesados (± 10% do peso) de acordo com a média representativa de todos os animais, com anotação dos dados em ficha de controle para cálculo de desempenho.
As temperaturas máximas e mínimas do galpão foram aferidas duas vezes ao dia, e anotadas com o uso de termômetro de máxima e mínima, as 08h00min e 16h00min. A média de temperaturas máxima e mínima, durante todo o período experimental, foi calculada pela soma da temperatura máxima ou mínima dividida pelo número de dias de alojamento.
O programa de iluminação foi executado de acordo com as recomendações do manual da linhagem COBB (2012). As mortalidades foram registradas diariamente, registrando a pesagem da ração no dia da morte das aves na parcela para correções no consumo/ave/dia. As correções de mortalidade foram realizadas de acordo com as recomendações de Sakomura e Rostagno (2007). As dietas experimentais foram à base de milho e farelo de soja e formuladas para atender às recomendações nutricionais de acordo com o manual da linhagem COBB 500.
Foi utilizado o delineamento experimental inteiramente casualizado, com um arranjo fatorial de 3 x 2 (três níveis de gramínea e dois materiais de cama), com seis repetições cada, totalizando 36 boxes, e 30 aves cada (1.080 aves no total). Os tratamentos experimentais aplicados a partir do primeiro dia até 42° dia de idade foram: 100% maravalha; 100% casca de arroz; 25% feno de gramínea na maravalha; 25% feno de gramínea na casca de arroz; 50 % feno de gramínea na maravalha; 50% feno de gramínea na casca de arroz.
2.1. Qualidade da carne
Aos 42 dias de idade as aves foram submetidas ao jejum de 6 horas (somente ração) e em seguida, selecionadas, pesadas e identificadas 3 aves de cada parcela com o peso dentro do intervalo de ± 10% do peso médio da unidade experimental, totalizando 108 aves abatidas, para as análises de qualidade de carne, cada peito de frango foi considerado a repetição. Estas aves foram sacrificadas por deslocamento cervical, seguida de sangria manual por meio de corte na veia jugular e artéria carótida. Após, as carcaças foram escaldadas, depenadas, evisceradas e resfriadas.
Para a avaliação da qualidade da carne os 3 músculos do peito (pectoralis major) foram extraídos, desossados e mantidos congelados em câmara fria, a -18 ºC. Após 120 dias, foram levados ao Laboratório de Análise de Produtos Agropecuários – FCA/UFGD para as análises de qualidade de carne. Os parâmetros avaliados foram: Peso e biometria do filé de peito, pH, luminosidade (L*), teor de vermelho/verde (a*), teor de amarelo/azul (b*), perda de peso por descongelamento (PPD), perda de peso por cocção (PPC), capacidade de retenção de água (CRA), perda de peso por gotejamento (PPG), força de cisalhamento (FC), além de identificação do graus de severidade das miopatias White striping e Wooden breast. Para estas avaliações o filé do peito foi dividido em filé direito para realização das análises de PPC e FC, e o filé esquerdo para as demais variáveis.
Para avaliar a PPD, as amostras de peito cruas e congeladas foram pesadas em uma balança eletrônica de precisão e então descongeladas em refrigerador a 4 ± 1ºC por 24 horas, até atingir a temperatura interna de aproximadamente 10ºC. Neste momento foi realizada uma nova pesagem das amostras. A PPD foi determinada pela diferença em porcentagem entre peso inicial e final das amostras conforme metodologia adaptada de Mudalal et al. (2015).
Os peitos foram pesados em balança eletrônica semi-analítica e com auxílio de paquímetro e régua de 30 centímetros, com precisão de 0,1 mm, foram mensurados o comprimento, a largura e a espessura do filé. O comprimento (cm) foi medido na maior dimensão do filé e a largura (cm) medida a partir da maior distância de um lado ao outro no meio do filé. A altura (mm) foi medida no ponto mais alto da parte cranial do filé, conforme metodologia adaptada de Mudalal et al. (2015).
A determinação do pH foi realizada baseada no trabalho de Brossi (2009) utilizando-se eletrodo de penetração em três pontos diferentes do músculo do peito, sendo dois na parte superior e um na parte inferior. O aparelho utilizado foi um peagâmetro digital com compensação automática de temperatura.
Para a análise da luminosidade (L*), do teor de vermelho/verde (a*) e do teor de amarelo/azul (b*) no músculo do peito, foi utilizado colorímetro portátil (Minolta Chroma Meter, Modelo CR-400), com a leitura dos parâmetros do sistema CIE lab, com fonte iluminante D65, calibrado em porcelana branca padrão com Y=93,7, x=0,3160 e y=0,3323. Foi considerado como valor final a média de três leituras obtidas em diferentes pontos do músculo livres de lesões, na região ventral, dois na parte cranial e dois na parte central, estando o músculo sobre uma superfície opaca, sendo essa metodologia adaptada de Brossi (2009).
A análise de PPG foi baseada em Van Laack et al., (2000) em que amostras de peito pesando aproximadamente 80g foram envoltas em embalagens plásticas reticuladas e suspensas no interior de recipiente com tampa para o gotejamento. O conjunto foi mantido em refrigerador à temperatura de 2±1ºC, de modo que o exsudato não permanecesse em contato com a carne. Após 48 horas, as amostras foram retiradas da câmara fria, e pesadas novamente, obtendo o resultado em porcentagem, antes da pesagem foi removida a umidade superficial com o auxílio de papel absorvente.
Para a variável CRA aproximadamente 2,0 g de amostra de cada peito foi colocada entre dois papéis de filtro e placas de acrílico, e foram comprimidas por peso de 10,0 kg durante 5 minutos. Após este processo, foram pesadas novamente, sendo calculada a porcentagem de água perdida (Contreras-Castillo, 2009).
Para determinar a PPC foi realizado um registro dos pesos do filé do peito de frango em balança semi-analítica, antes e após a cocção. As amostras foram embaladas a vácuo em sacos plásticos e cozidas em banho-maria sob temperatura de 80ºC por 30 minutos. Em seguida, as amostras foram resfriadas em temperatura ambiente, para então realizar-se a pesagem final e avaliar a porcentagem de perda após a cocção, conforme Froning & Uijttenboogaart (1988).
Após este procedimento, as amostras cortadas em paralelepípedos de 1cm x 1cm x 2cm (altura, largura e comprimento) para avaliação da força de cisalhamento (FC), realizada mediante análise da força máxima para cisalhar a amostra (kgf/cm²). Estas foram colocadas com as fibras orientadas no sentido perpendicular à lâmina (Warner Bratzler) do texturômetro (Stable Micro Systems TAXT 2 Plus), calibrado para o peso-padrão de 5 kg e padrão rastreável. A velocidade de descida e corte do dispositivo foi ajustado a 200 mm por minuto. Os resultados (picos positivos máximos) foram obtidos com o programa Exponent Lite versão 5.1 (Stable micro systems).
A avaliação da incidência dos graus de White striping foram realizados conforme a escala proposta por Kuttappan et al. (2016), que consiste na análise visual do filé do peito em: grau 0 – normal: sem estriação; grau 1 – moderado: estrias finas, geralmente com <1 mm de espessura, mas aparentemente visíveis na superfície do filé; grau 2 – grave: estrias largas com espessura entre 1 a 2 mm, muito visíveis na superfície do filé; grau 3 – extremo: estrias grossas maiores que 2 mm de espessura, cobrindo quase toda a superfície do filé.
Para definir o grau de Wooden breast os filés de peito foram palpados manualmente e em seguida estabelecido o score visual, conforme os graus de severidade estabelecidos por Sihvo et al. (2016) que descreve como: grau 0 - músculo não afetado com cor e consistência normais; grau 1 - manifestação focal da miodegeneração, a consistência endurecida e coloração pálida afetam a área cranial do filé; grau 2 – músculo severamente endurecido e pálido.
2.2. Análises estatísticas
As análises das variáveis estudadas foram obtidas por meio da análise das premissas estatísticas de normalidade de resíduos através do teste de Shapiro Wilk e homogeneidade das variâncias por meio do teste de Levene’s. Os dados que apresentaram disparidade foram transformados e realizada a análise de variância dos dados utilizando o programa R Studio.Ink ® (2015). As médias encontradas de cada um dos tratamentos para as variáveis estudadas foram comparadas pelo teste de Tukey ao nível de significância de 5%. Já os graus das miopatias white striping e wooden breast foram avaliados por análises estatísticas não paramétricas e foram feitas pela comparação de médias pelo teste de Qui-quadrado, sendo considerado o nível de significância de 5% de probabilidade.
3. Resultados e discussão
Não houve diferença (p>0,05) nos parâmetros de medidas morfométricas e peso dos peitos dos frangos criados em diferentes tipos de cama. Com relação ao peso da ave (g) antes do abate, houve influência do tipo de cama (p<0,05), da inclusão de gramínea (p<0,05) e na interação entre ambos (p<0,05) como demostrado na tabela 1.
Qualidade da carne de frangos de corte submetidos a diferentes tipos de cama com inclusão de gramínea - Image 1
As aves criadas na casca arroz tiveram menor peso ao abate (p<0,05) quando comparada a maravalha. A inclusão de 50% de gramínea na casca de arroz favoreceu o peso no abate das aves, tendo resultados semelhantes aos níveis de inclusão na maravalha. O tipo de cama utilizada na produção de aves pode interferir diretamente na no rendimento de carcaça e na qualidade da carne. Dependendo do material utilizado na cama, pode haver maior ou menor fermentação das excretas dos animais e consequente produção de amônia (Souza et al. 2016).
Altas concentrações de amônia ao ser inalado pelas aves podem reduzir a capacidade antioxidante, promovendo estresse oxidativo nos tecidos musculares, diminuindo a deposição proteica, e modificando os parâmetros qualitativos da carne (Wei et al., 2014). Medidas de pH entre 5,8 e 6,2 são considerados aceitáveis para o consumo de carne, o que nos mostra que embora tenhamos diferenças estatísticas entre os tratamentos, todos estão dentro dos padrões (Terra e Brum, 1988). O pH mais elevado apresenta menor vida de prateleira, pois favorece o crescimento de micro-organismos (Tong et al. 2014).
As medidas encontradas de comprimento, largura e espessura corroboram com as medidas encontradas na literatura para idade de abate e linhagem. Gratta et al. (2019) encontraram medidas (cm) de espessura, largura e comprimento semelhantes às encontradas nesse estudo, mostrando que o tipo de cama não altera a morfometria do filé, mantendo o rendimento dos cortes de peito.
As medidas de retenção de água (PPD, PPC, CRA, PPG) não foram afetadas pelo tipo de cama utilizada na criação dos frangos de corte. Em contrapartida houve diferença na força de cisalhamento, quando comparado os tipos de cama, maravalha versus casca de arroz (Tabela 2), sendo que as aves criadas em cama de maravalha apresentaram características de peito mais macias do que aves criadas em cama de casca de arroz.
Qualidade da carne de frangos de corte submetidos a diferentes tipos de cama com inclusão de gramínea - Image 2
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A capacidade da carne de reter água auxilia na manutenção de suas propriedades físicoquímicas. Os parâmetros de perda de água ficaram acima do preconizado pela literatura (Albrecht et al. 2019; Deng et al. 2018; Petracci et al. 2015). O tempo de congelamento e o descongelamento podem ter interferido nestes quesitos, já que com o processo de congelamento há a formação de cristais de gelo, alterando suas características qualitativas (Zhuang e Savage, 2013). Diniz et al., (2014) relata que houve redução significativa da força de cisalhamento, que variou de 1,38 kgf/cm² na carne de aves criadas sobre cama nova a 1,86 kgf/cm² na carne de aves criadas sobre cama reutilizada, indicando que a utilização de cama de frango nova favorece a produção de carne mais macia.
O efeito encontrado na maciez da carne é um reflexo dos fatores estressantes aos quais os animais estão submetidos, estes fatores favorecem a ocorrência de mudanças no seu metabolismo, e com isso vias de compensação são ativadas. Essas alterações metabólicas aumentam a produção de ácido láctico e a também a rigidez muscular (Lesiów & Kijowski, 2003; Owens et al, 2000). A cama de casca de arroz pode ter apresentado maior desafio para aves, havendo um gasto maior para se manter em bem-estar quando comparada com a cama de maravalha.
A inclusão do feno de gramínea nas camas de maravalha e casca de arroz, interferiu significativamente do pH da carne de peito, sendo que a inclusão de 25% apresentou maior pH, quando comparada com o material puro, quando analisado a cor, houve interação entre os tipos de cama e a inclusão de gramínea nos teores de amarelo e luminosidade da carne (Tabela 3).
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O aumento do pH na inclusão de 25% de gramínea, pode ser explicado pela falta de glicogênio muscular utilizado para a conversão do músculo em carne em razão do estresse prolongado sofrido pelas aves, caracterizado como estresse crônico. O pH juntamente com a oxidação de pigmentos do músculo e dos lipídeos podem alterar a cor da carne. A perda da intensidade da cor ocorre quando há a queda do pH, devido ao consumo de oxigênio e a atividade enzimática (Kerth, 2013). De acordo com Garcia et al. (2010), o valor de L* se correlaciona negativamente com o parâmetros de pH, ou seja, filés claros (> 50) apresentam pH baixo (pH < 5,6), enquanto filés mais escuros (< 45) têm pH elevado (pH > 5,9). De maneira geral, o consumidor tem preferência por carnes com espectro mais avermelhado, o que não foi encontrado na cama de casca de arroz com 50% de feno de gramínea, apresentando teor mais amarelado que os demais tipos de cama.
Os resíduos agrícolas poderão ser boas opções de material para cama de aviário, especialmente se exibirem grande disponibilidade regional, custo baixo e se exercerem influência positiva no desempenho zootécnico dos animais. Uma barreira para a utilização de materiais regionais para o criador é a falta de conhecimento básico, desde o técnico até o científico, com relação ao seu uso (Brito et al., 2016).
Não foram encontradas diferenças significativas (p>0,05) entre os tratamentos com relação a incidência das miopatias WS e WB, conforme a tabela 4. Para os graus da miopatia White Striping em todas as amostras avaliadas não houve a ocorrência do grau zero (0), que é considerado normal pela literatura (Mudalal et al. 2019) havendo a ocorrência de miopatia consideradas de moderado a severo.
Essa miopatia segundo Bauermeister et al. (2009) trata-se de uma desordem muscular peitoral acometida pelo animal sendo observada a presença de estrias esbranquiçadas na superfície do músculo as quais seguem a direção da fibra muscular. Essa degeneração não provoca prejuízos apenas à aparência do produto, mas também na capacidade de retenção de água, textura e perda por cocção (Petracci et al. 2013).
Lorenzi et al. (2014) encontraram a incidência de 43% de WS na carne de peito de frango de diferentes linhagens, já Kuttappan et al. (2012a) verificaram que essa incidência foi de 50,7%, variando entre moderado grave, o que também foi relatado nesta pesquisa. Em suma, a incidência de WS no peito de frango está associada a diferentes fatores, como idade, sexo, peso corporal, taxa de crescimento e genótipo (Kuttappan et al., 2012b ), não estando diretamente relacionado ao tipo de cama empregado na criação.
Conforme observado na Tabela 4 as maiores incidências acometidas de White Striping consideradas como grau extremo (grau 3) se concentraram nos tratamentos que fizeram uso de cama apenas de casca de arroz (5,55%) e a que foi incorporado 50% de gramínea (8,33%), não havendo diferenças entre os tratamentos (p>0,05).
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Para os graus da miopatia Wooden Breast em todas os tratamentos avaliados houve a ocorrência do grau zero (0), moderado e severo, sendo mais de 72,22% das amostras acometidas pelo grau 1 (moderado) de WB. Mencionada como peito ‘’amadeirado” (Woody) ou “de madeira” (Wooden), a miopatia Wooden breast (WB) é identificada pela consistência dura semelhante a uma textura de madeira (Sanchez Brambila et al., 2018).
A Wooden Breast ocasiona grande impacto econômico para o setor avícola. Sua ocorrência está associada a linhagens de crescimento muscular acelerado, com rápida deposição muscular. Essa degeneração está associada a ocorrência de hipertrofia muscular, associada a menor oxigenação tecidual (Joiner et al., 2014). Tasoniero et al., (2016) relatam que filés de frangos de corte com WB apresentam aspectos tecnológicos e qualitativos da carne inferiores que podem ser negativos no processamento cárneo.
Na presente pesquisa, os índices de WS e WB apresentaram se elevado em todos os tipos de cama (p>0,05), portanto, independentemente se for cama de maravalha, casca de arroz, e níveis de 0 á 50 % de feno de gramínea houve a incidência de WS e WB. Conforme Kuttappan et al., (2017), esses resultados estão associados a fatores genéticos dos animais de crescimento acelerado, estando intrinsecamente relacionados ao peso do filé de peito.
4. Conclusão
A cama de maravalha apresentou melhores resultados em relação a qualidade cárnea, quando comparada a cama de casca de arroz, independentemente da inclusão ou não de níveis de feno de gramínea. A busca por novos produtos a serem utilizados como material de cama de frango é uma necessidade para melhoria dos aspectos produtivos e financeiros da avicultura nacional, aliar esta demanda a utilização de materiais reutilizáveis ou que seriam descartados no ambiente colabora para uma vertente de grande ascensão no cenário atual do agronegócio, que é a produção animal sustentável. Visto isso, a utilização de níveis de feno de gramínea na cama de frango se mostrou viável para as variáveis referentes à qualidade cárnea.
Esse artigo foi originalmente publicado em Research, Society and Development, [S. l.], v. 9, n. 5, p. e12952991, 2020. DOI: 10.33448/rsd-v9i5.2991. Disponível em: https://rsdjournal.org/index.php/rsd/article/view/2991. Acesso em: 17 set. 2021. Este obra está licenciado com uma Licença Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional.

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Autores:
BRUNA BARRETO
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