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Protease dietas frangos tripsina

Efeitos de uma protease monocomponente em dietas de frangos de corte com níveis crescentes de inibidores da tripsina

Publicado: 1 de setembro de 2011
Por: Maria Mayorga, SL Vieira, JOB Sorbara - Universidade Federal do Rio Grande do Sul - DSM Nutritional Products
Sumário

O processamento térmico e suplementação com enzimas são dois dos métodos mais conhecidos para melhorar a qualidade nutricional dos grãos de oleaginosas utilizadas na avicultura. Estes métodos também podem aliviar os efeitos negativos dos fatores anti-nutricionais encontrados na soja sobre a fisiologia animal. Este experimento foi conduzido para avaliar a adição de uma protease monocomponente em dietas contendo soja com diferentes períodos de tratamento térmico. Grãos inteiros de soja foram autoclavados por 0, 105, 115 e 135 minutos (120 ºC e 1,5 atm.) e depois incorporados em dietas no nível de inclusão de 20%. Dois níveis de suplementação enzimática foram testados: 0 e 200 ppm, respectivamente. Estas dietas foram oferecidas a 400 frangos de corte, Cobb, machos a partir de 1 a 28 dias de idade. O ganho de peso, o consumo de ração, a conversão alimentar, o rendimento da carcaça e o peso relativo do pâncreas e duodeno foram registrados. De acordo com os resultados obtidos neste experimento, as aves suplementadas com protease apresentaram melhora nas respostas de desempenho zootécnico. Estas aves, também, apresentaram maior rendimento de carcaça e menor deposição de gordura abdominal. Não houve interação entre o nível de protease e índice de urease. Verificou-se que o desempenho e rendimento de carcaça das aves foram afetados à medida que os níveis de urease aumentaram. Observou-se que níveis crescentes de urease causaram aumento do peso relativo do pâncreas e do duodeno, porém com a suplementação de protease monocomponente no nível 200 ppm houve uma redução no tamanho desses órgãos, independentemente dos níveis de urease.
Palavras Chave: Frango de corte, Protease monocomponente, Tratamento térmico, Tamanho de órgão, Urease.

Introdução
A soja in natura possui uma série de metabólitos secundários próprios da planta, também chamados de fatores anti-nutricionais. Estes compostos prejudicam o
crescimento das aves, a eficiência alimentar e digestibilidade dos nutrientes, particularmente da proteína. Os fatores anti-nutricionais mais comumente encontradas na soja são os taninos condensados, lectinas, inibidores de amilase, fitato, alcalóides, saponinas e, principalmente, os inibidores de protease, principalmente os fatores Kunitz e Bowman-Birk (Hamza & Abu-Tarboush, 1998; Trugo et al., 2000; Oliva & Sampaio, 2009). Estes inibidores são proteínas e, portanto, sofrem desnaturação pela ação da temperatura (Drew et al., 2007). durante o processamento da soja para produção de grão tostado ou farelo. A presença destes fatores na soja é feita usualmente pelo teste rápido da urease, que é maior quanto menos desnaturados estão estes fatores (Ruiz et al., 2004). Em produtos de soja insatisfatoriamente tratados termicamente, estes deprimem o crescimento animal pela inibição da ação da tripsina e da quimotripsina pancreáticas, provocando hipertrofia do pâncreas (Carvalho et al., 2002). A adição de protease melhora a digestibilidade das proteínas e pode complementar a ação das enzimas endógenas (Wiryawan & Dingle, 1999). Este experimento foi conduzido com o objetivo de avaliar a suplementação de uma protease monocomponente em dietas contendo soja com diferentes períodos de tratamento térmico.
Material & Métodos
O experimento foi realizado na sala de metabolismo do Aviário de Ensino e Pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Foram utilizados 400 machos, Cobb, de um dia de idade (8 tratamentos x 5 repetições x 10 aves por gaiola). No primeiro dia as aves foram pesadas tendo cada gaiola peso médio similar. Os erros de sexagem foram descartados no primeiro dia de idade. As aves foram alojadas em gaiolas metabólicas de (0,80 x 0,90m2), e mantidas sob iluminação artificial 24h por dia durante todo o período experimental. No primeiro dia, a temperatura foi mantida em 32 ºC e posteriormente reduzida 0,5 ºC por dia até a obtenção da temperatura de 22 ºC, permanecendo esta até o final do experimento. Foram utilizados bebedouros e comedouros do tipo infantil (1 a 14 dias), e bebedouros e comedouros tipo calha (15-28 dias). Água e ração foram oferecidas à vontade durante todo o período experimental. O tratamento térmico em autoclave foi aplicado na soja in natura por 0, 105, 110 e 135 minutos (120 ºC e 1,5 atm.), respectivamente e a atividade ureática da mesma determinada em duplicata (Tabela 1). Posteriormente, dietas basais foram elaboradas utilizando os quatro tipos de soja autoclavada em um nível de inclusão de 20%, com dois níveis de suplementação (0 e 200 ppm) cada. As dietas foram formuladas seguindo níveis usuais da indústria brasileira, e oferecidas na forma farelada (Tabela 2). O estado sanitário geral e mortalidade das aves foram monitorados diariamente, assim como as temperaturas máximas e mínimas. Os parâmetros de desempenho zootécnico: ganho de peso corporal, conversão alimentar e consumo de ração foram verificados semanalmente. Aos 28 dias de idade, 320 aves (oito aves por gaiola) foram selecionadas e individualmente identificadas. Estas foram sacrificadas para a determinação de medidas de rendimento (carcaça e gordura abdominal), além de peso de pâncreas e duodeno. O delineamento experimental foi o completamente casualizado em arranjo fatorial 2 x 4. (dois níveis de protease x quatro níveis de urease).
Tabela 1. Valores de Atividade ureática da soja tratada termicamente1
Tratamento térmico (min.)
Atividade ureática (D pH)2
0
2,02
105
1,86
110
1,03
135
0,49
1 Grão de Soja in natura autoclavada a 120°C e 1,5 atm. 2 A atividade ureática foi determinada segundo a metodologia descrita pela AOCS (1980).
Tabela 2. Composição das dietas experimentais e nível estimado de nutrientes
Ingredientes
%
Nutrientes
 
Milho
52,51
EM, kcal/kg
3,100
Soja termicamente tratada1
20,00
PB
22.00
Farelo de soja
19,89
Ca
0.86
Farinha de carne e osso (41%)
3,65
Pdisp.
0.38
Celite
1,00
K
0.91
Calcário
0,98
Na
0.21
Óleo de soja
0,87
Cl
0.34
Sal
0,43
Lys dig.
1.15
DL-Metionina 99%
0,28
Met+Cys dig.
0.86
L-Lisina 78%
0,11
Met dig.
0.58
Premix vitamínico
0,10
Thr dig.
0.72
Maxiban
0,05
Arg dig.
1.41
Premix Mineral
0,05
Trp dig.
0.22
Colina 60%
0,02
Colina, ppm
1650
Linco-Spectin 440
0,02
 
 
Caulim
0,02
 
 
Ronozyme NP CT
0,015
 
 
L-Treonina 98%
0,01
 
 
1 Grão de Soja in natura autoclavada a 120°C e 1,5 atm.
Resultados & Discussão
Segundo os resultados apresentados na tabela 3, as aves suplementadas com protease exibiram melhora dos parâmetros zootécnicos e apresentaram maior rendimento de carcaça e menor deposição de gordura abdominal. Vários autores reportam os efeitos benéficos do tratamento térmico de diversos grãos, especialmente da soja sobre o desempenho das aves, particularmente durante os estágios iniciais de vida das aves, devido à simples desnaturação destas proteínas antes da digestão no trato gastrointestinal (Gracia et al., 2003; Clarke & Wiseman, 2007) Não houve interação entre protease e urease, e as pioras de desempenho zootécnico e rendimento de carcaça foram gradativas com os maiores níveis de urease. A falta de uma expressão maior da suplementação enzimática sobre o desempenho de animal pode dever-se ao fato dos inibidores de protease, presentes na soja crua, serem responsáveis só pelo 40% da depressão do crescimento das aves e pela hipertrofia pancreática. Assim, as outras substâncias capazes de exercer efeitos deletérios sobre o a fisiologia animal devem ser considerados e sua inativação garantida através de tratamentos térmicos apropriados (Leeson & Atteh, 1996). Constatou-se que níveis crescentes de urease provocaram aumento dos pesos relativos de pâncreas e duodeno, porém a suplementação com protease reduziu os tamanho dos mesmos independentemente dos níveis de urease (Tabela 3)
 Tabela 3. Desempenho zootécnico, rendimentos pós abate e peso relativo de órgãos de aves alimentadas com dietas com níveis crescentes de urease1, suplementadas ou não com protease, 1 a 28 dias de idade
 
Peso vivo
Consumo
GP
CA
Carcaça
Gordura
Abdominal
Pâncreas
Duodeno
g
 
%
g/100 g PV
Enzima
 
 
 
 
 
 
 
 
0
1.436b
2.168
1397b
1,54a
69,76b
1,17b
0,295a
0,870a
200
1.491a
2.174
1445a
1,47b
71,22a
1,04a
0,281b
0,832b
Urease, ∆pH1
 
 
 
 
 
 
 
 
0,13
1.535a
2.186
1494a
1,46a
71,25a
1,06
0,232d
0,835b
0,23
1.509a
2.231
1463a
1,49a
70,48ab
1,10
0,265c
0,814b
0,72
1.433b
2.109
1388b
1,49a
70,29b
1,10
0,290b
0,833b
1,52
1.370b
2.157
1317b
1,60b
69,85b
1,20
0,365a
0,937a
P
 
 
 
 
 
 
 
 
Enzima (E)
0,0464
0,1555
0,0401
0,0317
<.0001
0,0159
0,0088
0,0004
Urease (U)
<.0001
0,8840
<.0001
0,0115
0,0276
0,3656
<.0001
<.0001
E x U
0,6889
0,1913
0,8402
0,8410
0,6491
0,1242
0,8135
0,2219
Letras diferentes na mesma coluna diferem pelo teste de Tukey a (P<0,05).
1Atividade ureática da ração: 0,13 (nível atingido pela inclusão de soja autoclavada durante 135 min.); 0,23 (nível atingido pela inclusão de soja autoclavada durante 110 min.); 0,72 (nível atingido pela inclusão de soja autoclavada durante 105 min.); 1,52 (nível atingido pela inclusão de soja crua sem ser autoclavada).
Conclusões
A suplementação de protease mostrou-se efetiva na melhora do desempenho e medidas de rendimento das aves. Níveis crescentes de urease afetaram o desempenho das aves e provocaram o aumento do tamanho relativo de pâncreas e duodeno.
Bibliografia
Carvalho MR, Kirschnik PG, Paiva KC. 2002. Avaliação da atividade dos inibidores de tripsina após digestão enzimática em grãos de soja tratados termicamente. Brazilian Journal of Nutrition 15:267-272.
Clarke E & Wiseman J. 2007. Effects of extrusion conditions on trypsin inhibitor activity of full fat soybeans and subsequent effects on their nutritional value for young broilers British Poultry Science 48:703-712.
Drew MD, Borgeson TL, Thiessen DL. 2007. A review of processing of feed ingredients to enhance diet digestibility in finfish. Animal Feed Science and Technology 138:118-136.
Gracia MI, Latorre MA, García M, Lázaro R, Mateos GG. 2003. Heat Processing of Barley and Enzyme Supplementation of Diets for Broilers. Poultry Science 82:1281-1291.
Hamza M & Abu-Tarboush R. 1998. Irradiation Inactivation of Some Antinutritional Factors in Plant Seeds J. Agric. Food Chem. 46:2698-2702.
Leeson S & Atteh, JO. 1996. Response of broiler chicks to dietary full-fat soybeans extruded at different temperatures prior to or after grinding Animal Feed Science Technology 57:239-245.
Oliva ML & Sampaio MU. 2009. Action of plant proteinase inhibitors on enzymes of physiopathological importance. Anais da Academia Brasileira de Ciências 81:615-621.
Ruiz N, Belalcázar F, Díaz GJ. 2004. Quality Control Parameters for Commercial Full-Fat Soybeans Processed by Two Different Methods and Fed to Broilers Journal of Applied Poultry Research 13:443-450.
Trugo LC, Donangelo CM, Bach KE. 2000. Effect of Heat Treatment on Nutritional Quality of Germinated Legume Seeds J. Agric. Food Chem. 48:2082-2086.
Wiryawan KG & Dingle JG. 1999. Recent research on improving the quality of grain legumes for chicken growth. Animal Feed Science and Technology 76:185-193.
 
 
Conteúdo do evento:
Autores:
Maria Mayorga
USSEC
Sérgio Vieira
Universidad Federal Do Rio Grande do Sul UFRGS
Jose Otavio Sorbara
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