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Nutrição muda forçada poedeiras semi pesadas

Programas nutricionais alternativos de muda forçada sobre o desempenho de poedeiras semi pesadas

Publicado: 1 de setembro de 2011
Por: J Cardoso Girardon, Sara Lorandi, M Antônio Anciuti, J Carlos Maier, V Silveira Ávila
Sumário

As aves foram submetidas a quatro métodos de muda forçada, por 28 dias. Os tratamentos propostos foram designados como: T1 (testemunha, com restrição alimentar de 10 dias, seguidos por oito dias de milho moído e 10 dias de ração pré-postura), T2 (14 dias de casca de soja e premix vitamínico, seguidos por quatro dias de milho moído e 10 dias de ração pré-postura), T3 (14 dias de farelo de trigo e premix vitamínico, seguidos por quatro dias de milho moído e 10 dias de ração pré-postura) e T4 (14 dias de sorgo alto tanino e premix vitamínico, seguidos por quatro dias de milho moído e 10 dias de ração pré-postura). O peso das aves e a perda de peso foram obtidos a cada cinco dias, já o consumo de ração, produção de ovo e mortalidade foram registrados diariamente. As aves do tratamento1 apresentaram maior perda de peso (526,87g), além de pior viabilidade (88,39%). Os dados obtidos permitem inferir que o jejum como forma de realizar a muda forçada, acarreta piora nos parâmetros produtivos e o uso de métodos alternativos possibilita melhor conforto e bem-estar às aves demonstrado pelo melhor desempenho e viabilidade.
Palavras Chave: Casca de soja, Farelo de trigo, Segundo ciclo, Sorgo, Viabilidade.

Introdução
A muda é um processo fisiológico que ocorre naturalmente nas aves e se caracteriza por um período em que acontecem mudanças no comportamento alimentar, com redução ou cessamento das suas funções reprodutivas e a substituição das penas, tendo como objetivo a renovação do aparelho reprodutor e início de um novo ciclo de postura (Webster, 2003).
Devido à lentidão, na natureza, com duração de aproximadamente quatro meses e a heterogeneidade com que este processo acontece entre as aves, técnicas foram desenvolvidas para acelerar o processo de muda e fazê-lo para todas as aves ao mesmo tempo, de modo a melhorar a homogeneidade do lote. A este conceito denominou-se muda forçada ou induzida. A maioria dos programas de muda forçada submete as aves a jejum por um período de oito a 14 dias, ou até atingirem perda máxima de peso de 25% do peso inicial (Rodrigues et al., 1995). Os períodos longos são considerados favoráveis para obtenção de resultados superiores no pós-muda. Entretanto estes métodos provocam estresse severo, causado pela fome resultando num aumento da agressividade entre as aves, principalmente quando alojadas em altas densidades nas gaiolas, podendo ocorrer alta taxa de mortalidade.
A muda forçada pode ser economicamente favorável, no entanto, esta prática entra em desacordo com o bem-estar animal. Como o principal objetivo da realização da muda forçada é acelerar o processo natural e cessar a produção em um curto período, novos métodos como os que fazem uso de fármacos, desbalanços nutricionais e alimentação de baixa energia e rica em fibras foram propostos com a finalidade de substituir o jejum e garantir o bem-estar das aves, assegurando o desempenho produtivo das mesmas em um curto intervalo de tempo e objetivando maior viabilidade dos lotes no pós-muda.
Desta forma, objetivou-se avaliar os efeitos de diferentes alimentos no processo de muda forçada em poedeiras comerciais sobre o desempenho e a viabilidade.
Materiais & Métodos
O experimento foi executado na Unidade Especial de Avicultura do Conjunto Agrotécnico Visconde da Graça, da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), durante o mês de agosto de 2009, totalizando 28 dias experimentais, equivalentes ao período da muda. Um total de 448 poedeiras da linhagem Hisex Brow, com 100 semanas de idade, foram alojadas em galpão do tipo dark house e distribuídas em 64 gaiolas, contendo sete aves/gaiola, o que representou a unidade experimental. O delineamento foi o de blocos casualizados pelo peso vivo inicial das poedeiras, com 16 repetições/tratamento. Os tratamentos consistiram em quatro protocolos alternativos de muda induzida, com e sem restrição alimentar e com água à vontade durante todo o período experimental, estando assim identificados: T1 (controle, com restrição alimentar de 10 dias, seguidos por oito dias de milho moído e 10 dias de ração pré-postura), T2 (14 dias de ração com 97% de casca de soja e premix vitamínico, seguidos por quatro dias de milho moído e 10 dias de ração pré-postura), T3 (14 dias de ração com 85% de farelo de trigo e premix vitamínico, seguidos por quatro dias de milho moído e 10 dias de ração pré-postura) e T4 (14 dias ração com 85% de sorgo alto tanino e premix vitamínico, seguidos por quatro dias de milho moído e 10 dias de ração pré-postura). As variáveis analisadas para verificar a eficiência dos métodos alternativos durante o período de muda foram: peso vivo inicial (g), perda de peso(g), consumo de ração (g), produção de ovos (%) e viabilidade do lote (%). O controle do peso das aves foi feito a cada cinco dias, as demais variáveis tiveram controle diário. Para que a muda fosse considerada eficiente adotou-se como 15% o valor máximo de produção de ovos no fim do período.
Os resultados obtidos foram submetidos à análise de variância (ANOVA) e ao teste Tukey de comparação de médias, com 5% de nível de significância, utilizando o procedimento GLM do programa estatístico SAS.
Resultados & Discussão
A Tabela 1 apresenta os resultados dos diferentes alimentos usados como métodos alternativos de muda forçada, sobre o desempenho e a viabilidade.
Tabela 1. Efeitos dos métodos de indução da muda sobre o desempenho de poedeiras semipesadas
Tratamentos
Psv(g)
PPs(g)
Cr(g)
Pdov(%)
Viabl(%)
T1
1854a
526,87a
4187,56c
4,31c
88,39c
T2
1847a
399,37b
8432,81b
4,68c
91,96b
T3
1851a
140,13c
11678,62a
12,00b
94,64b
T4
1861a
123,37c
11317,50a
19,38a
98,21a
P =
0,9961
<0,0001
<0,0001
<0,0001
<0,0001
CV,% =
9,04
-25,98
52,53
9,64
11,15
Erro padrão =
167,53
19,32
5,29
241,78
2,60
 
 
 
 
 
Psv = peso vivo; PPs = perda de peso; Cr = consumo de ração; Pdov = produção de ovos; Viabl = viabilidade. Médias com diferente letra diferem significativamente (p<0,05).
As aves submetidas ao tratamento controle apresentaram menor consumo, maior perda de peso e pior viabilidade (menos de 88%). Estes fatos foram originados em consequência do método convencional adotado (jejum de 10 dias), o que é justificado por Koelkebeck & Anderson (2007), ao demonstrarem que durante o jejum as aves domésticas tendem a usar todos os nutrientes (lipídeos, proteínas...) na manutenção corporal e não desviá-los para a produção. Como o principal motivo de realização da muda é a redução rápida da postura e recomposição do epitélio do sistema reprodutivo, os tratamentos um (jejum de 10 dias) e dois (casca de soja), mostram-se mais eficientes neste parâmetro, justificado pelo menor consumo de ração além do que o uso da casca de soja, como ingrediente fibroso, dificulta digestibilidade e reduz assim o consumo, ocasionando a perda de peso. Ainda, apresenta baixo valor energético, agindo como uma fonte muito restrita de nutrientes o que obriga a ave a reduzir a produção, não causando, no entanto elevada mortalidade como ocorre no jejum. Resultados semelhantes foram encontrados por Garcia (1994), ao submeter às aves a muda forçada com rações de baixa energia, mantendo bons índices de viabilidade do lote. O uso do tratamento quatro (sorgo alto tanino) resultou no melhor reaproveitamento do lote, assim como em maior produção de ovos neste período, esses dados corroboram com os de Capela & Creger (1978), que indicam que quanto maior o tempo em que o sorgo é ofertado às aves, mais lento é o período de repouso na muda, o que justifica a baixa redução na produção de ovos, mantido em torno de 19% durante a muda. Já as aves submetidas a alimentos como farelo de trigo (tratamento 3), apresentam resultados semelhantes ao sorgo, com exceção a taxa de produção, onde se mostrou mais eficiente, ficando no perfil estabelecido de 15% de produção. Os dados obtidos por Koelkebeck & Anderson (2007), corroboram com os resultados ao mostrarem que com o uso de alimentos de baixa energia é possível suprir as necessidades da ave para que se realize a muda.
Conclusões
A casca de soja apresenta maior eficiência para reduzir a produção de ovos durante a muda. O uso de alimentos alternativos como casca de soja, farelo de trigo e sorgo mostram-se como fontes viáveis de substituição a muda convencional com jejum, facilitando o processo de muda forçada e garantindo a viabilidade do lote.
Bibliografia
Garcia EA. 1994. Avaliação dos parâmetros físicos e produtivos de poedeiras semi-pesadas submetidas a muda forçada e alimentadas com ração de baixa densidade por diferentes períodos. 1994. 59f. Tese (Doutorado em Zootecnia) - Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade Estadual Paulista.
Koelkebeck KW & Anderson KE. 2007. Molting Layers - Alternative Methods and Their Effectiveness. Poultry Science 86:1260-1264.
Rodrigues PB Bertechini AG, Oliveira BL. 1995. Fatores nutricionais que influenciam o desempenho e a qualidade do ovo de poedeiras comerciais no segundo ciclo de produção. In: Reunião da Sociedade Brasileira de Zootecnia, 32. Brasília - Brasil. p. 478-479.
Webster AB. 2003. Physiology and behavior of the hen during induced molt. Poultry Science 82(6):992-1002.
 
 
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Autores:
Sara Lorandi
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