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Incubatórios Monitoramento Sanitário

Incubatórios: Monitoramento Sanitário

Publicado: 7 de dezembro de 2006
Por: Dr Luiz Eduardo Ristow, TECSA
Introdução
O trabalho no incubatório envolve um grande número de seres vivos (ovos embrionados e pintos) em um espaço reduzido caracterizando uma alta densidade populacional. Somado a isto temos uma alta rotatividade: entradas constantes de ovos de diversas fontes e saída constante de pintos. Estes fatores inerentes ao incubatório são condições ideais para a ocorrência de problemas como: disseminação de doenças infecto-contagiosas, perdas embrionárias e de pintos e má qualidade do produto por fatores microbiológicos e/ou fisiológicos, que levam a perdas e prejuízos.
As perdas podem ser diretas, ou seja, do produto: pinto. Podem ser ainda indiretas devido ao custo do retrabalho, gastos extras e para correções, além das perdas de imagem e desgaste da credibilidade do incubatório, seja ele para fornecimento de clientes internos ou externos.
Por isso a necessidade da implantação de rígidas medidas de controle sanitário do incubatório envolvendo o maior número de aspectos possíveis para biossegurança e um efetivo programa de monitoramento da eficácia das medidas adotadas e da qualidade do produto final. A simples adoção de sanitização sem controle posterior para avaliação da eficácia não basta.
No decorrer do nosso artigo estaremos salientando alguns pontos que devem ser considerados para construção de um bom controle sanitário, bem como pontos para serem utilizados como indicadores.
Matéria prima: Ovos embrionados
O ovo que é uma estrutura biológica altamente elaborada que a natureza proporcionou a algumas espécies animais para a reprodução. Seu papel é proteger e suprir o embrião de nutrientes, porém para isto temos de manter a integridade e higidez da produção deste.
Perdas devido a morte embrionária e onfalites em pintos de um dia infectados por Escherichia coli e pneumonias causadas por Aspergillus sp são ainda comuns e oriundas geralmente da contaminação da casca do ovo. Como a qualidade do incubatório e seu produto dependem diretamente da qualidade do ovo, temos de ter atenção neste ponto.
A responsabilidade da equipe de campo de realizar 10 a 12 coletas diárias de ovos nos galpões, atentar para a qualidade da cama quanto à umidade e qualidade da cama de ninho, nem sempre basta. Daí a necessidade da classificação e sanitização dos ovos incubáveis para impedir que as bactérias presentes na casca adentrem o ovo e iniciem sua colonização.
Vale ainda ressaltar que o incubatório como um cliente que é do campo, pode se resguardar e ainda avaliar o trabalho que vem sendo realizado a campo através de exames microbiológicos que avaliem a carga bacteriana e fúngica das cascas dos ovos recebidos. Isto serve não só para monitorar e avaliar a carga microbiana, mas também para implantar medidas corretivas e preventivas.
No caso de ovos de terceiros, ou seja, produzidos fora da empresa, sugerimos maiores cuidados como a realização de exames da gema para pesquisa de anticorpos contra Mycoplasma e Salmonella de modo a termos maior segurança da incubação, eclosão e fornecimento dos pintos.
Ambiente e Fluxo

O Ambiente, principalmente seu ar, são pontos decisórios na qualidade microbiológica. Por isso tantos esforços são despendidos para o controle da presença, disseminação e multiplicação microbiana no ar, nas paredes das instalações e superfícies dos equipamentos.

O ambiente de incubatório, devido a temperatura e umidade, é ideal à sobrevivência de esporos de fungos, principalmente do gênero Aspergillus, que adentram as instalações através dos ovos contaminados, resíduos e através de materiais, disseminando-se rapidamente para todo o ambiente se não forem adotados programas adequados.

O planejamento do fluxo de transito do processo deve prover que não haja cruzamento de material de incubação com nascimento, nem de pessoas. O ideal é o sentido único de passagem, não permitindo contra-fluxo, nem cruzamentos. O respeito e adoção destes critérios residem no treinamento de funcionários, supervisão e sinalização, por exemplo: uso de vestuários de diferentes cores indicando de forma clara a todos se a presença do indivíduo é permitida no setor.

O monitoramento ambiental através da avaliação do índice de contaminação microbiológica mensal é feito através da técnica da placa de sedimentação ou técnica de exposição de placa: placas de Petri contendo meios de cultura específicos para fungos e para bactérias são abertas e expostas ao ambiente por um tempo determinado (mais utilizados: 10 minutos e 60 minutos) para que haja sedimentação de partículas. Após incubação em temperaturas específicas e tempo apropriado, as placas têm seu crescimento enumerado em UFC ou Unidade Formadora de Colônia por placa (representando um determinado ponto do ambiente).

Os pontos a serem amostrados devem estar relacionados direta (sala de classificação, corredores de transito, etc.) ou indiretamente (depósito de embalagem, sala de preparo de vacina, etc.) ao processo produtivo no incubatório. Alguns dos principais pontos a serem amostrados estão na Tabela – Monitoria Sanitária de Incubatórios.

Os momentos de exposição sugeridos são:

a- Ambiente em uso para avaliação da carga microbiana presente no dia a dia.
b- Ambiente após limpeza e desinfecção para avaliação da eficácia da sanitização.
Maquinário e Equipamento

Tal qual as instalações físicas ou o ambiente, o maquinário e os equipamentos apresentam condições favoráveis à multiplicação microbiana nas suas paredes e componentes durante sua utilização, bem como nos resíduos ou penugem, podendo infectar os pintos recém nascidos.
Medidas apropriadas de limpeza e desinfecção devem ser adotadas para que seja retirado o máximo possível do material residual permitindo a ação germicida do desinfetante em sua plenitude.

Deve-se buscar sempre maquinário e equipamentos com “design” (desenho) que permita o mínimo de acumulo de sujidades e máximo acesso para limpeza. O fornecedor do equipamento deve ser consultado e solicitado quanto a aspectos específicos de higienização. Novas tecnologias em franca expansão que utilizam novos equipamentos como vacinadoras in ovo requerem cuidados especiais pelo obvio motivo de representarem o mais íntimo contato com o ovo e o embrião.

O monitoramento é feito pelo método de exposição de placas, por exames de contagem de bactérias e pesquisa de Salmonella através de material colhido com swabs de pontos estratégicos nos equipamentos (vide Tabela – Monitoria Sanitária de Incubatórios).

O “fluff test” é o teste sistemático de amostras de penugem e tem sido um bom método para indicar o grau de contaminação do ovo e da área do nascedouro. Através deste teste é possível o isolamento de vários microrganismos patógenos, dentre eles a Salmonella.
Trabalhos recentes tem demonstrado isolamento em equipamentos e utensílios de incubatórios podendo este fato estar associado ao desvio da atenção ao maquinário, tanto na sanitização quanto no monitoramento microbiológico. Mais atenção deve ser dada a estes.

Desinfetantes

Os desinfetantes ou biocidas são produtos químicos que agem diretamente sobre os microrganismos causando sua inativação ou morte. Os diferentes tipos de desinfetantes disponíveis apresentam diferenças entre mecanismo de ação e espectro de atuação (bactericida, fungicida e viricida) além de cada formulação apresentar características próprias de compatibilidade, estabilidade, corrossividade e segurança.

Deve-se buscar por um produto eficiente que se aproxime do ideal, inclusive quanto à relação custo-benefício. A escolha por aspectos somente comerciais muitas vezes leva a perdas. A avaliação do desinfetantes pode ser feita de diversas maneiras e metodologias (por exemplo: coeficiente fenólico, teste dos cilindros carreadores, etc), as descritas abaixo são as mais utilizadas:
a- Avaliação in vitro ou teste de eficácia frente a cepas-padrão (por exemplo, ATCC)
b- Avaliação in vitro ou teste de eficácia frente a microrganismos autóctones, ou seja, microrganismos isolados do próprio incubatório testando o desinfetante.
c- Avaliação ou Ensaio in company.
Estas avaliações são úteis e importantes para a seleção e aquisição de produtos mais adequados, com grau de diluição que apresentam boa relação custo-benefício e com eficácia comprovada frente à bactérias e fungos problema no incubatório. A ocorrência de resistência de bactérias e fungos a desinfetantes tem sido uma preocupação, inclusive com relatos de isolamento de Pseudomonas aeruginosa em franco crescimento em soluções desinfetantes de hospitais e industrias que utilizam biocidas.

O monitoramento associado à verificação rotineira da eficácia de produtos desinfetantes frente aos microrganismos do incubatório, permite ajustes necessários.

Resíduos

A produção de resíduos num incubatório é considerável e crítica, pois trata-se de material extremamente perecível, excelente substrato para microrganismos e potencialmente contaminado, podendo ser um foco de desafio dentro do incubatório. Daí a necessidade da retirada dos resíduos o mais rápido possível, somado a ótima preservação quando ainda no aguardo da expedição.

Ainda devido às características do material, pode ser utilizado para monitoramento de possível o isolamento de vários microrganismos patógenos, dentre eles a Salmonella.

Embalagem

O armazenamento incorreto ou material muito velho pode contaminar o material de embalagem dos pintos e se tornar uma fonte de infecção para os animais. Atenção deve ser dispensada ao material e ambiente de armazenamento deste.

Caminhões de transporte de ovos e pintos

De pouco adiantará todo esforço da produção de pintos saudáveis se houver um alto desafio no transporte que pode levar à contaminação. O mesmo se aplica para caminhões de transporte de ovos que também podem ser fonte de contaminação. Todos os cuidados de limpeza e desinfecção preconizados devem ser adotados para os caminhões, sendo indicado inclusive sua avaliação periódica dentro do programa de monitoramento sanitário do incubatório.

Pessoal ou Recursos Humanos
O bom desempenho da equipe é que resultará nos índices de qualidade e produtividade do incubatório e tal qual um navio, todos são importantes, do mais alto posto de gerência ao novato aprendiz, para que o empreendimento siga seu curso e atinja seus objetivos.
O gerente e equipe devem ser selecionados para terem habilidades e atitudes condizentes às funções específicas de incubatório, onde o trabalho em ambiente fechado e de rotina industrial, exige perfil de pessoas diferenciado do pessoal de campo.
O gerente é exigido não só na sua capacidade fundamental de liderança e ordenação do trabalho como também pela sua responsabilidade técnica para alcançar índices ótimos de produção. Treinamento, motivação e monitoramento, inclusive com coleta de amostras, são essenciais para boa condução.
Para segurança e monitoramento utilizamos a coleta de amostras da superfície da mão de funcionários em momentos específicos para acompanhamento e demonstração da higiene adequada (ou não!). Os momentos são, por exemplo: classificação de ovos, transferência de nascedouros, vacinação e seleção de pintos, etc. Importante lembrar que pode ser feito inicialmente ou continuamente em percentuais pré estabelecidos que determinem teste de todos funcionários uma vez a cada determinado período. Estas amostras colhidas através do uso de swabs são testadas quanto a carga bacteriana total (opcional: pesquisa de Salmonella!) nos indicando qual o potencial risco de contaminação pela manipulação. Avaliações sistemáticas levam a maior concientização e melhores resultados.
Exames de coprocultura de funcionários com atenção especial e métodos especiais para pesquisa de Salmonella tem sido implantado em alguns incubatórios, com foco na biossegurança dos pintos produzidos.
Conclusão
O monitoramento microbiológico faz parte do controle de qualidade de um incubatório, tendo por finalidade avaliar a carga microbiológica na planta do incubatório, da superfície de seus equipamentos e dos ovos, a fim de avaliar se as medidas sanitárias adotadas estão sendo eficazes no controle destes microrganismos.
O estado sanitário de um incubatório depende não somente das medidas sanitárias adotadas dentro do incubatório, mas também do perfeito controle do plantel de reprodutores, assim como do manejo de ovos até sua recepção no incubatório, além de perfeitas práticas de desinfecção das instalações e higiene dos funcionários que trabalham no incubatório.
Para avaliar o estado sanitário do incubatório, além da qualidade do pintinho e a avaliação da sua performance na criação, o levantamento microbiológico periódico da qualidade do ar nos diferentes setores do incubatório fornecerá dados importantes para se estabelecer o melhor programa sanitário.
A utilização de desinfetantes deve ser sempre acompanhado de um controle microbiológico para que se possa acompanhar a efetividade do mesmo.
Continua no próximo artigo:
 
Incubatórios: Interpretação de resultados de Monitoria Sanitária


Tabela – Monitoria Sanitária de Incubatórios - Avaliação mensal

Área Foco
Material
Amostragem Exames
Ovos *
Swab de casca ou placa de contato
10 Contagem Bacteriana Total Contagem de Fungos
Ovos bicados 30 Isolamento de Salmonella
Ambiente
Placa de Exposição
02/ambiente
Sala Classificação
Sala de ovos
Sala de Incubação
Sala de Eclosão
Sala de Seleção
Sala/Lab de Vacina
Corredores
Depósito de Embalagem
Sala de Lavação
Avaliação Microbiológica ambiental
Maquinário e Equipamentos Placa de Exposição 02/máquina
Máquina de Incubação
Máquina de Eclosão
Avaliação Microbiológica ambiental
Penugem (Fluff) 02 Isolamento de Salmonella
Swabs 02/equipamento
mesa de classificação
mesa de seleção
vacinadora
carrinhos de ovos
carrinhos de pintos
Contagem Bacteriana Total Contagem de Fungos Isolamento de Salmonella
Resíduos Resíduos 02 Contagem Bacteriana Total Isolamento de Salmonella
Embalagem Embalagem 02 Contagem de Fungos
Caminhão Placa de Exposição 02/ caminhão
02 caminhões
Avaliação Microbiológica ambiental
Água Água 02 Análise Microbiológica da água
Pessoal Swab de Mão 8% do no. Funcionários Contagem Bacteriana Total
Isolamento de Salmonella
Fezes 8% do no. Funcionários Isolamento de Salmonella

* No caso de Ovos de Terceiros: sugere-se pesquisa de anticorpos anti-Mycoplasma e anti-Salmonella na gema.
Área Foco Material Amostragem Exames
Desinfetantes Desinfetantes 02 Teste de Eficiência de Desinfetantes
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Luiz Eduardo Ristow
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