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Glicerinas frangos energia

Avaliação de energia metabolizavel de glicerinas de diferentes compososições em frangos de corte

Publicado: 1 de setembro de 2011
Por: K. Zavarize, Dr. José Fernando M. Menten, R Pereira, CLS Silva, M Bernadino, L Freitas, Y Karaccas - Departamento de Ciência Animal e Pastagens, Universidade de São Paulo - Universidade Federal do Acre
Sumário

O experimento foi conduzido com objetivo de avaliar a energia metabolizável aparente (EMA), a energia metabolizável aparente corrigida para o nitrogênio (EMAn) e o coeficiente de metabolizabilidade da glicerina em frangos de corte. Foram utilizados 200 frangos machos com 21 dias de idade, distribuídos em delineamento em blocos casualizados, com 5 tratamentos e 8 repetições de 5 aves cada, sendo uma ração referência e 4 rações teste, em que as glicerinas de composições diferentes foram substituídas em 10%. O período experimental teve a duração 4 dias de adaptação e 4 dias de coleta. Os valores de EMAn para as glicerinas A, B, C e D foram 3.145, 5.026, 2.828 e 2.892 kcal/kg na matéria natural, respectivamente. Os resultados indicam que a glicerina pode ser usada como fonte de energia para frangos de corte, porém sua composição afeta diretamente a energia e o coeficiente de metabolizabilidade.
Palavras Chave: Alimento alternativo; Energia bruta; Glicerol.

Introdução
O Brasil apresenta grande potencial para a produção de biocombustíveis. Além da diversidade de culturas oleaginosas para a produção de biodiesel, o país dispõe de tecnologia de ponta e estrutura fabril com alta capacidade para desenvolver esta produção. O biodiesel é uma alternativa para os combustíveis à base de petróleo e pode ser produzido a partir de gorduras animais ou de óleos vegetais, existindo várias espécies vegetais no Brasil com alto potencial de produção. Em 2009, a produção brasileira de biodiesel foi de aproximadamente 1,608 bilhão de litros e como co-produto foram gerados cerca de 160 milhões de litros de glicerina bruta, segundo a Agência Nacional do Petróleo (2011).
O grande interesse na utilização da glicerina bruta na alimentação animal é devido ao seu valor energético. Na realidade, o valor energético da glicerina bruta, resultante de cada processo industrial, deve ser determinado em função de sua pureza em glicerol, uma vez que diversas impurezas podem estar presentes no produto. Esta afirmativa é válida desde que as impurezas não sejam constituídas por ácidos graxos livres ou mesmo resíduo de triglicerídeos, os quais obviamente contribuem com a energia da glicerina bruta.
Dozier et al. (2008) determinaram o valor de energia metabolizável aparente corrigida para o nitrogênio (EMAn) da glicerina para frangos como sendo 3.434 kcal/kg, o que corresponde a 95% da energia bruta, indicando que a glicerina bruta é utilizada eficientemente por frangos de corte. Lammers et al. (2008), trabalhando com galinhas poedeiras, encontraram o valor de EMAn de 3.805 kcal/kg, sendo este semelhante ao valor de energia bruta da glicerina utilizada no estudo (3145 kcal/kg), novamente demonstrando o alto grau de aproveitamento energético.
Os valores de energia metabolizável determinados para a glicerina bruta são muito próximos quando comparados aos valores de energia metabolizável aparente do milho para suínos (3.340 kcal/kg) e aves (3.381 kcal/kg) (Rostagno et al., 2005). Isto evidencia o potencial de uso da glicerina como ingrediente energético de rações para estas espécies. É importante ressaltar que ao formular rações para aves e suínos, o valor de energia metabolizável da glicerina bruta será proporcional ao seu nível de glicerol, ou seja, deve ser considerado o teor de glicerol e a energia bruta do glicerol como sendo de 4.320 kcal/kg, conforme sugerido por Lammers et al. (2008).
Barlet & Schenieder (2002) demonstraram que os valores de EM do glicerol puro para frangos de corte, poedeiras e suínos variavam de acordo com sua inclusão na dieta. Os autores sugeriram que a redução da EMA ocorre pela ausência de reabsorção renal de glicerol, sendo o excesso excretado pela urina. Nesse mesmo sentido, Gianfelici (2009) relatou que quando da ingestão de quantidades crescentes de glicerol deve existir um nível a partir do qual a capacidade de metabolização é superada, causando aumento no glicerol no sangue, o qual deve ser excretado pela urina. Nesse estudo, com a inclusão de 15% de glicerina na dieta de frangos de corte ocorreu excesso de excreção de água, tornando impraticável sua utilização.
Portanto, deve-se ressaltar que os diferentes valores energéticos verificados na literatura, devem-se principalmente aos diferentes tipos de glicerina existentes no mercado, com diferentes teores de glicerol, água e gordura.
O objetivo deste trabalho foi avaliar a energia metabolizável e a corrigida de glicerinas de composições diferentes para frangos de corte.
Materiais & Métodos
Foram alojadas 200 aves inicialmente no galpão experimental recebendo ração controle e água ad libitum e aos 21 dias foram pesadas e transferidas para gaiolas de metabolismo. Foi utilizado o delineamento em blocos casualizados, com 5 tratamentos e 8 repetições de 5 aves cada, sendo uma ração referência e 4 rações teste (4 glicerinas de composição diferentes). O ensaio ocorreu no período de 21 a 29 dias de idade, com quatro dias de adaptação às gaiolas e dietas experimentais e quatro dias para coleta total das excretas. O consumo de ração e a quantidade de excretas produzidas foram registrados durante o período de coleta. As coletas foram realizadas duas vezes ao dia para evitar possível contaminação e fermentação das excretas. A ração referência foi formulada à base de milho e farelo de soja segundo as recomendações de Rostagno et al. (2005) e as rações teste eram compostas de 90% da ração referência e 10% de glicerina, sendo estas glicerinas de composição diferentes (Tabela 1). Foi adicionado 1% de óxido de ferro em todas as rações para servir como indicador do início e final da coleta de excretas.
 Tabela 1. Composição das glicerinas
 
A
B
C
D
Energia bruta, kcal/kg
3469
6201
3679
3396
Glicerol, %
80,1
40,3
71,3
62,2
Metanol, ppm
200
9800
24900
3500
NaCl, %
5,33
0,47
0,98
5,71
Àcidos graxos, %
0,4
49,5
6,4
3,4
Umidade, %
12,8
4,1
6,4
27,0
Fonte
Soja
Fritura
Soja
Soja
Região
MT
SP
PR
MT
Ao término do período experimental foi quantificada a quantidade de ração consumida e as aves foram pesadas para determinar o desempenho. As excretas coletadas foram acondicionadas em sacos plásticos e congeladas a -18°C até o final do período de coleta. Posteriormente, as excretas foram descongeladas, homogeneizadas e pesadas e uma amostra representativa de cada repetição foi retirada para análises laboratoriais. Estas alíquotas passaram por pré-secagem em estufas de circulação forçada de ar a 65°C por 72 horas. Posteriormente, as amostras foram moídas e acondicionadas em recipientes para posteriores análises de energia bruta em bomba calorimétrica (modelo Parr 1261) e o nitrogênio através do método da combustão direta de Dumas via aparelho automatizado LECO.
Os dados obtidos nas análises, juntamente com o consumo de ração e a produção de excretas, foram utilizados no cálculo de energia metabolizável aparente (EMA) e energia metabolizável aparente corrigida para o balanço de nitrogênio (EMAn) e coeficiente de metabolizabilidade da energia das glicerinas, segundo metodologia de Sakamura & Rostagno (2007).
Resultados & Discussão
Embora o experimento não tenha sido planejado para determinar o desempenho das aves, foram avaliados o ganho de peso (GP), consumo de ração (CR) e conversão alimentar (CA) e não foram detectadas diferenças significativas, tendo o desempenho normal. O GP diário médio das aves dos tratamentos foi de aproximadamente 74 g.
Os dados de energia metabolizável aparente (EMA) e aparente corrigida (EMAn) estão expressos em matéria natural na Tabela 2. A EMA e EMAn variaram de acordo com a composição da glicerina (P<0,05), principalmente com as concentrações de glicerol e de ácidos graxos. Lammers et al. (2008) observaram que EM pode ter relação direta com teor de glicerol das amostras e que as características da glicerina utilizada são importantes.
O valor de EMAn para glicerina A foi de 3.145 kcal/klg, próximo da obtido por Dozier et al. (2008), que encontraram 3.331 kcal EMAn/kg matéria natural, em frangos com 38 a 45 dias de idade, esta diferença de EM deve-se provavelmente a composição das glicerinas, pois a utilizada pelos autores possuia maior quantidade glicerol. Lammers et al. (2008), trabalhando com poedeiras de 40 semanas, encontraram resultados semelhantes para EMAn de 3.800 kcal/kg, usando 10 e 15% de glicerol.
A glicerina B apresentou EMAn de 5.026 kcal/kg devido a concentração de ácidos graxos na composição. Furlan et al. (2010), trabalhando com cordonas, encontraram o valor de 4.564 kcal/kg para glicerina não purificada.
Os coeficientes de metabolizabilidade das glicerinas foram: 91%, 81%, 76% e 85% para as glicerinas A, B, C e D, respectivamente. Isto evidencia que a composição da glicerina, principalmente em relação à concentração de glicerol e ácidos graxos afetam esse coeficiente.
Essas diferenças nos valores energéticos que são verificados na literatura devem-se principalmente as diferenças na composição das glicerinas existentes no mercado e a falta de padrões na produção das diferentes empresas. Para registro da glicerina como ingrediente de rações, o produto deve ter no mínimo 80% de glicerol, no máximo 12% de umidade e150 ppm de metanol.
Tabela 2. Valores de energia metabolizável aparente (EMA) e aparente corrigida (EMAn) das glicerinas, expressos em matéria natural
Glicerinas
EMA (kcal/kg)
EMAn (kcal/kg)
A
3.182b
3.145b
B
5.251a
5.026a
C
2.871b
2.828b
D
2.787b
2.893b
CV (%)
15,55
15,86
Médias com diferente letra diferem significativamente (p<0,05)
Conclusões
A composição da glicerina afeta diretamente na EM e no coeficiente de metabolizabilidade, mas quando apresenta altos níveis de glicerol na composição pode ser um ingrediente interessante, devido sua energia metabolizável.
Bibliografia
Association of Official Analytical Chemistry - AOAC. 1990. Official methods of analysis. 15° Ed. Arligton.
Agência Nacional do Petróleo. 2011. Estatística de Biodiesel. Disponível em: <http://www.anp.gov.br>. Acesso em: 25 Fev 2011.
Barlet J & Schneider D. 2002. Investigation on the energy value of glycerol in the feeding of poultry and pig. pp 15-36. Em: Union for the Promotion of Oilseeds-Scheiften Heft. Berlin.
Dozier WA, Kerr BJ, Corzo A, Kidd MT, Weber TE, Bregendahl K. 2008. Apparent metabolizable energy of glycerin for broiler chickens. Poultry Science 87:317-322.
Gianfelici MF. 2009. Uso do glicerol como fonte alternativa para frangos de corte. Dissertação (Mestrado em Zootecnia) - Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre.
Lammers P, Kerr BJ, Honeyman M, Stalder K, Dozier WA, Weber TE, Kidd MT, Bregendahl K. 2008. Nitrogen-corrected apparent metabolizable energy value of crude glycerol for laying hens. Journal of Animal Science 87:104-107.
Sakamura NK & Rostagno HS. 2007. Métodos de pesquisa em nutrição de monogástricos. FUNEP/UNESP. Jaboticabal.
Rostagno HS et al. 2005. Tabelas brasileiras para aves e suínos: composição de alimentos e exigências nutricionais. 2° Ed. UFV. Viçosa.
Silva DJ, Queiroz AC. 2002. Análise de alimentos: métodos químicos e biológicos. 3° Ed. UFV. Viçosa. 
 
 
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Autores:
Dr. José Fernando M. Menten
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