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Efeitos da suplementação enzimática e da forma física da ração sobre o desempenho e as características de carcaça de frangos de corte

Publicado: 25 de novembro de 2021
Por: Renata Mara de Souza, Antônio Gilberto Bertechini, Raimundo Vicente de Sousa, Paulo Borges Rodrigues, Júlio César Carrera de Carvalho, Jerônimo Ávito Gonçalves de Brito
INTRODUÇÃO
Os efeitos benéficos de enzimas exógenas derivadas de microorganismos melhorando a digestibilidade dos nutrientes para aves são bem estabelecidos. Porém, as condições de processamento das rações como a peletização, podem afetar a termoestabilidade destes aditivos, prejudicando seu efeito esperado.
A maioria das pesquisas são feitas baseadas no uso de enzimas em dietas contendo nutrientes com altas quantidades de polissacarídeos não amiláceos (PNAs), carboidratos resistentes à hidrólise no trato digestório de animais monogástricos e que agem prejudicando a absorção de nutrientes. No entanto, pesquisas utilizando enzimas exógenas em dietas à base de milho e farelo de soja são direcionadas para um melhor aproveitamento dos nutrientes contidos nestes ingredientes, principais componentes das rações utilizadas no Brasil.
Desse modo, o presente trabalho foi conduzido para determinar o efeito do complexo enzimático Endopower , composto de -galactosidase, galactomanase, xilanase e -glucanase sobre o desempenho e características de carcaça de frangos de corte alimentados com dietas à base de milho e de farelo de soja e duas formas físicas (peletizada e farelada).
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi conduzido no período de novembro a dezembro de 2004 e avaliou o desempenho e as características de carcaça dos frangos de corte. Foram utilizados 1488 pintos de corte machos da linhagem Cobb 500, adquiridos com um dia de idade, distribuídos em oito tratamentos e seis repetições. As aves foram alojadas em galpão de alvenaria, contendo 48 unidades experimentais com 31 aves cada, dotadas de bebedouros, comedouros e lâ mpadas para aquecimento, onde foram criados atéos 42 dias de idade. Foram utilizadas dois tipos de ração basal experimental isonutrientes, formuladas na base de aminoácidos digestíveis para as fases de 1 a 21 e 22 a 42 dias de idade, de acordo com as recomendações nutricionais sugeridas por Rostagno et al. (2000). Foram utilizadas duas rações basais, uma ração basal normal (DBN) e outra valorada (DBV), na qual a energia metabolizável do milho e da soja foram superestimados em 2,0 e 9,0%, respectivamente e a digestibilidade de aminoácidos superestimada em 4% para ambos os ingredientes,. A composição percentual das rações encontra-se na Tabela 1.
A partir das rações basais, foram constituídos os tratamentos:
1 - DBN; farelada; sem enzima
2 - DBN; farelada; 200 g de enzima /ton de ração
3 - DBN; farelada; 400 g de enzima /ton de ração
4 - DBN; peletizada; sem enzima
5 - DBN; peletizada; 200 g de enzima /ton de ração
6 - DBN; peletizada; 400 g de enzima /ton de ração
7 - DBV; farelada; sem enzima
8 - DBV; farelada; 200 g de enzima /ton de ração
O desempenho foi avaliado através do consumo de ração, ganho de peso e conversão alimentar nos períodos de 1 a 21 e 1 a 42 dias de idade das aves. Aos 42 dias, foram selecionadas duas aves de cada unidade experimental, as quais foram abatidas após jejum de 6 horas para avaliação de carcaça .
O modelo estatístico dos experimentos para todas as características avaliadas foi o seguinte:
Y ijk= µ + Ei + FFj + EFF(ij) + eij
em que:
Yijk = observação referente à enzima i, submetida à forma física j, na repetição k.
µ = média geral
Ei = efeito da enzima i, com i = 1, 2 e 3
FFj = efeito da forma física j, com j = 1 e 2.
EFF(ij) = efeito da interação entre nível de enzima e forma física da ração
e ij = erro experimental associado aos valores observados (Yijk), que por hipótese tem distribuição normal com média zero e variâ ncia ² .
Para comparação dos tratamentos 7 e 8 , a análise estatística seguiu o modelo:
Yij = µ + Ti + eij
Yijk = observação referente ao tratamento i, na repetição k.
µ = média geral
Ti = efeito do tratamento i, com i = 1 e 2
e ij = erro experimental associado aos valores observados (Yijk), que por hipótese tem distribuição normal com média zero e variâ ncia ² .
As análises estatísticas foram realizadas utilizandose o pacote estatístico SISVAR, descrito por Ferreira (2000), testando-se os efeitos dos tratamentos por meio da análise de regressão. Os contrastes foram testados pelo teste de Scheffé, comparando-se os tratamentos adicionais com os demais tratamentos correspondentes no mesmo nível de enzima.
Efeitos da suplementação enzimática e da forma física da ração sobre o desempenho e as características de carcaça de frangos de corte - Image 1
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os dados de desempenho nos dois períodos avaliados podem ser observados na Tabela 2.
O consumo de ração nos dois períodos avaliados reduziu linearmente (P< 0,05) à medida que houve aumento dos níveis do complexo enzimático nas rações (Figuras 1 e 2).
Sabendo-se que o principal efeito da adição de enzimas à s dietas à base de milho e farelo de soja éa melhoria da digestibilidade dos nutrientes, e que as aves regulam o seu consumo de alimento pela ingestão de energia, os resultados deste experimento indicam um possível aumento no valor energético das rações em razão da suplementação enzimática. Entretanto, analisando-se os dados de consumo de ração para o período de 1 a 42 dias, observa-se redução linear no consumo de ração mas com uma equação apresentando coeficiente de determinação baixo em relação à do período de 1 a 21 dias. Vários autores (CAMIRUAGA et al., 2001; CONTE et al., 2002; GARCIA et al., 2000), suplementando dietas à base de milho e farelo de soja com enzimas, não verificaram diferenças estatísticas no consumo de ração.
Efeitos da suplementação enzimática e da forma física da ração sobre o desempenho e as características de carcaça de frangos de corte - Image 2
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Brum et al. (1998) afirmaram que, apesar das aves consumirem alimentos para satisfazerem suas necessidades energéticas, o mecanismo não élinearmente perfeito, e, ao se aumentar o nível energético das rações, o declínio esperado no consumo raramente ocorre.
A valoração dos ingredientes das rações não alterou o consumo de ração em nenhuma das fases estudadas (P> 0,05), o que foi verificado através de contrasTES FEITOs entre os tratAMENTos constituídos DE RAções normais e os em que as rações foram valoradas nutricionalmente. Estes dados confirmam a valoração dos ingredientes pela suplementação enzimática.
Alguns autores (FISCHER et al., 2002; GARCIA et al., 2000; PEREIRA, 1999; SCHANG et al., 1997), jáverificaram através da ausê ncia de diferença no consumo de ração entre tratamentos normais e valorados, na presença de complexos enzimáticos, a ação das enzimas em suprir a deficiê ncia nutricional das rações.
No período de 1 a 21 dias, as aves que receberam ração peletizada apresentaram melhor ganho de peso em relação à quelas que receberam ração farelada (P< 0,05). Estes resultados são semelhantes aos encontrados por (BRUM et al., 1998; ROLL, 1998; VARGAS et al., 2001). Esta diferença pode ser resultado do aumento da densidade de nutrientes proporcionada pelo processo de peletização e conseqü ente redução do gasto energético com consumo de ração pelas aves.
Houve interação significativa (P< 0,05) entre a forma física da ração e os níveis de suplementação do complexo enzimático no ganho de peso no período de 1 a 42 dias de idade das aves. O ganho de peso foi superior para a ração peletizada sem a suplementação do complexo enzimático. Este fato sugere uma influê ncia, exercida pelo processo de peletização, na estabilidade enzimática.
O ganho de peso não foi alterado (P> 0,05), nas duas fases analisadas, em virtude da valoração dos ingredientes que constituíram as rações experimentais, o que confirma a hipótese da valoração dos ingredientes pela suplementação enzimática.
Resultados semelhantes foram encontrados por Fisher et al. (2002), Garcia et al. (2000) e Pereira (1999).
Houve melhoria linear (P< 0,05) na conversão alimentar no período de 1 a 21 dias de idade dos frangos de corte, atribuída à redução do consumo de ração sem afetar o ganho de peso das aves à medida que se elevaram os níveis de suplementação do complexo enzimático (Figura 3).
Estes dados estão de acordo com Fischer et al. (2002) e Torres et al. (2001), os quais verificaram melhoria na conversão alimentar neste período em frangos de corte
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suplementados com enzimas em dietas à base de milho e farelo de soja.
No período de 1 a 42 dias de idade das aves, houve interação significativa (P< 0,01) entre nível de enzima e forma física da ração. A forma física peletizada sem adição do complexo enzimático foi a que apresentou melhor conversão alimentar (P< 0,05), o que pode ser resultado de uma desestabilização enzimática provocada pelo processo de peletização.
A valoração dos ingredientes das rações não alterou a conversão alimentar das aves nos dois períodos avaliados (P> 0,05). Possivelmente pela capacidade da suplementação enzimática em suprir a deficiê ncia nutricional das rações valoradas.
Os resultados encontrados estão de acordo com Fischer et al. (2002) e Garcia et al. (2000), os quais suplementaram dietas à base de milho e farelo de soja com complexo enzimático com deficiê ncia nutricional e não encontraram diferenças na conversão alimentar em relação à s rações normais.
Os resultados de características de carcaça podem ser observados na Tabela 3.
Houve diferença significativa (P< 0,05) no rendimento de carcaça com a variação da forma física da dieta independente do nível de suplementação enzimática, observando-se melhor rendimento de carcaça nas aves que receberam a ração peletizada.
Houve um aumento linear (P< 0,05) do teor de gordura abdominal na medida em que se aumentou o nível de suplementação enzimática (Figura 4). O aumento dos níveis de enzima resultou numa maior porcentagem de gordura na carcaça das aves, o que pode ser explicado por um possível aumento na liberação de energia dos nutrientes através da suplementação enzimática. O excesso de energia ingerida além das necessidades teria sido acumulado na forma de gordura na carcaça do frango.
Não houve diferença no rendimento de peito e de coxa e sobrecoxa (P> 0,05) devido aos níveis de suplementação e à forma física da ração. Estes resultados estão de acordo com Zanella (1998), que suplementando dietas à base de milhos e farelo de soja com enzimas, não encontrou diferenças significativas em nenhum dos parâ metros de carcaça avaliados.
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CONCLUSÕES
A forma física peletizada proporcionou melhor ganho de peso aos 21 dias e melhor rendimento de carcaça das aves. A utilização do complexo enzimático em rações peletizadas foi influenciada pela desnaturação enzimática decorrentes das temperaturas utilizadas no processo. A energia metabolizável do milho e do farelo de soja podem ser valoradas em 2 e 9 %, respectivamente e a digestibilidade de aminoácidos em 4 % para ambos ingredientes na presença do complexo enzimático sem prejudicar o desempenho dos frangos de corte.

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CAMIRUAGA, M.; GARCIA, F.; ELERA, R.; SIMONETTI,
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Autores:
Antônio Bertechini
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Renata Mara de Souza
Paulo Borges Rodrigues
UFLA - Universidade Federal de Lavras
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