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Digestibilidade de cálcio de fontes inorgânicas para galinhas poedeiras

Publicado: 25 de agosto de 2019
Por: Fernando de Castro Tavernari Carina Sordi Fernanda Rigon Vanessa Pedon Maiara Classer Bender Anna Griza Wickert Natacha Drechmer Luiz Fernando Teixeira Albino Arele Arlindo Calderano Sandra Carolina Salguero Cruz Tiago Goulart Petrolli Diego Surek Helenice Mazzuco Gilberto Antônio Bertechini Marcel Manente Boiago Diovani Paiano
Introdução
A avicultura de postura praticamente dobrou sua capacidade produtiva na última década, produzindo aproximadamente 39,9 bilhões de unidades no ano de 2017, com aumento de 1,8% na produção nacional comparado com o ano de 2016 (Embrapa Suínos e Aves, 2018), e é atualmente o terceiro setor com maior consumo de ração no Brasil, sendo que no ano de 2016 aproximadamente 4,2 milhões de toneladas de ração foram destinadas para aves de postura (Zani, 2018). As rações fornecidas para galinhas em produção apresentam elevados níveis de cálcio, um mineral essencial para manter a produção de ovos, além da sua importância no desenvolvimento e qualidade da estrutura óssea das galinhas e também na formação e qualidade das cascas dos ovos (Araújo et al., 2008). Quando os níveis de cálcio e fósforo são utilizados de maneira inadequada, ocasionam perdas na qualidade da casca dos ovos, além de redução da vida produtiva da galinha poedeira (Jardim Filho et al., 2005).
Entretanto, as fontes de cálcio mais utilizadas para galinhas poedeiras, o calcário calcítico e o fosfato bicálcico, apresentam variabilidade em suas características físico-químicas, em função da sua origem, e consequentemente diferem em valores de solubilidade e tamanho de partícula (Reid; Weber, 1976), o que não é corrigido nas formulações das dietas, uma vez que as exigências são expressas em cálcio total. Além disso, por apresentar baixo custo, o calcário calcítico normalmente é adicionado em níveis elevados nas rações (Cruz, 2009). Em virtude do excesso da adição de cálcio às rações, o mesmo pode agir como antagonista, ocorrendo a formação de quelatos insolúveis, que prejudicam a absorção de outros minerais (McDonald et al, 1993).
Ainda, a carência de conhecimento das características fisico-químicas dos calcários pode ocasionar variação dos resultados de exigências nutricionais determinadas em pesquisas científicas, fato este que contribui para uma utilização incorreta de altos níveis de cálcio nas rações (Fassani et al., 2004). Desta forma, busca-se otimizar o uso de ingredientes nas rações a fim de suprir adequadamente as necessidades das aves, alterando a formulação da dieta antes feita pela base total e partindo para a base digestível (Adedokun et al.,2018).
Assim, objetivou-se determinar os coeficientes de digestibilidade de cálcio para fosfato bicálcico e três calcários, que diferem em granulometria e origem, para poedeiras leves com 33 semanas de idade.
Material e métodos
O experimento foi conduzido na Embrapa Suínos e Aves, onde foram utilizadas 144 poedeiras leves, com 33 semanas de idade, distribuídas em um delineamento inteiramente casualizado, com seis tratamentos e oito repetições, com três aves por unidade experimental. Os tratamentos consistiram de uma ração isenta de cálcio para a determinação da perda endógena pelo animal, ração basal sem a inclusão de fosfato ou calcário (RB; exceto para cálcio e fósforo, ambas atenderam as recomendações de Rostagno, 2017) e quatro rações em que o amido da ração basal foi substituído parcialmente pelo alimento teste. A porcentagem de substituição do amido da ração basal pelo alimento teste foi de 2%, 6,1%, 6,1% e 6,1% para fosfato bicálcico, calcário A (Furquim Fino), calcário B (Santa Helena Fino) e calcário C (Santa Helena Grosso), respectivamente. Para caracterização dos alimentos testes fosfato bicálcico (Figura 1) e calcários calcíticos A, B e C (Figura 1), foram determinados o diâmetro geométrico médio - DGM (para o fosfato e calcários) e a solubilidade in vitro (apenas para os calcários). A solubilidade in vitro foi efetuada por dois métodos: a metodologia utilizada inicialmente foi descrita por Zhang e Coon (1997), fazendo adição de 200 mL de solução à base de ácido clorídrico a 0,2 N na amostra. Já o segundo teste foi realizado de acordo com método sugerido por Cheng e Coon (1990), através da porcentagem de perda de peso, onde é adicionado 100 mL de ácido clorídrico a 0,1 N. As características dos três calcários calcíticos (A, B e C) e do fosfato bicálcico estão apresentadas na Tabela 1.
Digestibilidade de cálcio de fontes inorgânicas para galinhas poedeiras - Image 1
 
Digestibilidade de cálcio de fontes inorgânicas para galinhas poedeiras - Image 2
O período experimental foi de oito dias, sendo quatro dias para adaptação às dietas experimentais e quatro dias para a coleta total de excretas, segundo metodologia de Sibbald e Slinger (1963). O fornecimento de ração foi à vontade. As excretas coletadas diariamente permaneceram armazenadas em embalagens plásticas e congeladas até o final do período de coleta. Posteriormente, as excretas foram descongeladas, homogeneizadas, pesadas e seguiram para a estufa, a 55 ºC para pré-secagem. Após a secagem, foram moídas para determinação dos teores de matéria seca (MS), cálcio (Ca) e fósforo (P). A excreção do cálcio se dá quase em sua totalidade pela excreta e não pela urina (Cruz, 2009; Sakomura e Rostagno, 2016), assim optou-se por não realizar a coleta ileal para a determinação dos coeficientes de digestibilidade, uma vez que há comprovações de que a total e a ileal são similares. Os coeficientes de digestibilidade do cálcio foram determinados com base no consumo de ração (através de pesagens da ração fornecida e das sobras ao final do período experimental) e na quantidade de excreta produzida (obtido a partir de pesagens das excretas coletadas diariamente). Utilizaram-se as equações adaptadas por Jongbloed e Kemme (1990) para se obter os coeficientes de digestibilidade aparente e verdadeiro do cálcio de fosfato bicálcico e fontes do calcário calcítico.
Resultados e discussão
A perda endógena das galinhas foi de 0,883 g de Ca/ave/kg de MS consumida, o que equivale a 0,035 g/ave/dia, valor inferior aos 0,180 g/ave/dia observado por Mueller et al. (1964) usando cálcio radioativo e óxido crômico como indicador em dieta para poedeiras. Cruz (2009), trabalhando com frangos de corte em crescimento, determinou 2 g/ animal/kg de MS consumida e 0,140 g/ ave/dia de perda endógena, valores superiores aos observados para poedeiras deste estudo. Os resultados obtidos para a digestibilidade do cálcio dos alimentos estão apresentados na Tabela 2.
Os coeficientes obtidos para fosfato bicálcico foram próximos aos de Cruz (2009) em estudo com frangos de corte. No entanto, os valores dos coeficientes dos calcários são inferiores aos encontrados para frangos de corte (aproximadamente 85%). A justificativa principal para esta diferença, possivelmente, é o nível de inclusão dos alimentos na dieta basal, uma vez que foi utilizado 0,8% para frangos de corte e 6,1% para o ensaio com postura, de modo a simular o atendimento da exigência de Ca na dieta de postura e representar melhor a dieta de poedeiras. O aumento da granulometria diminuiu a digestibilidade do cálcio do calcário calcítico, fato este que pode ser explicado pela facilidade de digestão do alimento finamente moído. Contudo, esse tema deve ser melhor estudado, já que a taxa de liberação do cálcio na corrente sanguínea pode ter influência direta na qualidade de casca do ovo e qualidade óssea da galinha ao longo do ciclo produtivo da poedeira.
Digestibilidade de cálcio de fontes inorgânicas para galinhas poedeiras - Image 3
Conclusão
Os coeficientes de digestibilidade verdadeiro do cálcio para fosfato bicálcico e para os três calcários calcíticos definidos como A, B e C são: 84,8%, 68,6%, 64,3% e 43,1%, respectivamente.

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