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Complexo Enzimático Frangos

Uso de Complexo Enzimático em Frangos de Corte

Publicado: 21 de julho de 2010
Por: Carlos Augusto Q. Borges (C Borges Consultoria)
O interesse no uso de enzimas em rações para aves tem aumentado, principalmente, com a proibição do uso de antibióticos promotores de crescimento e de farinhas de origem animal para os produtores de frangos de corte que exportam para os mercados Europeu e Árabe.  Com a exigência do uso de uma ração vegetariana para frangos de corte alguns problemas ocorreram como as perdas em termos de disponibilidades de nutrientes e de digestibilidade devido ao aumento na proporção do farelo de soja. Um outro problema observado com o uso de rações vegetarianas é no aumento do consumo de água com reflexo direto na umidade da cama quando principalmente a farinha de pena é substituída pelo farelo de soja.
Para evitar danos maiores principalmente na perda de desempenho e do aumento do custo de produção, se tem intensificado a busca por alternativas que compensem pelo menos parcialmente as perdas impostas pelo novo sistema de produção.
A utilização de enzimas associadas a outros produtos como probióticos e minerais orgânicos seria, portanto, uma alternativa para o uso de promotores de crescimento, com o objetivo de aumentar o aproveitamento dos alimentos e tornar as aves mais eficientes.
As enzimas podem tanto melhorar a digestão e absorção de ingredientes tradicionais como milho e farelo de soja, reduzir os efeitos dos antinutrientes ou fornecer à ave uma nova capacidade de digerir certos componentes da dieta. A maioria das alterações está centralizada na melhoria da digestibilidade dos chamados polissacarídeos não amiláceos (PNA). Esses componentes são essencialmente fibras não digestíveis, para aves e suínos, que pouco adicionam ao valor nutritivo de um ingrediente, e podem, na verdade reduzir disponibilidade geral dos nutrientes ao criarem um ambiente hostil para enzimas endógenas, no interior do intestino.
Enzimas são proteínas globulares, de estrutura terciária ou quaternária que agem como catalisadores biológicos, aumentando a velocidade das reações químicas no organismo, sem serem alteradas neste processo. São altamente específicas para o substrato e dirigem todos os eventos metabólicos. As enzimas têm que atuar sob condições favoráveis de temperatura, pH e umidade para manter sua atividade biológica.

Mecanismo Geral de Ação das Enzimas

  • 1- Provocam a ruptura das paredes celulares das fibras;
  • 2- Reduzem a viscosidade da dieta, devido à fibra solúvel no intestino;
  • 3- Degradam as proteínas, por exemplo, do farelo de soja, reduzindo os efeitos dos fatores antinutricionais como os inibidores de protease;
  • 4- Suplementam as enzimas endógenas do animal.

Grão de Cereais

Quando falamos em rações vegetarianas o milho é tradicionalmente o cereal preferido na alimentação de aves. Seu valor energético é o mais alto entre os cereais e assume-se que seja constante em diferentes lotes. Entretanto, Lesson et al. (1993) relataram a variabilidade da energia metabolizável para aves de 2926 a 3474 kcal/kg para a safra de milho de 1992 no Canadá.
Outro fato importante no que diz respeito ao milho é sobre a digestibilidade do amido. Vários pesquisadores afirmam que o amido do milho tem uma alta digestibilidade para aves (>95%), entretanto Noy e Sklan (1995) mostraram uma digestibilidade bastante baixa, tanto do amido como de gordura, em pintos jovens alimentados com ração à base de milho e farelo de soja suplementada com 6% de óleo de soja. A digestibilidade do amido no intestino delgado de aves com diferentes idades variou de 82 a 90%.
Como descrito anteriormente, a preocupação principal com os cereais é o seu conteúdo de PNA, especialmente quando se usa alimentos alternativos para diminuir o custo da formulação e conseqüentemente diminuir o custo de produção. O β-glicanos, existente na cevada e os arabinoxilanos ou pentosanos, existentes no trigo.
Uso de Complexo Enzimático em Frangos de Corte - Image 1
Os PNA não podem ser digeridos pelas enzimas sintetizadas pelos animais, sendo fermentados pela microflora intestinal e produzindo gases na forma de ácidos graxos voláteis. Além disso, existem evidências de que parte dos PNA  possui atividades antinutricionais.
Os motivos para as propriedades antinutricionais de PNA são sua elevada capacidade de ligarem-se às grandes quantidades de água resultado num aumento da viscosidade do conteúdo intestinal quando o alimento contendo PNA for consumido. O aumento da viscosidade pode causar problemas no intestino delgado devido a nutrientes como gordura, amido ou proteína se tornarem menos acessíveis e disponíveis a enzima endógenas  (Cousins, 1999).
Em cereais os PNA consistem principalmente de pentoses, glicanos e celulose, sendo que as pectinas de leguminosas e galactosideos são os PNA predominantes.
Entretanto com exceção do milho e do sorgo os outros cereais da tabela 1 não são freqüentemente usados em formulações de frangos de corte, pois estes cereais são ricos em fibras e não entram em rações com altos níveis de energia. Estes cereais são importantes na formulação de rações da Europa, pois lá não se usa milho. Uma grande gama de enzimas comercializadas no Brasil tem sua origem na Europa e talvez por este motivo muitas vezes não têm efeito em rações a base de milho e/ou sorgo. 

Ingredientes Protéicos

O farelo de soja é a fonte de proteína mais usada na nutrição animal, e surpreendentemente, este ingrediente não são tão bem utilizados pelas aves. A energia metabolizável do farelo de soja é bastante baixa em relação à sua energia bruta, principalmente devido aos carboidratos não digeríveis, tais como a rafinose, estaquiose etc.
Os carboidratos podem ser quimicamente caracterizados em várias substâncias, cada uma delas com uma estrutura específica e uma função biológica distinta. Isto explica as diferenças observadas no valor energético de cada alimento, já que as composições em carboidratos são variáveis.
Uso de Complexo Enzimático em Frangos de Corte - Image 2
Sabemos que o processamento do farelo de soja tem como objetivo reduzir os fatores antinutricionais presentes na soja. Entretanto, reduzir não significa eliminar essas substancias como podemos observar na tabela 3.
As enzimas sintetizadas pelo organismo das aves atuam especificamente em carboidratos com ligações alfa, como o amido, não atuando sobre carboidratos com ligações beta e oligossacarídeos contendo galactose, encontrados em várias sementes de plantas. Os oligossacarídeos tais como estaquiose e rafinose, presentes em muitas leguminosas, não são absorvidos no intestino delgado. A utilização destes carboidratos, portanto, só é possível após a quebra dos oligossacarídeos em monossacarídeos, através da ação de enzimas exógenas.
Hoje em dia, já podemos encontrar alguns complexos enzimáticos contendo proteases e carboidrases específicas para agirem em proteínas de origem vegetal. O uso simultâneo destes complexos multienzimaticos associados a fitase tem se mostrado vantajoso, dependendo do custo dos substratos alimentares, sendo que o uso de enzimas pode aumentar a digestibilidade de substratos protéicos vegetais como a soja e o girassol.
Quando falamos em produção avícola, o primeiro aspecto abordado é sobre o custo de produção de 1 kg de frango. Já é um fato conhecido que o custo da ração é responsável por 70% do custo de produção. No Brasil, como nos EUA, cerca de 90% das rações de aves são produzidas à base de milho e farelo de soja. Já foi mencionado anteriormente que as fontes de proteína vegetal contêm componentes antinutricionais que afetam a utilização pelas aves.
A adição de complexos enzimáticos capazes de agirem em uma ração com milho, farelo de soja e soja integral para melhorar a digestibilidade e utilização dos ingredientes poderá assumir grande importância econômica quando for capaz de reduzir o custo da ração, ou melhorar, o resultado zootécnico dos frangos de corte. Sem falar no aspecto ambientam, pois o uso de enzimas ajuda a diminuir a excreção de agentes poluentes.
Apesar de enzima não ser um assunto novo, pois ela já é usada há bastante tempo, principalmente na Europa, observamos que os nutricionistas brasileiros ainda apresentam uma resistência muito grande em usar enzimas nas dietas de aves e suínos. Talvez a explicação para esta resistência esteja nos resultados de pesquisas que ainda são controversos. Como salientamos anteriormente, o objetivo principal do uso de enzimas em dietas de aves é o de remover ou destruir os fatores antinutricionais encontrados nos cereais e leguminosas. Entretanto, para isto ocorrer as enzimas devem ter a capacidade de sobreviver o processo do alimento, resistir as condições ácidas e o ataque de enzimas proteolíticas no proventrículo e moela.
Se a enzima não for protegida, principalmente para temperatura e pH, o seu uso será limitado, pois ela terá que resistir a temperaturas acima de 75oC em rações peletizadas ou extrusadas  e também terá que resistir ao baixo pH e às enzimas proteolíticas do trato digestivo.
O tipo de material usado para proteger a enzima tem uma grande influência na estabilidade da enzima quando a ração for peletizada. No caso de rações peletizadas, não apenas a temperatura é um problema, mas também fatores como tempo de condicionamento, pressão de vapor e umidade são críticos para estabilidade da enzima na ração. Segundo Guenter (2000), preparações de enzimas comerciais são, geralmente, específicas para uma determinada espécie e atuam em pequenas variações de pH e temperatura. Hoje existem enzimas que foram selecionadas geneticamente para atuarem em ambientes com temperaturas elevadas (> 80oC). Entretanto, vários pesquisadores questionam como se comportariam estas enzimas dentro do organismo das aves em uma temperatura de 41oC.
Uso de Complexo Enzimático em Frangos de Corte - Image 3
Em alguns casos, quando não se observa benefícios do uso de enzimas é porque devemos ter problemas com o uso delas, tais como a forma e o momento de aplicação, a exposição a altas temperaturas, a composição e concentração do complexo enzimático, a distribuição uniforme no alimento e outros fatores que possam desnatura-las.
Como mencionamos anteriormente, a suplementação de enzimas que degradam PNA em rações contendo cereais que apresentam pouca viscosidade como milho ou sorgo, não é uma pratica muito comum na indústria. Porém, essa situação poderá mudar rapidamente, assim que o desenvolvimento de novas enzimas alimentares ou novas formas de aplicação destes produtos evoluírem (Cousins, 1999). Soto Salanova et al. (1996) verificaram melhor ganho de peso e conversão alimentar de aves que foram alimentadas com rações de milho e farelo de soja suplementadas com um coquetel enzimático Tabela 5. 
Uso de Complexo Enzimático em Frangos de Corte - Image 4
Zanella et al. (1999) usando complexo enzimático em rações de frangos de corte à base de milho e farelo de soja, observaram aumento significativo (P<0.05) na digestibilidade ileal do amido e gordura de 2 e 1.8%, respectivamente. Os resultados estão apresentados na Tabela 6. Tejedor et al. (2001) mostraram que a adição de um complexo enzimático com amilase, celulase e protease melhorou os coeficientes de digestibilidade médios da MS, PB, EB, Ca e P em rações de frangos de corte à base de milho e farelo de soja. Os mesmos autores afirmam que a adição de misturas enzimáticas às dietas de aves pode ser economicamente viável em áreas onde o milho e o farelo de soja são os principais ingredientes utilizados.
Uso de Complexo Enzimático em Frangos de Corte - Image 5
Considerações Finais
Em rações vegetarianas, o uso de enzimas já é uma realidade, pois, além de melhorar o desempenho zootécnico das aves, diminui o custo de produção.
O nutricionista deverá escolher o complexo de enzimas que mais se adapte a sua realidade, pois enzima é substrato dependente e só atua em condições favoráveis de temperatura, pH e umidade.
No novo conceito de nutrição, devemos estar atentos ao efeito das associações de diferentes aditivos como pré e probióticos, enzimas e minerais orgânicos, pois um produto complementa o outro e o somatório destes efeitos melhora o desempenho zootécnico das aves.Entretanto,  estas combinações devem respeitar a relação custo-benefício.
Referências Bibliográficas
Cousins, B. Enzimas na nutrição de aves. SIMPOSIO INTERNACIONAL ACAV- EMBRAPA SOBRE NUTRIÇÃO DE AVES, 1., 1999, Concórdia, SC. Anais..Concórdia: EMBRAPA-CNPSA. 199. P.115-129.
Noy, Y and Sklan, D. 1995. Digestion and absorption in the young chick. Poultry Science 74: 366-373.
Pack, M., Bedford M. 1997. Feed enzymes for corn-soybean broiler diets. World Poultry 13, 9: p.87-93.
Soto-Salanova, MF, Garcia, O, Graham, H. Uso de enzimas em dietas de milho e soja para frangos de corte. CONFERÊNCIA APINCO 96 DE CIENCIA E TECNOLOGIA AVÍCOLAS, 1996, Curitiba, PR. Anais... Curitiba, 1996. p.71-76
Tejedor, AA., Albino LFT., Rostagno, HS. Et al.2001. Efeito da adição de enzimas em dietas de frangos de corte à base de milho e farelo de soja sobre a digestibilidade ileai de nutrientes. REVISTA BRASILEIRA DE ZOOTECNIA, Viçosa, MG, 30(3) p. 809-816.
Zanella, I. Sakomura, NK. Silversides,FG., Fiqueirdo, A. Pack, M. effect of enzyme supplementation of broiler diets based on corn and soybeans. Poultry Science, 78:561-568,1999  
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Autores:
Carlos Augusto Borges
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