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Boas práticas de manejo durante a pega de frangos de corte

Publicado: 4 de outubro de 2013
Por: Marília Lessa de V. Queiroz e José Antonio Delfino Barbosa Filho, Núcleo de Estudos em Ambiência Agrícola e Bem-estar Animal (NEAMBE), Universidade Federal do Ceará (UFC), CE.
O setor produtivo de frangos de corte sempre direcionou sua atenção para as áreas de nutrição, sanidade e genética, nem sempre dando a devida importância para áreas diretamente ligadas à qualidade final do produto. Esse é o caso da fase de pega ou captura das aves, parte inicial das chamadas operações pré-abate. Atualmente, reduzir perdas durante esta fase é um dos grandes desafios dos produtores de frangos, pois a mesma pode gerar elevados índices de perdas, porém, até então nem todas as perdas e danos ocorridos com as aves durante a pega eram percebidos ou contabilizados pela cadeia avícola em geral.
Talvez devido ao fato de que muitos dos danos ocorridos durante a atividade de pega ou apanha das aves, tais como hematomas e fraturas, só são realmente percebidos após a depenagem das mesmas. Assim, é de fundamental importância uma abordagem acerca deste tema, levando-se em consideração principalmente os princípios do bem-estar animal e a redução de perdas.
Aparentemente retirar as aves dos galpões de criação para o abate parece ser um trabalho simples, porém exige muito treinamento e força física por parte dos envolvidos neste processo. Este é um momento bastante dinâmico, pois constantemente pessoas entram e saem dos galpões carregando os frangos até o caminhão de transporte, sendo necessário bastante esforço e agilidade por parte dos trabalhadores.
Sabendo destes aspectos, durante a pega alguns cuidados devem ser tomados a fim de minimizar lesões e traumas nas aves. São mudanças simples no manejo que podem gerar grandes benefícios, são elas:
- O primeiro e mais importante passo é treinar de forma adequada os funcionários envolvidos na apanha. Cada pessoa envolvida neste processo deverá saber exatamente a função que vai desempenhar e conhecer bem suas responsabilidades. Se possível, todos deverão seguir instruções detalhadas passadas previamente;
- Antes que ocorra a pega deve ser feita uma avaliação da ambiência interna do galpão. Caso os valores de temperatura e umidade relativa do ar estejam elevados, fora do nível de conforto das aves, a operação de pega deverá ser interrompida, devido ao maior grau de estresse a que as aves estarão submetidas, o que poderá aumentar ainda mais as perdas;
- Devem ser feitos círculos de captura. Esta é uma prática que facilita a pega pelo fato de se trabalhar com pequenos grupos de aves e evitar grandes movimentações e aglomeração das mesmas;
- Antes de serem feitos os círculos de captura os comedouros e bebedouros devem ser suspensos, para evitar golpes no peito e nas pernas das aves e acidentes com o pessoal responsável pela apanha;
- O ambiente do galpão, se possível, deverá ter iluminação reduzida durante a pega. As aves apresentam menor nível de atividade com a diminuição da luz e ambientes mais escuros minimizam as reações de medo entre as aves, reduzindo assim o estresse;
- Os ventiladores devem ser mantidos ligados durante toda a pega das aves. Deve haver ventilação adequada na altura das mesmas, para minimizar os efeitos do estresse térmico. Ventiladores ligados também reduzem o nível de pó e poeira dentro do ambiente;
- Os trabalhos devem ser feitos de forma silenciosa. Deve-se evitar procedimentos que possam gerar reações de medo e pânico nas aves, as mesmas deverão ser manejadas de forma calma, propiciando o mínimo de agitação entre elas. Muitas vezes a rapidez com que a pega é executada gera traumas nas aves e dependendo da gravidade das lesões, pode ocorrer condenação parcial ou até mesmo total da carcaça dos animais afetados;
- As aves devem ser pegas pelo dorso (método japonês), usando as duas mãos e pressionando as asas contra o corpo. Os animais devem ser contidos de maneira confortável, evitando que os mesmos se debatam. A pega pelo dorso oferece maior proteção, causa menos estresse e reduz os riscos de fraturas nas aves, resultando em uma menor condenação de carcaça;
- Enquanto as aves estão sendo carregadas deve ser evitado que as mesmas se debatam ou levem pancadas (visando minimizar os arranhões, hematomas e outros machucados), por isso a distância que as aves serão carregadas até o caminhão deverá ser a menor possível. Para isto o caminhão de transporte deverá ser posicionado bem próximo de onde as aves sairão do galpão;
- As portas e passagens dos galpões devem ser suficientemente largas para permitir a remoção segura das aves;
- As aves devem ser colocadas dentro das caixas de transporte da forma mais cuidadosa possível. Se jogadas de forma brusca podem sofrer danos e fraturas;
- As caixas carregadas com as aves devem ser manejadas de forma cuidadosa, para evitar solavancos demasiados, ou que as mesmas escapem no momento da formação da carga na carroceria do caminhão;
Para que as aves cheguem da maneira correta até o final do processo de pré-abate serão necessários ainda diversos cuidados nas fases que seguem a operação da pega. Porém, os cuidados durante a apanha das aves são de extrema importância, pois é onde tudo se inicia, e caso este começo ocorra de forma inadequada, sérios problemas envolvendo o bem-estar dos animais poderão ocorrer, perdurando assim até que as aves sejam abatidas.
Diante disso, muitos estudos têm sido conduzidos atualmente com enfoque voltado ao pré-abate dos animais, e o NEAMBE, Núcleo de Estudos em Ambiência Agrícola e Bem-estar Animal, vem pesquisando maneiras de otimizar o manejo das aves durante a etapa de pega ou apanha, visando promover melhores condições de bem-estar para os animais e geração de benefícios para toda a cadeia avícola brasileira, através da redução das perdas nos processos produtivos.

***Texto originalmente publicado pelo site Portal Dia de Campo, na Coluna “Construções Rurais e Ambiência” em outubro de 2012.
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Autores:
José Antonio Delfino
Universidade Federal do Ceará (UFC)
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Reginaldo A De Oliveira
10 de octubre de 2013

Prezado José Antonio,
Tenho interesse em conhecer o processo de apanha de aves na região e estreitar os laços do conhecimento, compartilhar nossas experiências nesta atividade, mas do frio do SUL do nosso maravilho Brasil. Parabenizo os trabalhos do NEAMBE, observei através do site sugerido, estou lendo cada um deles. O conhecimento nesta atividade precisa ser compartilhado, pois acredito neste potencial emergente para nosso Brasil, sendo no futuro, o celeiro de alimentos e proteínas do MUNDO. Alguns estudos buscam validar condições de melhoria de processos com cunho comercial, é claro que baseado no capitalismo organizacional, não pode deixar de lado os recursos de fomento para desenvolvimento, mas compartilharmos experiências é um desafio neste nosso imenso País. Estou a disposição.

José Antonio Delfino
Universidade Federal do Ceará (UFC)
10 de octubre de 2013
O Ceará é onde as pesquisas do NEAMBE (www.neambe.ufc.br) são realizadas sr. José Nailton, por isso os resultados obtidos destes estudos estão sendo aplicados na prática pelos produtores locais. Temos um grande potencial de produção de frangos de corte no Nordeste, e ao mesmo tempo uma condição ambiental que pode causar sérios problemas de estresse térmico aos animais e aos trabalhadores responsáveis por lidar com estes (durante a pega por exemplo), assim, os desafios são grandes, mas estamos dispostos a enfrentá-los! Obrigado!
José Antonio Delfino
Universidade Federal do Ceará (UFC)
10 de octubre de 2013

Obrigado pela contribuição sr. Reginaldo! Temos uma linha de pesquisa voltada exatamente para a detecção e diagnóstico dos pontos críticos durante as chamadas "operações pré-abate" de aves, e trabalhamos para reduzir as perdas e otimizar os processos de manejo nessa fase, que na maior parte das vezes é negligenciada.

Jose Nailton Bezerra Evangelista
7 de octubre de 2013

Matéria bastante pertinente, pois como foi ressaltado, todo o esforço para o sucesso do lote pode se acabar antes do abate, confirmando as perdas após as avaliações de aproveitamento rendimento de carcaças, sendo isso valido inclusive aqui no Nordeste brasileiro, principalmente no Ceara, onde o mercado de frango vivo ainda é bastante ativo.

Reginaldo A De Oliveira
7 de octubre de 2013

Senhores, excelente artigo e gostaria de contribuir.
A atividade de frangos de corte é muito estudada e analisada, separada por fases ou etapas do processo produtivo: desde a melhor condição da granjas para matrizes e de ovos, sua qualidade e genética; os aviários de criação e integração, alimentação, conversão alimentar, qualidade de engorda, carcaça, desenvolvimento, mortalidade, biossegurança, ABRIMOS UMA LACUNA, vamos para o recebimento, abate e processamento. Na lacuna aberta está o apanha de aves. Aqui, de forma muito feliz, o artigo passa dar importância. A atividade envolve, como foi visto no artigo, uma série de etapas e procedimentos para o melhor resultado de cada lote abatido (apanhado). Estudos apontam que as reduções por perdas e ou problemas no apanha podem significar um melhor desempenho da agroindústria, por se tratar de milhares de aves apanhadas e abatidas por dia. Se considerarmos valores relativos de danos (percentuais) os indicadores são pequenos, mas ao vislumbrarmos valores absolutos de milhares de aves danificadas e mortas antes do abate, pode representar um grande foco de estudo e sua viabilidade técnica. Atualmente uma empresa em Santa Catarina apanha aproximadamente 1,5 milhões de aves por dia dentro de um processo certificado pela ISO 9001:2008 para atender a estas especificidades técnicas de uma atividade pouco estudada, na busca de melhores resultados para seus clientes. O importante é entender que se olharmos para toda a cadeia produtiva do frango de corte, ainda temos muito a estudar nesta lacuna chamada apanha e ou pega de frangos. Espero ter contribuído e estamos a disposição para a discussão e estudo.

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