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Aminoácidos digestíveis verdadeiros da farinha de carne e ossos e de peixe para aves

Publicado: 7 de outubro de 2013
Por: Cinthia Eyng, Doutoranda do Programa de Pós-graduação em Zootecnia, Universidade Estadual de Maringá -UEM-, PR; Ricardo Vianna Nunes, Christiane Garcia Vilela Nunes e Paulo Cesar Pozza, Departamento de Zootecnia, Universidade Estadual do Oeste do Paraná -UNIOESTE-, PR; Horacio Santiago Rostagno e Luiz Fernando Teixeira Albino, Departamento de Zootecnia, Universidade Federal de Viçosa -UFV-, MG, e Wagner Thiago Mozer da Silva, Mestrando do Programa de Pós-graduação em Zootecnia, UNIOESTE, PR.
Sumário

O experimento foi realizado com o objetivo de determinar os coeficientes de digestibilidade e os valores de aminoácidos digestíveis verdadeiros de diferentes subprodutos de abatedouros. Foi utilizado o método da "alimentação forçada" com galos adultos cecectomizados. O delineamento experimental utilizado foi o inteiramente casualizado, com duas farinhas de peixe (FP1 e FP2), duas farinhas de carne e ossos (FCO1 e FCO2) e um jejum, seis repetições e um galo por unidade experimental. Os coeficientes médios de digestibilidade verdadeira dos aminoácidos essenciais e não-essenciais, em porcentagem, para a FP1, FP2, FCO1 e FCO2 foram respectivamente, 94,32 e 92,87; 92,95 e 90,47; 83,24 e 76,94; 83,83 e 76,96.

Palavras–chave: aminoácidos digestíveis, digestibilidade, frangos de corte, subprodutos de abatedouros.

 

Introdução
A utilização de produtos alternativos na elaboração das dietas é uma estratégia que garante rações que atendam as exigências dos animais e ainda proporcionem a viabilidade da produção. No caso de ingredientes de origem animal além da importância econômica existe a preocupação ambiental, sendo uma forma de dar um destino correto aos resíduos gerados pelos abatedouros.
A grande variação na composição química e na qualidade de proteína e/ou aminoácidos é a maior preocupação no uso destas matérias-primas na matriz de ingredientes das rações de aves (Silva et al., 2000). A digestibilidade da proteína e dos aminoácidos nesses subprodutos depende da temperatura e do tempo de cozimento, que variam entre os sistemas de processamento, assim como entre a proporção de matérias-primas utilizadas (Brumano et al., 2006).
Desta forma, para que as formulações proporcionem a máxima produtividade e retorno econômico é fundamental conhecer o valor nutritivo desses alimentos. Os aminoácidos dos alimentos devem ser expressos na forma de aminoácidos digestíveis, assim, o conhecimento dos coeficientes de digestibilidade verdadeira permite que se conheça a quantidade dos aminoácidos que realmente são aproveitados pelos animais.
A determinação dos coeficientes de digestibilidade e os valores de aminoácidos digestíveis verdadeiros de farinhas de carne e ossos e de peixe de diferentes procedências foram os objetivos deste trabalho.
 
Material e Métodos
Foi realizado um ensaio biológico no Laboratório de Animais do Departamento de Zootecnia da Universidade Federal de Viçosa. A digestibilidade verdadeira dos aminoácidos foi determinada utilizando-se a técnica da "alimentação forçada" com galos adultos e cecectomizados, distribuídos em um delineamento inteiramente casualizado, composto por duas farinhas de carne e ossos, duas farinhas de peixe de diferentes procedências e um jejum, para determinação das perdas endógenas e metabólicas dos aminoácidos, com seis repetições e um galo por unidade experimental.
Os galos foram alojados individualmente em gaiolas para estudos de metabolismo e, inicialmente, foram submetidos a um período de adaptação de cinco dias, recebendo ração em dois turnos de uma hora cada, com o objetivo de dilatar o papo. Posteriormente, as aves foram submetidas ao período experimental de 80 horas, sendo que nas primeiras 24 horas permaneceram em jejum para o esvaziamento do trato gastrintestinal. Após o período de jejum, foram forçados a ingerir 30 gramas do alimento teste por meio de funil-sonda introduzido pelo bico até o papo, fornecidos em duas partes, para evitar regurgitação. Às 56 horas restantes foram destinadas a coleta de excretas. O material recolhido foi armazenado em congelador e, ao término do ensaio, as amostras foram descongeladas, homogeneizadas e levadas para estufa de ventilação forçada, a 55ºC, para posteriores análises de matéria seca e nitrogênio. Os aminogramas dos alimentos e das excretas foram realizados por cromatografia líquida de alta performance (HPLC) no Laboratório da Ajinomoto LTDA.
Uma vez conhecida a quantidade de aminoácidos ingeridos e excretados, bem como a fração endógena, determinaram-se os coeficientes de digestibilidade verdadeira de cada aminoácido. Os dados foram analisados por meio de análise de variância e teste de Student Newman Keuls (SNK), em nível de 5% de probabilidade para os valores médios dos coeficientes de digestibilidade verdadeira dos aminoácidos.
 
Resultados e Discussão
Houve diferença significativa (P<0,05) entre os coeficientes de digestibilidade verdadeira (CD) dos aminoácidos (Tabela 1). Os coeficientes de digestibilidade das farinhas de peixes foram superiores quando comparados aos das farinhas de carne e ossos.
De acordo com Pozza et al. (2005) as diferenças entre os CD dos aminoácidos, além de serem influenciadas pela composição da matéria-prima utilizada, podem ainda ser decorrentes do processamento térmico ao qual as farinhas são submetidas.
Segundo Ravindran et al. (2005) a variabilidade na digestibilidade apresentada pela farinha de carne e ossos reflete tanto os danos causados pelo processamento quanto as quantidades relativas de proteína muscular e colágeno nas matérias primas. O colágeno é a maior proteína do osso, tecidos conjuntivos, cartilagem e tendão. O colágeno não só é deficiente na maioria dos aminoácidos essenciais como também possui uma digestibilidade reduzida devido ao inadequado balanço de aminoácidos.
A cistina foi o aminoácido que apresentou o menor coeficiente de digestibilidade. Essa menor digestibilidade tem sido relacionada ao superaquecimento durante o processamento. Segundo Moghaddam et al. (2007) um superaquecimento durante a cocção resulta em uma redução na qualidade da proteína e digestibilidade dos aminoácidos tal como a lisina e cistina, sendo a cistina mais sensível as altas temperaturas. A redução na qualidade se deve a formação de cadeias dissulfídicas e consequentemente aumento no índice de passagem da proteína pelo trato gastrintestinal.
Ao serem contrastadas as digestibilidades médias dos aminoácidos essenciais e nãoessenciais, nota-se superioridade dos essenciais, o que segundo Ost et al. (2007) pode indicar um mecanismo do organismo das aves para o melhor aproveitamento dos aminoácidos nutricionalmente indispensáveis.
Evidencia-se, a partir das variações observadas nos coeficientes de digestibilidade dos aminoácidos, a grande importância da digestibilidade desses nutrientes, quando da formulação de rações, para que se possa obter máximo desempenho das aves. Este fator é intensificado quando se trabalha com alimentos alternativos ao milho e ao farelo de soja (Ost et al., 2007).
 
Tabela 1 Valores dos coeficientes de digestibilidade verdadeira (CD) dos aminoácidos essenciais e não-essenciais das farinhas de peixe e farinhas de carne e ossos.
Aminoácidos digestíveis verdadeiros da farinha de carne e ossos e de peixe para aves - Image 1
 
A variação na composição dos aminoácidos digestíveis (Tabela 2) pode estar associada tanto as diferenças na composição total quanto nos CD apresentados pelas farinhas. Considerando as discrepâncias com relação quantidade de aminoácido total contida no alimento e a quantidade digestível, para haver maior acurácia nas formulações de rações estas devem ser baseadas em aminoácidos digestíveis, proporcionando desta forma melhores desempenhos que as formuladas à base de aminoácidos totais.
Ravindran et al. (2005) constataram variações na composição aminoacídica da farinha de peixe semelhantes as encontradas para farinha de carne e de carne e ossos. Segundo os autores as farinhas de peixe são produzidas a partir de diferentes tipos e espécies de peixes e essa grande diversidade de matéria-prima pode ser responsável por essas variações. Já a farinha de carne e ossos as variações são devidas a proporção de inclusão de ossos e tecidos tendinosos.
 
Tabela 2 Valores dos aminoácidos totais e digestíveis verdadeiros das farinhas de peixe e farinhas de carne e ossos.
Aminoácidos digestíveis verdadeiros da farinha de carne e ossos e de peixe para aves - Image 2
 
Conclusões
Os coeficientes médios de digestibilidade verdadeira dos aminoácidos essenciais e nãoessenciais, em porcentagem, para a FP1, FP2, FCO1 e FCO2 foram respectivamente, 94,32 e 92,87; 92,95 e 90,47; 83,24 e 76,94; 83,83 e 76,96.
 
Literatura citada
BRUMANO, G.; GOMES, P.C.; ROSTAGNO, H.S. et al. Aminoácidos digestíveis verdadeiros de alimentos protéicos determinados em galos cecectomizados. Revista Brasileira de Zootecnia, v. 35, n. 6, p. 2290-2296, 2006.
MOGHADDAM, H.N.; MESGARAN, M.D.; NAJAFABADI, H.J. et al. Determination of chemical composition, mineral contents, and protein quality of Iranian Kilka fish meal. International Journal of Poultry Science, v. 6. n. 5, p. 354-361, 2007.
OST, P.R.; RODRIGUES, P.B.; FREITAS, R.T.F. et al. Aminoácidos digestíveis verdadeiros de alguns alimentos protéicos determinados em galos cecectomizados e por equações de predição. Revista Brasileira de Zootecnia, v. 36, n. 6, p. 1820-1828, 2007.
POZZA, P.C.; GOMES, P.C.; DONZELE, J.L. et al. Digestibilidade ileal aparente e verdadeira dos aminoácidos de farinhas de vísceras para suínos. Revista Brasileira de Zootecnia, v. 34, n. 6, p. 2327-2334, 2005.
RAVINDRAN, V.; HEW, L.I.; RAVINDRAN, G. et al. Apparent ileal digestibility of Amino acids in dietary ingredients for broiler chickens. Animal Science, v. 81, p. 85-97, 2005.
SILVA, J.H.V.; MUKAMI, F.; ALBINO, L.F.T. Uso de rações à base de aminoácidos digestíveis para poedeiras. Revista Brasileira de Zootecnia, v. 29, n. 5, p. 1446-1451, 2000.
***Trabalho originalmente publicado no Zootec 2009 - Associação Brasileira de Zootecnistas - 18 a 22 de maio de 2009, Águas de Lindóia/SP - FZEA/USP-ABZ.
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Cinthia Eyng
Universidade Estadual de Maringá UEM
Ricardo Vianna Nunes
Universidade Estadual do Oeste do Paraná
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