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Probióticos Nutrição Suínos

Probióticos na nutrição de suínos: alternativa ou solução?

Publicado: 31 de outubro de 2012
Por: Otto Mack Junqueira e Karina Ferreira Duarte do Departamento de Zootecnia, Universidade Estadual Paulista - UNESP - SP.
Sumário

Resumo

A produção de carnes vem sendo intensificada por avanços significativos nas áreas da genética, nutrição, ambiência e reprodução. Em suínos, especificamente dentro da área de nutrição, os promotores de crescimento antimicrobianos foram fundamentais, trazendo grandes benefícios em termos de desempenho e eficiência alimentar quando utilizados em doses subterapêuticas como micro ingredientes nas suas dietas. Porém, o uso de antimicrobianos nas dietas animais vem sendo questionado em vários países. A razão desta discussão está relacionada com a possibilidade deles serem tóxicos e/ou cancerígenos, comprometendo a saúde humana, quando seus resíduos estiverem presentes em produtos alimentícios de origem animal, causando também problemas de resistência bacteriana aos antibióticos. Por este motivo, tornou-se crescente a restrição ou proibição ao uso dos antibióticos como promotores de crescimento nas rações animais em vários países do mundo, sendo que na Europa já se proibiu o uso deste tipo de substância. Desta maneira, ganha importância o aprimoramento dos substitutos dos antibióticos e dentro deles destacam-se os probióticos, prebióticos e simbióticos na nutrição animal.

Introdução
A alimentação é o componente mais importante na produção de suínos pois apresenta influências biológica e econômica, representando de 70 a 85% os custos de produção. A utilização de doses subterapêuticas de antibióticos na ração animal teve início na década de 50 e possui como objetivo a prevenção ou redução da incidência de microorganismos no trato gastrointestinal, melhorando a taxa de crescimento e a eficiência alimentar. O uso de antibióticos na alimentação animal se encontra cada vez mais restrito. As principais preocupações são:
• desenvolvimento de resistência das bactérias aos antibióticos empregados
• queda na sua eficiência
• permanência de resíduos não degradáveis nos alimentos
• transmissão de bactérias resistentes ao homem através do consumo de carne e derivados
• reações alérgicas em pessoas previamente sensibilizadas e toxicidade
A suinocultura é considerada como uma das atividades importantes na cadeia alimentícia da população humana. Atualmente, esta atividade é caracterizada pela grande concentração dos animais em sistemas confinados, o que pode ocasionar a disseminação de agentes patogênicos, que podem comprometer o desempenho do rebanho. O uso de antibióticos como promotores de crescimento permite melhorar o desempenho zootécnico dos animais, mas está sendo banido da suinocultura devido, principalmente, aos riscos representados pelas bactérias resistentes, que podem trazer problemas para a saúde animal e humana. Por outro lado, a nutrição animal tem buscado novas alternativas para atingir bons índices produtivos e, com base neste conceito, surgiram os probióticos, de microrganismos vivos (bactérias e leveduras) benéficos, incorporados através da dieta, que podem manter o equilíbrio da flora intestinal dos suínos, prevenindo doenças do trato digestório, melhorando a digestibilidade das rações, levando à maior utilização de nutrientes e ocasionando melhor desempenho dos animais.
Do ponto de vista da produção animal, o interesse nos estudos sobre probióticos está em elucidar os mecanismos de ação que resultam em aumento da produtividade. Os mecanismos de ação mais prováveis dos probióticos são a exclusão competitiva, o antagonismo direto, o estímulo ao sistema imune e o efeito nutricional, mediante as melhorias na digestão e absorção de nutrientes.
Vários microrganismos são usados como probióticos, entre eles bactérias ácido-lácticas, bactérias não ácido-lácticas e leveduras. Além das propriedades mencionadas, os probióticos devem ser inócuos, manter-se viáveis por longo tempo durante a estocagem e o transporte, tolerar o baixo pH do suco gástrico e resistir à ação da bile e das secreções pancreática e intestinal, não transportar genes transmissores de resistência a antibióticos e possuir propriedades anti-mutagênicas e anticarcinogênicas, assim como resistir a fagos e ao oxigênio.
 
Histórico da utilização dos antibióticos como promotores de crescimento
A partir da década de 50, os antibióticos começaram a serem utilizados na alimentação animal com a função de cura e de prevenção de doenças. Porém, estes compostos também possuíam a capacidade de melhorar o desempenho dos animais de produção através da exclusão de microrganismos que competem pelo alimento no trato gastrintestinal. Os produtores passaram a usar estes compostos como promotores de crescimento e também para a prevenção de doenças. Como as condições de higiene daquela época eram deficientes se comparadas às da atualidade, os resultados obtidos foram bastante expressivos. Praticamente todos os antibióticos usados na terapêutica humana e veterinária passaram a serem utilizados como aditivos promotores de crescimento.
Na década de 60, surgiram as primeiras críticas dos profissionais da área de produção animal e de saúde humana em relação ao uso indiscriminado dos antibióticos na alimentação animal.
Criou-se a hipótese de que o uso diário e constante sem critérios não apenas provocaria a destruição de bactérias patogênicas, mas também das benéficas e, além disto, poderia acarretar o aparecimento de resistência bacteriana, levando à uma queda na eficiência dos antibióticos. Assim, os animais poderiam ser acometidos por uma infecção provocada por um microrganismo resistente ao antibiótico utilizado, além da possível transmissão destas bactérias resistentes ao homem através do consumo de carne e derivados e do contato com os animais infectados.
A partir da década de 70, órgãos de saúde internacionais como o Food and Drug Admistration (FDA - Órgão que trata da autorização para produção e venda de alimentos, bebidas e medicamentos humanos e animais), dos EUA, passaram a se preocupar com as rações suplementadas com antibióticos, surgindo assim as primeiras limitações do uso destes produtos na alimentação animal. A preocupação era proteger o consumidor, uma vez que a presença de resíduos de antimicrobianos como a penicilina poderia causar reações alérgicas em pessoas sensíveis, além de interferir no tratamento de infecções humanas devido ao aparecimento de bactérias resistentes.
Na década de 80, a Comunidade Européia proibiu o uso de penicilina, tetraciclina, clortetraciclina, oxitetraciclina, estreptomicina, alegando que a atividade destes compostos, quando utilizados na alimentação animal, poderia intervir na terapêutica humana. Após estas proibições, pesquisadores da área de nutrição animal começaram a buscar alternativas na tentativa de encontrar novos aditivos alimentares que pudessem substituir de forma similar os antibióticos. O interesse centralizou-se em um dos mecanismos de defesa natural dos animais que até então havia recebido pouca atenção: a população de bactérias benéficas que está presente no trato gastrintestinal. O Lactobacillus acidophilus começou a ser utilizado como suplemento alimentar para animais.
Na década de 90, a Portaria número 159 de 13/06/92 do Ministério da Agricultura proibiu o uso de determinadas drogas como aditivos alimentares nas rações animais, deixando evidente a preocupação do Brasil com o uso dos antibióticos. Dentre as drogas vedadas estão as tetraciclinas, terramicinas, clortetraciclina e penicilina. Desde então, novos aditivos alimentares começaram a ser testados e utilizados na alimentação animal como os probióticos, prebióticos, simbióticos, enzimas, entre outros. Novas proibições surgiram: a nitrofurazona, a furazolidona, o cloranfenicol (Portaria número 448, de 10/09/98), a avoparcina (Portaria Numero 819, de 16/10/98), os arsenicais, antimonianais (Portaria número 31, de 29/01/2002), o cloranfenicol e os nitrofuranos (Instrução normativa número 38, de 08/05/2002). Na União Européia, até dezembro de 2005, ainda eram liberados a flavomicina, avilamicina, salinomicina e monensina sódica. Porém, atualmente, todos os antimicrobianos estão proibidos para uso como aditivo alimentar.
 
Os probióticos: porque utilizá-los?
Na realidade, os probióticos são microrganismos vivos que, juntamente com produtos específicos do seu metabolismo ou ingredientes que promovam seu crescimento, são adicionados à dieta dos suínos com o intuito de estabelecer um balanço desejável na microbiota que habita o trato gastrintestinal. Mudanças benéficas nessa microbiota entérica reduzem, principalmente, a população de algumas cepas potencialmente patogênicas de Escherichia coli, além de ajudar a diminuir a liberação de toxinas no intestino. Estes microrganismos devem estar presentes como células viáveis, capazes de sobreviver e metabolizar-se no ambiente intestinal, resistentes ao baixo pH do estômago e ácidos orgânicos, serem estáveis e capazes de permanecer viável por longos períodos sob condições de armazenamento a campo e, finalmente, não serem patógenos ou tóxicos (Fuller, 1989)
Os probióticos, considerados por Fuller (1989,1992) como alimentos funcionais, são empregados também em determinadas fases da criação de suínos como produtos alternativos à utilização de agentes antimicrobianos. A utilização desses produtos, particularmente na fase inicial da vida dos leitões e anteriormente a períodos de estresse, como o desmame, contribui para a manutenção da flora nativa do intestino delgado. Por ser um suplemento alimentar composto de microrganismos vivos, que beneficia o hospedeiro animal através do equilíbrio da sua flora intestinal nativa, os probióticos agem assegurando a integridade do epitélio intestinal, garantindo uma maior absorção de nutrientes e melhor aproveitamento dos diversos componentes da ração fornecida aos suínos.
Desta ação referida, particularmente na nutrição dos leitões, há a otimização indireta de alguns índices de produção, como ganho de peso diário e conversão alimentar. Os probióticos destacam-se ainda como estimuladores do sistema imunológico, através do suporte prestado à imunidade local da mucosa intestinal. Entre os componentes do sistema imunológico envolvidos nesse processo está a Imunoglobulina A (Ig A), cuja presença no trato intestinal é fundamental como auxiliar no controle da invasão bacteriana, aglutinando antígenos particulados e neutralizando vírus. Além disso, a presença de probióticos no trato intestinal aumenta a atividade dos macrófagos, reforçando a implantação da resposta imune mediada por células e, conseqüentemente, estimulando a produção de anticorpos
Probióticos produzem também, através do seu metabolismo, ácidos orgânicos, peróxido de hidrogênio e substâncias conhecidas como bacteriocininas (acidofilina, lactobacilina, entre outras), que têm efeito antimicrobiano frente a alguns patógenos intestinais, atuando no controle de diversas infecções, promovendo a profilaxia de doenças entéricas e auxiliando na manutenção do estado de saúde dos animais. Os probióticos agem, ainda, melhorando a absorção dos nutrientes através do estímulo da produção de enzimas (proteases e amilases), das vitaminas do complexo B, da vitamina K e também da síntese de aminoácidos essenciais. Há relatos de suplementação alimentar com probióticos cuja prática levou à diminuição na concentração portal de amônia, o que melhorou a digestibilidade das proteínas devido ao aumento da atividade de proteases entéricas ácidas e alcalinas.
 
Quais os mecanismos de ação dos probióticos?
A probioticoterapia consiste no princípio da exclusão competitiva, ou seja, ao utilizar um grupo de microrganismos “benéficos”, outros não sobrevivem. O mecanismo de ação por “Exclusão Competitiva” ainda não está totalmente elucidado, porém pesquisas foram feitas onde podem se enumerar algumas formas da atuação destes microrganismos: competição por nutrientes, competição física, produção de ácidos, secreção de bacteriocinas, imunidade cruzada, desintoxicação causada por endotoxinas, produção de enzimas digestivas, síntese de vitaminas do complexo B e interações com os sais biliares.


Porque utilizar o Bacillus cereus var. toyoi como probiótico?
A principal vantagem do Bacillus (por ex., Bacillus cereus var. toyoi) sobre as bactérias ácido lácticas (por ex., Lactobacillus acidophilus), na elaboração de probióticos reside em sua capacidade de esporular, o que lhes confere maior sobrevivência durante o trânsito estomacal, e durante a elaboração, transporte e armazenamento das rações. Estes probióticos melhoram o desempenho de frangos de corte, auxilia no controle de diarréias em leitões, reduzindo a mortalidade perinatal nos animais. Junqueira et al. (2007) comprovaram uma melhora no desempenho dos suínos em todas as fases de criação, utilizando-se o probiótico a base de Bacillus cereus var. toyoi, o prebiótico produzido através do endosperma do coco e a combinação dos dois.
Tabela 1. Ganho de peso, consumo de ração e conversão alimentar de suínos nas diferentes fases de criação, submetidos a diferentes promotores de crescimento.
Tratamentos Ganho de peso
28 a 41 dias 42 a 71 dias 72 a 104 dias 105 a 142 dias
Controle 5,91a 18,73b 28,50b 34,70b
Antibiótico 6,08a 18,41b 28,98b 35,12ab
Probiótico 6,10a 19,04a 29,13ab 35,00ab
Prebiótico 6,00a 19,84a 30,45a 35,07ab
Probiótico + Prebiótico 6,10a 19,98a 30,83a 36,08a
CV 3,18 3,03 3,63 3,81
Consumo de ração
Controle 8,51a 34,28a 72,96b 103,41a
Antibiótico 8,76a 32,95a 66,65ab 101,85a
Probiótico 8,48a 33,51a 64,09a 100,8a
Prebiótico 8,40a 35,31a 67,90ab 101,00a
Probiótico + Prebiótico 8,60a 34,56a 68,13ab 100,66a
CV 2,36 3,81 4,13 4,01
Conversão alimentar
Controle 1,44a 1,83b 2,56b 2,98b
Antibiótico 1,44a 1,79ab 2,30a 2,90ab
Probiótico 1,39a 1,76ab 2,20a 2,88ab
Prebiótico 1,40a 1,78ab 2,23a 2,88ab
Probiótico + Prebiótico 1,41a 1,73a 2,21a 2,79a
CV 3,18 2,73 4,00 4,13
Médias na coluna seguidas de letras minúsculas diferentes diferem entre si pelo teste de Tukey (P<0,05).
Além dos efeitos mencionados, as bactérias do gênero Bacillus podem estimular a resposta imune e serem utilizadas como imunomoduladores. Coppola et al. (2003) estudaram o efeito de probióticos preparados com Bacillus cereus var. toyoi e com Saccharomyces boulardii na resposta imune de camundongos à vacinação simultânea com uma bacterina tetravalente de Escherichia coli patogênica para suínos e uma vacina replicante contra a Parvovirose canina. Comprovaram que o probiótico de S. boulardii induziu uma resposta humoral significativamente mais alta à bacterina, enquanto o probiótico de B. cereus var. toyoi induziu uma resposta significativamente mais alta à vacina de Parvovirus canino.
 
Considerações finais
Estudos realizados indicam que vários probióticos têm, além de sua atividade como promotores de crescimento e reguladores da microbiota intestinal, efeito imunomodulador, embora a forma de ação seja pouco conhecida. As evidências acumuladas sobre os benefícios decorrentes do uso dos probióticos justificam o aprofundamento dos estudos sobre seu modo de ação, a fim de otimizar sua utilização como profiláticos, promotores de crescimento e imunomoduladores.
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