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DIGESTIBILIDADE DE DIETAS COM TEORES CRESCENTES DE RESÍDUO DE ABACAXI PARA SUÍNOS EM TERMINAÇÃO.

Publicado: 9 de maio de 2016
Por: CLÁUDIO D. SILVA JÚNIOR1, JAQUELINE A. OLIVEIRA1, TARCÍSIO S. VASCONCELOS1, GÉSSICA F. RAMOS1, URBANO S. RUIZ3. 1Faculdade de Zootecnia – UNESP –Dracena/SP; 2Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”– ESALQ/USP –Piracicaba/SP
Sumário

O objetivo deste estudo foi avaliar as digestibilidades de dietas com 0, 9, 18 e 27 % de resíduo de abacaxi, por suínos em terminação. Foram efetuadas duas avaliações, utilizando-se 32 suínos machos castrados em terminação, a primeira quando os animais apresentaram 92,9 kg de peso médio (fase I) e a segunda quando atingiram 114,0 kg de peso médio (fase II). Aplicou-se o método da coleta parcial de fezes, empregando-se cinza insolúvel em ácido como indicador. Os coeficientes de digestibilidade da matérias seca e orgânica e da energia bruta das dietas nas fases I e II, assim como os da proteína bruta na fase II, e seus respectivos valores digestíveis, foram reduzidos linearmente (P<0,05), e, de modo contrário, observou-se aumento linear (P<0,05) nos coeficientes de digestibilidade das fibras dietéticas insolúvel e total das dietas em ambas as fases, conforme as inclusões de resíduo de abacaxi às dietas foram aumentadas. Os coeficientes de digestibilidade da fibra dietética insolúvel apresentaram efeito quadrático (P<0,05) na fase II.A inclusão do resíduo em níveis crescentes nas dietas de suínos em terminação piorou as digestibilidades dos nutrientes das dietas.

 

Palavras-chave: alimento alternativo; fibra insolúvel; restrição alimentar.

 
Introdução
O resíduo do processamento do abacaxi se constitui na casca e bagaço da fruta após extração de seu suco, apresenta 72,12 % de fibra em detergente neutro e 8,35 % de proteína bruta (LOUSADA JUNIOR et al., 2006), tendo potencial para ser utilizado na alimentação de suínos em terminação, em especial em programas de restrição alimentar qualitativa. Contudo, por se tratar de alimento pouco utilizado na suinocultura, é fundamental conhecer seus efeitos na alimentação de suínos. Desta forma, este estudo objetivou avaliar as digestibilidades de dietas com 0, 9, 18 e 27 % de inclusão de resíduo de abacaxi para suínos em terminação, em dois períodos.
 
Material e Métodos
Foram utilizados 32 animais, machos castrados, Topigs, em duas fases, sendo a fase I dos 77,57 ± 2,57 aos 101,25 ± 4,25 kg e a II dos 101,25 ± 4,25 kg aos 126,71 ± 8,61 kg de peso vivo. O resíduo de abacaxi foi obtido de empresa de beneficiamento de frutas para produção de suco, sendo composto por casca e bagaço de abacaxi, tendo sido recebido úmido, submetido a secagem ao sol e moído. As dietas foram compostas principalmente por milho e farelo de soja, com mesmos teores de aminoácidos digestíveis, Ca e P digestível, diferindo quanto à inclusão de resíduo de abacaxi: 0 % (dieta AB0, controle), 9 % (dieta AB9), 18 % (dieta AB18) e 27 % (dieta AB27). Foram avaliadas as digestibilidades das dietas pelo método da coleta parcial de fezes, utilizando-se cinza insolúvel em ácido como indicador, no período médio de cada uma das fases estudadas. As amostras de ração e de fezes foram processadas e submetidas às seguintes determinações: matéria seca (MS), matéria mineral (MM), proteína bruta (PB), fibras dietéticas total (FDT), solúvel (FDS) e insolúvel (FDI), cinzas insolúveis em ácido (CIA), e energia bruta (EB). Com os valores de MS e MM das amostras foram calculados seus teores de matéria orgânica (MO). Foram calculados os coeficientes de digestibilidade aparente da MS, MO, PB, FDT, FDS, FDI e EB das dietas, assim como respectivos valores digestíveis. Utilizou-se o delineamento em blocos casualizados, com oito repetições, sendo cada unidade experimental composta por um animal. Os resultados foram submetidos à análise de variância, utilizando-se o procedimento GLM do programa estatístico SAS. Quando se verificou diferença estatística entre os resultados efetuou-se análise de regressão.
 
Resultados e Discussão
Os coeficientes de digestibilidade das matérias seca e orgânica e da energía bruta das dietas nas fases I e II, assim como os da proteína bruta na fase II, e seus respectivos valores digestíveis, foram reduzidos linearmente (P<0,05), e, de modo contrário, observou-se aumento linear (P<0,05) nos coeficientes de digestibilidade das fibras dietéticas insolúveis e no total das dietas em ambas as fases, conforme as inclusões de resíduo de abacaxi às dietas foram aumentadas (Tabela 1). Os coeficientes de digestibilidade da fibra dietética insolúvel apresentaram efeito quadrático (P<0,05) na fase II (Tabela 1).
 
Tabela 1 - Coeficientes de digestibilidade e nutrientes digestíveis de dietas com inclusão de resíduo de abacaxi (AB) em 0, 9, 18 ou 27 %, para suínos em terminação.
DIGESTIBILIDADE DE DIETAS COM TEORES CRESCENTES DE RESÍDUO DE ABACAXI PARA SUÍNOS EM TERMINAÇÃO. - Image 1a Erro padrão da média. b L – Linear; Q – Quadrático; * P<0,05; ** P<0,001; *** P<0,0001; NS – não significativo (P>0,05)
Neste ensaio os teores crescentes do resíduo de abacaxi adicionados às dietas fizeram com que apresentassem elevados percentuais de FDT, sendo os teores determinados em AB9, AB18 e AB27 de 16,0, 22,3 e 28,1 % para a fase I e de 17,0, 24,9 e 28,3 % para a fase II, respectivamente. Há que se ressaltar que a fibra presente nas dietas foi de natureza essencialmente insolúvel, de 15 a 25,5 % nas dietas com resíduo de abacaxi, com baixos valores de fibra solúvel, de 1 a 2,7 %.As fibras de ingredientes vegetais não são digeridas pelas enzimas endógenas de suínos e podem, dependendo do tipo e das concentrações na dieta, reduzir a digestão de outros componentes dietéticos, como proteínas e carboidratos solúveis (NOBLET e LE GOFF, 2001; OWUSU-ASIEDU et al., 2006; LE GALL et al., 2009), consequentemente diminuindo a digestibilidade e absorção de nutrientes e da energia. Estes efeitos estão relacionados ao encapsulamento de nutrientes solúveis pela fibra, a mudanças fisiológicas por ela ocasionadas que afetam a taxa de passagem e a viscosidade da digesta, reduzindo o acesso das enzimas endógenas aos nutrientes, além de eventuais perdas endógenas de nutrientes provocadas pela fibra (BACH KNUDSEN, 2001). Assim, de forma geral, quanto maior for o teor de fibra de uma dieta menor tende a ser sua digestibilidade, como pôde ser observado neste trabalho. Na literatura algunas pesquisas evidenciaram os efeitos negativos de dietas ricas em fibra sobre a digestibilidade de nutrientes e energia por suínos, seja pela avaliação de glúten de milho ou farelo de trigo perfazendo 20 % de FDN nestas dietas em comparação a outra com 10,7 % de FDN (LE GOFF et al., 2002); de dietas com casca de soja ou farelo de trigo, com aproximadamente 12 % de FB, em comparação a dieta com 2 % de FB (STEWART et al., 2013); de dietas com teores crescentes de farelo de alfafa, apresentando de 12,3 a 21,4 % de FDT (CHEN et al., 2014); e de dietas com inclusões crescentes de DDGS de milho e trigo, atingindo teores de FDN de 13,2 a 22,2 % (AGYEKUM et al., 2014).
 
Conclusões
A inclusão do resíduo de abacaxi em teores crescentes piorou as digestibilidades dos nutrientes das dietas para suínos em terminação, em razão do aumento no teor de fibra insolúvel decorrente da inclusão do resíduo.
 
Referências Bibliográficas
1. AGYEKUM, A. K. et al. Effects of formulating growing pig diet with increasing levels of wheat-corn distillers dried grains with solubles on digestible nutrient basis on growth performance and nutrient digestibility. Journal of Animal Physiology and Animal Nutrition, v. 98, n. 4, p. 651-658, 2014.
2. BACH KNUDSEN, K.E. The nutritional significance of “dietary fibre” analyses.Animal Feed Science and Technology, v. 90, n. 1-2, p. 3-20, 2001.
3. CHEN, L.; GAO, L.-x.; ZHANG, H.-f. Effect of Graded Levels of Fiber from Alfalfa Meal on Nutrient Digestibility and Flow of Fattening Pigs. Journal of Integrative Agriculture, v. 13, n. 8, p. 1746-1752, 2014.
4. LE GALL, M. et al. Influence of dietary fibre level and pelleting on the digestibility of energy and nutrients in growing pigs and adult sows. Animal,v. 3, n. 3, p. 352-359, 2009.
5. LE GOFF, G.; van MILGEN, J.; NOBLET, J. Influence of dietary fibre on digestive utilization and rate of passage in growing pigs, finishing pigs and adults sows. Animal Science, v. 74, n. 3, p. 503-515, 2002.
6. LOUSADA JUNIOR, J.E. et al., 2006. Caracterização físico-química de subprodutos obtidos do processamento de frutas tropicais visando seu aproveitamento na alimentação animal. Revista Ciência Agronômica, v.37, n.1, p.70-76.
7. NOBLET, J.; LeGOFF, G. Effect of dietary fibre on the energy value of feeds for pigs. Animal Feed Science and Technology, v. 90, n. 1-2, p. 35-52, 2001.
8. OWUSU-ASIEDU, A. et al. Effects of guar gum and cellulose on digesta passage rate, ileal microbial populations, energy and protein digestibility, and performance of grower pigs. Journal of Animal Science, v. 84, p. 843-852, 2006.
9. STEWART, L. L. et al. Effects of dietary soybean hulls and wheat middlings on body composition, nutrient and energy retention, and the net energy of diets and ingredients fed to growing and finishing pigs. Journal of Animal Science, v. 91, n. 6, p. 2756-2765, 2013.

***O TRABALHO FOI ORIGINALMENTE APRESENTADO DURANTE O XVII CONGRESSO ABRAVES 2015- SUINOCULTURA EM TRANSFORMAÇÂO, ENTRE OS DIAS 20 e 23 DE OUTUBRO, EM CAMPINAS, SP.
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Autores:
Urbano Dos Santos Ruiz
UNESP - Universidad Estatal Paulista
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