Explorar
Comunidades em Português
Anuncie na Engormix

DESEMPENHO REPRODUTIVO E PRODUTIVO DE LEITOAS GESTANTES DE ACORDO COM O MOMENTO DE AGRUPAMENTO EM BAIAS COLETIVAS

Publicado: 9 de janeiro de 2017
Por: EVANDRO C. P. CUNHA¹, TILA A. MENEZES¹, JOSÉ Z. RAMPI¹, MARI L. BERNARDI², IVO WENTZ¹, FERNANDO P. BORTOLOZZO¹. 1Faculdade de Veterinária – FAVET/UFRGS – Porto Alegre/RS –, ²Faculdade de Agronomia – UFRGS – Porto Alegre/RS
Sumário

O momento do agrupamento é um dos fatores de grande importância para o sucesso do alojamento coletivo para fêmeas suínas gestantes. O presente trabalho teve como objetivo comparar o agrupamento de leitoas em baias com sistema eletrônico de alimentação (ESF), agrupadas aos sete ou aos 30 dias após a cobertura, com o alojamento em gaiolas. As fêmeas foram distribuídas aleatoriamente em três grupos, de acordo com o sistema de alojamento e momento após a cobertura: G= leitoas em gaiolas durante toda a gestação; B7= leitoas agrupadas em baias coletivas aos sete días após a cobertura; B30= leitoas agrupadas em baias coletivas aos 30 dias após a cobertura. Foi observada maior taxa de parto (P<0,05) para o tratamento G comparado ao B7 (89,7 e 83,2, respectivamente). Não houve diferença entre os tratamentos na manutenção da gestação após 28 dias (P>0,05). Não houve efeito do sistema ou momento de alojamento nas seguintes características da leitegada: total de leitões nascidos, nascidos vivos, mumificados, peso e variação do peso ao nascimento, número de leitões com peso <1000 g. Em conclusão, o alojamento de leitoas gestantes em baias com ESF reduz a taxa de parto quando agrupadas aos sete dias após a cobertura, mas pode ser efetuado aos 30 dias após a inseminação, sem prejuízo para o desempenho reprodutivo e características da leitegada.

 

Palavras-chave: Leitoas, eletronic sow feeding, baias, gaiolas.

 
Introdução
Atualmente, a União Europeia exige que as fêmeas suínas em gestação sejam alojadas a partir dos 28 dias após a cobertura em baias coletivas, permitindo a interação social e a manifestação de seu comportamento natural. O período gestacional em que o agrupamento é realizado pode impactar diretamente os resultados reprodutivos. Leitoas agrupadas em baias coletivas aos sete días pós-cobertura ou nos primeiros 10 ou 26 dias pós-cobertura (VAN WETTERE et al., 2008) podem não ter o desempenho reprodutivo e o peso dos leitões comprometidos (JARVIS et al., 2006). Porém, diminuição na taxa de prenhez ou de parto é relatada em fêmeas transferidas para o sistema coletivo até os primeiros três dias após a inseminação (KNOX et al., 2014). O presente trabalho objetivou avaliar o efeito de diferentes alojamentos na gestação (baias e gaiolas) e do momento do agrupamento (7 e 30 dias), em baias equipadas com sistema eletrônico de alimentação (ESF), no desempenho reprodutivo e características da leitegada (total de leitões nascidos, nascidos vivos, natimortos, mumificados, peso e variação do peso ao nascimento e número de leitões com peso <1000 g).
 
Material e Métodos
Foram utilizadas 711 leitoas Large White e Landrace (DB Genética Suína®), distribuídas aleatoriamente nos tratamentos. No segundo estro as leitoas foram pesadas e mantidas nas gaiolas onde foram inseminadas artificialmente (IA) com até três doses de sêmen às 0, 24 e 48 h. No tratamento G (n= 271), as fêmeas permaneceram alojadas nas gaiolas da inseminação por toda a gestação. No tratamento B7 (n= 220), as fêmeas foram transferidas para uma baia coletiva no manejo estático, em média aos sete dias após a IA. No tratamento B30 (n= 220), as fêmeas foram mantidas em gaiolas em média 30 dias após a IA, sendo transferidas para baia coletiva no manejo estático, com a prenhez confirmada. Em cada baia, foram alojadas 55 fêmeas, com densidade de 2,2m² por animal.
 
Pelo fato de não dispor de várias baias coletivas para serem utilizadas ao mesmo tempo, a comparação dos tratamentos foi repetida quatro vezes. As fêmeas de todos os tratamentos foram transferidas para a maternidade aos 107 dias após a IA. Do dia 17 até o dia 27 após a IA foi realizado o controle de retorno regular ao estro, na presença do macho. Aos 28 dias após a IA foi realizado o exame de diagnóstico para confirmação da prenhez com equipamento de ultrassom em tempo real. Foi realizada uma segunda avaliação de prenhez por ultrassonografia em tempo real, no dia 55 pós-IA. Essa avaliação foi considerada para calcular a manutenção da prenhez do dia 28 ao dia 55 pós-IA e a manutenção da prenhez do dia 28 pós-IA até o parto previsto. No momento do parto foram registrados os números de nascidos totais, nascidos vivos, natimortos e mumificados. Os leitões nascidos vivos e os natimortos foram pesados no nascimento para o cálculo do peso médio dos leitões. As taxas de prenhez, parto e manutenção de prenhez foram analisadas por regressão logística (procedimento GLIMMIX do SAS). As seguintes variáveis foram avaliadas com o uso do procedimento MIXED e as médias foram comparadas pelo teste de Tukey-Kramer: número total de leitões nascidos, leitões nascidos vivos, peso médio dos leitões no nascimento e coeficiente de variação do peso no nascimento. Os percentuais de natimortos, mumificados e leitões com peso <1000 g foram avaliados pelo procedimento NPAR1WAY e os tratamentos foram comparados pelo teste de Kruskal-Wallis.
 
Resultados e Discussão
A taxa de prenhez aos 28 dias pós-cobertura, manutenção da gestação do dia 28 até o dia 55 e do dia 28 até o parto não foram afetadas pelo sistema de alojamento, tampouco pelo momento de transferência para as baias coletivas (P>0,05). A taxa de parto foi menor (P<0,05) no tratamento Baia7 em comparação ao tratamento G (Tabela 1).
 
Tabela 1. Desempenho reprodutivo de acordo com o tipo de alojamento na gestação e o momento de transferência das fêmeas para baias coletivas. 
DESEMPENHO REPRODUTIVO E PRODUTIVO DE LEITOAS GESTANTES DE ACORDO COM O MOMENTO DE AGRUPAMENTO EM BAIAS COLETIVAS - Image 1a,b na linha diferem (P<0,05).
* Análise não efetuada, pois no tratamento Baia 30 somente as fêmeas prenhes foram transferidas para a baia.
** Análise de manutenção de prenhez, efetuada com base nas fêmeas prenhes aos 28 dias após a inseminação.
 
As leitoas permaneceram em gaiolas individuais durante toda a gestação (Gaiola) ou foram transferidas para baias coletivas aos sete (Baia 7) ou 30 (Baia30) dias após a inseminação.
 
Embora a janela de tempo de até 10 dias após a inseminação tenha sido reportada como segura para a transferência, por não interferir na taxa de prenhez e sobrevivência embrionária (VAN WETTERE et al., 2008), menor taxa de parto foi observada nas leitoas transferidas para o alojamento coletivo aos 7 dias após a inseminação. No presente trabalho não foram observadas diferenças entre os grupos na manutenção de prenhez, a partir de 28 dias após a inseminação. Porém, redução da taxa de prenhez ou de parto têm sido observada em fêmeas transferidas para baias coletivas desde a inseminação (ESTIENNE et al., 2006), a partir dos três dias (KNOX et al., 2014), entre três e 10 dias (AREY; EDWARDS, 1998) ou na primeira semana (KARLEN et al., 2007) após a inseminação. Os tratamentos foram semelhantes (P>0,05) quanto ao número total de leitões nascidos, nascidos vivos, mumificados, peso ao nascimento, CVPN e percentual de leitões com peso inferior a 1000g (Tabela 2), o que reforça os resultados de vários estudos (HARRIS et al., 2013, JOHNSTON & LI, 2013; KNOX et al., 2014). Por outro lado, tem sido relatado maior número de leitões nascidos vivos em fêmeas alojadas em gaiolas (BROOM et al., 1995; ESTIENNE & HARPER, 2010) e maior peso ao nascimento em fêmeas alojadas em baias (BATES et al., 2003). Surprendentemente, houve maior ocorrência de natimortos (P<0,05) nas fêmeas mantidas em gaiola (Tabela 2). Esse evento pode estar associado ao maior ganho de peso observado nas fêmeas em gaiolas (dados não apresentados), já que pode ocorrer obstrução do canal do parto em fêmeas mais gordas, dificultando a passagem dos leitões e aumentando o tempo de parto.
 
Tabela 2. Características das leitegadas de acordo com o tipo de alojamento na gestação e o momento de transferência das fêmeas para baias coletivas.
DESEMPENHO REPRODUTIVO E PRODUTIVO DE LEITOAS GESTANTES DE ACORDO COM O MOMENTO DE AGRUPAMENTO EM BAIAS COLETIVAS - Image 2a,b diferem pelo teste de Kruskal-Wallis (P<0,05); CV= Coeficiente de variação.
* Valores são apresentados como médias ± erro padrão da média (mediana – máximo).
As leitoas permaneceram em gaiolas individuais durante toda a gestação (Gaiola) ou foram transferidas para  baias coletivas aos sete (Baia 7) ou 30 (Baia30) dias após a inseminação.
 
Conclusões
O alojamento de leitoas em baia coletiva a partir dos sete dias após a inseminação diminui a taxa de parto quando comparado a fêmeas mantidas em gaiolas durante toda a gestação. Porém, o alojamento coletivo a partir de 30 dias de gestação não prejudica o desempenho de leitoas gestantes.
 
Referências Bibliográficas
1. AREY, D. S.; EDWARDS, S. A. 1998. Factors influencing aggression between sows after mixing and the consequences for welfare and production. Livestock Production Science, (56):61–70.
2. BATES, R. O.; EDWARDS, D. B.; KORTHALS, R. L. 2003. Sow performance when housed either in groups with electronic sow feeders or stalls. Livestock Production Science, (79): 29–35.
3. BROOM, D. M. A review of animal welfare measurement in pigs. 1996. Pig News Inf., (17): 109N– 14N.
4. ESTIENNE, M. J.; HARPER, A. F. 2010. Type of accommodation during gestation affects growth performance and reproductive characteristics of gilt offspring. Journal of Animal Science, (88) 1: 400–407.
5. ESTIENNE, M. J.; HARPER, A. F.; KNIGHT, J. W. 2006. Reproductive traits in gilts housed individually or in groups during the first thirty days of gestation. Journal of Swine Health Production, (14): 241-246.
6. HARRIS, E. K. et al. 2013. Effect of maternal activity during gestation on maternal behavior, fetal growth, umbilical blood flow, and farrowing characteristics in pigs. Journal of Animal Science, (91) 2: 734–744.
7. JARVIS, S. et al. 2006. Programming the offspring of the pig by prenatal social stress: Neuroendocrine activity and behaviour. Hormones and Behavior, (49) 1: 68–80.
8. JOHNSTON, L. J.; LI, Y. Z. 2013. Performance and well-being of sows housed in pens retrofitted from gestation stalls. Journal of animal science, (91)12: 5937–5945.
9. KARLEN, G. A. M. et al. 2007. The welfare of gestating sows in conventional stalls and large groups on deep litter. Applied Animal Behaviour Science, (105)1-3: 87–101.
10. KNOX, R. et al. 2014. Effect of day of mixing gestating sows on measures of reproductive performance and animal welfare. Journal of Animal Science, (92) 4: 1698–1707.
11. VAN WETTERE, W. H. E. J. et al. 2008. Mixing gilts in early pregnancy does not affect embryo survival. Animal Reproduction Science, (104) 2-4: 382–388.

***O TRABALHO FOI ORIGINALMENTE APRESENTADO DURANTE O XVII CONGRESSO ABRAVES 2015- SUINOCULTURA EM TRANSFORMAÇÂO, ENTRE OS DIAS 20 e 23 DE OUTUBRO, EM CAMPINAS, SP.
Tópicos relacionados
Autores:
Evandro César P. Cunha
Universidad Federal Do Rio Grande do Sul UFRGS
Siga
Fernando Bortolozzo
Universidad Federal Do Rio Grande do Sul UFRGS
Siga
Ivo Wentz
Universidad Federal Do Rio Grande do Sul UFRGS
Siga
Junte-se para comentar.
Uma vez que se junte ao Engormix, você poderá participar de todos os conteúdos e fóruns.
* Dados obrigatórios
Quer comentar sobre outro tema? Crie uma nova publicação para dialogar com especialistas da comunidade.
Criar uma publicação
Junte-se à Engormix e faça parte da maior rede social agrícola do mundo.
Iniciar sessãoRegistre-se