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Efeito do manejo pré-abate e da posição do box dentro da carroceria sobre o perfil hormonal dos suínos

Publicado: 9 de fevereiro de 2012
Por: Dr. Osmar Dalla Costa; Teresinha Marisa Bertol; Jorge Vitor Ludke; Arlei Coldebella; Mateus José Rodrigues Paranhos da Costa; Luigi Faucitano; Darlan Dalla Roza; José Vicente Peloso; Nelise Juliane Triques
Introdução
No manejo pré-abate os suínos são submetidos a situações que podem promo-ver estresse motor, térmico, mecânico, hídrico, digestivo e emocional e esse é resultado do medo provocado por situações desconhecidas. A síndrome do medo promo-ve a liberação de epinefrina e norepinefrina. A epinefrina contribui principalmente para a degradação do glicogênio armazenado no fí-gado e nos músculos, promovendo um incre-mento na concentração de glicose sangüínea e de ácido láctico. Se o animal é abatido nesse momento, ocorre aumento na veloci-dade de queda do pH post mortem, prejudi-cando desta maneira a qualidade da carne. Assim, o tempo de jejum, a que os suínos são submetidos no manejo pré-abate, ao promover a redução do nível de glicogênio do fígado e dos músculos tem papel funda-mental na qualidade da carne.
O jejum pré-abate é caracterizado pela retirada de alimento sólido (ração) por um determinado número de horas. Entretanto, os animais devem ter livre acesso a água de boa qualidade. Esta prática é de grande importância para o criador de suínos e para os abatedouros, pois através da redução da temperatura corporal, das reservas de glico-gênio, da taxa metabólica e do conteúdo estomacal, pode contribuir para o bem-estar, a redução da taxa de mortalidade, aumento da segurança dos alimentos, maior velocida-de e facilidade no processo de evisceração dos animais, redução do volume de dejetos que chega no frigorífico e uniformização das carcaças.
No manejo pré-abate, os suínos são submetidos a estresse devido ao embarque, transporte e desembarque no frigorífico o que pode promover uma elevação dos níveis sangüíneos e musculares de ácido láctico, elevação da temperatura corporal e acelera-ção da taxa metabólica. Assim, esses animais precisam eliminar o excesso de ácido láctico acumulado nos músculos e restabe-lecer o seu equilíbrio homeostático, o qual somente pode ser alcançado com adoção de períodos de descanso adequados. Portanto, o período de descanso no frigorífico é funda-mental para que esses animais se recuperem do estresse ao qual foram expostos.
A mistura de lotes durante o manejo pré-abate é uma prática freqüente e tem por objetivo obter lotes homogêneos (peso e nú-mero de animais) para serem transportados no mesmo box da carroceria. Esse procedi-mento promove alterações na hierarquia so-cial do grupo de animais, que induz a um incremento nos níveis de agressões (brigas) e elevação nos níveis de epinefrina, podendo resultar em mortes, lesões nas carcaças e prejuízo ao bem-estar e qualidade da carne. Se a mistura de lotes for inevitável, esta dever ser realizada no embarque, pois os suínos tendem a brigar menos durante o transporte e tem mais tempo para descanso no frigorífico após as brigas.
O embarque dos suínos pode ser consi-derado como um dos pontos críticos do ma-nejo pré-abate, em função da forte interação homem-animal e da mudança brusca de am-biente (retirada dos animais da baia e embarque), e essa interação pode ser maior quando as propriedades não possuem mão-de-obra qualificada, equipamentos apropria-dos (tábua de manejo, embarcadores) e modelos de carrocerias adequados. Os mo-delos de carrocerias disponíveis para o trans-porte de suínos podem causar prejuízo ao bem-estar e a qualidade da carne. Essas carrocerias são construídas com diferentes materiais (madeira, metálica), tipos de pisos (madeira, metálico e borracha), número de pisos (simples, duplo ou triplo) e sistema de embarque (rampa, piso e plataforma hidráuli-ca) que podem facilitar ou dificultar o embar-que, afetando o bem estar dos suínos e dos responsáveis por esta atividade e a qualida-de da carne.
 O presente trabalho teve como obje-tivo estudar os efeitos do tempo de jejum na granja, do período de descanso no frigorífi-co, da mistura de lotes, do modelo de carro-ceria e posição do box dentro da carroceria sobre alguns indicadores de estresse e do metabolismo em suínos.

Material e Métodos

No presente estudo realizaram-se qua-tro experimentos:
1.    Tempo de jejum na granja: os suínos foram submetidos a jejum de 9, 12, 15 ou 18 horas;
2.    Período de descanso dos suínos no frigo-rífico: os suínos desse experimento fica-ram em descanso no frigorífico por 3, 5, 7 ou 9 horas;
3.    Mistura de lotes: os suínos foram mistu-rados na granja e no frigorífico, somente na granja, somente no frigorífico ou não foram misturados;
4.    Os suínos foram transportados em três modelos de carrocerias: Simples de ma-deira e simples ou dupla metálicas mode-los TRIEL-HT.
O tempo de jejum na granja nos experi-mentos 2, 3 e 4 foi de 12 horas. O tempo de descanso no frigorífico nos experimentos 1, 3 e 4 foi de 3 horas. Nos experimentos 1, 2 e 4 os suínos não foram misturados e nos experimentos 1, 2 e 3 o transporte foi feito em carroceria metálica dupla modelo TRIEL-HT.
Foram utilizadas 378 fêmeas oriundas de cruzamentos industriais com peso vivo médio de 131,00 ± 11,25 kg e um período de alojamento médio de 144 dias, para as fases de crescimento e terminação. As gran-jas tinham capacidade média para alojar 550 suínos. Os suínos eram alojados em baias coletivas, com capacidade média de 10 ani-mais/baia.
No frigorífico os suínos foram desem-barcados com o auxílio de uma plataforma móvel, conduzidos até as baias de descanso coletivas, com acesso à água, mantendo-se os grupos originais. No deslocamento dos suínos (embarque e desembarque) não foram utilizados choques elétricos, sendo que os animais foram conduzidos com o auxílio de tábua de manejo.
No abate, foram coletadas amostras de sangue de 16 suínos/tratamento, nos experi-mentos 1 e 2, 32 suínos/tratamento no
experimento 3 e 40 suínos/tratamento no experimento 4, para análise das concentra-ções de Creatina-Fosfo-Quinase (CPK-méto-do enzimático - Kit Wiener CK-NAC, Labora-tório Wiener), ácido láctico (pelo método enzimático - Kit Rolsgreiner) e glicose (pelo método enzimático - Kit Ebram-70-05-Labo-ratório Ebram).
Os dados referentes à concentração sangüínea de lactato e CPK foram transfor-mados para o logaritmo natural (LN) e na análise da variância das três variáveis dos experimentos 1 e 2 foi utilizado o modelo estatístico onde foram incluídos os efeitos de bloco (estação do ano - inverno e verão), do manejo (tempo de jejum dos suínos na granja antes do embarque ou período de descanso dos suínos no frigorífico) e da posição do animal na carroceira (frente, meio e atrás), piso da carroceria (inferior e supe-rior), lado da carroceria (direito e esquerdo) e da interação entre bloco e manejo. No estu-do 3, foram incluídos os efeitos de estação do ano (inverno e verão), granja dentro de estação do ano, manejo (mistura de lotes), da posição do animal na carroceria (frente, meio e atrás), piso da carroceria (inferior e superior), lado da carroceria (direito e es-querdo) e da interação entre estação do ano e manejo. No experimento 4, foram incluídos os efeitos de modelos de carroceria (simples de madeira ou metálicas modelos TRIEL-HT simples ou dupla), estação do ano (inverno e verão), condições das estradas (boa e ruim) e das interações entre as fontes de variação estudas.

Resultados e Discussão

A CPK é uma enzima intracelular cuja presença nos fluidos extracelulares indica danos às paredes celulares dos tecidos mus-culares. No músculo esquelético os danos às paredes celulares podem ser causados, entre outros fatores, por baixo pH resultante de estresse e/ou exercício físico. O exercício físico e a liberação de adrenalina, presentes no período pré-abate, estimulam a degrada-ção de glicogênio muscular e hepático, contribuindo para uma elevação dos níveis de glicose sangüínea. Além disto, o exercício físico intenso em animais de vida sedentária induz ao metabolismo anaeróbico da glicose, produzindo grandes quantidades de ácido láctico em curtos períodos de tempo, o qual acumula-se nos músculos e no sangue, cau-sando redução do pH proporcional à intensi-dade do esforço. Desta forma, os níveis san-güíneos de CPK, glicose e ácido láctico podem servir como indicadores do grau de estresse e/ou esforço físico a que o animal é submetido no manejo pré-abate.
Neste estudo, os mecanismos de regu-lação metabólica foram suficientes para manter os níveis de glicose sangüíneos simi-lares independente do tempo de jejum utili-zado (Tabela 1). Da mesma forma, os níveis de CPK e de lactato não foram afetados, pois os mesmos são dependentes principal-mente de estresse agudo e exercício físico e não de estresse crônico como o causado pelo jejum.
Com relação ao período de descanso no frigorífico, a única variável afetada foi o nível de lactato, o qual foi superior com 5 e 7 horas de descanso do que com 3 e 9 horas (Tabela 2). A significância biológica deste resultado é de difícil definição, uma vez que não houve mistura de lotes em ne-nhum momento. Além disto, mesmo no menor tempo de descanso (3 horas) havia tempo suficiente para que o lactato poten-cialmente produzido durante o carregamen-to, transporte e descarregamento fosse me-tabolizado e os níveis sangüíneos reduzidos aos valores basais ou próximo deles.
A posição dos animais dentro da carro-ceria teve pouca influência sobre as variá-veis avaliadas (Tabelas 1, 2 e 3). Exceto pelo efeito do tipo de piso sobre os níveis de glicose no experimento 1 e o efeito da posição do box (frente, meio ou atrás) sobre os níveis de CPK no experimento 3, não houveram outros efeitos significativos. A diferença entre os níveis de glicose entre os animais do piso superior e inferior, apesar de significativa, foi de baixa magnitude e prova-velmente de baixa significância biológica. Estes dados revelam pouca consistência do efeito da posição dos animais dentro do caminhão sobre estes indicadores de estres-se e do metabolismo, e indicam que o grau de esforço/estresse foi similar independente da posição dos animais na carroceria.
Com relação à mistura de lotes, obser-vou-se que a mistura na granja e no frigorífico ou somente na granja causou uma ele-vação nos níveis de CPK sangüíneo compa-rado com a mistura somente no frigorífico ou a não mistura, evidenciando o efeito das interações agressivas causadas pela mistura de animais (Tabela 3). É provável que o mês-mo tenha ocorrido com os animais mistu-rados somente no frigorífico, mas como o tempo necessário para elevação dos níveis de CPK no sangue após o início da aplicação do estímulo é de aproximadamente 3 a 6 horas, pode não ter havido tempo suficiente para detecção de uma elevação nos níveis de CPK com 3 horas de descanso.
Os animais apresentaram maiores níveis de glicose (experimento 4), lactato (experimento 3) e CPK (experimentos 3 e 4) no inverno do que no verão (Tabelas 3 e 4). Como houve um efeito de granja dentro de estação do ano para CPK, é provável que este efeito esteja mais relacionado com o manejo aplicado aos animais provenientes destas granjas do que com as condições climáticas, com um manejo mais agressivo sobre os animais das granjas A e B, avalia-das no inverno.
Os níveis de glicose sangüínea também foram influenciados pelo modelo de carroce-ria e pela condição das estradas, onde os animais transportados com a carroceria Triel-HT simples e os transportados em estrada ruim apresentaram menores níveis de glicose (Tabela 4). Não houve efeito sobre os níveis de lactato e CPK. Era esperado um efeito contrário sobre os níveis de glicose, uma vez que os animais transportados em carroceria dupla e em estradas com boas condições teriam, teoricamente, mais conforto durante o transporte.
Conclusões e Considerações Finais
O aumento do tempo de jejum de 9 para 18 horas e do período de descanso dos animais no frigorífico de 3 para 9 horas não afetou os indicadores de estresse e de meta-bolismo avaliados.
A mistura de lotes alterou os níveis de CPK, indicando que as interações agressivas resultantes desta prática resultam em estres-se, embora os indicadores do metabolismo não tenham sido afetados.
Embora as alterações nos níveis san-güíneos de glicose, lactato e CPK com a es-tação do ano indiquem um maior nível de estresse no inverno, provavelmente este efeito esteja mais relacionado a um efeito de granja do que às condições climáticas.
O efeito da posição dos animais dentro da carroceria, do modelo de carroceria e da condição das estradas foi inconsistente quanto ao nível de ocorrência de estresse ou alteração do metabolismo considerando-se as variáveis avaliadas.
Como o objetivo de se minizar os problemas de estresse durante o manejo pré-abate dos suínos, recomenda-se que durante essa etapa da produção os mesmos não se-jam misturados.
Tabela 1 - Efeito do tempo de jejum na granja antes do carregamento  e da posição dos suínos dentro da carroceria, sobre os níveis sangüíneos de glicose, CPK e lactato no momento do abate
 Fator de variação
Glicose (mg/dL)
CPK(UI)
Lactato(mg/dL)
  Tempo de jejum na granja, horas
 
 
9
85,71
1205,98
49,75
12
83,75
1103,29
57,89
15
89,00
1375,73
57,98
18
85,75
1421,17
66,78
Posição do box
 
 
 
Frente
86,95
1270,54
62,65
Meio
86,14
1371,70
56,10
Atrás
85,07
1187,38
55,53
Piso
 
 
 
Inferior
88,08a
1367,68
61,10
Superior
84,02b
1185,41
55,09
Lado
 
 
 
Direito
85,52
1425,72
63,03
Esquerdo
86,59
1127,37
53,16
Na coluna, para cada grupo de fatores de variação, as médias seguidas de letras distintas, diferem significativamente pelo teste T (p< 0,05).
 
Tabela 2 - Efeito do período de descanso no frigorífico e da posição dos suínos dentro da carroceria, sobre os níveis sangüíneos de glicose, CPK e lactato no momento do abate
Fator de variação
Glicose (mg/dL)
CPK (UI)
Lactato (mg/dL)
  Período de descanso no frigorífico, horas
 
3
93,50
3028,87
65,86b
5
96,18
3344,94
83,73a
7
100,42
1965,25
84,96a
9
97,17
2676,69
75,24ab
Posição do box
 
 
 
Frente
97,19
1906,56b
78,02
Meio
97,19
3372,69a
74,70
Atrás
98,38
2982,56a
79,53
Piso
 
 
 
Inferior
95,71
3034,41
76,21

Superior

97,93
2473,47
78,68
Lado
 
 
 
Direto
97,21
3259,88
76,77
Esquerdo
96,43
2248,00
78,13
Na coluna, para cada grupo de fatores de variação, as médias seguidas de letras distintas, diferem significativamente pelo teste T (p< 0,05).
 
Tabela 3 - Efeito da estação do ano, granja dentro de estação do ano, mistura de lotes e posição dentro da carroceria sobre os níveis sangüíneos de glicose, CPK e lactato no momento do abate
Fator de variação
Glicose(mg/dL)
CPK(UI)
Lactato(mg/dL)
Estação do ano
 
 
 
Inverno
91,50a
3852,97a
66,27a
Verão
77,26b
662,44b
55,18b
Granja(Estação do ano)
 
 
A (Inverno)
90,14
4086,84a
68,52
B (Inverno)
92,86
3619,10b
64,01
C (Verão)
76,43
445,73a
52,27
D (Verão)
78,10
879,15b
58,10
Mistura de lotes
 
 
Na granja e no frigorífico
83,93
2788,78a
67,92
No frigorífico
83,97
1416,91b
58,56
Na granja
83,89
2744,62a
57,97
Não mistura
85,74
2080,52b
58,44
Posição do box
 
 
 
Frente
85,09
2115,04
57,28
Meio
82,80
2428,64
61,54
Atrás
85,26
2229,44
63,35
Piso
 
 
 
Inferior
84,62
2165,54
62,99
Superior
84,14
2349,88
58,46
Lado
 
 
 
Direto
84,62
2598,46
58,20
Esquerdo
84,15
1916,95
63,24
Na coluna, para cada grupo de fatores de variação, as médias seguidas de letras distintas, diferem significativamente pelo teste T (p< 0,05).

Tabela 4 - Efeito do modelo de carroceria, estação do ano, condições das estradas e posição dos suínos dentro da carroceria sobre os níveis sangüíneos de glicose, CPK e lactato no momento do abate
Fator de variação
Glicose(mg/dL)
CPK(UI)
Lactato(mg/dL)
Modelo de carroceria
 
 
 
Simples comum
82,40a
1441,75
62,74
Triel-HT dupla
84,70a
1353,00
69,03
Triel_HT simples
76,42b
1533.60
65,71
Estação do ano
 
 
 
Inverno
91,47a
1833,86a
67,79
Verão
70,88b
1051,70b
63,86
Condições das estradas
 
 
 
Boa
84,32a
1474,20
69,89
Ruim
78,03b
1411,36
61,76
Na coluna, para cada grupo de fatores de variação, as médias seguidas de letras distintas, diferem significativamente pelo teste T (p< 0,05).
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Autores:
Dr. Osmar Dalla Costa
Embrapa Suínos e Aves
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