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Fases críticas na criação de bezerras de rebanhos leiteiros

Publicado: 11 de abril de 2012
Por: Oriel Fajardo de Campos; Márcia Cristina de Azevedo Prata; Antônio Cândido Cerqueira Leite Ribeiro
A criação de bezerras constitui-se em importante segmento nos sistemas de produção de leite. Partindo-se do princípio que todo produtor está sempre procurando melhorar geneticamente seu rebanho, utilizando sêmen ou cobrindo suas vacas com animais melhoradores, é de se esperar que os animais nascidos tenham maior potencial para a produção de leite. Assim, quanto mais cedo estes animais entrarem em produção, substituindo os mais velhos e menos produtivos, mais rapidamente o melhoramento genético será incorporado ao rebanho, resultando em maior produtividade. Disto depreende-se que, mais do que custo, a criação de bezerras, e por extensão das novilhas, deve ser entendida como um investimento.
Do nascimento até os três/quatro meses de idade, as bezerras merecem toda a atenção. A mão-de-obra encarregada de tratar desses animais tem de ser especialmente treinada com o objetivo de propiciar todo um ambiente de conforto para as bezerras. Isto significa principalmente: (a) observações diárias e cuidadosas de cada animal, para verificar se a bezerra apresenta comportamento normal - qualquer mudança de comportamento deve ser avaliada para a tomada de medidas preventivas; (b) características das fezes e possível presença de corrimento nasal; (c) condições das instalações, garantindo estarem limpas e secas; (d) fornecimento da alimentação com calma e paciência, principalmente da alimentação líquida; e (e) carinho no trato com os animais.
Neste artigo são destacadas as duas fases consideradas mais críticas da criação de bezerras: as três primeiras semanas de idade e aquela por ocasião do desaleitamento, sendo sugeridas medidas preventivas e de manejo que, se adotadas, poderão minimizar os problemas mais comumente observados. Vale ressaltar que são enfocadas, principalmente, aquelas propriedades que adotam o aleitamento artificial (dieta líquida fornecida em baldes, mamadeiras ou bibeirões), desaleitamento precoce (por volta dos dois meses de idade) e onde os bezerros são mantidos em instalações individuais durante a fase de aleitamento e depois do desaleitamento manejados em grupos.
As três primeiras semanas de idade
As três primeiras semanas de vida dos bezerros são críticas. Boa parte das mortes e ocorrências de doenças, principalmente diarréias e pneumonia, ocorrem neste período. O estresse do nascimento e o fato de os anticorpos (proteção contra os agentes causadores de doenças) serem assimilados somente após o nascimento, fazem com que os bezerros sejam muito vulneráveis, e esta vulnerabilidade aumenta com atitudes inadequadas de manejo e alimentação.
Algumas sugestões para diminuir os problemas nesta fase:
• Local limpo e seco para o parto. O piquete maternidade deve estar localizado próximo a um estábulo ou residência, ter alguma declividade para evitar encharcamento, vegetação rasteira e dotar de sombra, bebedouro e cocho. No caso de baias-maternidade, elas devem ser limpas e desinfetadas entre um parto e outro;
• Imediatamente após o nascimento, devem ser realizados o corte e a desinfecção do umbigo, pois este é uma porta de entrada de microrganismos causadores de infecções que podem levar o animal à morte. A desidratação do coto umbilical por meio de massagens e de curativos com álcool iodado nos primeiros quatro dias de vida é o procedimento recomendado. O uso de repelentes, principalmente nos meses chuvosos, é importante para evitar o estabelecimento de miíases;
• Fazer com que o bezerro mame o colostro o mais cedo possível. O tratador deve ser instruído para intervir, sempre que necessário, assegurando-se que o bezerro mamou o colostro. Se ele presenciou o parto, após aguardar alguns minutos, e, assim que a vaca tiver lambido o bezerro, colocar a boca do bezerro na teta, apoiando o bezerro até que ele mame com intensidade. Uma alternativa é ordenhar a vaca e dar o colostro via mamadeira. O bezerro deve mamar, no mínimo, dois quilos de colostro logo após o nascimento. O fornecimento de colostro deve ser estendido o mais possível, uma vez ser melhor alimento que o leite. O colostro produzido deve ser dividido em dois recipientes. Numa deve-se colocar o colostro produzido por vacas paridas com no máximo três dias (o mais rico em anticorpos), e este deve ser fornecido aos bezerros com até três dias de idade. O tratador deve se empenhar para garantir a ingestão de quantidades adequadas nas primeiras 24 h e, principalmente, nas primeiras seis horas de vida, quando o organismo animal tem mais capacidade de absorver os anticorpos da mãe. O colostro produzido pelas vacas com mais de três dias de paridas deve ser fornecido para os bezerros com mais de três dias de nascidos;
• Manter os utensílios utilizados para aleitar os bezerros (baldes, mamadeiras ou biberões) sempre limpos. Fornecer, no mínimo, quatro litros de dieta líquida por animal por dia;
• Concentrado inicial de boa qualidade deve ser fornecido à vontade desde a segunda semana de idade, renovando-o freqüentemente no cocho para permitir o oferecimento de alimento fresco, de melhor palatabilidade;
• Manter os bezerros em instalações individuais durante os dois/três primeiros meses de vida. A instalação deve ser mantida limpa e seca, desinfetando-a, com creolina a 5%, entre seu uso por bezerros diferentes;
• Como mencionado anteriormente, observar diariamente cada animal para verificar se está tudo bem e se ele mantém comportamento normal. Qualquer mudança de comportamento indica desconforto do animal, devendo-se tomar medidas corretivas antes que a situação se agrave;
• Plano de vacinação: nesta fase de vida, o organismo animal não tem condições de produzir anticorpos contra agentes de doenças e, portanto, não devem ser administradas vacinas. A proteção destes animais até por volta dos três a quatro meses de idade é proporcionada pelos anticorpos da mãe, ingeridos através do colostro. Daí a importância do fornecimento de colostro em quantidades adequadas por 72h, com especial atenção para as primeiras 24h e, principalmente, as primeiras seis horas de vida do animal;
• Combate a endo e ectoparasitas: bezerros filhos de mães vacinadas e vermifugadas, mantidos em ambiente higienizado e que tenham recebido colostro adequadamente, têm condições de se proteger contra endo e ectoparasitas. Aliado a isto, estes animais ainda não desenvolveram o hábito de ingerir pastagens, onde estão as larvas de vermes gastrintestinais e pulmonares. Portanto, o risco de adquirir verminoses por esta via é praticamente inexistente em condições normais. Em situações de confinamento, no entanto, pode ocorrer contaminação por vermes da espécie Strongyloides papillosus, que penetram ativamente pela pele íntegra do animal. Por isso são fundamentais limpeza e desinfecção diárias do ambiente, além do controle de umidade, penetração de raios solares e ventilação. O uso de vermífugos é recomendado somente como medida curativa, para animais que apresentem sinais clínicos de verminose, como diarréia, prostração e pêlos arrepiados e sem brilho. O fornecimento de soro caseiro (5l de água, 250 g de açúcar, 45g de sal) em substituição à água de bebida é fundamental para evitar a morte por desidratação. No entanto, mais importante do que a administração de medicamentos é a investigação e a correção das causas do problema, que não ocorreria em condições de manejo adequado. Outro cuidado importante para animais nesta fase é permitir que estes tenham acesso ao pasto com freqüência para que, ao serem parasitados por carrapatos enquanto protegidos pelos anticorpos do colostro, tenham condições de se defender dos microrganismos dos gêneros Babesia e Anaplasma, agentes do complexo "tristeza parasitária bovina", transmitidos pelos carrapatos.
A época do desaleitamento
Os bezerros podem ser desaleitados (corte no fornecimento da dieta líquida) com seis/oito semanas de idade, se um bom concentrado inicial está sendo oferecido desde a segunda semana de idade. O desaleitamento é fator de estresse para os bezerros e coincide com o momento de mudá-los de instalações individuais para o manejo em grupos. Em muitas propriedades, depois de desaleitados, os bezerros passam a conviver em grupos em piquetes, enfrentando problemas de competição e tendo maior contato com carrapatos. Nesta fase, aumentam as ocorrências de doenças relacionadas com o complexo tristeza.
Algumas sugestões para minimizar os problemas nesta fase:
• Não promova mais de uma mudança de manejo ao mesmo tempo. Assim, quando cortar o fornecimento de dieta líquida, mantenha os animais na mesma instalação por duas semanas para verificar se estão bem e se ajustaram à dieta só com concentrado;
• Se houver mudança de concentrado após o desaleitamento, durante as duas semanas pós-desaleitamento, misture em partes iguais o concentrado inicial com aquele que os animais receberão quando mudarem para a nova instalação. Isto permitirá adaptação ao novo concentrado;
• A instalação a ser adotada deve ser limpa e sem encharcamento. No caso de piquetes, deve-se optar por um com as mesmas condições já descritas para o piquete maternidade;
• Animais dos dois aos seis meses de idade devem ser mantidos em dois grupos separados, homogêneos principalmente por tamanho;
• Propiciar espaço suficiente para minimizar os efeitos da competição natural entre animais, principalmente quanto ao acesso ao alimento. A área de cocho deve ser suficiente para que todos tenham fácil acesso ao alimento. É aconselhável ter mais de um cocho, distanciados o suficiente para permitir que os bezerros menos competitivos possam comer o concentrado com tranqüilidade;
• Plano de vacinação: A maioria das vacinas é aplicada nos animais a partir do quarto mês de idade, quando cessa a proteção conferida pelos anticorpos da mãe, ingeridos pelo colostro. No Brasil, os rebanhos bovinos leiteiros são vacinados, principalmente, contra febre aftosa, raiva, brucelose e manqueira (ou carbúnculo sintomático). Contra a manqueira ou carbúnculo são feitas revacinações a cada seis meses, até o animal completar 24 meses de idade. Contra a raiva, bastam reforços anuais. Para evitar a brucelose, a recomendação é que se vacinem somente as fêmeas entre o terceiro e o oitavo meses de idade. Finalmente, as vacinações contra a febre aftosa devem seguir o calendário definido pela Secretaria de Agricultura do Estado. É importante ressaltar, no entanto, que em cada região deve ser traçado um esquema de vacinação específico, direcionado para o combate às doenças mais prevalentes na área, além das quatro já citadas. Mesmo em rebanhos devidamente imunizados, devem ser realizadas provas sorológicas semestrais para identificação de animais positivos para brucelose e prova alérgica para tuberculose;
• Combate a endo e ectoparasitas: o contato gradual destes animais com carrapatos deve ser proporcionado pelo acesso freqüente aos pastos, para que estes desenvolvam o sistema de defesa contra os agentes da tristeza parasitária bovina, uma vez estarem prestes a perder a proteção conferida pelos anticorpos da mãe. A partir dos três aos quatro meses de idade, estes animais já podem ser submetidos ao controle estratégico de carrapatos, medida preventiva fundamentada na administração de cinco banhos carrapaticidas, um a cada 21 dias, nos meses mais quentes do ano. Com a mudança do hábito alimentar, os bezerros passam a ingerir larvas de vermes gastrintestinais e pulmonares juntamente com a pastagem, mas a proteção conferida pelos anticorpos da mãe ainda está presente. Os riscos de verminose começam a surgir, portanto, por volta dos três a quatro meses, quando cessa a proteção conferida pelo colostro. A preocupação deve ser maior com bezerros que atingem essa idade nos meses mais frios. Nesta época, é grande o risco de infecção por vermes pulmonares. Daí a importância de se iniciar a vermifugação estratégica por volta do terceiro ou quarto meses de idade, concentrando-se os tratamentos nos meses de abril, julho e setembro, até a época da primeira parição. Em rebanhos com maior grau de sangue europeu, deve-se realizar um quarto tratamento anual no mês de dezembro, devido à maior susceptibilidade destes animais à contaminação por vermes. 
Ao seguir as recomendações mencionadas, certamente o produtor terá menos gastos com medicamentos, a mortalidade de animais jovens será minimizada e a rentabilidade da atividade leiteira será bem maior.
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Autores:
Oriel Fajardo de Campos
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Jose Carlos
13 de abril de 2012

Concordo com a opinião do Luiz Alberto , o relato esta muito claro e didatico. Parabens Oriel,
e um grande abraço.

Luiz Alberto Lopes Feijó
11 de abril de 2012

Artigos como esse , deveriam ser enviados a todas as cooperativas , laticínios para serem enviados junto ao pagamento do leite , para que os proprietários reconhecessem a necessidade do investimento nesta fase de vida da matriz leiteira.
Precisamos voltar a fazer extensão rural , levando estes conhecimentos para quem está entrando na atividade.
Parabens

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