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CORRELAÇÃO ENTRE A CONTAGEM DE CÉLULAS SOMÁTICAS (CCS) E O TEOR DE GORDURA, PROTEÍNA, LACTOSE E EXTRATO SECO DESENGORDURADO DO LEITE

Publicado: 3 de novembro de 2015
Por: Adriano Henrique do Nascimento Rangel (Professor do Departamento de Agropecuária da UFRN); Henrique Rocha de Medeiros; Jean Berg Alves da Silva; Mayara Leiliane de Jesus Barreto; Dorgival Morais de Lima Júnior.
Sumário

Este trabalho objetivou avaliar a correlação entre a contagem de células somáticas (CCS) e o teor de gordura, proteína, lactose e extrato seco desengordurado do leite (ESD). Foram utilizadas 12 vacas da Raça Holandesa malhadas de preto, ordenhadas mecanicamente, duas vezes ao dia. Foram coletadas amostras de leite, a cada 16 dias, durante as ordenhas da manhã e da tarde. Este material coletado foi acondicionado em frascos plásticos com conservante (BronopolÒ), mantidos entre 2º e 6 º C, para fins de análise dos teores de proteína bruta, gordura, lactose, extrato seco total, ESD e CCS. Houve correlação positiva entre as variáveis analisadas. Assim, quando se aumenta a CCS, aumenta também os teores de gordura, lactose e ESD, porém não houve diferença significativa entre a CCS e o teor de proteína (P>0,05).

 

Palavras chave: Sistemas de Produção, Qualidade de Alimentos, Higiene de Produtos Lacteos.

 
Introdução.
 
A pecuária leiteira vem passando, nos últimos anos, por modificações estruturais que resultaram em mudanças na gestão técnica e econômica dos sistemas de produção.. Neste contexto, a qualidade do leite é uma ferramenta importante para a gestão dos sistemas e da cadeia de produção de produtos lácteos. Isto se deve a grande importância deste produto (o leite) na alimentação e segurança dos produtos ofertados ao consumidor. É a melhoria da qualidade do leite e derivados produzidos no Brasil que está permitindo a este país, passar da condição de importador para exportador de produtos lácteos. Devido à relevância que a qualidade do leite tem para a indústria de derivados lácteos, qualquer alteração nesta e na composição natural do leite, merecem ressalva. Os principais fatores que afetam a composição natural do leite são a dieta, a constituição genética, a estação do ano, o estágio de lactação, o manejo da ordenha e a sanidade (DÜRR et al. 2000). Devido à complexidade destes fatores, foram desenvolvidos vários métodos de verificação da qualidade do leite. Entre eles, pode-se citar o California Mastitis Test (CMT), Wisconsin Mastitis Test (WMT) e a Contagem de Células Somáticas (CCS) (Cardozo, 1996).
 
A contagem de células somáticas (CCS) do leite indica, de maneira quantitativa, o grau de infecção da glândula mamária (MACHADO et al. 2000). É reconhecida internacionalmente como indicador de saúde da glândula mamária e da qualidade do leite producido (TSENKOVA et al. 2001), além de ferramenta útil na avaliação de mastite subclínica e estimativa das perdas de produção de leite. A CCS já é utilizada há muito tempo em países desenvolvidos, como forma de melhorar a qualidade dos produtos oferecidos ao consumidor. Com isso, o Brasil vem adotando sistemas de pagamento do leite por qualidade e um dos parâmetros analisados é a CCS.
 
Diversos são os fatores que afetam a CCS, entre eles, o nível de infecção da glândula mamária, o método de amostragem durante a ordenha, a época do ano, o estágio da lactação e a idade da vaca. A infecção da glándula mamária é conhecida como mastite. Pode se manifestar na forma clínica ou subclínica (COSTA & WATANABE, 1999). O termo células somáticas do leite é utilizado para designar todas as células presentes no mesmo, incluindo as de origem sangüínea (leucócitos) e as de descamação do epitélio glandular secretor. No entanto, em uma glândula mamária infectada, as células de defesa correspondem de 98 a 99% das células encontradas no leite (PHILPOT & NICKERSON, 1991).
 
Altas CCS ocasionam diversas mudanças na composição do leite, afetando sua qualidade, pois alteram a permeabilidade dos vasos sangüíneos da glândula e reduzem a secreção dos componentes do leite sintetizados na glândula mamária (proteína, gordura e lactose) pela ação direta dos patógenos ou de enzimas sobre os componentes secretados no interior da glândula (Santos, 2002; Machado et al. 2000).
 
A elevação da CCS no leite (acima de 200.000cel/mL) indica a ocorrência de mastite, a qual reduz a quantidade de leite produzido pelo animal e causa redução na concentração dos componentes nobres do leite (gordura, caseína e lactose), assim como aumento nas concentrações de sódio, cloro e proteínas do soro. A presença de altas CCS no leite afeta também a composição do leite e o tempo de prateleira dos derivados, causando enormes prejuízos na indústria de laticínios. (SANTOS & FONSECA, 2007).
 
Diante do exposto, objetivou-se com presente estudo avaliar a correlação existente entre a CCS e os teores de gordura, proteína, lactose e extrato seco desengordurado presentes no leite bovino.
 
Material e métodos.
 
As amostras de leite foram coletadas na Unidade de Ensino, Pesquisa e Extensão em Gado de Leite (UEPEGL) do Departamento de Zootecnia (DZO), da Universidade Federal de Viçosa (UFV), em Viçosa-MG, durante o período de agosto a outubro de 2004. A UEPEGL está localizada na Zona da Mata, Estado de Minas Gerais, a 649 m de altitude, geograficamente definida pelas coordenadas de 20o45’20’’ de latitude sul e 42o52’40’’ de longitude oeste. O clima é do tipo Cwa, segundo a classificação proposta por Köppen, tendo duas estações definidas: seca, de abril a setembro, e águas, de outubro a março. A precipitação média anual é de 1.341,2 mm. As médias de temperaturas máximas e mínimas são 26,1 e 14,0 oC, respectivamente (UFV, 1997).
 
Foram utilizadas doze vacas Holandesas malhadas de preto, puras e mestiças, os animais receberam alimentação "ad libitum" fornecida às 8:00 e às 17:00 horas. As dietas foram formuladas para serem isoprotéicas, de acordo com o NRC (2001) para vacas leiteiras com 600 kg de peso corporal, produzindo 20 kg de leite/dia com 3,5% de teor de gordura no leite.
 
Tabela 1 – Proporção dos ingredientes da ração concentrada, expressa em percentagem da matéria seca.
CORRELAÇÃO ENTRE A CONTAGEM DE CÉLULAS SOMÁTICAS (CCS) E O TEOR DE GORDURA, PROTEÍNA, LACTOSE E EXTRATO SECO DESENGORDURADO DO LEITE - Image 11 67% de bicabornato de sódio e 33% de óxido de magnésio; 2 Fosfato bicálcico (22,99; 9,16;11,91; 14,12%), calcário calcítico (42,81; 55,04; 50,03; 45,95%), sal comum (32,83; 34,24; 31,21; 28,73%), flor de enxofre (0,95; 1,10; 0,78; 0,52%), sulfato de zinco (0,3424; 0,3421; 0,3389; 0,3361%), sulfato de cobre (0,0515; 0,0981; 0,0999; 0,1012%), iodato de potássio (0,0037; 0,0038; 0,0035; 0,0033%).
 
As vacas foram ordenhadas mecanicamente, duas vezes ao dia. A cada 16 dias, durante 68 dias de experimento, através de dispositivo acoplado a ordenhadeira, foi coletada amostra de leite de aproximadamente 300 mL, na ordenha da manhã e da tarde, fazendo-se a amostra composta proporcionais às respectivas produções. As amostras foram acondicionadas em fracos plásticos com conservante (BronopolÒ), mantidas entre 2º e 6 º C, para fins de análise dos teores de proteína bruta,gordura, lactose, extrato seco total, extrato seco desengordurado e Contagem de Células Somáticas(CCS), segundo métodos descritos pelo International Dairy Federation (1996). As análises de composição do leite foram feitas pelo Laboratório da Qualidade do Leite da EMBRAPA - CNPGL/Juiz de Fora – MG.
 
Foram avaliadas as correlações entre a contagem de células somáticas (CCS) e o teor de gordura, proteína, lactose e extrato seco desengordurado do leite (ESD). Os procedimentos estatísticos foram efetuados utilizando-se o programa Statistical Analysis System - SAS (1988).
 
Resultados e discussão.
 
Houve correlação positiva entre a contagem de células somáticas (CCS) e o teor de gordura, o extrato seco desengordurado e lactose. Assim, nas condições do presente estudo, quando se aumenta a CCS, aumentam-se também os teores de gordura, lactose e ESD, porém não se observa correlação entre a CCS e o teor de proteína.
 
Tabela 2. Análise de correlação entre a contagem de células somáticas (CCS) e o teor de gordura, proteína, lactose e extrato seco desengordurado do leite.
CORRELAÇÃO ENTRE A CONTAGEM DE CÉLULAS SOMÁTICAS (CCS) E O TEOR DE GORDURA, PROTEÍNA, LACTOSE E EXTRATO SECO DESENGORDURADO DO LEITE - Image 2
 
Ventura, et al. (2006) avaliando a contagem de células somáticas e seus efeitos nos constituintes do leite, verificou que quando ocorria um aumento nos valores de CCS acarretava em um acréscimo mínimo da porcentagem de gordura (correlação = 0.02999). Essa elevação pode ser justificada por infecção na glândula mamária, o que reduz a produção de leite. O mesmo pode ser visualizado para o componente % de proteína, com correlação igual a 0.25638. Para os componentes % de lactose e ESD, foi encontrado correlações negativas iguais a - 0.43793 e - 0.11672, respectivamente. O aumento dos valores de CCS provoca redução na porcentagem de lactose e ESD. A redução na % de lactose pode ser explicada pela perda de lactose da glândula mamária para o sangue, devido a mudanças na permeabilidade da membrana separatória.
 
Em estudo com vacas Holandesas e Mestiças, Gonzalez et al. (2003) encontraram efeito estatisticamente relevante (p<0,0001), da CCS sobre os teores de proteína e de gordura láctea. Foi observado que com o aumento da CCS, ocorreu diminuição no teor de proteína e aumento no de gordura, embora apenas 0,53% e 3,02% da variação desses sólidos, respectivamente, possam ser creditados à CCS. Já Cunha et al.(2008), analisando vacas de raça Holandesas, observaram correlação positiva entre CCS e porcentagens de gordura e de proteína do leite.
 
Pereira et al. (1999), avaliaram 6112 amostras de leite para CCS, correlacionadas com porcentagem de gordura. Obtiveram aumento do escore linear das amostras mostrando estar relacionado com o aumento da concentração de gordura, aumento este no valor de 6,97%. Rajcevic et al. (2003) observaram correlação negativa entre Log de CCS e porcentagem de lactose, – 0,423.
 
Conclusão.
 
No presente estudo, a contagem de células somáticas apresentou correlação com a porcentagem de gordura, lactose e ESD.
 
Referências bibliográficas.
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14 SANTOS, M. V.; FONSECA, L. F. L. Estratégias para controle de mastite e melhoria na qualidade do leite. Editora Manole-1ª Edição 2007. Barueri-SP-Brasil.
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16. Universidade federal de viçosa. Departamento de Engenharia Agrícola. Estação meteorológica. Dados climáticos. Viçosa, MG:UFV. 1997b.
O Trabalho foi originalmente publicado pela REVISTA VERDE DE AGROECOLOGIA E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL / GRUPO VERDE DE AGRICULTURA ALTERNATIVA (GVAA) ISSN 1981-8203.
Autores:
Adriano Henrique do Nascimento Rangel
UFRN
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