Explorar
Comunidades em Português
Anuncie na Engormix

A condutividade elétrica do leite no diagnóstico da mastite

Publicado: 22 de outubro de 2013
Por: Daniella Flavia Vilas Boas, Mestre em Produção Animal Sustentável pelo Instituto de Zootecnia, SP; Lenira El Faro Zadra, Pesquisador do Polo Regional Centro Leste, Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios -APTA-, SP; Aníbal Eugênio Vercesi Filho, Pesquisador do Polo Regional Nordeste Paulista, APTA, SP, e Mariana Alencar Pereira, Associação Brasileira dos Criadores de Zebu, Programa de Melhoramento Genético dos Zebuínos PMGZ/LEITE.
Um dos maiores desafios da pecuária leiteira no Brasil e no mundo é o controle da mastite. Conceitualmente, a mastite é a infecção da glândula mamária em decorrência, principalmente, da colonização bacteriana, mas também pode ser resultado da presença de fungos, algas, ação de vírus e ainda ocorrência de traumas na glândula mamária ou pela presença de agentes químicos. A mastite causa prejuízos econômicos, tanto para o produtor quanto para a indústria de lácteos, em decorrência da queda na produção e descarte do leite, descarte precoce de animais, gastos com tratamentos, diminuição no rendimento e no tempo de prateleira dos derivados.
Diante do exposto, o diagnóstico precoce da mastite resulta em menores prejuízos. Existem vários métodos utilizados no diagnóstico da mastite sendo a maioria, métodos indiretos positivamente correlacionados com a ocorrência da doença. O método mais utilizado no diagnóstico e controle da doença é a contagem de células somáticas (CCS). Outro método muito utilizado para monitorar a saúde do úbere é o California Mastitis Test (CMT), apresentando as vantagens de poder ser realizado na propriedade e fornecer resultados imediatos ao produtor.
A condutividade elétrica do leite (CEL) é um método que já vem sendo estudado a fim de poder ser utilizado no diagnóstico da doença (NIELEN et al., 1992; ZAFALON et al., 2005; JANZEKOVIC et al., 2009). A CEL é determinada pela alteração da concentração de íons no leite, principalmente, o cloro, o sódio e o potássio. O processo ocorre porque a inflamação da glândula mamária resulta em uma diminuição da concentração de potássio no leite, enquanto que as concentrações de sódio e cloretos elevam-se devido ao aumento da permeabilidade dos capilares sanguíneos e da destruição dos sistemas de bombeamento iônico, conduzindo a um aumento na condutividade elétrica do leite (NIELEN et al., 1992). Assim, a corrente elétrica irá fluir mais facilmente através do leite com mastite do que num leite não infectado, devido ao alto conteúdo iônico.
Para a mensuração da CEL existem dois tipos de equipamento: o aparelho portátil e o acoplado na ordenhadeira automatizada. No equipamento acoplado ao sistema de ordenhadeira automatizada ocorre a medição da condutividade a cada ordenha e, por meio de um software, estes dados podem ser armazenados num computador. Assim, quando há uma variação individual dentro de animal no decorrer da lactação, um sinal de alerta é disparado, indicando que o animal pode estar com mastite.
O equipamento portátil tem a vantagem de poder ser utilizado em várias propriedades, é de fácil utilização e de baixo custo. Claro que devem ser seguidos os protocolos para que uma pessoa realize estes testes no momento da ordenha ou logo após. Estes protocolos seriam:
  1. Coleta de amostras homogeneizadas a partir da ordenha completa;
  2. Calibração do aparelho utilizando uma solução padrão adquirida separadamente antes de se iniciar os testes;
  3. Mensurações devem ser realizadas em temperatura ambiente preferencialmente logo após a ordenha.
 
Figura 1. O aparelho AK 83, fabricado pela empresa Akso, é indicado para análises de condutividade elétrica, sólidos totais dissolvidos e salinidade em diversas soluções.
A condutividade elétrica do leite no diagnóstico da mastite - Image 1
 
Estudos conduzidos pela APTA – Ribeirão Preto em parceria com a ABCZ e oito rebanhos bovinos da raça Gir Leiteiro nos estados de São Paulo e Minas Gerais empregando o equipamento portátil foram realizados para verificar a sua viabilidade, bem como para associar a condutividade com a CCS e outras características produtivas. Foram analisadas amostras de leite provenientes de 268 vacas em lactação e foi verificada uma relação favorável entre a CEL e o escore de células somáticas (ECS – escala logarítmica da CCS). O coeficiente de regressão linear da CEL sobre o ECS obtido no estudo foi de 0,09, indicando um aumento progressivo da CEL em função do aumento do ECS. No entanto, outros estudos deverão ser conduzidos pelo grupo, empregando as medidas armazenadas em rebanhos que possuam o sistema de ordenha eletrônico, em maior escala de dados, pois nesse primeiro estudo foi verificada uma amplitude muito pequena nos valores de condutividade, o que dificultou o estabelecimento de padrões para confirmar a mastite na raça Gir.
Durante muitos anos, os programas de melhoramento genético deram ênfase, principalmente, ao incremento da produção de leite e, em decorrência disto, o resultado foi o aumento da ocorrência da mastite, além de problemas de pernas, pés e cascos, afetando a longevidade das vacas de alta produção. Para a raça Gir há poucos estudos associando produção de leite e ocorrência de mastite, mas a seleção tem enfatizado, principalmente, o incremento da produção. O envio de amostras para os laboratórios credenciados e a qualidade das amostras tem, algumas vezes, desmotivado o controle periódico da CCS nos rebanhos da raça Gir. Métodos alternativos poderiam, nesse sentido, auxiliar a tomada de medidas indicadoras de mastite numa escala maior do que é realizado atualmente. Os estudos indicaram que a condutividade é uma medida que poderia auxiliar a detecção de mastite e, quem sabe, a sua avaliação em programas de seleção, não excluindo os incentivos para a medição da CCS nos controles leiteiros oficiais.
A condutividade elétrica do leite é um método auxiliar no diagnóstico da mastite, que por ser de fácil utilização e de baixo custo, poderia ser uma ótima ferramenta, tanto na tomada de decisões quanto ao manejo dos animais doentes na propriedade, quanto na seleção de animais resistentes a mastite.
 
REFERÊNCIAS
JANZEKOVIC, M.; BRUS, M.; MURSEC, B. et al. Mastitis detection based on electric conductivity of milk. Journal of Achievements in Materials and Manufacturing Engineering, v. 34. Issue 1. p. 39-46, 2009. Disponível em: <http://www.journalamme.org/papers_vol34_1/3415.pdf> Acesso em: 18 de julho de 2012.
NIELEN M.; DELUYKER H.; SCHUKKEN Y.H.; BRAND A. Electrical conductivity of milk: measurement, modifiers, and meta analysis of mastitis detection performance. Journal of Dairy Science. 75(2):606-614, 1992.
ZAFALON, L. F.; NADER FILHO, A.; OLIVEIRA, J. V.; RESENDE, F. D. Comportamento da condutividade elétrica e do conteúdo de cloretos do leite como métodos auxiliares de diagnóstico na mamite subclínica bovina. Pesquisa Veterinária Brasileira. 25(3):159-163, 2005.
***O Trabalho foi originalmente publicado pelo informativo Rural Pecuária.
Tópicos relacionados
Autores:
Daniella Flávia Vilas Boas
IZ - Instituto de Zootecnia / Secretaria de Agricultura e Abastecimento
Siga
Lenira El Faro Zadra
APTA
Siga
Anibal Eugênio Vercesi Filho
APTA
Siga
Junte-se para comentar.
Uma vez que se junte ao Engormix, você poderá participar de todos os conteúdos e fóruns.
* Dados obrigatórios
Quer comentar sobre outro tema? Crie uma nova publicação para dialogar com especialistas da comunidade.
Criar uma publicação
Junte-se à Engormix e faça parte da maior rede social agrícola do mundo.
Iniciar sessãoRegistre-se