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Produção e composição de genótipos de cana-de-açúcar

Publicado: 21 de fevereiro de 2013
Por: João Batista de Andrade, Evaldo Ferrari Junior e Rosana Aparecida Possenti do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Nutrição Animal e Pastagens, Instituto de Zootecnia, Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios -APTA-, SP; Ivani Pozar Otsuk do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Genética e Reprodução Animal, Instituto de Zootecnia, Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios -APTA-, SP; Léo Zimback do Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento do Jardim Botânico, Agência Paulista de Tecnologia dos
Sumário

RESUMO: Foi desenvolvido no Instituto de Zootecnia, em Nova Odessa, SP, um experimento para avaliar 60 genótipos de cana-de-açúcar, com vistas à alimentação animal. Utilizou-se o delineamento de blocos ao acaso, com 3 repetições. As produções de matéria seca foram semelhantes, todavia, com grande amplitude de variação nos dados. Para as características: número de perfilho (NP), peso médio de perfilho (PP), nó (%NO), entrenó (%ENTR), ponta (%PON), material morto (%MO), fibra insolúvel em detergente neutro (%FDN), fibra insolúvel em detergente ácido (%FDA), celulose (%CEL), hemicelulose (%HEM), lignina (%LIG) e carboidratos totais não estruturais (%CTN) houve diferenças entre as canas estudadas. Foram observadas tendências de redução dos teores dos componentes da parede celular à medida que aumentava a %NO e %ENTR e reduzia a %PON e %MO. Em relação ao teor de carboidratos totais não estruturais, as correlações com as frações da planta, indicaram que essas tendências foram opostas. Entre os componentes da parede celular e o teor de carboidratos totais não estruturais foram observadas altas correlações negativas. Dos 60 genótipos avaliados, apenas 4 não apresentaram a doença Podridão Vermelha.

Palavras-chave: composição da matéria seca e proporções das frações das plantas

INTRODUÇÃO
A cana-de-açúcar tem despertado o interesse dos pecuaristas, mais pelo seu alto potencial de produção do que pelo seu valor nutritivo, quando comparado, principalmente, com silagens de milho ou sorgo. NUNES Jr. (1987) relata que no Estado de São Paulo é freqüente as usinas obterem rendimentos de 85 t ha-1 de colmo o que corresponderia a uma produção de 110 a 120 t ha-1 de forragem.
A utilização da cana-de-açúcar para produção de forragem sugere uma adaptação da cultura para a colheita, quando esta é realizada através de colhedora de forragem. Assim, o número e o peso de perfilhos por metro linear passam a ter importância na avaliação da variedade, uma vez que essas características definem a densidade da cultura por metro linear (BALSALOBRE et al., 1999).
PAES et al. (1997) avaliando o efeito do espaçamento em três variedades de cana-de-açúcar, verificaram, para espaçamentos de 1,0, 1,30, 1,60 e 1,90 m, densidade da cultura de 18,03, 22,67, 29,66 e 33,67 kg m-1, respectivamente. Verificaram, que a produção de matéria seca não foi significativamente alterada, variando de 174,42 a 185,40 t ha-1. BASILE FILHO(1992), estudando a cana-de-açúcar, verificou que o peso do colmo de perfilhos de cultura plantada em espaçamento de 1,0 m era menor (1,01 kg) que aquele de cultura plantada em espaçamento de 1,45 m (1,17 kg). Porém, a produção era maior para a cultura com espaçamento menor, uma vez que o número de perfilhos era maior nessa cultura.
Como planta forrageira, uma característica de grande interesse, é que essa planta se conserva naturalmente, com pouca queda do seu valor nutritivo, que depende basicamente do seu teor de sacarose (BOIN et al., 1987; MOREIRA, 1983 e SALLAS et al., 1992). RODRIGUES et al. (1997), estudando diversas variedades de cana-de-açúcar, com vistas à alimentação animal, verificou aos 15 meses uma proporção de colmo de 72,71 a 88,37% e de folha de 11,63 a 24,46%. O teor de fibra insolúvel do colmo variou de 43,20 a 48,90%, enquanto esse teor na folha foi de 76,60 a 80,80%.
NUNES Jr. (1987) mostra que as variedades de cana-de-açúcar apresentam curvas de maturação diferentes, sendo distintos, nessa curva, a porcentagem de sacarose e a época de florescimento. Esses resultados sugerem que, em uma atividade onde o período de colheita é muito longo, deveria ser utilizada mais de uma variedade, minimizando assim a perda de qualidade da forragem pelo corte antes do ponto de maturação.
Também, as transformações ocorridas na proporção e qualidade da fibra necessitam ser mais estudadas, principalmente, devido ao grande número de cultivares recentemente lançados e utilizados na exploração sucroalcooleira (MATSUOKA e HOFFMANN, 1993).
BANDA e VALDEZ (1976), estudando o efeito do estágio de maturidade sobre o valor nutritivo da canade- açúcar, observaram teor de 54,10% para a fibra insolúvel em detergente neutro, 33,40% para fibra insolúvel em detergente ácido, 26,20% para a celulose e 5,43% para a lignina, quando analisaram canas com 16 meses de desenvolvimento. KUNG Jr. e STANLEY (1982), estudando o efeito do estádio de maturação no valor nutritivo da cana-de-açúcar, observaram para cana colhida aos 24 meses teor de 52,60% para a fibra insolúvel em detergente neutro, 34,20% para a fibra insolúvel em detergente ácido, 18,40% para hemicelulose, 24,50% para celulose e 7,3% para lignina. OLIVEIRA(1996), em estudo, com 16 variedades de cana-de-açúcar, observou que a porcentagem de fibra insolúvel em detergente neutro variou de 45,10 a 58,00% e o teor de fibra insolúvel em detergente ácido de 25,9 a 37,50% na matéria seca. RODRIGUES et al. (1997) em estudo com diversas variedades de cana, com vistas à alimentação animal, observaram teor de fibra insolúvel em detergente neutro variando de 45,19 a 53,81%.
CARVALHO (1992) verificou para 5 variedades de cana-de-açúcar que a concentração máxima de fibra insolúvel em detergente neutro ocorria próximo dos 241 dias de vegetação, havendo redução na porcentagem à medida que avançava o estádio de maturidade.
Tendo em vista o exposto, foi definido como objetivo deste experimento, comparar as variedades de cana-de-açúcar para uso na alimentação de ruminantes.
 
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi conduzido no Instituto de Zootecnia, em Nova Odessa, SP, no período de 1998 a 2000.
Foram estudados 60 genótipos de cana-de-açúcar, sendo 24 cultivares (SP70-1078, SP70-1143, SP71- 799, SP71-1406, SP72-1861, SP79-1011, SP79-2233, SP79-2312, SP80-1842, IAC51-205, IAC52-150, IAC66-6, IAC68-12, IAC77-51, IAC82-2045, IAC82- 3092, IAC86-2210, IAC87-3396, RB785750, RB806043, RB835486, RB855036, CB41-76 e CB45-3) e 36 clones (SP71-6180, SP71-6192, IAC80-1071, IAC80-3010, IAC80-3062, IAC81-1019, IAC81-1050, IAC81-2004, IAC81-3049, IAC82-1004, IAC82-3111, IAC82-3258, IAC83-1144, IAC83-1313, IAC83-2045, IAC83-2285, IAC83-2396, IAC83-2405, IAC83-4107, IAC83-4128, IAC83-4157, IAC83-4531, IAC84-1042, IAC85-1004, IAC85-3017, IAC85-3229, IAC86-1034, IAC86-1054, IAC86-1056, IAC86-1061, IAC87-1017, IAC87-1365, IAC87-1392, IAC87-3184, IAC87-3187 e IAC87-3420), fornecidos pela Estação Experimental do Instituto Agronômico de Campinas, Piracicaba, SP.
Para o plantio, o terreno foi preparado e nele efetuada aplicação de calcário dolomítico, na base de 4500 kg ha-1.
O plantio foi efetuado em março de 1998, aplicando- se no sulco 60 e 100 kg de K2O e P2O5 ha-1, respectivamente.
Cada genótipo foi plantado em parcelas com 3 metros de comprimento, em 4 linhas de plantio, com espaçamento entre linhas de 1,0 metro. A distribuição das mudas no sulco foi continua, colocando-se 2 colmos na posição pé com ponta. Após a distribuição das mudas os colmos foram cortados em toletes de mais ou menos 3 a 4 gemas. A cobertura foi efetuada colocando-se mais ou menos 5 a 10 cm de terra sobre as mudas. Foram avaliadas as características: produção de matéria seca (PMS), número de perfilho (NP), peso médio de perfilho (PP) e porcentagem de: ponta (%PON), nó (%NO), entrenó (%ENTR) e material morto (%MO), fibra insolúvel em detergente neutro (%FDN), fibra insolúvel em detergente ácido (%FDA), celulose (%CEL), hemicelulose (%HEM), lignina (%LIG) e carboidratos totais não estruturais (%CTN). O delineamento experimental foi de blocos ao acaso, com 3 repetições, sendo os genótipos avaliados com 12 meses de idade. Além destas características, foi efetuada uma avaliação da ocorrência dos sintomas da doença Podridão Vermelha, baseada na presença ou não dos sintomas na amostra para produção de matéria seca.
A amostragem de cada parcela foi efetuada cortando- se 1 metro linear em uma das duas linhas centrais de cada parcela. Após a pesagem e a contagem dos perfilhos da amostra, foram retiradas 7 plantas, das quais 5 foram utilizadas para separação das frações: nó, entrenó, ponta e material morto e as outras duas restantes, utilizadas para determinação da composição química.
As frações nó, entrenó, ponta e material morto foram separadas manualmente, com o auxílio de uma serrinha própria para o corte de ferragens. Todas as amostras, após as pesagens, foram passadas, individualmente, em desintegrador de forragem para homogeneização da amostra. Destas foram retiradas as porções que constituíam as amostras de laboratório, que após pesagem foram colocadas em estufa de ar forçado, regulada para 600C, durante 72 horas, quando foram novamente pesadas e moídas em moinho com peneira de 1 mm. Após a moagem as mesmas foram acondicionadas em sacos plásticos e enviadas ao laboratório. As amostras para determinação da composição química foram picadas em picadeira estacionária de forragem e após homogeneização da amostra picada, foi retirada uma porção que após secagem em estufa, foi enviada ao laboratório. As análises de laboratório foram efetuadas conforme SILVA (1998) e de GOERING e VAN SOEST (1970). Foi efetuado a análise de variância e aplicado o teste de SCOTT e KNOTT (1974) para proceder ao agrupamento dos genótipos em grupos mais homogêneos, para cada uma das características avaliadas.
 
RESULTADOS E DISCUSSÃO
No Quadro 1 são mostradas as produções de matéria seca (PMS), número de perfilho por metro de linha (NP) e peso médio de perfilho (PP), dos genótipos colhidos com 12 meses de idade, bem como os coeficientes de variação das características.
Quadro 1. Produção de matéria seca (PMS), número de perfilho (NP) e peso médio de perfilho (PP) das canas colhidas com 12 meses de idade e os coeficientes de variação das características
Produção e composição de genótipos de cana-de-açúcar - Image 1
Para a produção de matéria seca não houve efeito para genótipos (P > 0,05). O coeficiente de variação, para essa característica, foi de 24,69%, provavelmente, em função da pequena amostra e do reduzido número de repetições. Os genótipos foram semelhantes, sendo agrupados em um único grupo (Quadro 1). A produção de matéria seca variou de 53,86 a 20,98 t ha-1, podendo-se inferir que esses genótipos, embora não sendo diferentes do ponto de vista estatístico, levariam a resultados econômicos bastante distintos em valores absolutos. As produções observadas foram próximas as encontradas por BARBIERI et al. (1981), NUNES Jr. (1987) e BASILE FILHO (1992).
Quanto ao número de perfilho (Quadro 1), houve efeito para genótipos (P < 0,05). Os 60 genótipos foram separados em dois grupos. No primeiro, formado por 36 deles, o número de perfilho variou de 8,33 a 12,67 por metro de linha e no segundo, com 24 genótipos, esse número variou de 13,00 a 16,67 por metro de linha. Esses valores são próximos aos de BALIERO (1995).
Quando foi avaliado o peso médio de perfilho ( Quadro 1 ), verificou-se efeito para genótipos (P < 0,05). Os genótipos foram separados em dois grupos, que apresentaram amplitude de variação de 236,71 a 413,97 e 417,48 a 622,11 g de matéria seca por perfilho. Sendo que o primeiro e o segundo grupo foram formados por 26 e 34 genótipos, respectivamente. De modo geral, observou-se que o genótipo que apresentou maior peso médio de perfilho mostrou menor número destes. Esses pesos de perfilho, calculados em matéria verde, são semelhantes aos obtidos por BASILE FILHO(1992). Através do número e peso médio de perfilho foi calculada a densidade média da cultura de 17,86 kg de matéria verde por metro de linha. Esta densidade, para linhas espaçadas de 1,30 metro, está próxima à encontrada por PAES et al. (1997), para a cultura com linhas espaçadas de 1,00 metro.
No Quadro 2 são mostradas as frações da planta, dadas em porcentagens de nó (%NO), entrenó (%ENTR), ponta (%PON) e material morto (%MO), dos genótipos colhidos com 12 meses de idade e os coeficientes de variação das características.
Para as porcentagens de nó (Quadro 2), houve efeito de genótipos (P < 0,05). Os 60 genótipos foram separados em dois grupos, sendo o primeiro formado por 23 genótipos, com porcentagem de nó variando de 17,22 a 20,87%. Para o segundo grupo, formado por 37 genótipos, a porcentagem de nó variou de 21,24 a 27,88%.
Quadro 2. Porcentagem de nó (%NO), entrenó (%ENTR), ponta (%PON) e material morto (%MO) dos cultivares.
Produção e composição de genótipos de cana-de-açúcar - Image 2
Quanto à porcentagem de entre nó (Quadro 2), foi verificado efeito para genótipos (P < 0,05). Observou- se que os 60 genótipos foram separados em dois grupos distintos. No primeiro, com 36 genótipos, a porcentagem de entrenó variou de 34,18 a 43,70%, enquanto no segundo grupo, com 24 genótipos essa variação foi de 44,12 a 50,38%. Os valores encontrados para a soma da porcentagem de nó com a porcentagem de entrenó, são próximos daqueles observados por RODRIGUES et al. (1997) para porcentagem de colmo.
Estudando a porcentagem de ponta (Quadro 2), foi encontrado efeito para genótipos (P < 0,05). Os genótipos avaliados foram selecionados em dois grupos distintos. A porcentagem de ponta do grupo 1, formado por 45 genótipos, foi de 10,63 a 19,10%, enquanto do grupo 2, com 15 genótipos, essa variação foi de 19,69 a 26,79%. Esses resultados foram próximos aos obtidos por RODRIGUES et al. (1997) para porcentagem de folha e menores que aqueles apresentados por BOIN et al. (1987) para a ponta de cana, com variação de 30 a 20% da cana produzida, devendo ressaltar-se que os dados, desses autores, foram para produção de matéria verde.
Para a porcentagem de material morto (Quadro 2), foi determinado efeito para genótipos (P < 0,05). Dos 60 genótipos, 28 apresentaram porcentagem de material morto de 11,42 a 17,15% e para os outros 32 essa variação foi de 17,32 a 25,74%, caracterizando 2 grupos distintos quanto à porcentagem de material morto. Essa característica é importante para a nutrição animal, uma vez que pode reduzir o valor nutritivo da forragem. Genótipos com menores porcentagens de material morto podem sugerir que são aqueles que despalham com maior facilidade.
No Quadro 3 são mostradas as porcentagens de carboidratos totais não estruturais, fibra insolúvel em detergente neutro, fibra insolúvel em detergente ácido, celulose, hemicelulose e lignina nos genótipos colhidos com 12 meses de idade e, os coeficientes de variação das características.
Quadro 3. Porcentagem de carboidratos totais não estruturais (%CTN), fibra insolúvel em detergente neutro (%FDN), fibra insolúvel em detergente ácido (%FDA), celulose (%CEL), hemicelulose (%HEM) e lignina (%LIG)
Produção e composição de genótipos de cana-de-açúcar - Image 3
Quanto ao teor de carboidratos totais não estruturais, foi verificado efeito de genótipos (P < 0,05). Por essa característica, os genótipos foram separados em dois grupos. No primeiro grupo, constituído por 38 genótipos, os teores de carboidratos totais não estruturais foram menores, variando de 26,59 a 46,49%. Já no segundo grupo, com 22 genótipos, os teores foram maiores, com variação de 47,63 a 65,12%. Esse resultado, também, pode ter sido em função da diferença no ciclo de maturação dos genótipos estudadas (NUNES Jr., 1987). Entretanto, essa característica se mostrou de grande importância para o estudo de cana-de-açúcar, uma vez que a mesma foi correlacionada negativamente (Quadro 3 e 4), com os constituintes da parede celular e, segundo MOREIRA (1983); BOIN et al. (1987) e SALLAS et al. (1992), a digestibilidade da matéria seca é maior à medida que o teor de carboidratos for mais elevado.
Os genótipos foram diferentes (P < 0,05) quanto à porcentagem de fibra insolúvel em detergente neutro (Quadro 3). Dos 60 genótipos testados, 19 deles formaram o grupo com menor teor de fibra insolúvel em detergente neutro, com teor variando de 35,79 a 44,41%. O grupo 2, formado pelos outros 41, apresentou maior teor de fibra insolúvel em detergente neutro, variando de 45,07 a 56,25%. Os teores de fibra insolúvel em detergente neutro, observados neste experimento, são semelhantes aos observados por BANDA e VALDEZ (1976), KUNG Jr. e STANLEY (1982) e OLIVEIRA (1996). Essa característica mostrou ser e grande importância, devido à sua alta correlação negativa (Quadro 4), com o teor de carboidratos totais não estruturais, que por sua vez, segundo BOIN et al. (1987) reflete positivamente na digestibilidade da matéria seca.
Quadro 4. Correlações entre as frações da planta, os componentes da fibra e o teor de carboidratos totais não estruturais
Produção e composição de genótipos de cana-de-açúcar - Image 4
Os teores de fibra insolúvel em detergente ácido ( Quadro 3 ), nos genótipos, foram diferentes (P < 0,05). Os 60 genótipos foram divididos em dois grupos distintos. O grupo com menor teor de fibra insolúvel em detergente ácido, com 28 genótipos, mostrou teores variando de 21,14 a 27,35%, enquanto aquele com maior teor, formado por 32 genótipos, apresentou porcentagem de 27,75 a 35,55%. Os teores de fibra insolúvel em detergente ácido, desse experimento, são semelhantes aos de BANDA e VALDEZ (1976), KUNG Jr. e STANLEY (1982) e OLIVEIRA (1996). À semelhança da fibra insolúvel em detergente neutro, também a fibra insolúvel em detergente ácido foi correlacionada negativamente (Quadro 4), com o teor de carboidratos totais não estruturais.
Para os teores de celulose (Quadro 3), foi encontrado efeito para genótipos (P < 0,05). Verificou-se que os 60 genótipos foram divididos em dois grupos distintos. No grupo com menor teor, com 26 genótipos, a porcentagem de celulose variou de 17,94 a 23,02%. Já no grupo com maior teor, formado por 34 genótipos, esse teor variou de 23,18 a 29,01%. Também, essa característica foi correlacionada negativamente (Quadro 4), com o teor de carboidratos totais não estruturais. Quanto à amplitude de variação dos teores de celulose, BANDA e VALDEZ (1976), KUNG Jr. e STANLEY (1982) e OLIVEIRA (1996), observaram variação semelhante.
Os teores de hemicelulose (Quadro 3) foram diferentes nos genótipos (P < 0,05). O agrupamento dos 60 genótipos mostrou que esses foram separados em dois grupos distintos. No primeiro, com 24 genótipos, que apresentou os menores teores, a variação foi de 11,15 a 18,04%, enquanto no segundo, formado por 36 genótipos, essa variação foi de 18,27 a 25,02%. A exemplo do que ocorreu com os demais constituintes da parede celular, também o teor de hemicelulose foi correlacionado negativamente (Quadro 4), com o teor de carboidratos totais não estruturais. Os valores encontrados para hemicelulose, neste experimento, são semelhantes aos observados por KUNG Jr. e STANLEY (1982).
Estudando os teores de lignina (Quadro 3), verificou- se efeito de genótipos (P < 0,05). Os 60 genótipos foram divididos em 5 grupos distintos. No grupo 1, com 14 genótipos, o teor de lignina foi o menor, variando de 2,71 a 3,20%. Para o grupo 2, formado por 27 genótipos, essa variação foi de 3,45 a 3,97%. O grupo 3, constituído por 15 genótipos, o teor de lignina variou de 4,04 a 4,63%, enquanto no quarto grupo, com 2 genótipos, a variação foi de 5,37 a 5,60%. Por último, o quinto grupo, representado apenas por um genótipo, que se destacou dos demais pelo mais alto teor de lignina (7,11%). Teor elevado de lignina na forragem pode limitar a digestibilidade da matéria seca, reduzindo o valor nutritivo do alimento. Os teores de lignina encontrados são próximos aos de KUNG Jr. e STANLEY (1982).
No Quadro 4 são mostrados os coeficientes de correlação e as probabilidades das correlações entre as frações da planta (nó, entrenó, ponta e material morto), os componentes da parede celular (fibra insolúvel em detergente neutro, fibra insolúvel em detergente ácido, celulose, hemicelulose e lignina) e o teor de carboidratos totais não estruturais.
Verificou-se que entre as frações da planta (nó, entrenó, ponta e material morto) e os constituintes da parede celular as correlações foram pequenas, havendo apenas uma tendência de diminuição dos componentes da parede celular com o aumento das frações nó e entrenó. Enquanto o aumento das frações ponta e material morto mostraram uma tendência para aumentar os componentes da parede celular. Em relação ao teor de carboidratos totais não estruturais, as tendências foram opostas, à medida que aumentava as frações nó e entrenó, ponta e material morto, observou-se uma tendência de aumento e redução do teor de carboidratos totais não estruturais, respectivamente. Por outro lado, as correlações entre os componentes da parede celular e o teor de carboidratos totais não estruturais foram sempre altas e negativas. Esse resultado é muito importante para seleção de cultivares de canade- açúcar com vistas à alimentação animal, pois, à medida que aumenta o teor de sacarose aumenta a digestibilidade da matéria seca (MOREIRA, 1983; BOIN et al., 1987 e SALLAS et al., 1992).
Por último, foi avaliada a ocorrência da doença podridão vermelha, sendo que apenas 4 dos 60 genótipos não apresentaram sintoma da doença, em nenhum dos blocos, na amostra da parcela. Dentre os cultivares, apenas o cultivar IAC87-3396 não apresentou os sintomas da doença. Já os clones, IAC83- 2285, IAC82-3111 e SP71-6180, não apresentaram os sintomas.
 
CONCLUSÕES
Houve diferenças entre os genótipos de cana-deaçúcar para todas as características analisadas, exceto, para a produção de matéria seca que estatisticamente foi semelhante.
Não houve correlação expressiva entre as frações da planta, os componentes da parede celular e o teor de carboidratos totais não estruturais.
Os componentes da parede celular mostraram alta correlação negativa com o teor de carboidratos totais não estruturais.
Somente o cultivar IAC87-3396 e os clones IAC83- 2285, IAC82-3111 e SP71-6180 não apresentaram sintoma da doença Podridão Vermelha.
Com vistas à alimentação animal, deveriam ser selecionados genótipos de cana-de-açúcar do grupo caracterizado por apresentar alta porcentagem de carboidratos totais não estruturais e baixas porcentagens dos componentes da fibra, com alta produção de matéria seca.
 
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Autores:
João Batista de Andrade
IZ - Instituto de Zootecnia / Secretaria de Agricultura e Abastecimento
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